Fluorescent Adolescent escrita por Liids River


Capítulo 3
I see your frown, and it's like looking down the barrel of a gun..


Notas iniciais do capítulo

.... AND IT GOES OFF

adivinha quem estou aniversáriando hoje
eu mesma
19 anos de vacilos
USHSUAHSUSHSAU
vamos láaaaaaaaaaaaaa
eu refiz esse capitulo INTEIRINHO
só porquê eu escrevi algumas coisas e me arrependi depois e aí eu acho que ficou até melhor que o que eu tinha escrito
está fanfic não será longa, mais 2 capitulos and its done
Música desse capitulo : MARDY BUMMMMMMMMM
até lá embaixo



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— Não repara na bagunça e fique à vontade – Percy murmurou fechando a porta atrás de nós já se dirigindo até o que eu imaginava ser a cozinha. Jogou a mochila no pé do balcão que separa a sala e a cozinha estilo americana.

Não reparar na bagunça seria difícil. Era só o que havia num raio de 100 metros : bagunças.

— Vai ser difícil – sussurrei horrorizada com aquele sofá repleto de roupas.

Eu acho que já comentei que Percy e Nico dividiam um apartamento,certo? E não estereotipando,mas...bem era uma bagunça de rapazes.  Parecia que nenhum deles nunca planejava levar alguém ali.

Caminhando mais adentro da sala,reparei camisetas jogadas na mesa de centro e até meias penduradas nos cantos das cortinas. Cocei a nuca tentando pensar em algum lugar para sentar sem ter que mexer naquele...chiqueiro.

O que você está fazendo no apartamento dos rapazes?— vocês devem se perguntar.

Como eu acho que já comentei,Percy estudava fotografia no mesmo campus que eu. Já era de se esperar que tivéssemos duas matérias juntos,e realmente : Fotografia de Arte e Livre eram as duas matérias. E não que estivéssemos precisando de ajuda mas...quer dizer,não sei. Ele só me chamou pra ir até o apartamento e revisar algumas coisas,eu não vi maldade. E mesmo que fosse...bem,era o Percy ali certo? Eu era a única garota que já havia usado seus fones de ouvido junto à ele – pelo o que ele havia dito.  Era a única que – agora - tomava café com ele,todas as manhãs.

Era a única com quem Perseu dividia algumas músicas. Sim,no plural.

Nós tínhamos músicas agora.

Se você me pedisse para classificar as pessoas com as quais eu tenho convivido nas ultimas semanas,eu diria que somos todos bons amigos. Não tinha aquela estranheza de início de amizade : era bem puro,na verdade

Menos com Percy.

E eu não entendia o porquê.

Não gostava de definir as pessoas. Mas Thalia era minha amiga. Nico era meu amigo,assim como Leo e ... bem,eu não teria tanta certeza sobre Rachel.

Mas não queria intitular Percy Jackson assim. Não era certo.

Ele me mimava,não do jeito que os outros o faziam. Era diferente,era especial com Percy. E mesmo assim,ele me tratava com frieza e indiferença as vezes.

— A gente só não quer que as pessoas se sintam pouco ou insuficientes – Leo havia dito um dia tomando um gole de seu chá de hortelã no friozinho da manhã. – Então nós agregamos as pessoas.

Eu não tinha certeza se eu era uma dessas pessoas.

— Ei – Percy me chamou. Eu estava parada patéticamnete na entrada da sala,perdida sem saber se eu me sentava na bagunça ou se bagunçava ainda mais até achar um lugar arrumado para sentar – Você quer beber alguma coisa?

— Eu estou com sede mesmo – sussurrei, pigarreando logo em seguida. O apartamento estava silencioso ( Nico havia ficado na faculdade com Rachel e Thalia,fazendo alguma coisa que não prestei atenção ). – Um copo de água seria ótimo.

— Uma coca cola cairia bem melhor – ele levantou uma latinha e jogou para mim,a qual eu segurei no ar desesperadamente tentando não deixa-la cair e fazer uma bela bagunça nas paredes brancas da sala. – Senta aí,Annabeth. – ele revirou os olhos – Não é como se você fosse encontrar cuecas e- ele cerrou os olhos e levantou o indicador – Melhor você esperar um minutinho.

Percy riu e veio até a sala,recolhendo as roupas espalhadas pelo sofá,pela mesa de centro e pela televisão. Fiquei um tanto surpresa em ver um sofá preto,uma mesa branca e a televisão,bem... uma televisão.

— Vocês tem muita coisa branca aqui – sussurrei,tomando minha coca e sentando-me no sofá recém descoberto. – É porquê não tem tanta luz no apartamento?

—O sol tá sempre por outro lado – ele suspirou,colocando sua latinha na mesa de centro e cruzando os braços – Entra luz,mas não clareia muito.

—Ah sim – murmurei tomando minha bebida.

Momento constrangedor.

Havia muito tempo que eu não tinha um momento de silêncio constrangedor com alguém.

Ele suspirou bagunçando os cabelos enquanto tomava sua Pepsi twist. Ele deveria ser garoto propaganda da Pepsi. Hoje em especial,Percy parecia ter acabado de sair de um videoclipe dos Smiths. Vestia uma camiseta lisa – sem estampas – que ficava um tanto justa no bíceps. O jeans claro contrastando com a camiseta e o all star preto surrado. Ele sorriu um pouco quando me viu observando...mas ele estava muito charmoso para não ser observado.

— Vocês gostou da música que eu te mandei? – ele perguntou mais baixo,como se estivesse com medo de que mais alguém escutasse. O que era bem ridículo visto que só estávamos os dois ali....mas eu entendia Percy. Eu entendia que era difícil para ele se expor de alguma forma.

— Eu adorei – eu me sentia muito bem em relação a dizer a verdade quanto as músicas: se eu não gostasse,não havia porquê mentir. Sentando-me no sofá com a minha latinha nas mãos,passei por ele e sorri – É muito boa,já coloquei na nossa playlist.

—Sua playlist – ele revirou os olhos sentando-se ao meu lado – Não vamos compartilhar playlists inteiras,nem nada disso.

Assenti chateada,mas tudo bem. Tudo tinha seu tempo.

— Não te vi no intervalo hoje – ele sussurrou,passando a mão nos cabelos bagunçando-os ainda mais.

— O professor segurou a gente hoje – murmurei,passando o dedo indicador ao redor do lacre da minha lata – Eu acabei nem tendo intervalo.

—Você deve estar com fome – ele franziu a testa – Vamos preparar alguma coisa e depois fazemos o que temos que fazer.

Não consegui evitar o rubor que esquentou meu rosto. Imediatamente, a gargalhada de Percy ecoou pelo apartamento.

—Cala a boca! – sussurrei constrangida.

—Eu nem disse nada – ele brincou com uma mecha do meu cabelo – Você quem tá pensando besteira...

—Eu não! – corei ainda mais.

Percy riu mais um pouco desviando os olhos para mim. O indicador subiu até o lábio inferior quando ele finalmente parou de me sacanear,dando umas batidinhas no próprio lábio. Que rapaz bonito do baralho!

— Bem,eu estava falando da matéria – ele se levantou e esticou os braços,espreguiçando-se – Mas eu tenho certeza que o que você tem em mente é mais divertido..

—Perseu!

— Esse é meu nome – ele sorriu irônico e revirou os olhos – Vem.

Percy me puxou pela mão até o balcão de mármore que separava a cozinha da sala grande. Ele me deixou em um dos bancos do lado oposto e foi até a pia,lavando as mãos.

Acomodei-me em meu banquinho e esperei que o showzinho particular de Percy começasse. Detalhe : Percy não sabia cozinhar. Pelo menos,até onde eu sei, Percy não sabia nem fritar um ovo.

Ele colocou a mão no queixo,fingindo pesar. Ou pensando de verdade.

Com Percy,nunca dá pra saber.

— Qual o cardápio? – murmurei,retirando meu celular do bolso e colocando-o em cima do balcão.

Percy puxou um avental do lado do fogão,prendendo-o atrás da cintura. Virou-se para mim com um sorriso sacana e tossiu discretamente.

No avental dizia : Beije o cozinheiro.

Senti meu rosto esquentar de novo.

Ele riu mais uma vez e abriu alguns dos armários embutidos nas paredes  brancas :

— Nós temos... – ele ficou na ponta dos pés para ver no fundo de um dos armários – Temos carne,galinha caipira, sabor feijoada...

— Do que diabos você está falando? – sai do meu banquinho indo para o seu lado. Ficando nas pontas dos pés,eu vi que Percy olhava uma pilha duas pilhas de macarrão instantâneo.

— É só escolher – ele sorriu.

—Não acredito que vocês só comem isso – fiz careta – Isso é cheio de gordura trans e sódio.

— Não comemos apenas isso,Annabeth – ele revirou os olhos verdes para mim e abriu um sorriso de canto – Comemos isso aqui também.

Abrindo a geladeira,ele revelou oito pacotes de hocket pocket.

—Perseu! – revirei os olhos – Que nojo!

—É rápido. –ele deu de ombros.

—Tem gosto de papelão!

—É rápido! – ele pontou de novo.

Olhei para ele em preensão. Comendo só aquelas porcarias,aqueles dois deveriam ser os garotos mais gordos do campus. Não que seja um problema ser gordo : há problema não ser saudável.

— Olha lá – ele apontou o indicador para mim – Tá julgando!

—É claro que estou! – revirei os olhos de novo e suspirei – Não tem,sei lá... arroz?

—Até tem...- ele se abaixou abrindo o armário que não ficava no alto. Nesse armário,tinha uma figurinha de um desenho que me lembrei assistir quando criança : era um tomate e um picles. Era um desenho católico que minha mãe me obrigava a assistir. Eram um monte de vegetais que cantavam e falavam de Jesus.

Qual a relação entre as duas coisas? Eu não faço ideia.

Na figurinha,saia um balão de fala da boca do Picles onde ele dizia “não sou um pepino,sou um picles! E Jesus é legal”.

— Olha – ele se levantou,trazendo um pacote de arroz integral e um molho de tomate. – O que podemos fazer com isso?

Revirei os olhos e tomei sua mão na minha. A mão de Percy era gelada,mas não me incomodava,pelo contrário : apesar de fria,era macia. Coloquei-o no meu banquinho e sorri.

Abri a geladeira fazendo careta,enquanto Percy me observava. Tinha ali algumas batas,pimentão e um peito de franco.

—Não faço ideia de como isso foi parar ai – ele murmurou,pegando meu celular e mexendo – Nico tenta sair dos miojos as vezes.

—Você deveria também.

Ele deu de ombros.

Peguei algumas panelas e comecei colocando uma água no fogo para fazer arroz.

Na minha cabeça,aquilo era errado em tantos níveis que eu não conseguiria nem  enumerar. Não deveria estar no apartamento de Percy. Não deveria estar no apartamento de Percy sozinha com ele. Não deveria ter ido estudar nada. Não deveria ter  me enganado de que estava ali para estudar... não quando eu estava colocando arroz numa panela com alho e fazendo arroz integral.

O que diabos você está fazendo dessa vida,Annabeth?

Balancei a cabeça espantando os pensamentos e observei Percy enquanto cortava alguns pimentões.

Hoje ele vestia uma camiseta branca com o símbolo de mais um banda em comum. Não comentei nem nada,mas deixava-o ainda mais bonito. Ele estava concentrado enquanto mexia no meu celular,tentando descobrir a senha.

Ele levantou a cabeça e eu desviei os olhos para o meu pimentão,não querendo que ele soubesse que eu estava olhando.

— Qual a senha? – ele perguntou direto.

Eu sorri enquanto me concentrava para cortar pedaços de pimentão e não do meu dedo.

— Três números e uma letra – murmurei olhando-o.

Ele se voltou para o celular e balançou a cabeça negativamente.

—Previsível, Chase.

Continuei concentrada enquanto fazia meu almoço. Se eu não estivesse tão pobre de dinheiro e tão faminta,tinha pedido comida na casa. Queria comer alguma coisa de verdade,visto que a única coisa que eu tinha no estômago eram três pãezinhos de queijo e um café com canela.

Isso, desde as 7:10 da manhã. Eram agora,duas da tarde.

Ele continuou mexendo em meu celular,sem dizer nada me dando tempo para pensar mais em seu rosto concentrado e tão bonito.

O corredor na saída da sala era grande e eu presumi que fosse onde ficavam os quartos e o banheiro. Haviam 4 portas,e uma delas tinha uma marca grande e vermelha.

Ao contrário do que eu havia pensando quando entrei,o apartamento era relativamente grande. Mais espaço físico para bagunça.

Percy abaixou meu celular de repente enquanto eu colocava mais um prato em cima da pia. Estava quase pronto. Meu celular começou a tocar uma música da banda a qual fomos ao show.

— Eu gosto dessa – sussurrei enquanto desligava a torneira da pia e olhava a água indo embora.

—Você gosta de todas,menina – ele apertou a pontinha do meu nariz sorrindo. Fez o seu movimento de arminha,indo até o corredor e entrando na porta que tinha a marca vermelha.

Alex Turner cantava uma das suas melhores músicas enquanto eu colocava um montinho de arroz no prato de Percy.

— ...the one that I can't bear – sussurrei junto com o vocalista,pegando aquele...bem,eu não sei se tinha nome aquele monte de frango de geladeira desfiado com pimentão. Organizei um montinho no meu prato sussurrando - ...can't we laugh and joke around?

Percy voltou vestindo uma bermuda preta,se colocando atrás de mim,enquanto eu arrumava um montinho de frango no seu prato,também cantando:

— Remember cuddles in the kitchen yeeeeeeah- ele apertou minha cintura,beijando-me na bochecha,roubou um pedacinho do frango desfiado da panela e continuou : – To get things off the gound and it was up!

Senti meu rosto esquentar pela quinquagésima vez.

Ele sorriu pra mim e foi até a geladeira,tirando mais uma coca cola e uma Pepsi.

Sentados no sofá preto de Percy e Nico,comendo arroz integral com frango e pimentão,tomando coca cola e ouvindo Arctic Monkeys... eu me senti quase que em casa.  O conforto da minha casa,só que na casa dele.

O quão estranho isso poderia ser? Ou o quão bom...não é?

Quantas pessoas fazem com que você se sinta tão bem ao ponto de compará-las ao conforto de casa?

Enquanto respondíamos as perguntas da aula sentados no chão com as costas apoiadas no sofá,eu reparava um pouco mais em Percy. Ele concentrado em responder suas próprias perguntas,porém não tinha o mesmo comportamento de antes. Ele se distraía com a caneta,olhava pela grande sacada,ameaçava ligar a tv de vez em quando e depois olhava pra mim. Respirava fundo e tentava de novo,todo hiperativo.

—Tudo bem,eu acho que já chega não? – eu murmurei vendo-o quebrar um lápis em dois,frustrado. – Acho que já respondemos o bastante.

—Não,tudo bem...vamos continuar – ele murmurou tentando fazer as duas partes do lápis se juntarem magicamente.

—Percy,já respondemos mais da metade – sorri – Vamos respirar um pouco e tentar não quebrar mais lápis e canetas...

Ele revirou os olhos,fechando o caderno. Começou a batucar os dedos na capa fechada,cruzando as pernas em forma de índio.

Alguma coisa incomodava Percy  Jackson. E se ele não dissesse logo o que era,eu começaria a achar que era eu.

Esperei mais um pouco e suspirei,juntando minhas coisas e começando a guarda-las em minha mochila.

—Eu acho melhor eu ir embora...- sussurrei,porém fui interrompida por ele.

—Por que a sua mãe não gosta de mim?

Olhei para aquele rosto lindo da peste. As sobrancelhas estavam franzidas como se a sua preocupação fosse realmente só essa.

—Ela já te disse isso? – perguntei,apoiando meu cotovelo no encosto do sofá,e apoiando a cabeça na mão.

Ele balançou a cabeça para os dois lados,considerando. Levou a ponta da caneta vermelha aos lábios,mordendo a tampa e murmurou :

—Talvez.

Revirei os olhos,tirando a caneta de sua boca e girando-a nos meus dedos.

— Ela não tem nada contra você.

—Só não quer você andando comigo – ele revidou,revirando os olhos.

— Não é isso. Ela não manda mais em mim – murmurei,colocando a ponta da caneta na boca também. – Quer dizer.... nós entramos em consenso quanto a alguns “problemas”. – disse erguendo os dedos enfatizando as aspas.

—Eu sou um “ problema”? – ele perguntou,levantando a sobrancelha cético,enfatizando as aspas com os dedos também. Talvez um pouco ofendido.

—Eu não disse isso. – revirei os olhos de novo – Não ponha palavras na minha boca.

—Tendo tantas coisas para colocar na sua boca,pode ter certeza que “palavras” não é uma delas. – ele resmungou,batucando os dedos de novo.

Olhei para ele enquanto considerava suas palavras. O que diabos Percy queria de mim? Eu ainda não sabia ler mentes e definitivamente não era boa em ... desvendar pessoas. Talvez até fosse boa nessa segunda opção,mas Percy conseguia complicar tudo!

— Eu sei que ela não gosta de mim – ele deu de ombros e suspirou – Não importa.

—Não importa – concordei prontamente.

Pegue a mão dele!

Fiz um movimento para agarrar sua mão,porém ele levantou-a,coçando a nuca.

Não fora proposital,mas recolhi minha mão um pouco ressentida.

— E por que você não gosta da Rachel? – ele perguntou,apoiando o cotovelo da mesma forma que eu,sorrindo sacana. – Isso eu tenho plena certeza de que você pode me contar.

— Eu nunca disse que não gostava dela – resmunguei,fechando o  zíper da minha mochila com raiva. Só o nome da individua “R” me irritava profundamente. E eu achei estar sendo boa em esconder essa irritação,mas aparentemente o Sr. Saca Tudo já tinha entendido.

Ele riu e revirou os olhos.

— Você acha que engana a gente – ele tossiu fingido – Mas todos já sabem.

—Não faz diferença – murmurei,mexendo em minha cutícula – Ela é amiga de vocês a mais tempo que eu. Se fosse para alguém sair dessa roda,seria eu.

—Ninguém está comparando o grau de importância das amizades,Annabeth – ele me repreendeu. – Ninguém está saindo de lugar nenhum.

—Mas se alguém fosse chutado fora-

—Não fazemos isso,Annabeth – ele grunhiu. – Fica quem quer.

Respirei fundo algumas vezes,tentando controlar a minha raiva. Eu sabia que estava sendo deveras infantil,mas pensar que eles já tinham mais histórias de “Lembra aquele dia quando...” do que nós dois,e que eu não fazia parte de nenhuma delas,me deixava ainda mais irritada.

— Bem,eu sei que Rachel chegou primeiro – murmurei dando de ombros – Enfim,eu não ligo.

—Se você não ligasse,não ficaria de rixinha infantil – ele murmurou,cruzando os braços e desviando os olhos para a televisão desligada.

—Não sou infantil! – resmunguei brava.

— E mimada – resmungou agora guardando seu caderno também.

—Por que você a defende tanto? – perguntei,não conseguindo mais esconder minha raiva.

— O que? – ele fixou seus olhos em mim,as pupilas dilatas.

—Você e ela. Vocês estão juntos ou algo assim? – revirei os olhos. - Você e o seu papinho de não compartilhar músicas... – balancei a cabeça suspirando – E eu caí nessa.

 Ele se levantou bravo. As mãos em punho e a testa franzida. E o imbecil conseguia ficar ainda mais fofo irritado.

—Eu acho melhor você ir embora. – girou nos calcanhares e ligou a televisão,ignorando-me – Tenho certeza que a sua mamãe não está sabendo que você está lidando com o “problema” esta tarde também.

— É,eu acho também. – levantei-me,pegando meus sapatos no chão e calçando-os com mais força que o necessário.  – E para de ser tão idiota!

— E eu não estou de papinho com você. Não estou com Rachel,ninguém está com ninguém – ele revirou os olhos bufando – Ninguém está comparando as amizades além de você.

Balancei a cabeça em negação.

Eu sabia que no fundo estava certa. Se alguém ficaria de fora em alguma hora,seria eu.

Sempre sou eu.

—É sério, Annabeth – ele disse.

Peguei minha mochila,tentado ao máximo não fazer beicinho e não sucumbir as inseguranças idiotas da minha cabeça. Eu sabia que que era importante,mas não importante o suficiente. Eu estava sim,me comparando com Rachel. Eu queria ser assim importante.

Por mais que nem soubesse o quanto era.

— Ei,espera. – ele tentou pegar minha mão,mas fingi coçar a nuca olhando para os meus pés.

—Até mais,Percy. – abri a porta e saí.

.

Se eu não aparecesse em aula,isso seria suspeito? Eu já tinha faltado duas vezes na aula dessa professora e já se contabilizavam 8 faltas.

Você vai perder a sua bolsa se continuar assim.

Cale a boca.

Ao contrário do que dizem,nem tudo se resolve quando você vai pra faculdade. É um alívio não estar no ensino médio? É um alivio não estar no ensino médio.

Mas algumas das preocupações supérfluas continuam com você até que a adaptação aconteça por completo. Talvez você,que já está na sua faculdade estudando o que gosta,não se identifique com isso e ache “besteira”.

Então se for isso,tenho duas coisas a dizer à você ;

Você se adapta rápido.

E não deve achar besteira. Não deve diminuir isso. Pessoas são diferentes e se adaptam de formas diferentes.

Eu sei que não tomei café 7:10. Não apareci as 7:10 pra falar a verdade. Havia chegado em cima da hora e fora proposital. Não queria ter que ouvir de Percy sobre o quão infantil e mimada eu era. Não precisava que ele dissesse.

—Não some não,loirinha – Nico puxou meu braço na saída de uma das minhas aulas.

Era bom ver os olhos negros de Nico e não os olhos verdes que eu tanto tinha raiva agora.

Eu confesso ter ficado um pouco decepcionada.

— Ei! – sorri,abraçando-o – Não estou sumindo!

—É,claro – ele pigarreou revirando os olhos – Não vi você quando chegou.

—Cheguei em cima da hora – expliquei, girando meu celular nas mãos. – Acordei tarde,nem tomei café em casa.

Nico cerrou os olhos e fingiu pensar.

— E isso não tem nada a ver com o Percy de mau humor hoje?

—Eu..não sei. – sorri constrangida. – Bem,me diz você. Você que mora com ele.

Nico sorriu,passando um braço ao redor dos meus ombros. Beijou-me na bochecha e começou a caminhar em direção ao elevador.

— Ele acordou xingando até a própria mãe hoje – explicou – Tem tempo que ele não fazia isso,estranhei.

Ele apertou o botão e o elevador começou a subir.

—Não sei o que dizer – suspirei,olhando para o nariz fininho de Nico tão perto. – Nem conheço ele.

—Annabeth – ele repreendeu arrastando-me consigo para o elevador – Não seja tão difícil.

—Ele é difícil! – resmunguei apertando o térreo.  Encostei-me no vidro do elevador e bufei.

— Ele disse que vocês...discutiram? – ele perguntou,cruzando os braços – Foi a Rachel?

—Ele é um linguarudo! – gemi em frustração – Agora todo a seita de vocês vai saber que eu não me bato com ela e isso vai perdurar até chegar nela!

—Ele não me disse nada – Nico abriu um sorrisinho de lado,sacana – Eu joguei verde e você me confirmou.

Olhei incrédula para aquele rostinho debochado. Minha vontade era de pegá-lo pelos cabelos e bater com a sua cabeça na parede repetidas vezes até deixa-lo inconsciente. Depois fazer o mesmo comigo mesma.

Nico riu um pouquinho e entrelaçou a mão na minha rapidamente.

— Você não precisa esconder nada de nós – ele piscou de lado – É pra isso que servem os amigos.

— Percy não é meu amigo – resmunguei – Ele me fazia cabular a catequese quando mais nova.

Nico me pareceu surpreso. Ao contrário do que eu havia cogitado,talvez ele não soubesse que eu e Percy nos conhecíamos.... Mas Thalia havia dito que havia escutado muito de mim,não fora? Eu não podia estar mais confusa.

— Isso é a cara dele. – Nico comentou sorrindo – Enfim,só...não deixe isso ficar assim,ok? Ele acaba demorando muito no banho,fica pensativo demais,o café fica horrível e eu acabo me atrasando também –ele revirou os olhos e brincou com meu cabelo,voltando o braço ao redor dos meus ombros.

Quando o elevador pousou no térreo,o barulho era maior : era hora dos intervalos.

— Vai comer alguma coisa? – perguntou Nico o rosto virado para o meu.

— Você acha que o cara do churros está aí hoje? – perguntei virando-me para ele também Nico riu e bagunçou meus cabelos.

A porta do elevador se abriu.

Percy estava parado com as mãos nos bolsos da jaqueta preta e olhou-nos. Primeiro ele olhou para mim,erguendo uma sobrancelha em surpresa. Talvez porque não tomamos café juntos pela manhã,ele tenha concluído que eu não fora hoje. Passou seus olhos pela braço de Nico ao redor dos meus ombros. Ele fixou seus olhos em Nico e neutralizou a expressão.

— Que rápido. – murmurou. – Eu estava subindo pra ver se você tinha esquecido o caminho.

—Eu estava com a Annie. – Nico apontou com a cabeça para mim e sorriu. – Já pediu alguma coisa pra comer?

— Perdi a fome – ele murmurou frio. Tirou a mão de dentro do bolso e passou nos cabelos.

Nico me puxou para fora do elevador,dando espaço para um garota entrar. As portas se fecharam com ela dentro e eu quase implorei para que ela ficasse ali entre nós para que o clima ficasse menos pesado.  Os olhos de Percy continuaram fixados em Nico. A íris brilhosa e as bochechas um tanto rosadas por conta do frio.

— Bom,eu vou comer aquele donuts monstro! – Nico me puxou junto com ele,mas Percy agarrou seu braço por um instante.

—Eu preciso falar com você – Percy murmurou ainda cortante.

—Diga. – Nico respondeu.

—Com você – Percy desviou os olhos de Nico e me encarou – Annabeth. – voltou seus olhos frios para Nico,como se eu nem estivesse ali.

Nico prendeu um risinho e me deu um beijo no topo da cabeça.

—Até mais,loirinha.

Nico fez o movimento da arminha para Percy que só balançou a cabeça um vez e se afastou, agarrando Thalia no caminho. Passou os braços ao redor do corpo da menina mesmo sob os protestos dela. Thalia sorriu para mim e voltou a se debater nos braços de Nico.

Desviei os olhos para o chão não querendo encarar Percy Jackson.

— Então..-murmurei,girando meu celular nas mãos novamente.

— Você chegou tarde – Percy sussurrou.

Levantei a cabeça e encarei seus olhos verdes. Ele estava afirmando,não perguntando.

—Eu perdi o trem. – sussurrei de volta.

— Você não tá pegando trem, Annabeth – ele sorriu um pouquinho.

—O tráfego estava horrível – pigarreei.

—Tá citando Arctic Monkeys – ele sussurrou,aproximando-se um passo mais. Ele estava bem perto,eu podia sentir sua respiração em meu rosto. – O que aconteceu? Achei que não tinha vindo hoje. – ele pigarreou e se afastou o passo que tinha dado – Mas parece que você só estava com o Nico.

— Parece que eu não consigo mentir pra você – murmurei,levantando os braços – Eu acho que me rendo!

Ele riu e revirou os olhos em seguida.

— Nico disse que vocês tiveram uma manhã mau humorada – sussurrei também. Ele levantou os olhos olhando para a mesa que a trupe se reunia. Estavam ali Nico e Thalia. Leo também,mexendo em alguma coisa de sua mochila.

— Nico é um idiota – ele respondeu ríspido – E você não tem nada a ver com isso. Não é da sua conta.

Pode não ter sido proposital,mas me senti novamente atingida pela sua rispidez.

— Uau – resmunguei,arqueando as sobrancelhas e fingindo mexer no meu celular sem bateria.

Ouvi Percy respirar fundo e tirar as mãos dos bolsos gesticulando.

—O que foi agora?

Balancei a cabeça pedindo aos céus que meu celular ligasse para que eu pudesse fingir que estava recendo uma ligação e só...dar o pé dali.

— Desculpe se soou um pouco...grosso.

—Ríspido – disse ao mesmo tempo.

Percy puxou meu celular das minhas mãos,fazendo-me olhá-lo indignada.

— Até onde eu sei,esse é meu celular. – pontuei.

—Eu estou tentando me desculpar,ok? Preste atenção em mim – ele pediu baixinho.

—Você não tem porquê se desculpar,Percy – dei de ombros – Você tem razão,eu não sou da sua conta.

—Eu não disse isso, não dessa forma – ele suspirou cansado. – Dá pra me ouvir?

Quer saber? Não dava não. Eu não queria ouvi-lo falar e se possível não queria estar perto dele naquele momento. Porque de uma coisa eu sabia : Percy nunca havia feito jus ao estereótipo de punk rude. Não,ele só gostava de ter um cabelo diferente, disso eu sabia.

Então porque comigo,ele se fazia de rude?

Então não.

Não dá pra ouvir não!

Balancei a cabeça negativamente e estendi a mão,pedindo meu celular.

—Eu não quero ficar debatendo com você,Annabeth.

—Então me devolve o celular e eu vou embora.

—Não é assim também. – a testa se franziu. Ele estava ficando irritado então. Ótimo,isso sim seria um belo show. – Me ouve.

—Não! – bati o pé.

—Para de ser tão..-ele fechou a mão em punho - ...tão mimada!

Eu suspirei algumas vezes e mordi o lábio inferior.

—É a segunda vez que você me chama de mimada,Perseu!

— Você éimpossível. – ele sussurrou raivoso – Eu estou tentando aqui,ok? Pelo amor dos céus,deixa de ser tão marrenta!

Eu puxei meu celular da sua mão e comecei a caminhar pelo corredor que dava nas escadas e na rampa para as salas.

Ele estava ao meu encalço.

— Annabeth!

— Escuta – me virei – Que tal você me deixar em paz?

— Não! – ele resmungou – Você fica apontando o dedo na minha cara e me acusando de coisas nesse seu silencio!

— Olha só, com isso você se importa – resmunguei,dando a volta depois de subir a primeira rampa.

Percy me puxou pela mão,fazendo-me bater contra si. Desviei os olhos para os corredores das salas,vendo como estava vazio.

— Você acha que não me importo com você?

—Você não me trata do mesmo jeito – resmunguei puxando minha mão de volta,ele soltou. – Eu não sei nem se somos amigos. – admiti um tanto decepcionada.

Percy suspirou. Ele passou a mão pelos cabelos e suspirou de novo.

— Parece que você me afasta mais do que afasta os outros – resmunguei – Eu estou tentando também,sabe?

— Você não deveria exigir que eu te trate como os outros. – ele murmurou,puxando minha mão com delicadeza. A mão gelada e macia. Eu tive vontade de passa-la no meu rosto,mas me contive.

— Então não me trate com indiferença. – pedi.

Percy suspirou,colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Ele inclinou um pouco o rosto,passando os dedos na minha bochecha.

— Eu gosto de você – ele sussurrou. – Não estou acostumado a gostar assim de alguém.

No momento em que eu abri minha boca para responde-lo, ouvimos alguém a esquerda na saída da biblioteca,chamando-o. Eu me soltei rapidamente de Percy Jackson e de suas mãos frias e macias,olhando para quem havia chamado-o.

Vestia preto. E vestia rosa. Rosa de doer os olhos.

Ótimo!

— Ei Percy! – ela deu uma corridinha nos alcançando. Parou de frente para Percy e sorriu. – O que está fazendo?

Percy sorriu alegremente para ela. Nem parecia o garoto atormentado de ontem. Nem o garoto atormentado do térreo. Só...parecia outro garoto.

— Ei,Rach –ele murmurou,puxando-a para um abraço.

Eu me sentia uma das paredes dos corredores. Nem parecia que eu estava ali mais.

Comecei a me afastar,andando de volta para a rampa.

Eu ouvi Percy me chamar duas vezes,mas eu só levantei os dedos em “paz e amor” e continuei andando.

.

— Então,sexta-feira show dos Strokes! – Thalia bateu palmas,as mãos cheias de chocolate que havia melado do donuts – E todos – ela apontou um indicador sujo para mim – Todos mesmo vamos!

Encolhi-me um pouco mais nos braços de Leo.Não conseguia imaginar no tamanho da mentira que teria que contar para minha mãe quando eu saísse acompanhada da trupe na sexta.

Percy também havia descido com Rachel pendurada em seu braço. Estavamos aproveitando o ultimo período livre –  pelo menos eu e Thalia, já que a professora não estava na faculdade. Os outros estavam pulando aula.

Ele estava com um fone do celular de Rachel no ouvido. Conversavam entre si baixinho e só as vezes riam das coisas que Thalia dizia. Pareciam entretidos demais um no outro para prestar atenção no resto.

— E você loirinha – Nico começou,puxando Thalia para sentar-se com ele – No final de semana vamos comemorar a ida pro show. Você está convidada.

Não conseguiria imaginar o tamanho da mentira dupla que eu teria que contar para a minha mãe.

E na verdade,eu não queria. Finais de semana eram voltados as séries e deveres de casa.

— Eu vou pensar – brinquei,deitando a cabeça no ombro de Leo – Eu gosto do friozinho de outono para ver séries e dormir.

—Isso – Nico apontou o dedo indicador para mim – Isso sim é coisa de velho. De qualquer forma,será na casa da Rachel,eu passo o endereço pra você por mensagem.

Levantei as sobrancelhas e murmurei baixinho :

—Acho que vou continuar com meus planos.

—Talvez você deva mesmo – Rachel riu,puxando o fone de Percy. Ele sorriu para mim e voltou a bagunçar os cabelos,como se estivesse em um comercial de grife muito chique. – Não desfaça os seus planos se você já os fez.

...

...

....

Impressão minha ou o elemento “R” não queria mesmo que eu aparecesse?

Pare de pesar na dela.

—Bom – Thalia levantou uma sobrancelha encarando Rachel – Eu não vejo problemas se você quiser aparecer,Annie.

—Não mesmo – Nico concordou – Vá depois de realizar esse seu programa de velhaco.

—Na real – Rachel espalmou as mãos na mesa – Eu acho que vai ser muita gente lá em casa,talvez meus pais não gostem...

—Vemos outro lugar – Percy murmurou,apontando com o indicador para Nico – Lá em casa.

Eu sorri lembrando da bagunça na casa daqueles dois.

—Bom,tanto faz – Rachel revirou os olhos, encostando-se de volta no peito de Percy. Ela bagunçou os cabelos,enrolando um dos seus cachorros perfeitos no dedo e olhou-me diretamente nos olhos ao dizer : - Eu acho que éramos melhores quando éramos um número ímpar.

Houve alguns segundos até entendermos o que foi dito.

— Ei Rach,o que é isso? – Nico inclinou a cabeça e negou – Vamos parar com isso ok? Se não formos os seis,não vamos ninguém.

—Não vai ninguém – Thalia corrigiu.

Nico revirou os olhos e olhou-me.

Eu não sabia o que fazer. Eu queria me levantar e sair, mas o braço de Leo ao meu redor era confortável demais. Os olhos em cima de mim eram confortáveis demais.

Só ela não era.

 Percy se levantou,colocando uma das mãos nos bolsos e fez um movimento com o indicador para que Rachel o seguisse. Os dois se levantaram e magicamente o clima ficou mais leve e a conversa voltou a funcionar normalmente.

.

O ventinho frio me lembrou que eu tinha que ir para casa. Fechei meu caderno vendo que o campus já estava quase vazio. Estava sentada na mureta da entrada da faculdade, as folhas das arvores todas no chão. O porteiro me encarava de vez em quando e até tinha me oferecido um café,mas eu só queria terminar de responder minhas questões e já estava indo embora.

Peguei meu celular,desbloqueando-o. Minha galeria de fotos estava repleta de fotos minha cozinhando no apartamento de Percy, o que me fez rir um bocado quando estava mexendo no celular na hora da aula.

Eu só queria que ele fosse o mesmo comigo,como ele era com os outros. Não queria ser especial,só queria ser o bastante.

Não que eu precise ser o bastante para Percy. Eu tinha que ser o bastante para mim mesma. E fim.

Mas queria que Percy fosse o mesmo de quando cantávamos juntos no show. E queria que fosse mais.

A verdade é que eu também gostava de Percy. Mais do que deveria. E eu acho que não era só de agora. É desde o tempo de vê-lo passar nos corredores da ensino fundamental com seu jeitinho diferente.

— Você tá com aquela carinha – ouvi – A carinha emburrada.

Eu me virei apenas para revirar os olhos para ele. O que diabos aquele filho do demo estava fazendo ali,aquela hora? Estava me perseguindo ou o que?

—Você já deveria estar em casa – sussurrei,terminando mais uma questão.

—Você também. – ele deu um pulinho e se sentou atrás de mim, suspirou – Estava esperando o sol se por para tirar umas fotos pra aula. – ele explicou. Concordei sem tirar meu lápis do papel,terminando minha resposta.

Ele suspirou de novo,e abaixou-se colocando a cabeça entre meu ombro e meu pescoço. Tão perto,que eu conseguia sentir seu coração batendo.

—O que está fazendo? –ele sussurrou.

O que eu estava fazendo mesmo? Parecia que de repente eu não sabia mais escrever.

Ou falar.

Ou pensar.

— Eu terminei já – murmurei fechando o caderno no meio da resposta, aproveitando para encostar-me em seu peito e descansar a cabeça. Por que que com Percy,meu coração parecia querer sair da caixa em que deveria ficar? – Que dia horrível.

Percy passou o braço ao redor da minha cintura,abrançando-me.

Eu esperava que meu rosto estivesse bem calmo e passivo, porquê por dentro eu estava : AAAAA DEUSES SIM,QUE ABRACINHO BOM.

— Que dia horrível – ele concordou,colocando o queixo no topo da minha cabeça. Senti seus lábios no meu cabelo e depois ele inclinou-se para olhar-me – É porque não tomamos nosso café com canela.

—Não é só isso – revirei os olhos,aproximando-me mais do seu rosto – Começou ruim e ficou pior depois do intervalo.

Ele concordou e voltou a colocar o queixo no topo da minha cabeça.

—Não ligue para o que ela diz – ele sussurrou – No fundo,até ela prefere o número par.

—Não,acho que não – ri nervosa,passando as mãos nos seus braços só pra ter certeza de que estava mesmo ali e não sonhando de novo.

É,de novo.

—É sim – ele suspirou – Eu não gosto das duas não se entendendo.

— Eu não posso fazer nada quanto a isso – eu belisquei seu braço de leve.

—Ela é minha melhor amiga – Percy inclinou-se entre meu pescoço e queixo de novo,olhando-me – E você... – ele suspirou e sorriu.

Separei-me dele,guardando meu caderno e meus lápis na  bolsa. Pulei da muretinha e coloquei a mochila nas costas. Percy continuou sentado,mas agora de frente para mim,a mochila nas costas e a câmera ao lado.

— Bem,eu preciso ir – murmurei,bocejando de sono.

—Olha você fugindo de novo – ele respirou fundo, pegando a câmera e o cordão ,passando-a ao redor do pescoço e ligando-a. – Você costuma fugir demais dos assuntos. Deveria me dizer onde é seu esconderijo.

Eu sorri um pouco e coloquei as mãos no bolso do meu casaco,olhando para os meus pés.

Touché.  Quando eu não queria enfrentar algum assunto, a saída pela tangente sempre me parecia boa opção.

— Muito boa – Percy sussurrou depois de um tempo tirando a câmera do rosto. – Você é deveras fotogênica.

—Vou cobrar por todas as fotos tiradas – murmurei e sorri para ele. Os olhos verdes contrastando com o final da tarde alaranjada.  – Até as do meu celular.

Ele gargalhou,pulando da muretinha também. Ficou de frente para mim e fez aquela carinha de deboche a qual eu tinha vontade de chutar e beijar ao mesmo tempo.

—Vem tomar um café comigo.

—É tarde. Se eu tomar café agora,não durmo a noite – cocei a nuca. Na verdade,minha mãe ia me matar se eu chegasse tarde. Percy revirou os olhos e passou o braço ao redor dos meus ombros de novo. Começou a caminhar em direção a cafetaria da faculdade,levando-me com ele. – É sério,eu tenho mesmo que ir.

—É só um café – ele puxou minha mão,entrelaçando nossos dedos. Eu olhei para ele por um segundo e Percy piscou para mim sorrindo depois.

Era sete e meia da noite e eu estava sentada na mesa com Percy,depois de “só um café”. Estavamos compartilhando fones de novo. Ele deitou a cabeça na mesa,cansado e eu fazia um carinho no seu cabelo.E nós estávamos subindo então. Mas ao contrário do que eu imaginei,não estávamos nos afastando.

Ele virou o rosto para mim,os olhos verdes grandes e as pupilas dilatadas. As bochechas rosadas e um sorrisinho de canto.

O rosto do problema que me afetava em 90% do tempo era tão lindo.

Eu apoiei meu cotovelo na mesa,colocando o rosto apoiado na mão e sorri.

Ele riu um pouquinho,fazendo-me rir com ele.

Ele desviou os olhos e eu fiz o mesmo.

Quando eu voltei a encará-lo,ele já me olhava de novo.

E só naquele momento ali,eu gostei de não ser tratada como os outros. Porque...bem,porque talvez, eu não fosse como os outros.

—...e eu? – sussurrei,aproximando-me de seu rosto,dando-lhe um beijo na bochecha.

— Você é você. – ele murmurou,e continou me encarando como se eu fosse muito mais especial do que eu jamais imaginaria.

E eu era.


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Notas finais do capítulo

eu amo esta música demais da conta
vcs vão entender a relação Rachel - Annabeth no próximo capitulo E o Percy do próximo capitulo podia existir pra mim ♥
e aí como estão vocês????
QUEM VAMOS PRO SHOW DO ED SHEERAN EM SP?


ps : o nome do desenho é "Os Vegetais" e aqui está um link para ver esta bizarrice : https://www.youtube.com/watch?v=a-yoSP3KrH8