1º de abril de 1999

George abriu os olhos. Seria apenas mais um dia comum, se não fosse por um detalhe: era o seu aniversário. O primeiro sem Fred. Sentou-se na cama e ficou mais uns minutos admirando seu reflexo no espelho. Lembrou-se de quando ele e Fred eram crianças e gostavam de brincar de espelho, fingindo que um era o reflexo do outro. Inclinou o rosto, mostrando o lado sem a orelha. Veio imediatamente em sua mente o momento em que chegara em casa, com o rosto sangrando e disse à Molly: "Agora você vai poder distinguir quem é quem, mamãe".

Desde aquele dia, não voltara mais ao apartamento que dividia com o irmão gêmeo. Estava vivendo novamente com os pais e não dormia mais sozinho. Sempre tinha um irmão para fazer-lhe companhia, geralmente Rony ou Percy. Às vezes Arthur o fitava por uns minutos, dava tapas em suas costas e suspirava, em silêncio. Mas aquele dia não era como os outros e pressentiu que talvez a família quisesse fazer alguma comemoração. Todavia. George não queria ver ninguém. Saiu sozinho para o apartamento e ficou caminhando pela casa, vendo as bugigangas que ele e Fred inventaram juntos para a loja e tentava em vão segurar as lágrimas. Até que alguém bateu à porta.

— Imaginei que você estaria aqui – era Angelina. George permitiu que ela entrasse. A jovem nunca tinha entrado no apartamento dos gêmeos antes e olhava maravilhada ao redor. Era um apartamento mais ou menos arrumado, com algumas teias de aranha e muita poeira, já que estava abandonado há algum tempo.

— Bonito aqui, não?

— Você gostou?

— É, até que é organizado. Sabe, vindo de vocês, eu sempre achei que... – Angelina fez uma pausa, pensando que George ficaria triste em relembrar o irmão.

— Está tudo bem... Sério mesmo, eu... – George não conseguiu se controlar e chorou como uma criança. Estava chorando muito ultimamente. Angelina encostou a cabeça dele em seu colo e os dois ficaram assim por um bom tempo.

— Também está difícil pra mim, ele era mais que um amigo e eu nunca contei a ninguém, mas... – George ergueu o rosto para encarar Angelina nos olhos – Eu gostava dele.

George olhou para o chão, meio chateado. Ele gostava de Angelina desde aquele episódio do Baile de Inverno, em que Fred a convidou. No momento, fingiu não se importar, mas ficou um pouco enciumado ao vê-la dançando com o irmão. Depois Angelina dançou com ele também, por insistência de Fred, e George esqueceu esse sentimento por uns tempos. Até agora.

— Eu... Olha, me desculpe se o que eu disse está te fazendo mal – George discordou com a cabeça – Mas eu preciso muito desabafar com alguém e... Eu o amei por um tempo, depois esqueci, essa coisa toda da guerra me fez desviar um pouco o foco, mas naquele dia em que a gente se reuniu com o resto do time pra lutar, eu senti uma coisa louca, uma coisa nova, eu...

George abraçou Angelina, impedindo que ela falasse, pois temia que ela dissesse que amava Fred novamente. Resolveu mudar de assunto.

— Sabia que daqui a uns dias eu vou ser tio? Gui e Fleur estão esperando um bebê, e mal posso esperar para ensinar a ele a arrancar as tampas das privadas de Hogwarts.

Angelina sorriu, admirando George. E disse:

— Sabe o que eu mais gostava em vocês? A alegria, vocês estavam sempre animando todo mundo, levantando o astral, nunca me esqueci daquela vez em que pensaram que Harry era o herdeiro de Sonserina e vocês fizeram graça com a situação!

George sorriu também e Angelina continuou.

— Eu posso até ter gostado de Fred, George, mas é você que eu amo. Você sempre foi o mais doce e gentil dos gêmeos e naquele dia da Batalha em que eu vi você bem e a salvo, tive certeza disso.

George corou instantaneamente. Sentia um misto de euforia, felicidade e alívio. Afastou-se dela e caminhou até a geladeira, procurando algo para comer, mas não achou nada. Coçava a cabeça, até que decidiu conjurar um bolo. O levitou até a sala, com talheres e pratos e disse:

— Sabe, Angelina, eu nem estava muito a fim de comemorar meu aniversário, mas depois de um presente desses, acho que merecemos uma pequena festa.

Angelina aplaudiu, os dois improvisaram um Parabéns e partiram o bolo. Comeram um pedaço, depois George começou a lambuzá-la com a cobertura e Angelina fez o mesmo. Os dois se sujaram com o bolo, que acabou destruído. Depois deitaram no chão, olhando para cima, e George se lembrou novamente de Fred. Mas era de um jeito bom. Sentiu que onde quer que estivesse, Fred estaria abençoando os dois.