Ah, Juliet....

Há tantas coisas que não sei por onde começar.

Já fazem três semanas desde a última vez que te escrevi. Estamos no sétimo mês após a sua morte e eu ainda sinto tudo da mesma forma como fora no início: como uma ferida aberta no meu coração.

No entanto, devo confessar que os dias têm-se passado melhores do que antes: Já não choro tanto, da mesma forma que não corro tanto para debaixo da cama. E Sky é uma das maiores responsáveis por isso.

Ah! Sky! Não te contei de imediato porque quis guardar todas essas emoções dentro de um potinho, mas já é hora: Sky é Ramona, a irmã de Colin.

Sim! Essa Ramona!

Eu sei, eu sei, você provavelmente deve estar bem indignada dentro do túmulo, mas a verdade é que até eu fiquei indignada. E surpresa. E contente. Não haveria pessoa melhor para eu ter como amiga. Ainda não perguntei a ela sobre vocês, sobre afinal de contas qual tipo de relacionamento vocês tinham e pelo que eu consegui perceber ela evita ao máximo falar de você. As vezes me pergunto se vocês teriam se desentendido ou algo assim, mas acho que é porque nela também dói. Fala sobre você nem sempre é fácil, Juliet. Ninguém estava preparado para o que houve com você.

Meu relacionamento com Anne e Mayune consequentemente mudou após descobrir que Ramona é Sky, pois agora sentamos juntas no refeitório e nos encontramos após as aulas. Você deve imaginar que Anne não recebeu a situação bem, enquanto Mayune se mostrou indiferente. Anne me ligou naquela noite, perguntando se eu estar confusa psicologicamente fez com que eu quisesse andar com uma pessoa como Ramona e eu apenas desliguei o celular friamente na sua cara. Não estou mais com paciência para lidar com elas, Juliet. Ramona tem me mostrado cada vez mais como quão tóxicas elas são. Acredito que Anne seja a cabeça, enquanto Mayune ainda não percebeu no que se meteu. Eu ainda não compreendi porque não consigo desfazer meus laços com Anne, pois de alguma forma sempre voltamos para o mesmo ponto em que ela está muito mal com a vida e precisa conversar comigo, mas nunca está disponível para mim.

Enquanto isso, Maxwell e eu estamos desenvolvendo uma amizade um tanto quanto... peculiar. Não conversamos muito, mas trocamos mensagens de texto com frequência sobre design de interiores. Eu sei, estranho né? Mas Maxwell gosta de fazer móveis e inclusive deu para Anne um espelho de mão, com uma madeira pinus. Era tão lindo, Juliet, ele ia assumindo diferentes formas no seu contorno, mas Anne achou o objeto inútil.

— Para quê vou andar com um negócio desses se já tenho um no estojo? – Foi o que ela disse.

Ramona segurou a respiração com força por pelo menos bem uns trinta segundos para não berrar. Colin e eu acreditamos que a qualquer momento ela vai voar no pescoço de Anne e fazê-la pagar por tantas frases maldosas e estúpidas. Queremos estar vendo de camarote quando isso acontecer.

Mamãe diminui mais os seus plantões, então consigo vê-la com mais frequência. Kiersten também tem aparecido por aqui, com um sorriso no rosto que parece estar grudado ali para sempre, como se ela tivesse feito uma plástica. Todas as malditas vezes que ela vem eu sinto vontade de manda-la ir embora, mas de alguma forma ela tem ajudado mamãe a não passar tanto tempo fazendo desastres na cozinha. Porém, Kiersten, como sempre, fala muito do papai e da sua vida no bairro em que ele e Natalie moram. Mamãe nunca fala nada além de “Uh... interessante Kierten.” Eu não entendo como ela não consegue ver as coisas nas entrelinhas.

Ainda não perdoei Papai, Juliet. E nem sei se serei capaz de fazer tal coisa.  Isso é tudo o que posso te falar sobre ele.

Quanto a lista, Aaron e eu já completamos mais da metade.

Ah, Aaron...

Suspiro. Pausa dramática.

Dias aleatórios, em que ele aparece aqui em casa sem avisar com algum livro novo ao qual eu possa me interessar. Dias marcados, em que saímos para tentar completar um item na lista, mas nem sempre temos sucesso. E dias nenhum, em que eu não sei onde ele está, com quem está ou o que está fazendo. Ele nunca me dá abertura suficiente para eu entender o que possa estar se passando. O que sei é que ele me confunde e eu sinceramente não gosto de ser confundida e tenho certeza que nem você.

Nem sempre tenho forças para agir como você agiria, Juliet. É quase sempre muito cansativo. E algumas delas eu fico me perguntando se com essa atitude eu realmente estou conseguindo te manter viva dentro da minha memória e de pessoas próprias,  e se estiver, significa que eu, Vivi, estou morta? Estou sendo apenas uma casca vazia para te representar?

Tento não pensar por esse lado, mas Aaron faz com que essas questões fiquem surgindo na minha cabeça.

Estou começando a ter medo de não restar mais nada de mim se continuar com isso.

V.