Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 45
Semana Hospitalar - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Eu decidi postar a parte 1 logo, já que iria demorar demais para terminar de escrever. Então aproveite os primeiros dias da Riley internada. O capítulo foi narrado exclusivamente pela Riley e é um aquecimento para os acontecimentos da parte 2. Espero que gostem!!! E boa leitura...



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POV Riley

Terça-feira.

A primeira vez de uma longa semana que eu estaria acordando naquele hospital. Me acordaram cedo, apesar da minha dificuldade para cair no sono na noite anterior, para que eu pudesse regular meus horários no decorrer da semana e ajudar meu organismo a se reequilibrar.

Meus pais haviam passado a noite comigo, e insisti para que eles fossem para casa, cuidassem de Auggie e para poderem descansar um pouco também. Meu irmão garantiu que ficaria comigo e criaria uma agenda para que eu nunca ficasse sozinha e que teria sempre alguém cuidando da minha segurança e eles se acalmaram um pouco.

Eu estava comendo minha salada de frutas e assistindo desenhos. Meus pais haviam saído pela porta a exatos dois minutos. Ainda, provavelmente, estavam no prédio. Stiles estava jogado no sofá mexendo no celular antes de levantar e vir sentar na minha cama de hospital.

— Já temos uma agenda. - Ele disse e me mostrou uma planilha no celular.

Era uma agenda de quem estaria comigo a cada segundo do dia. Hoje eu teria o Stiles durante a tarde e a Maya durante a noite. Amanhã seria minha mãe e Liam, na quinta seria Shawn, Katy e Josh, e na sexta seria meus pais, Auggie e Stiles, se revezando para cobrir o dia e a noite respectivamente.

Eu ri de lado achando graça da dedicação e amando, ao mesmo tempo, o fato de estar rodeada de pessoas tão gentis e dedicadas que estão dispostas a despender tempo e esforço para cuidar de mim e ajudar meus pais a lidarem com tudo o que aconteceu.

— Vocês são adoráveis! - Stiles balançou a cabeça rindo e concordando.

— Você é parte da melhor alcateia, que te coloca em risco. - Stiles disse. - Mas o amor e a lealdade são os benefícios.

O silêncio pairou por um instante e eu me pronunciei sobre a sentença.

— Você e o Liam tem que parar de achar que têm culpa no que aconteceu!

— O Liam falou que conversou contigo ontem, de madrugada. - Stiles disse e levantou os olhos para me encarar. - Ele disse que tinha algo te incomodando. Algo que você não falou do que se tratava.

— Como o Liam percebe essas coisas? - Me perguntei involuntariamente num reflexo de curiosidade.

— Talvez ele só te conheça bem. - Meu irmão disse e então pegou minha mão. - O que você não contou para ele ontem?

— Um pesadelo. Foi só isso. Um estúpido pesadelo provavelmente sem significado nenhum.

— E por que você não quis falar sobre isso? - Ele perguntou.

— Eu era um monstro. Com asas e um rosto pontiagudo. Eu surgia de cinzas. - Comentei constrangida. - E eu sei que não faz o menor sentido.

— Eles achavam que você pode ser uma fênix. - Meu irmão comentou.

Eu não lembrava desse momento.

— Eu lembro de ter escutado isso. Mas achei que fosse só mais uma alucinação.

— Você alucinou? - Ele parecia preocupado.

— Um pouco. Principalmente nas primeiras horas. Paredes movendo, coisas falando, frases sem sentido. - Percebi meu irmão preocupado e interrompi minha fala. - Mas depois passou e eu só não via nada, acordava as vezes, mas não conseguia ficar acordada por muito tempo.

— Você não devia ter passado por nada disso. - Ele encarou as próprias mãos.

— Stiles. - Ele relutou em me olhar nos olhos, então chamei-o outra vez. - Stiles.

Ele me encarou. Culpa carregava seus olhos tristonhos e pesava sobre seus ombros. Ele estava abatido. Todos achavam que era por causa da preocupação dos últimos acontecimentos, mas eu sabia que aquele semblante cansado era como a voz falha do Liam, era culpa e medo.

— Eu estou bem. - Ele me encarou inseguro. - E eu teria feito exatamente a mesma coisa, se estivéssemos em posições opostas.

Ele apenas assentiu e saiu para ir buscar água no corredor. Quando voltou estava acompanhado. A matilha estava com ele. Lydia estava de braços dados com Stiles quando atravessou a porta. Scott, Liam e Malia estavam logo atrás.

— Como você está? -Perguntou uma voz atrás de Scott.

Só o vi quando Scott deu um passo para o lado. Era um menino loiro. Por volta da idade do meu irmão. Forte e sério. Tinha um ar de tristeza e estava ao lado de um outro rapaz. Esse era igualmente branco, mas tinha o cabelo castanho. Seu rosto parecia ameaçador e ele parecia prestes a atacar alguém.

— Eu sou o Theo. - Disse o intimidador e continuou apontando para o loiro. - E esse é o Isaac.

— A gente só queria ter certeza que você está bem antes de deixar Nova York! - Isaac disse suavemente.

— Eles são velhos amigos da matilha. - Scott explicou. - E nos ajudaram a te resgatar ontem.

O Isaac é um velho amigo. - Liam corrigiu encarando Theo destemidamente.

— Enfim. Ajudamos. Você está bem. Já podemos ir. - Theo disse sem se importar com o comentário do meu amigo, que agora já estava sentado no canto da minha cama.

— Obrigada. - Eu disse. - Por me ajudarem, mesmo sem me conhecer.

— Foi um prazer. - Isaac disse suavemente tentando amenizar o comentário de Theo. - A Matilha teria feito o mesmo por nós.

— Por você. - Theo corrigiu. - Eu só estava devendo uma para o Scott. Mas estou feliz que agora estamos zerados.

— Obrigada mesmo assim! - Disse me arrumando numa posição mais confortável.

— Relaxa, boneca! - Theo disse com um sorriso torto e deixou o quarto.

Meu irmão revirou os olhos enquanto os demais reagiam à saída dramática do Theo. Isaac apenas riu e me acenou uma despedida antes de seguir pela mesma porta.

— Nós também estamos indo embora em breve. - Malia comentou. - Então não se mete em nenhuma confusão.

Eu ri sem humor, já sentindo saudade dos amigos do meu irmão.

— Vocês vão embora hoje? - Perguntei e a Lydia apenas assentiu com a cabeça e um sorriso triste.

— Mas vamos nos ver em breve. - Ela disse com o mesmo sorriso doce.

— E o Argent está chegando para cuidar de você. - Scott completou e lembrei do Chris. Eu o conheci quando fui para o enterro do Mason.

— Precisamos descobrir essa coisa de fênix. - Liam constatou no meio do silêncio repentino. Ele pousou a mão sobre meu joelho enquanto me encarava cuidadosamente.

Eles passaram algumas horas comigo. Conversamos sobre os cuidados que devemos tomar daqui em diante, sobre a possibilidade de que eu e Stiles não sejamos humanos e sobre os assuntos mais leves e triviais antes do celular de Scott tocar.

— O Argent chegou! - Scott anunciou e sabiamos que era a hora da despedida.

Liam parecia triste com a constatação, e Scott também notou.

— Você está fazendo um bom trabalho cuidando da matilha que está aqui, Liam! - Scott disse tocando as costas levemente curvadas do beta que estava visivelmente insatisfeito com a partida deles. - Estou orgulhoso de você!

— Eu não. - Ele respondeu num sussurro quase inaudível.

Eu tinha certeza que Scott tinha escutado, mas ele fingiu que Liam não havia dito qualquer coisa e se despediu do beta com pesar.

— Vamos nos ver em breve. - Ele disse e o grupo se abraçou.

Observei a despedida com meu coração partido. Eu sei o quanto Liam sente falta dos amigos, da cidade e da família. E eu sei que meu irmão também sente falta de estar sempre com eles, em especial com Lydia. Não pude deixar de me perguntar se eu e meus amigos sobreviveríamos à distância, às mudanças e às dificuldades quando deixássemos a escola. Eu e Maya sobreviveríamos, com certeza.

Cada um deles se despediu de mim com desejos de melhoras, recomendações de cuidado e promessas de nos encontrarmos em breve. Meu pai foi o último a se despedir. Ele veio depois que o grupo saiu exclusivamente para se despedir. Pediu desculpa por não ter ido mais cedo para me ver e eu afirmei que ele não precisava se preocupar.

Liam saiu com Scott, Lydia e Malia momentos antes e agora Stiles saiu com nosso pai. Fiquei sozinha naquele quarto encarando as paredes com medo antes de Argent bater na porta e entrar. Ele se certificou que eu estava bem e então me explicou que estaria por perto, cuidando de mim, e que mesmo que eu não o visse, ele estava por perto.

Stiles voltou logo em seguida e comentou que havia encontrado com Chris. Assenti e disse que ele já havia ido ao meu quarto. Stiles riu, achando graça do comportamento suspeito e misterioso com o qual ele já estava acostumado.

Imaginei que todos os dias passariam lentamente enquanto eu era levada de um lado para o outro, fazendo exames, sendo medicada e encarando as paredes brancas enquanto eu e a pessoa que estava atribuída de babá ficássemos sem assunto e sem ânimo para conversas vazias. Mas ainda não havia sido assim. Meu irmão me manteve entretida enquanto esteve por perto, depois veio o Farkle ficar comigo por algumas horas enquanto meu irmão acompanhava minha melhor amiga na visita ao pai.

Eu estava curiosa. Queria saber o que estava acontecendo. Mais do que isso, eu queria estar lá com ela. Eu queria segurar sua mão enquanto ela esperava a chegada daquele homem que causava tantos sentimentos controversos na minha amiga. Eu queria consolá-la enquanto ela sentia tudo o que o seu pai a causava. Eu queria estar lá pela minha melhor amiga.

Mas ao contrário de todas as minhas expectativas, eu estava deitada num leito esperando que ela chegasse e me contasse como tudo ocorreu no encontro.

Eu fiquei aquelas horas focando nas tentativas de assunto do meu amigo. Farkle era um ótimo amigo e me conhecia como poucas pessoas, mas eu mudei muito. E minha cabeça está em lugares que nunca imaginei que estariam. E mesmo que eu o amasse, por querer falar sobre minhas séries favoritas, as notícias e eventos ativistas, eu simplesmente não queria saber daquelas coisas que, alguns meses antes, seriam minha prioridade.

Mas não demorou muito até que minha melhor amiga chegasse para render nosso não tão pequeno, mas igualmente alegre Farkle. Ele pareceu estar chateado que seu tempo tivesse acabado, mas sabia que eu precisava daquela noite com a minha melhor amiga, então saiu sem demorar muito.

Maya parecia completamente bem, para qualquer pessoa que não a conhecesse como eu, inclusive Farkle, mas eu sabia que ela havia chorado e que ela estava prestes a explodir. Não como um vulcão prestes a entrar em erupção, mais como um copo cheio de água sobre o qual continua gotejando incessantemente. Ela estava cheia e precisava derramar um pouco de água.

— Como você está? - Perguntei assim que Farkle fechou a porta atrás de si.

Eu sabia que ele não estava ali esperando para ouvir. Não combinava com ele.

— Não. - Ela disse instável e andou até mim.

Maya sentou ao meu lado e deitou a cabeça no meu ombro. Pensei em perguntar o que havia acontecido, mas preferi deixá-la tomar seu próprio tempo.

— Ele não vai mais aparecer, Riley. Ele está indo embora de novo. - Ela disse e eu a abracei com força enquanto ela caia em lágrimas.

Maya não era o tipo de garota que chorava. Eu já a vi passar por algumas das situações mais difíceis da vida sem se deixar abater, sem chorar e, principalmente, sem deixar que sua vulnerabilidade fosse vista. Eu era uma das poucas pessoas que já tinham visto aquele lado da selvagem Maya Hart.

    – Por que ele apareceu? - Perguntei sem graça tentando entender o que estava acontecendo.

    – Ele queria a minha mãe. Queria reconquistar ela, e a mim. Queria a família.

    – E ele simplesmente desistiu?

    – Ele nos queria pelos motivos errados. - Ela se afastou do abraço e me encarou. - Ele precisava de abrigo e de dinheiro. Achou que poderia simplesmente voltar como se nada tivesse acontecido e exercer a tal da função paterna e se restabelecer.

    – Eu sinto muito, Maya. - Eu disse sinceramente enquanto ela deixava o rosto repousar no meu ombro outra vez.

    – Mas não importa. - Ela disse e secou as lágrimas determinada e com aquele olhar feroz da garota que poderia superar qualquer adversidade. - Eu já tenho um pai agora. Eu tenho uma família bem maior do que a que ele deixou para trás. E eu não preciso dele.

A abracei, sabendo que mesmo que tudo aquilo fosse verdade, de algum modo, ela sentia falta do pai e queria ter uma relação com ele. Mas ela não poderia ter essa relação sincera, então preferia não ter. Eu a compreendo. E, principalmente, a admiro. Eu não saberia lidar com isso. Um pai que me abandonou, que não me ama e que tenta me usar para suprir as próprias necessidades. Eu era adotada, fui deixada pelo meu pai biológico, mas tinha contexto e motivos, e principalmente, eu tinha amor. Eu tenho muito amor.

Me senti grata por ter tanto amor na minha vida enquanto apertava o abraço ao redor da minha doce amiga que se mostrava tão durona para o mundo. Ela se recuperou e então decidimos assistir alguma série e curtir a noite do modo mais leve possível.

Insistimos com o enfermeiro chefe do turno para pedir a entrega de um lanche, e depois de muita negociação ele concordou em nos deixar pedir o delivery, já que eu não estava doente e precisava mesmo de comidas gordurosas que ajudassem a tirar as toxinas que ainda estavam no meu sangue.

— Se alguém perguntar isso é pelo bem da paciente, viu?! - Ele falou meio num sorriso e encarou o celular com quem ele provavelmente estava falando com algum superior. - E você merece comer besteira depois de tudo o que passou.

Ele sorriu solidariamente e estendeu o próprio celular já aberto num aplicativo de delivery para que fizéssemos o pedido.

— Pede no meu nome que eu desço para receber o pedido. - Ele explicou enquanto minha amiga pegava, satisfeita, o celular de sua mão. - Assim não teremos problemas com os gestores.

Pedimos dois hamburgueres, batatas fritas, dois refrigerantes e dois milk shakes.

Maya tinha trago o notebook e já tinha aberto o netflix, ao ponto que nosso pedido havia chegado quando decidimos o que assistir, embora tenha sido a mesma série de sempre, Friends. E estávamos rindo da primeira piada do episódio quando Peter entrou carregando nossos pedidos. Ele olhou para trás antes de fechar a porta, verificando se estava sendo observado.

Peter, o enfermeiro, era moreno e alto, e incrivelmente simpático. Era o melhor enfermeiro até o momento, ele me tratava como um ser humano. A sua compaixão não aprecia com pena, além de que sua simpatia não parecia com um espetáculo ensaiado. Ele simplesmente nos entregou os três pacotes marrons que continham nossos lanches ilegais.

Ele riu sem graça e colocou os dedos em cruz sobre os lábios como um sinal para que mantivéssemos aquilo em segredo. Rimos satisfeitas e ele deixou o quarto sem maiores comentários.

A noite foi o melhor momento que eu passei no hospital. Se quer pareceu que eu estava em hospital. Minha melhor amiga estava comigo, comendo besteira e assistindo friends, parecia só mais um dia comum, e um dos dias bem felizes. A Maya tinha esse dom de me deixar feliz com as coisas mais simples e de ser, sempre, a minha melhor e favorita companhia.

Maya e eu dormimos cedo, ela tinha aula na manhã seguinte e eu ainda estava sonolenta, mesmo já tendo dormido por tantas horas. Consequentemente acordamos cedo na manhã seguinte para encarar o fato de que estávamos ainda numa semana comum.

A quarta-feira começou cinzenta. Era dia de chuva e ninguém aprecia animado, ou disposto a encarar a volta às aulas. Os incentivei através do grupo de mensagens enquanto Maya deixava o quarto, mandando um beijo. Minha mãe já tinha chegado e estava timidamente se acomodando no sofá cama.

Ela tinha trago comida na bolsa e, logo depois que entregaram meu café da manhã saudável ela tirou um pote com minhas perfeitas panquecas. Adorei o fato de que estava cometendo tantas infrações na minha dieta de hospital. Era particularmente engraçado quando isso estava acontecendo com a minha - sem infrações - mãe.

Passei a manhã acompanhando meus amigos na volta à rotina de sala de aula. E pelo que eu li, estava sendo péssimo. Eles eram o centro das atenções. E haviam muitos curiosos. Nenhum deles parecia confortável com a atenção que estavam recebendo, em especial a Smackle parecia assustada quando mandou mensagem pedindo ajuda. Lucas respondeu prontamente dizendo que estava indo encontrá-la.

Era desconfortável ter que ficar sabendo de tudo externamente. Eu queria estar lá com eles. E ao mesmo tempo, não queria. Não sei se saberia lidar com toda a falsa atenção, todas as perguntas e todos os julgamentos. Por um instante senti um arrepio na espinha de imaginar como estaria sendo andar por aqueles corredores e ter todos os olhos em mim, de ser a menina que foi sequestrada.


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