POV Stiles

Acordei com a gritaria dos meus colegas de quarto. O casal brigava em gritos e tapas.

— O que está acontecendo? - Perguntei pra Toby que também estava acordado escutando o escarcéu.

— Ele ficou com a Snow ontem. - Ele disse. - Eles brigaram, terminaram e ele ficou com ela. Aí voltaram e ele não falou nada. E agora ela descobriu e está puta com ele.

Revirei os olhos, sem paciência para aguentar mais uma briga do casal, e peguei meu celular. Havia uma mensagem de Liam para mim e Scott.

Um lobisomem. Me arrepiei. A ideia de que eu trouxe essa vida para perto da minha irmã fez com que uma corrente de energia passasse pelo meu corpo, antes eu era o humano bobo, curioso e destemido, mas agora eu temia por sua segurança. Liam comentou que pretendia treinar Riley.

Eu deveria fazer o mesmo. — Pensei em ensiná-la a atirar.

Peguei minha mochila, alguns livros e fui para a biblioteca me dedicar a todo o conteúdo que eu vira apenas superficialmente nos últimos dias, mas o tremor em meu peito que havia se instalado na noite anterior ainda era presente.

Forcei-me a me concentrar e estudei por horas. Senti o celular vibrar e perdi o foco. Era Melissa. Provavelmente meu pai, imaginei. E estava certo, era ele mesmo.

— Já almoçou? – Ele perguntou.

Olhei a hora sem entender. Já era quase uma da tarde. Passei quase 5 horas estudando, me orgulhei e voltei a prestar atenção no meu pai.

Ele não queria falar de nada específico. Apenas sentira que deveria ligar. Me perguntei se ele queria falar com Riley e não tivesse seu número. Mas ignorei essa ideia e continuei nosso assunto.

— Tem certeza que está tudo bem? – Ele perguntou.

Ele sentia que algo estava acontecendo.

— Ontem aconteceu algo desconfortável, mas está tudo bem agora. – Eu disse.

Ele poderia saber da situação de ontem. Mas não lhe contaria do lobisomem nas redondezas. Ele apareceria aqui antes que eu notasse, sem poder realmente fazer nada a respeito. Nem a gente sabe direito como prosseguir.

— O que foi? – Ele perguntou aliviado ao ouvir que estava tudo bem.

— O ex da Riley. Bebeu um pouco e se descontrolou. Arrumou briga, mexeu com a Riley. Mas eu e Liam estávamos lá e nada aconteceu.

Ele suspirou. Ele provavelmente se conformou que aquela intuição em seu peito era sobre isso. Mas eu sabia que era sobre o nosso próximo desafio. Suspirei também antes de desligar o celular.

— Você deveria vir para NY no seu aniversário. – Ele ponderou a ideia, mas não falou nada sobre isso.

— Tchau, pai. – Me despedi. – Eu também estou com saudades.

Ele se despediu, mandou um beijo para Riley e desligou. Guardei o celular e juntei minhas coisas para ir almoçar. Mandei mensagem para o Liam perguntando se havia alguma novidade e acabei sendo convidado para almoçar na casa dos Matthews.

Refiz aquele trajeto notando como eu cheguei em NY achando que estava só e como agora tenho uma família aqui. No meio dos meus devaneios notei Lucas na rua de Riley sentado na calçada. Era ele mesmo?

Realmente era ele. Sentado sozinho. Na rua da Riley. Provavelmente tomando coragem para ir até ela, imaginei.

— Refletindo sobre seus erros? – Perguntei me sentando ao seu lado.

Ele se assustou. Não havia notado eu me aproximando. Me encarou por um instante depois do susto e voltou a olhar a rua. Sem me responder. Me levantei ainda sendo ignorado e saí sem escutar sua resposta.

Eu já abusei do álcool e fiz coisas da qual me arrependo. Mas havia esse lado de mim, que o odiou desde a primeira vez que Riley me contou de seu relacionamento. Que o odiou por ter estado com ela sem ter certeza do que queria. O odiou por nunca deixar claro o que sentia. O odiou por aceita-la como segunda opção. O odiou por interferir na amizade dela com a melhor amiga. O odiou por ter mantido segredos, escondido seu passado. O odiou por fazê-la se sentir mal quando ela precisava de apoio. O odiou por tê-la confundido com seus ciúmes e sua posse. E principalmente, por tê-la deixado ir, sem nenhum esforço para se mostrar diferente do que suas ações anteriores indicaram.

E agora eu o odiava ainda mais por tê-la machucado.

Caminhei até o apartamento com aquele sentimento ruim amargando minha boca e me causando enjoo. Mas assim que cheguei, o sentimento se dissipou diante do sorriso largo da minha irmã que conversava com a melhor amiga.

Liam e Farkle brincavam com Auggie.

Nós almoçamos juntos. Tinha clima de verão na casa do Scott quando éramos crianças. Nossas famílias reunidas. Sorri com a sensação e com a lembrança.

Depois do almoço Riley sentou com Maya e Farkle no sofá e eu fui conversar com o Liam.

— O Scott falou alguma coisa com você? – Perguntei baixinho.

— Ele disse que é melhor a gente vê se ele tem matilha e se consigo levantar uma bandeira branca. – Ele respondeu.

— E a ideia de treinar a Riley?

— A gente começou hoje. – Ele disse.

Nos aproximamos do sofá enquanto os três conversavam distraídos.

— É quase como se a gente tivesse voltado no tempo. – Maya disse.

Eu não entendi a informação, mas não perguntei. Depois do breve silencio a explicação chegou quando ela comentou:

— É estranho não termos a Smackle, o Lucas e o Zay. – Farkle apenas assentiu e notei minha irmã mudar sua expressão, antes tão alegre.

— A gente deveria resolver isso! – Riley disse e todos os rostos na sala se viraram para ela.

— Não dá pra consertar tudo, Riles. A gente já conversou sobre isso. – Maya disse com uma expressão de solidariedade.

— A gente deveria fazer uma reunião na janela. – Ela disse quase como se não tivesse escutado a amiga.

— Você tem certeza, Riley? – Farkle perguntou ainda com dúvidas sobre a ideia da amiga.

— Eu acho que pode ser bom. – Ela disse e ele assentiu.

— Se é o que você quer... – Ele disse.

Ela pegou o celular e mandou mensagem, logo informou que quem estava faltando chegaria e foi para o quarto, o resto de nós apenas a seguimos sem saber se ela estava fazendo a coisa certa, se não era cedo demais, mas ninguém queria contrariá-la.

Ficamos sentados, desconfortáveis e em silêncio. Eu e Liam na cama da Riley e os três no banco. Smackle chegou e sentou ao lado de Maya, depois Lucas e Zay. Lucas ficou em pé e Zay sentou ao lado do Farkle. Lucas não olhou para ninguém. O silêncio pairou por alguns instantes até Riley começar a falar.

— Muita coisa aconteceu com a gente nos últimos dias. – Ela disse. – Mas eu não quero que seja o nosso fim.

Maya segurou sua mão.

— Eu sinto muito – Lucas disse ainda encarando o chão. – Por ter afetado a amizade de vocês.

Riley e Maya se entreolharam e ele continuou.

— Por fracassar no nosso relacionamento. – Ele agora levantou o rosto para olhar minha irmã. – E pelo que fiz ontem. Por ter perdido o controle. E ter machucado vocês.

O silêncio pairou mais uma vez.

— Mas eu não acho que eu seja o mesmo Lucas que se tornou amigo de vocês mais. E não vou arriscar que aquilo aconteça outra vez. – Ele disse e saiu pela janela.

Ninguém o impediu de partir.

— Eu amo vocês. – O Zay disse quebrando o silêncio. – Mas eu tenho que estar ao lado dele agora!

Zay também se levantou e saiu.

O silêncio pairou outra vez.

— O nosso caso, eu acho que é mais pessoal. – Smackle disse.

O resto de nós entendeu o recado e saímos do quarto, voltando a sala. Sentamos em silencio esperando que algo acontecesse. Depois de longos minutos, Riley impaciente sussurrou para Liam escutar.

— Ela já foi embora. – Ele disse quando ela perguntou sobre o que falavam.

Riley se levantou e foi até o amigo. Maya, Liam e eu ficamos sentados no sofá remoendo aquela sensação de ressaca que amargava nossas bocas.