Miguel assistira a mulher indo embora. A chuva ainda caía no guarda-chuva dele, e o carro vermelho em meio de tanto cinza da cidade, sumira há minutos. Na garganta, acumulou-se tantas frases, pensamentos e comentários, que não conseguiu falar nada. Ela roubava a atenção, o ar e as palavras. Era uma ladra que acabou roubando algo mais importante ainda, um sentimento que ele esquecera por completo dentro do peito. 

Despertou-o de um sonho profundo, mas Miguel não queria retornar a dormir, queria mais daquele sentimento, mais daqueles batimentos acelerados e doídos. 

 Miguel desejou poder roubar algo dela, não meras palavras, mas talvez beijos dos lábios vermelhos.