TWD - Quinta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 13
Oito


Notas iniciais do capítulo

"Olá, sou Deanna Monroe"



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Dei uma batidinha no ombro de Sam ao passar e me equilibrei no trailer, enquanto caminhava até os fundos, onde Noah entregava um remédio e uma garrafinha de água para os dois homens no quarto móvel. Aquele trailer era assustadoramente idêntico ao de Dale e no fundo, parecia que eu acharia as coisas do meu velho amigo se abrisse as gavetas. Ao chegar no quarto, tentei não escutar a conversa que eles estavam tendo e sim me focar na conversa que queria ter com Aaron.

— Atrapalho? – Perguntei, ao me encostar na porta, do lado de Noah

Eric estava dormindo na cama, coberto por lençóis brancos e ao seu lado, sentado em uma cadeira, estava Aaron, segurando uma garrafa de água e um frasco de um dos remédios que estava na mochila de Kylie.

Ao fundo, pude escutar a risada alta de Sam e os resmungos incompreensíveis de Tara. Ele, Tara, Eugene e Kylie estavam jogando baralho, com a supervisão de Jason, como se eles não soubessem jogar.

— Não. – Noah me respondeu, com um sorriso amigável nos lábios – Nós já terminamos.

Me encostei na parede ao lado da porta e assim que Noah saiu, olhei para o homem sentado perto da cama de seu companheiro.

— Quando chegarmos em Alexandria, pode me levar até eles? – Perguntei, menos direta impossível

— Acredito que devam conversar com Deanna primeiro. – Aaron me contou e ao notar meu olhar questionador, completou – Ela vai responder melhor as suas perguntas. Não irá demorar.

— É só que... – Murmurei, passando a mão pelo cabelo – Eu esperei por isso há muito tempo.

— Eles também. – Aaron comentou, sorrindo levemente – Eles também.

— Bom.... De qualquer jeito, desculpe por ontem. – Falei, me desencostando da parede para sair e voltar ao meu lugar lá na frente – Saiba que eu não deixaria que ele te machucasse, nem mesmo um arranhãozinho.

Sorri para ele e escutando Tara soar completamente perplexa, saí do quarto.

Voltei a me sentar no chão perto da mesa onde eles estavam jogando e de frente para Daryl, olhando ele brincar nosso filho, suspirei, um tanto quanto aliviada pelo rumo que as coisas estavam tomando.

Acabou que a uns quilômetros à frente, o trailer se mostrou exatamente igualzinho ao que tivemos no começo disso tudo e quebrou, forçando uma parada inesperada. Agradeci mentalmente várias vezes por Glenn ter aprendido um pouco de mecânica com Dale, enquanto observava a estrada em que estávamos parados nos servir com um breve pit-stop.

Daryl estava de guarda, em cima do trailer e enquanto o resto de nós, estávamos todos espalhados pelas duas faixas da estrada. Uns sentados no chão e outros, como eu, apoiados nos nossos carros.

— Não tem jeito. – Escutei Abraham reclamar – Deveria pintar de vermelho e pôr uma escada.

— Precisamos de outra bateria. – Glenn anunciou, alto

— E onde diabos vamos encontrar outra bateria? – Abraham perguntou logo em seguida

— Bem aqui. – Glenn comentou e como eu estava em pé ao lado do trailer, apoiando minhas costas na lataria, pude vê-los dar a volta no automóvel e se aproximar de onde eu estava

Assim que Glenn abriu uma gavetinha perto da porta do trailer, Abraham juntou as sobrancelhas e sem dúvidas, estava surpreso.

— Como sabia disso? – Ele perguntou ao coreano

Observei Glenn apenas sorrir, deixando com que Abraham fosse testar o que quer que tenham feito e ao ouvir o barulho do motor ligar, nós literalmente festejamos e batemos palmas, claro, o melhor que eu pude com uma criança nos braços.

Não passamos nem mais de uma hora na estrada para que finalmente, estivéssemos parando. Fui quase a primeira a descer do trailer, segurando Theodore nos braços, sentindo meu coração bater mais forte e mais rápido a cada segundo, e agarrada ao colete de anjo do caçador, me aproximei do portão, escutando pessoas conversarem alto, sem medo de atrair caminhantes, escutei crianças brincando....

Aaron e Eric foram os primeiros a passarem pelo portão e ao deixar Eric ir, o homem que nos abordou em um celeiro fedido e nos contou uma história duvidosa, se virou para nos olhar. E antes mesmo que abrisse a boca, um barulho ecoou ao nosso lado e nos assustou, Daryl reagiu no mesmo instante, atirando uma flecha no que quer que tenha surgido pela mata e logo levantou um animal morto, com sua flecha atravessada na barriga dele.

O portão foi aberto completamente e um homem branco, com cabelo cacheado castanho e olhos escuros apareceu, olhando para o meu marido como se ele fosse meio louco.

— Trouxemos o jantar. – Daryl disse alto, como se aquilo fosse um “Oi

— Está tudo bem. – Aaron disse ao homem, o qual ainda estava olhando para nós com a boca entreaberta – Entrem, pessoal.

— Gabriela. – Daryl murmurou, se mexendo de um modo que eu largasse sua roupa e me olhou como se aquilo estivesse irritando-o – Pare.

— Não posso mais buscar apoio em você? – Perguntei baixo, olhando para ele de canto de olho

— Segure onde quiser... – Daryl resmungou, olhando para mim – Apenas não impossibilite meus movimentos.

Olhei para ele, buscando por um lugar para segurar que não acabasse com seus movimentos e ao constatar que não tinha nenhum, balancei a cabeça negativamente e ajeitei Theodore em meu colo.

— Esquece. – Resmunguei de volta – Está tudo bem.

Atravessei o portão junto com a minha família e ao escutarmos o som de metal, olhamos novamente para trás, apenas para vermos aquele homem de cabelo cacheado fechar o primeiro portão, já que aparentemente, tinham ele e outro forrado com uma lona.

— Antes de mais nada, preciso que entreguem as armas. – O homem de cabelo cacheado disse, chamando nossa atenção para si – Se ficarem, terão que entregá-las.

— Não sabemos se queremos ficar. – Rick disse sério, logo em seguida, com seu revolver em sua mão livre, enquanto segurava Judith no colo

— Está tudo bem, Nicholas. – Aaron disse para o homem de cabelo cacheado, o qual eu sabia o nome agora

— Se fôssemos usá-las, - Rick comentou, olhando ao redor – já teríamos começado.

— Deixe conversarem com Deanna. – Aaron disse para o homem

— Quem é Deanna? – Abraham perguntou alto, assim que ele falou o nome da mulher

— Ela sabe tudo que precisam saber sobre este lugar. – Aaron lhe respondeu, olhando para ele e depois desviou o olhar para Rick – Rick, por que não começa?

Rick olhou para trás, para avaliar nossos olhares, porem fixou seu olhar em algo além dos portões e disse apenas uma coisa, um nome.

— Sasha.

Sasha se virou, enxergou o caminhante e empunhou sua arma, mal mirou e apertou o gatilho. O caminhante caiu no chão, com a cabeça estourada.

— Parece que é bom estarmos aqui. – Jason comentou meio alto, olhando ao redor, como se não estivesse tão impressionado com o lugar

Seguimos Aaron pelas ruas da comunidade, diretamente para o lugar em que ele achava que a tal Deanna estaria. E devo admitir, que a cada novo rosto que eu via, a cada esquina que virava, esperava enxergar alguém da minha família, ou até, todos eles juntos.

Aaron não estava mentindo...

Aaron não estava mentindo...

Aaron não estava mentindo...

Era mais difícil repetir a frase em minha mente enquanto eu estava sentada em uma sala, esperando minha vez para a tal “entrevista” que falaram que teríamos com a mulher que aparentemente, comandava o lugar. A porta da sala que ela estava conversando com Rick estava fechada, mas ainda sim conseguíamos escutar suas vozes conversando, mas sobre o que era, eu não saberia dizer.

E quando chegou minha vez, deixei Theodore nos braços do pai e entrei na sala em que ela me esperava. Uma mulher loira, um pouco mais baixa que eu e na meia idade me saldou um sorriso amigável, animador até.

A última mulher desconhecida que sorriu assim...

Balancei a cabeça negativamente, afastando aqueles pensamentos.

— Olá. – Ela me cumprimentou – Sou Deanna Monroe.

— Gabriela Dixon. – Me apresentei, desviando o olhar e deixando meus olhos vagarem pelos livros em suas estantes, pelo estado da casa dela que parecia que não havia sofrido nada com o tempo, nem com os caminhantes

A casa era simplesmente muito bem mobiliada, e mesmo tendo reparado nisso quando botei os pés aqui, não deixei de me maravilhar com os móveis em bons estados, com os quadros e a limpeza do lugar.

— Ah, a esposa do Sr. Dixon. – Ela disse, balançando a cabeça positivamente, como se tudo fizesse mais sentido agora – Você se importa se eu filmar isso? – Me perguntou e eu a olhei, meio confusa – A nossa conversa, se importa se eu filmar?

— Não, vá em frente. – Murmurei meio alto, fazendo um gesto de tanto faz com a mão e enquanto a observei se aproximar da câmera que tinha atrás do sofá, deixei minha curiosidade falar mais alto – Mas por que vai filmar?

— Porque prezamos a transparência por aqui. – Deanna me respondeu, com um sorriso nos lábios e indicou a poltrona vazia perto de mim, a qual dava de frente com a câmera atrás do sofá – Por favor, sente-se. – Ela esperou que eu me sentasse na poltrona para se sentar no sofá à minha frente – Então, há quanto tempo você e seu marido estão lá fora?

— Nós não... – Comecei a falar, escolhendo as palavras – Não éramos casados antes disso. Mas eu estive lá fora desde o começo, desde quando Atlanta foi bombardeada.

— E como você se encontrou com eles? – Ela me perguntou, sorrindo, enquanto me olhava atentamente – Se conheciam, ou...

— Só conhecia o Jason e o Sam. – Eu lhe respondi – Trabalhávamos juntos no Fort Benning. Éramos militares.

— Militares? – Ela me perguntou, e me deu um sorrisinho, enquanto eu me perguntava se ela podia escutar o meu coração bater tão alto de onde estava sentada – Vocês vão se sentir em casa aqui, nós temos uma família de militares morando em nossa comunidade.

— Aaron me contou. – Comentei, encolhendo os ombros – Os Lopes.

— Sim, os Lopes. – Deanna confirmou, com um sorriso nos lábios – São pessoas maravilhosas. Sabe, eu era congressista em Ohio, 15º Distrito. – Ela contou – Mas se não fosse, facilmente poderia ser uma jogadora de pôquer profissional. Sei ler pessoas muito bem e você, Gabriela, se apresentou com outro sobrenome, mas dificilmente você poderia entrar aqui e não me lembrar um dos Lopes enquanto fala.

— É, bom... – Murmurei, dando de ombros – Quando se é criada tão perto da família como eu fui, a tendência é soar como eles.

— É bom tê-la finalmente entre nós, Gabriela. – Deanna comentou, sorrindo – E enquanto ainda temos tempo, eu gostaria de continuar com a nossa conversa. O que acha?

— Parece bom.

— Ótimo. – Ela disse, se ajeitando no sofá a minha frente – Você disse que era militar, pode me contar o que fazia no exército?

— Era Primeira-Tenente, Ranger. – Respondi prontamente, mostrando que aquilo ainda era um motivo de orgulho – E quando não estava em guerras ou missões, atuava como Chefe da Infantaria.

— Devo agradecer pelos seus serviços. – Ela me disse, pendendo a cabeça para o lado enquanto sorria – Deus sabe o que vocês tiveram que passar para proteger o nosso país.

— Não adiantou muito, no final. – Comentei com ela, fazendo uma pequena careta – Qual é a desse lugar?

— Bom, é o início da sustentabilidade. – Ela me respondeu logo em seguida, com se tivesse decorado – É o que diz nos livretos que achamos. Era uma comunidade planejada, com sua própria energia solar, cisternas, estação ecológica de esgoto. Começando com 800.000... – Deanna riu, balançando a cabeça negativamente – Como se fosse grande coisa. E eles venderam tudo, acredita?

— Você disse que era congressista em Ohio. – Comentei com ela, franzindo as sobrancelhas – Como veio parar aqui?

— Minha família e eu tentávamos voltar a Ohio, para que pudesse ajudar meu distrito com a crise. – Deanna me respondeu, cruzando as pernas e colocando as mãos entrelaçadas no joelho – E... – Ela respirou fundo – O exército, acredito que conhecidos seus, nos parou e nos direcionou para cá. Eles deveriam vir depois, mas apenas os Lopes vieram. Havia suprimentos aqui e aproveitamos da melhor forma.

— Nós notamos o muro. – Comentei com ela, dando uma olhada para a janela atrás de mim, a qual tinha uma boa vista para o muro – Você que o levantou?

— Havia um shopping enorme em construção na redondeza. – Deanna me contou, rindo fraco – E meu marido, Reg, é professor de Arquitetura. Ele botou as primeiras placas com nossos filhos. E algumas semanas depois, chegaram mais pessoas e tivemos uma boa ajuda. Nós tínhamos uma comunidade.

— Então quer dizer que vocês estiveram atrás desses muros por todo o tempo? – Perguntei, fazendo uma leve careta – Meio difícil de imaginar ficar em paz em um lugar por tanto tempo.... Vocês tiveram sorte. 

— Eu também acho e é por isso que precisamos de pessoas que viveram lá fora. – Ela me contou – O grupo que veio com você é o primeiro que consideramos acolher em um longo período.

— Você nunca pensou em simplesmente não abrir seus portões? – Perguntei a ela, enquanto balançava a cabeça negativamente – Se você pelo menos sonhasse com o que as pessoas lá fora são capazes.... Olha, a maioria das pessoas lá fora não são como nós. – Falei, escolhendo novamente minhas palavras – Não estou generalizando, porque deve sim ter mais pessoas boas lá fora, mas.... Bem, muitas delas não são. E para ser sincera, se eu estivesse no seu lugar, se tivesse o que você tem em suas mãos, não abriria esses portões nem se o Justin Timberlake estivesse lá fora, implorando para entrar.

Ao fundo, escutei vozes abafadas do outro lado da porta e tentei me focar na conversa que estava tendo com aquela mulher, a primeira conversa civilizada que estava tendo a muito tempo com estranhos.

— Em outras palavras, está me dizendo para não acolher o seu grupo? – Deanna me perguntou, chamando minha atenção de volta a ela

Novamente, desta vez, pude escutar a voz de Aaron dizer alguma coisa…Droga, o que estava acontecendo lá fora?

— Eu disse que as pessoas lá fora não são como nós. – Repeti, meio depressa demais para o meu gosto, certeza que eu soei como uma desesperada, mas cara, precisávamos daquilo – Somos pessoas boas, Deanna. – Garanti a ela, enquanto me levantava, indecisa entre caminhar até a porta, a abrir e mandá-los calar a boca ou continuar por aqui, conversando civilizadamente com a mulher, acabei escolhendo a segunda opção – E você sabe disso, disse que é boa em ler pessoas. Éramos pessoas boas antes de tudo isso e continuamos a ser, depois que vivemos lá fora e mudamos com o tempo. Posso colocar minha mão no fogo por aquelas pessoas, Deanna, e sei que não sairei queimada. – Comentei, dando mais uma olhada na porta e para as pessoas que falavam lá fora – Não vou mentir, nós já matamos pessoas depois que os mortos se levantaram, mas apenas matamos por um único motivo. Eles morreram porque eram uma ameaça à nossa minha família, – Apontei para a porta – uma ameaça para as pessoas que estão lá fora.

— Faz com que eu queria fazer parte da sua família. – Ela comentou lentamente, olhando para meus olhos – Olha, Gabriela, mesmo com tudo isso, – Ela apontou ao redor – eu perdi pessoas. Fiz coisas.

— O que você fez? – Perguntei, como se estivesse esperando um motivo para dizer que as coisas que tive que fazer, foram piores

— Exilei três homens que não deram certo. – Ela me respondeu, encolhendo os ombros – E nós duas sabemos que é o mesmo que matá-los.

— Deanna, o que quer realmente de nós? – Perguntei, balançando a cabeça negativamente

— Essas famílias... – Ela murmurou alto, apontando para a janela – Elas deveriam ter condições de criar seus filhos num ambiente seguro, você não acha? Seu filho deveria ter um lugar para crescer. O que eu quero? Quero que nos ajude a sobreviver. Sei que vocês podem nos ajudar com isso.

A porta foi aberta bruscamente e no mesmo instante que minha mão se moveu para o coldre em minha perna, onde minha pistola estava, vi que o homem que entrou tinha belos olhos azuis e um cabelo ruivo muito bem cortado e por isso, não cheguei a tocar na pistola.

— Ia atirar em mim? – A voz do homem soou, enquanto ele franzia as sobrancelhas e ria alto, bem alto – Sua... desgraçada imunda.

— Oi. – Sussurrei, olhando para ele, pensando o quanto aquele homem não tinha mudado nada em dois anos

Andrew ainda possuía os cabelos curtos, bem cortados, a barba por fazer, o bom e velho sorriso encantador...

Avancei para abraçar o meu irmão e quando senti seus braços me rodearem e me apertarem, percebi que talvez, talvez agora meu coração se acalmaria, porque se ele está aqui, os outros também estão.

— Olha só pra você. – Andrew falou, ao se separar de mim – Se tomar um bom banho, sabe, tirar toda essa crosta de barro, vai se parecer com a Gabriela que eu conheço...

— Temos muito o que conversar, Andy. – Falei, sem conseguir conter o sorriso nos meus lábios – Muita coisa aconteceu nesses dois anos.

— É bom ver esse reencontro finalmente acontecer. – Deanna comentou, rindo – Eles esperaram muito por isso, Gabriela.

Enquanto eu murmurava que eu também tinha esperado muito por aquilo, Andrew me disse que enquanto eu e meu grupo nos acomodávamos em Alexandria, ele iria preparar o terreno para a visar a minha volta à nossa família e que mais tarde, quando eu estivesse instalada em uma das casas, ele me buscaria para fazer uma visita a uma das casas da família.

Ao sair da sala de Deanna, tendo como terminada a nossa conversa, expliquei aos meus amigos que aquele era um dos meus irmãos mais velhos e que Aaron tinha mesmo falado a verdade. E minutos depois, quando todos conversaram com Deanna, fomos levados aos fundos da casa dela, onde uma mulher gordinha nos esperava com um carrinho. Fui a primeira a colocar minha pistola ali, assim que ela contou que agora, teríamos que deixar nossas armas guardadas durante o período de adaptação. E meu gesto foi copiado pelos outros, deixando suas armas junto com a minha.

— As armas ainda lhes pertencem. – Deanna nos informou, descendo as escadinhas para os fundos da casa, onde estávamos – Podem pegá-las sempre que forem além dos portões. Mas aqui dentro, as guardamos por proteção.

— Deveria ter trazido outra dessas. – A mulher gordinha comentou, rindo, quando todas as nossas armas estavam amontoadas em cima do carrinho que puxava, ocupando todo espaço que tinha

Vi Carol sorrir para ela, assim como poucos de nós.

Logo que botei os pés dentro de uma das casas que diziam que nos pertenceria agora, me controlei para não sair explorando cada espaço disponível ali e fui fazer o que eu tinha que fazer, dar banho em Theodore.

Depois que deixei meu bebê com Maggie, após o banho, já com outra troca de roupa limpa e fui experimentar a água quente dos banheiros. O banho foi... maravilhoso. Pude lavar meu cabelo com shampoo e exagerar no condicionador pois tinha muito mais do que podia pensar, e mesmo depois de ter tirado toda a espuma do sabonete, ainda era possível sentir o cheiro de flores na minha pele. Só parei de escovar meus dentes depois da quinta vez, quando os dentes já estavam brancos e minha gengiva já estava começando a dar indícios de que sangraria se eu não parasse. E ao me olhar no espelho, sem toda aquela sujeira, eu estava parecendo eu mesma. Deixei as roupas sujas no cesto do banheiro e coloquei trocas novas, consideravelmente limpas, um jeans escuro, meias, e uma camiseta clara qualquer.

Ao sair da casa depois de receber a notícia que Theodore agora estava dormindo, me deparei com Daryl limpando o animal que tinha matado mais cedo, enquanto estava sentado nas escadas na varanda e Rick, de barba feita e cabelo cortado, segurando sua filha no colo.

— Tá bonitão, Rick. – Comentei com ele, fazendo uma expressão de “Parece um bebê com esse rostinho lisinho” – Judith também acha. Quem cortou seu cabelo?

— Obrigado. – Rick disse, dando uma olhada em meu marido, como se perguntasse se estava tudo bem receber um elogio meu – Foi uma mulher que veio trazer suprimentos para nós, Jessie, ela trabalha na dispensa.

— Vou procurar ela mais tarde. – Murmurei, enquanto pegava parte do meu cabelo para dar uma olhada nas pontas, ainda molhadas – Ou vou pedir para a Maggie cortar, como sempre.

Ao fundo, escutei o choro abafado de bebê e voltei para dentro da casa, murmurando que talvez, Theodore não estivesse dormindo mais. Ao pegar meu filho de volta e me jogar no sofá, tão macio quanto aparentava ser, chequei o estado da fralda e depois de constatar que ainda estava limpa, presumi que ele estaria com fome. Enquanto Theodore amamentava tranquilamente, Daryl entrou de volta na casa com Rick e depois que Judith ficou com a gente, os dois saíram, dizendo que olhariam ao redor, para ter certeza que estávamos realmente em segurança aqui.

Eu acho que estávamos.

Quando Theodore terminou de mamar e arrotou, continuei sentada no sofá, balançando meus braços em movimentos de vai e vem tentando fazer com que ele dormisse pelo menos um pouco.

— Toc, toc. – Escutei a voz do meu irmão imitar batidas na porta e olhei diretamente para a entrada da casa, vendo-o ali

— Oi! – Falei um pouco baixo, por conta do bebê quase adormecido que estava em meus braços – Entra, cara, estava esperando por você.

Andrew entrou, olhando para os lados, para parte dos meus amigos que estavam por ali e ao se sentar do meu lado no sofá, pareceu finalmente notar o menininho em meus braços, muito bem acomodado.

— Não é seu filho, é? – Ele perguntou lentamente e ao me ver afirmar a cabeça, ele arregalou os olhos e desviou o olhar, claramente chocado com a notícia – Nossos pais vão pirar. Ele tem o quê, uns três meses?

— Por aí. – Respondi, franzindo as sobrancelhas, enquanto fazia as contas em minha cabeça – Talvez dois meses e uns três dias, eu não sei.

— Você realmente tem muita coisa para contar. – Ele murmurou enquanto voltava a me olhar – Se ele não estivesse tão confortável, eu iria querer segurar meu sobrinho. À proposito, Aaron te contou do Jayden? – Andy me perguntou, com um enorme sorriso nos lábios – Ele está com quase três anos, é um garoto bem esperto, fala quase tudo e se deixar, o garoto anda pela casa toda.

— Parece um pestinha em construção.

— Engraçadinha. – Andrew resmungou, rindo baixo, enquanto se levantava e se espreguiçava, como o belo folgado que é – Bem, vamos indo, a essa altura, o chá já vai estar pronto.

— Você não tem mais perguntas? – Perguntei confusa, enquanto me levantava com sua ajuda – Tipo: Quem é o pai do bebê? Coisas assim...

— Não. – Ele me respondeu e depois sorriu – Vou deixar esse trabalho para os nossos pais, ou para o Zach, ele sempre foi o mais protetor.

— Ei, Tara. – Eu lhe chamei, me virando para olhar a mulher que estava entre a cozinha e a sala – Se perguntarem por nós dois, diga que fui na casa dos Lopes e que volto antes do anoitecer, ok?

— Fica na rua da frente, numa casa amarela de dois andares. – Andrew falou para ela – Deve ter uns brinquedos no gramado, é fácil de reconhecer. – E então ele sorriu, como se se lembrasse de algo muito importante – Sou o Andrew, prazer em conhece-la, Tara.

— Ok, entendi. Casa amarela com brinquedos no jardim. – Tara repetiu, balançando a cabeça positivamente – O prazer é meu, Andrew, Gabriela falou muito de você para nós.

Olhei para ela, como se pedisse para não mentir tão descaradamente logo de cara e ela apenas deu de ombros, como se não estivesse muito se importando com aquilo. Ajeitei Theodore em meu colo e peguei a manta vermelha de cima do sofá, para cobri-lo durante o caminho. E durante a pequena caminhada, percebi que estava tentando controlar os meus batimentos cardíacos. Avistei a casa de longe, era sem dúvidas a maior de toda a rua, e no gramado, haviam muitos brinquedos espalhados. Caminhei com cuidado pelo caminhozinho até a casa e assim que Andrew abriu a porta, as vozes familiares chegaram aos meus ouvidos. A primeira pessoinha que surgiu, foi um garotinho andando todo atrapalhado, tinha grandes olhos verdes e um cabelo ruivo curtinho.

Jayden.

— Papa. – O menininho disse, abrindo os bracinhos e assim que chegou perto de nós, foi pego no colo por seu pai

— E aí, campeão. – Andy disse sorrindo, e com seu filho no colo, ele se virou para me encarar – Jayden, essa é a sua tia Gabriela, lembra da mulher nas fotos? É ela, e esse é seu primo Theodore.

— Oi. – Jayden me cumprimentou sorrindo, parecia meio envergonhado

— Oi, garotão. – Eu lhe cumprimentei, sorrindo para ele

— Oi. – Ele repetiu, me fazendo rir

Quando desviei o olhar do meu irmão e seu filho, vi que do mesmo lugar que Jayden tinha saído, mais cinco pessoas estavam nos observando, ansiosas. Lisa estava segurando um pano de prato nas mãos, seus cabelos ruivos estavam curtos agora e os olhos verdes pareciam ainda chamativos do que sempre foram. Ao seu lado, Faith, minha outra cunhada, estava com as mãos no ombro do seu marido, os cabelos castanhos estavam na altura dos peitos e os olhos claros estavam avermelhados. Zachary estava com seus olhos castanhos presos no bebê que eu segurava e quando ele me olhou, vi através do choque, saudade em seus olhos. Meus pais estavam do mesmo jeito que eu me lembrava, minha mãe ainda usava os cabelos castanhos na altura dos ombros e seus olhos escuros ainda eram acolhedores, já meu pai, aparentava finalmente a idade que tinha, com os poucos cabelos brancos já tomando parte do cabelo ruivo e seus olhos ainda eram sérios, assim como sua expressão facial.

— Como eu prometi. – Andrew disse meio alto, rindo e se afastou de mim, enquanto atravessava o hall para se juntar a sua esposa – A Gabriela.... Mas ela nos trouxe um presentinho e tem muito, muito o que contar.

Minha mãe foi a primeira a se mexer e em poucos segundos, ela já estava perto o suficiente de mim e me deu um beijo longo na testa e mesmo depois de ter me beijado, ela ficou alguns segundos com seus lábios próximos ao meu rosto.

— Ah, minha querida. – Ela murmurou com a voz tremula, afastando seu rosto do meu, enquanto mantinha um sorriso carinhoso em seus lábios carnudos – Tive tanta esperança...

— É tão, tão bom finalmente ver seus rostos... – Falei para ela, controlando minha voz, tentando não deixar transparecer minha voz embargada

— Agora seus sonhos fazem sentido, Angela. – A voz doce de Lisa soou, enquanto ela se aproximava de nós – Sua mãe tem sonhado bastante com bebês, ela achava que uma de nós estava grávida, mas...

— Era eu. – Completei, sorrindo – Nós o batizamos de Theodore, em uma homenagem a um velho amigo.

Com toda a falação, Theodore agora estava com os olhos bem abertos, atento a tudo o que estava acontecendo ao seu redor, as mãozinhas estavam ambas dentro da boca e ele fazia um barulhinho cada vez que chupava seus dedos.

— Me deixe vê-lo. – Minha mãe pediu e assim que eu deixei que ela o segurasse em seus braços, ela fungou, como se fosse chorar – Ele é tão lindo.... Me lembra o Andrew quando nasceu, exceto pelos olhos.... Parece que são mais estreitos.

— É, eles são mesmo. – Murmurei e fui abraçar os outros, já que estava com as mãos vazias – Oi, Lisa.

— Oi, Gabi. – Minha cunhada me abraçou apertado e assim que me soltou, pegou meu cabelo úmido nas mãos – Ele está enorme, precisa cortar.

— Estou trabalhando nisso. – Falei, enquanto balançava a cabeça negativamente e assim que me afastei, praticamente me joguei nos braços do meu outro irmão – Aloha, irmãozinho.

— Sua idiota. – Zachary resmungou, me levantando do chão enquanto me abraçava – A primeira coisa que você me fala em dois anos é “Aloha”. Isso é bem a sua cara.

— Bom, pelo menos ela não ia atirar em você. – Andrew disse para ele, ao fundo, e ao ouvir sua esposa rir, ele disse – Ela ia atirar em mim, sério.

Larguei meu irmão e fui abraçar a esposa dele. Faith quase quebrou minhas costelas durante o abraço, mas não liguei muito, pois os abraços dela sempre foram bem apertados. Quando chegou a vez do meu pai, fiquei em dúvida se o abraçava ou apertava sua mão, considerando o nosso histórico no exército, mas decidi que abraça-lo seria a melhor opção e foi isso mesmo que eu fiz.

Minha mãe me conduziu para a sala de estar, onde lá, me serviu um chá de maça e canela, um chá que eu pensei que nunca mais tomaria e lá, sentada no sofá, olhando atentamente meu sobrinho brincar com Theodore que a essa altura, estava passando para diversos colos, contei tudo o que me aconteceu durante aqueles dois longos anos.

Apenas poupei alguns detalhes, coisas que eles não precisavam saber.

Contei desde os acontecimentos que nos levaram para a fazenda, quanto aos que fizeram que nós fossemos embora, lhes contei como foi que conseguimos passar quase nove meses rodeando todos os lugares da Georgia e como encontramos a prisão, como lutamos para fazer daquele lugar nosso lar, como conseguimos derrotar o Governador pela primeira vez, contei minha descoberta sobre a gravidez nada planejada de Theodore e sobre seu nascimento. Contei o momento em que O Governador voltou e acabou com tudo que tínhamos, destruiu nosso lar e separou nossa família, um dia depois de ser pedida em casamento e poucos dias depois do nascimento do meu filho, sobre como nos reencontramos em uma falsa comunidade de canibais e como conseguimos escapar, contei sobre nosso encontro com o Padre Gabriel e sobre o confronto que tivemos dentro da igreja. Contei sobre a nossa perda no Grady e da perda seguinte que tivemos, na casa de um dos nossos. E finalmente, contei sobre a escassez de comida e de água que tivemos recentemente, sobre como Aaron nos achou e nos convenceu a vir até Alexandria.

— Sinto muito que tenha passado por isso. – Minha mãe disse um pouco baixo, limpando algumas lágrimas com as costas da mão – Nós não.... Se tivesse dado tudo certo, você nunca teria passado por isso, querida.

— Não, mãe, por favor, pare de chorar. – Falei para ela, meio depressa demais para qualquer um entender – Pare de chorar, mãe. – Repeti, olhando para ela – Eu não me arrependo de nada que tive que fazer e de nada que aconteceu comigo nesses dois anos. As pessoas que estão comigo, que estão me esperando na casa que arrumaram para nós, são tudo pra mim. Eles literalmente são o meu mundo, viraram minha família.

— Escuta, Gabi, esse homem, que você diz ser o seu esposo, ele é bom pra você? – Zachary perguntou, como se só tivesse registrado aquilo de tudo o que eu falei – Ele te trata bem?

— Zach, pode parar. – Falei para ele, enquanto segurava o riso – O Daryl é um homem muito bom. Pode não parecer, mas ele tem um coração enorme e além de me tratar bem, ele é incrível com o nosso bebê.

Faith cantarolou coisas sobre o quanto eu soava apaixonada e se levantou, indo em direção a cozinha. Aproveitei que eles estavam conversando entre si, comentando sobre minha história e olhei na direção da janela da sala. Duas coisas me chamaram a atenção, o sol que já estava se pondo e um homem muito conhecido por mim espiando através da janela. Os olhos claros dele se encontraram com os meus e quando viu meu olhar questionador, ele logo desapareceu.

Ah não, Daryl, nem pense nisso.

Me levantei depressa e escutando minha mãe perguntar o que estava acontecendo, saí da sala e alcancei a porta do hall e assim que coloquei meus pés para fora da casa e olhei para o colete com asas de anjo e apenas disse um “Nem pensar” em alto e bom tom, o suficiente para ele parar de andar, ficar alguns segundos parado e se virar para me olhar.

Daryl me encarou, a uns metros de distância e o vi balançar a cabeça negativamente, por pelo menos, umas duas vezes. Intensifiquei o meu olhar e indiquei a casa amarela com minha cabeça.

Não era um convite, nem um pedido.

Era uma ordem.

O caçador tornou a balançar a cabeça em negação mais uma vez, e mesmo de longe, vi seus olhos já estreitos, se estreitarem ainda mais, como se não estivesse acreditando que eu queria fazer aquilo agora.

Mas assim que ele começou a caminhar em minha direção, percebi que parte da nossa pequena guerra estava já estava ganha.

— É sério? – Ele chiou, quando chegou perto o suficiente de mim – Agora?

— Obvio. – Respondi e alternei o olhar entre suas roupas imundas e seu corpo imundo – Você ainda não tomou banho?

— Gabriela. – Daryl praticamente rosnou meu nome

— Amor. – Falei baixo, torcendo para que esse apelido carinhoso amoleça um pouquinho seu coração – Por mim, por favor. É só um “Oi, e aí, eu sou o marido da sua filha, pai do menino que vocês estão paparicando a horas”. – Peguei sua mão e a puxei levemente – Vamos, D. Eu já pintei você de ouro para eles, é só trocar algumas palavras amigáveis e pronto.

— Droga...

Meu marido fechou os olhos e crispou os lábios, e mais uma vez, balançou a cabeça em negação, mas ao invés de se afastar, ele apenas se deixou ser guiado para a casa em que minha outra família estava. Ao passarmos pela porta, notei que a movimentação da sala foi rápida e assim que chegamos no cômodo, todos estavam no mesmo lugar que eu os deixei, como se eu não soubesse que estavam até agora espiando pela janela o que estava acontecendo.

— Pessoal, esse é o Daryl Dixon. – Anunciei, enquanto segurava no braço do caçador, num gesto de tentar impedir que ele vá embora – Meu marido.

Percebi que o olhar do meu pai passou de “Quem é esse homem” para “Você só pode estar brincando comigo, garotinha” em menos de dois segundos que eu disse aquilo. E enquanto meu pai olhava Daryl dos pés à cabeça, observei minha mãe se levantar graciosamente do sofá, abrir um sorriso e caminhar em nossa direção, enquanto os outros ainda se mantinham perplexos.

— É um prazer conhece-lo, senhor Dixon. – Minha mãe disse, estendendo a mão para o homem cheio de barro a sua frente e assim que apertei o braço do meu marido, ele limpou a mão na calça e apertou a mão da minha mãe, sua sogra, a fazendo sorrir ainda mais – Obrigada por cuidar da nossa menina por todo esse tempo.

— Não fiz nada mais do que qualquer um de nós faria. – Daryl disse para ela, parecendo medir suas palavras conforme falava

— Acredite, querido, você fez. – Minha mãe afirmou, ela ainda tinha o sorriso carinhoso nos lábios – Você bebe chá? – Ela lhe perguntou, mas pareceu pensar melhor logo em seguida – Posso fazer um café se você quiser, ou....

— Angela, respire. – Lisa comentou, segurando o riso – E deixe ele respirar.

— Eu tenho cerveja lá em casa. – Zachary falou, após se cansar dos olhares insinuativos de sua esposa – É caseira, mas muito boa.

— É mesmo. – Andrew confirmou, olhando para meu marido – E olha que eu nem gosto muito de cerveja. – Meu irmão se levantou, deixou seu menininho no chão e se aproximou de nós – Sou o Andrew, irmão mais velho desses dois. – Ele se apresentou, estendendo a mão na direção de Daryl para um aperto e assim que teve sua mão apertada, tocou o ombro do meu marido – Vamos, vamos pegar nossa cerveja.

Soltei o braço de Daryl e afirmei com a cabeça, como se dissesse que era uma boa ideia e assim que Zach me olhou para dizer onde ficava sua casa, eu lhe dei um belo olhar dizendo “Não irrite esse homem, pelo amor de Deus”.

— Ele é meio calado, não é? – Faith comentou, assim que ouvimos a porta da frente da casa ser fechada

— Ou é a gente que fala demais. – Lisa disse, dando de ombros

— É um pouco dos dois. – Murmurei, balançando a cabeça enquanto segurava a risada – Ok. – Respirei fundo, enquanto caminhava até meu pai e me sentava no braço da poltrona onde ele estava sentado – Por favor, pai, dê uma chance pra ele.

— Acredite ou não, estou dando. – Meu pai resmungou e passou a mão pelo rosto, como se estivesse cansado – Não sei se você lembra, mas aceitar Adrian já foi muito difícil.

— Desta vez vai ser mais fácil. – Comentei com ele, abrindo um pequeno sorriso – O Daryl é mil vezes melhor do que o Adrian, em todos os quesitos.

Minhas cunhadas riram alto, como se tivessem entendido a referência, enquanto meu pai apenas respirava fundo e minha mãe segurava o riso. Me levantei do braço do sofá e fui buscar meu filho dos braços de Faith, não me surpreendi pelo fato de ele já estar dormindo. Olhei mais uma vez para a janela e vi que faltava pouco para o anoitecer.

Daqui a pouco teríamos que ir embora...

Meus irmãos voltaram com Daryl uns minutos mais tarde, todos os três estavam segurando garrafas de cerveja e incrivelmente ou não, o caçador tinha um resquício de um sorriso nos lábios finos. Enquanto minha mãe e minhas cunhadas bombardeavam Daryl com perguntas, lancei vários olhares confusos para meus irmãos, enquanto perguntava a eles e me perguntava mentalmente como eles conseguiram aquilo em tão pouco tempo de conversa.

Quando o sol finalmente se pôs e a hora de ir embora chegou, fiquei uns bons minutos abraçando todos que estavam na casa e antes de sair, dei uns beijinhos no rosto de Jayden e disse que da próxima vez que nos encontrássemos, eu lhe contaria histórias constrangedoras sobre seu pai.

— O que você e meus irmãos conversaram quando foram buscar a cerveja?

Tínhamos acabado de entrar na rua que a casa onde nossa família estava quando eu finalmente decidi perguntar ao homem que andava ao meu lado, o qual estava olhando ao redor, como se estivesse constantemente procurando por alguma ameaça.

Daryl me olhou por alguns segundos e deu de ombros, como se eu de alguma maneira me contentasse com aquela forma de resposta.

— Sobre você. – Ele me respondeu adequadamente, segundos depois de ser beliscado na cintura

— Eu não vou nem perguntar o que eles disseram. – Murmurei, balançando a cabeça negativamente – É, não vou.

Ele me olhou como se duvidasse muito daquilo e apoiou a mão em minhas costas, quando alcançamos a casa onde nosso grupo estava. Caminhei na frente dele, subi as escadinhas e assim que abri a porta, recebi os olhares aliviados dos meus amigos.

Todos estavam ali, parte na sala e parte na cozinha, com camas improvisadas, eles se preparavam para dormir.

— Ali. – Rick falou, assim que me olhou, ele apontava para um par de berços montáveis perto das janelas – Também peguei um para ele.

Sorri agradecida para ele e enquanto Daryl lhe agradecia, fui colocar meu filho dorminhoco dentro do seu novo berço. Me sentei numa cadeira perto de Carl e me espreguicei, enquanto considerava arrastar Daryl para o banheiro e lhe obrigar a tomar banho, mas desisti quando percebi o quanto de saliva eu teria que gastar apenas para fazê-lo se levantar do lugar que ele tinha acabado de se sentar, perto dos berços das crianças.

Amanhã, sem falta.

— Quanto tempo fiquei lá? – Michonne perguntou sorrindo, ao passar pela porta da sala, limpa da cabeça aos pés

— Vinte minutos? – Rick lhe perguntou, franzindo as sobrancelhas

— Não conseguia parar de escovar. – Michonne comentou, rindo, enquanto coçava o nariz com o punho e quando ela parou, riu novamente, olhando para Rick – Eu nunca... – Ela sorriu para ele – Nunca vi seu rosto assim.

— Foi o que senti, antes e depois. – Rick comentou com ela, passando a mão no rosto, onde um dia antes, estava sua barba muito bem-criada

— Olha, – Michonne disse meio baixo, quando ele ameaçou a passar por ela – entendo estarmos nos precavendo. Nós devemos. Eu apenas.... Tenho um bom pressentimento sobre esse lugar.

— Espero que esteja certa. – Rick disse para ela

— Sim, eu também.

Todos nós olhamos em direção a porta assim que escutamos uma batida, Rick nos olhou por alguns segundos e caminhou em direção a porta da frente, girou a maçaneta e a abriu.

A mesma mulher que nos entrevistou apareceu.

— Rick, eu... – Deanna foi logo falando, mas parou quando notou a mudança – Nossa. – Ela murmurou alto, enquanto Rick respirava fundo, como se estivesse cansado de todo mundo falando sobre isso – Não sabia o que tinha escondido aí. Ouça, eu não quero interromper. – Garantiu, dando um pequeno passo para dentro – Só passei para ver como estão se acomodando. – Ela olhou ao redor na casa, nos vendo todos reunidos ali na sala, prontos para dormir quando a hora chegasse – Minha nossa. Estão todos juntos. – Ela olhou brevemente para Rick – Espertos.

— Ninguém disse que não poderíamos. – Rick disse para ela, apoiando a mão na porta

— Muitos de vocês disseram que são uma família. – Deanna comentou, sorrindo – Foi o que disseram. É incrível para mim ver pessoas com passados tão distintos e sem nada em comum se unirem dessa forma. – Ela olhou diretamente para o homem que abriu a porta – Você não acha?

— Todos falaram que receberam trabalhos. – Rick comentou com ela, e eu precisei juntas as sobrancelhas, meio confusa, não sabia de trabalho nenhum

— Uhun, alguns deles, sim. – Deanna concordou, olhando para nós por alguns segundos, antes de voltar sua atenção ao Rick – É, faz parte desse lugar. – Ela riu, balançando a cabeça negativamente – Os comunistas parecem ter vencido, afinal.

— Eu não tenho nenhum. – Rick comentou, depois de dar um risinho solidário ao comentário dela

— Tem. – Deanna descordou, sorrindo – Eu só não te contei ainda. O mesmo com a Michonne. Estou perto de arrumar algo para Sasha. Ainda estou estudando o melhor lugar para aproveitar as habilidades da Gabriela e estou tentando entender o sr. Dixon, mas eu chego lá. – Ela sorriu mais uma vez para Rick – Você está bonito.

Ela nos deu um sorrisinho amigável, deu alguns passos para trás e saiu da casa em que estávamos. Rick não demorou muito para fechar a porta.

— Trabalhos? – Perguntei, me ajeitando na cadeira – Não sabia de trabalho nenhum.

— É. – Kylie comentou, balançando a cabeça negativamente – Não vou reclamar do meu, porque é basicamente o que eu fazia antes, mas ela mal me esperou terminar de explicar e já me colocou na Clínica Hospitalar, junto com um tal de Pete que é o cirurgião.

— Você disse que não ia reclamar e reclamou. – Sam comentou com ela, enquanto provavelmente fingia que lia um livro sobre culinária

— Da situação. – Ela retrucou, revirando os olhos

— É tanta tensão que eu vou até sair de perto. – Jason resmungou e realmente se levantou de onde estava, para ir se sentar do outro lado da sala

— Eu vou ser assistente da Deanna. – Maggie comentou, ela segurava o riso e tinha acabado de desviar o olhar de Sam e Kylie

— Assistente? – Perguntei, pensando um pouco – Eu poderia ser assistente.

Do outro lado da sala, Jason fingiu tossir, como se estivesse engasgado com a saliva. Um pouco mais perto de mim, Sam murmurou um “Claro”, como se não tivesse certeza que eu poderia ser a assistente de alguém.

— Talvez seja melhor você não fazer nada por enquanto. – Daryl me disse, atraindo minha atenção – Theodore ainda é pequeno, ele precisa de você.

— Mas eu quero ser útil. – Resmunguei, após soltar o ar pela boca – Eu gosto de ajudar e sinceramente, não nasci para ser uma dona de casa. Posso tirar um pouco de leite e deixar na geladeira.

— Você sempre reclamou de ir para o Benning, um lugar que você amava, e agora quer fazer um trabalho qualquer aqui? – Sam perguntou, balançando a cabeça negativamente – Acho que deve esperar pra ver o que a Deanna vai decidir, provavelmente sua mãe vai ir lá falar na orelha dela e você pode pegar um trabalho realmente importante.

— Está dizendo que meu trabalho não é importante? – Maggie perguntou para ele, cerrando os olhos em sua direção

— Longe de mim! – Sam respondeu meio alto, levantando uma mão como se estivesse se rendendo – O seu talvez seja o mais importante, você vai estar por dentro de tudo que acontecer por aqui. – Ele riu baixo, alternado o olhar entre ela e eu – Mas eu to dizendo que a Gabriela seria uma péssima assistente.

— Você não pode saber. – Maggie comentou com ele, balançando a cabeça negativamente – Ela lida bem com... – Minha amiga franziu as sobrancelhas, parecia pensar melhor no que ia dizer – É, talvez ela não saiba lidar muito bem com pessoas.

— Qual é. – Resmunguei alto, olhando para os dois – Sério isso? – Me virei para os outros, fingindo perplexidade – Desde quando eu não sei lidar com pessoas?

— Você é tão ruim quanto o Daryl. – Sam me disse, dando de ombros 

— E qual é o seu trabalho, sabichão? – Perguntei para ele, revirando os olhos

— Vou cuidar das armas no arsenal. – Ele me respondeu, tirando os olhos do livro por uns momentos para me olhar – Claro, com uma tal de Olivia no meu pé, porque ela já trabalha lá.

Quando cansei de discutir sobre meu possível futuro trabalho, fui revirar a caixa de mantimentos que trouxeram para nós e fui procurar algo para comermos. Logo após o jantar e de toda a conversa, fui finalmente me deitar, num lugarzinho perto da janela e dos berços, lugar que Daryl arranjou antes de me buscar na casa do Andrew.


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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme para celebrar o tão aguardado reencontro dos Lopes ♥



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