TWD - Quinta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 10
Seis e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Eu não sei se as coisas podem piorar"



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Depois de descansarmos um pouco, bem pouco mesmo, continuamos com nossa interminável caminhada. Agora Carol e Daryl estavam com a gente e não pareciam que sairiam novamente, bom, pelo menos não agora. Por mais que eu esteja cansada, implorando por uma pausa bem longa, comida, água e um banho, tinha que admitir que se tornou muito fácil caminhar agora que o sol não estava mais quente.

Deveria ser no máximo umas quatro da tarde, quatro e meia.

— Pai, veja. – A voz de Carl chamou não só a atenção de seu pai, mas a nossa também

Ele nem precisava ter mostrado, pois já dava para ver perfeitamente o que tínhamos mais à frente. Havia alguns carros mais à frente na estrada e mesmo que não estivessem propositalmente bloqueando a rua, me fez pensar que poderiam ter saqueadores esperando por nós.

Droga.... Minha cabeça está tão ferrada.

Preciso muito, muito dormir, comer e me hidratar.

— Eu vou entrar na floresta e contornar. – Daryl nos avisou, alternando seu olhar entre nós e os carros

— Quer que eu vá junto? – Perguntei a ele logo em seguida, em dúvida se seria bom ou não deixar meu marido sair de novo e desta vez, sozinho

— Não, fique aqui com eles e com Theo. – O caçador negou, me olhando brevemente – Vou sozinho.

E assim ele voltou novamente para a floresta, sozinho.

Nós continuamos a caminhar e assim que chegamos perto dos carros, inutilmente reviramos todos em busca de comida e de talvez alguma água, mas ninguém achou nada mais do que bebidas alcoólicas.... A não ser por Maggie que encontrou uma caminhante amarrada e amordaçada em um porta malas.

Aquilo foi bizarro e assustador.

Agora, sentada na beira da estrada junto com o resto do grupo, descansando e esperando por Daryl, me permiti ter pelo menos um pouquinho de diversão depois de todo aquele tempo remoendo as mortes que nos assombram nas últimas três semanas. Com Theodore apoiado em minhas pernas, mais ou menos de pé, deixei com que meu filho brincasse com um dos grandes motivos para eu sentir calor: Meu cabelo.

Era certeza que quando estivéssemos com tempo, na paz, eu cortaria muitos dedos do meu cabelo, já que ele estava irritavelmente quase batendo na minha bunda e céus, é muito cabelo e aja elástico que aguente prendê-lo por completo.

O barulho dos galhos se quebrado chamou nossa atenção e assim que levantei meu olhar, relaxei ao ver que era o meu marido. Daryl balançou a cabeça negativamente, olhando para Rick e assim que viu um aceno negativo em resposta, respirou fundo, atravessando a rua, vindo em minha direção.

— Só encontramos bebidas? – Tara perguntou, um pouco esperançosa de mais, como se não soubesse da resposta

— Sim. – Rosita respondeu num murmuro

Observei Daryl se sentar ao meu lado e colocar sua besta do seu lado livre, ele soltou o ar pela boca e deu uma olhada em nosso filho alegre, puxando e puxando o cabelo de sua mãe. O caçador aproximou seus lábios do meu rosto e me deu um beijo demorado em minha têmpora.

Para falar a verdade, o fato de ele ter comido minhocas não estava me incomodando mais e agora, ele poderia me beijar o quanto quiser.

Sinceramente não ligava mais.

— Não irão ajudar. – Tara murmurou também, respirando fundo

— Ele sabe disso. – Rosita comentou, indicando Abraham com a cabeça

Ele estava com um vidrozinho de whisky em mãos, tomando alguns goles.

Não quero nem pensar no que o álcool vai fazer com seu estomago vazio.

— Só vai piorar tudo. – Tara continuou, como se soubesse o que eu havia pensado

— Verdade.

— Que se dane ele. – Kylie resmungou, olhando de canto de olho para Abraham do outro lado do grupo – Já é um homem grandinho, ele que não venha até mim para pedir remédios.

— Eu não sei se as coisas podem piorar. – Sam comentou com a gente

— Elas podem, amigo. – Jason resmungou, balançando a cabeça negativamente – E você sabe que sempre piora.

Um barulho novo chamou nossa atenção para a floresta e nós olhamos para o lugar que momentos antes, Daryl tinha vindo e agora, haviam alguns cachorros selvagens do outro lado da rua, latindo para nós, rosnando. Lentamente, o caçador tirou sua faca do coldre e assim como Rick, começou a se levantar, mas ambos pararam quando os tiros acertaram os cinco cachorros.

Todos vindos da arma de Sasha.

Chocada, indecisa entre chorar rios pelas mortes dos animais que eu sempre gostei desde criança e ficar aliviada por saber que eles não nos atacariam, observei Rick se levantar, pegar um graveto enorme perto de onde estávamos sentados e quebrá-lo em várias partes.

O que eles fizeram a seguir...

E o que eu estava fazendo neste exato momento...

É algo que eu nunca pensei que precisaria fazer para sobreviver.

Sendo a única que derramava lágrimas enquanto comia, extremamente triste e enjoada por estar comendo a carne de um cachorro, deixei com que os outros me olhassem e me julgassem o quanto quisessem. Eu não gostava nem um pouco de saber o que eu estava comendo, era por isso, exatamente por isso que aprendi a não perguntar qual era a caça da vez ao Daryl.

— Você está começando a me fazer sentir mal. – Sam me disse, balançando a cabeça negativamente. Estava sentado do outro lado da fogueira, assando mais carne com um graveto – Gabriela, pare.

— Você sabe que ela não vai parar. – Jason murmurou, estava sentado entre Sam e Kylie – Ela é assim. – Ele comentou e virou um pouco o rosto na direção de seu amigo – Lembra no Afeganistão quando aquele cachorro bomba explodiu? Ela engoliu o choro até a missão acabar e quando chegou em solo americano, chorou por dois dias.

Sam riu pelo nariz assim que me viu fungar, e ao meu lado, Daryl encarava os dois, enquanto comia dois pedaços de carne de uma vez só, ele mal mastigava e já engolia para apenas comer mais.

— Se isso aqui não fosse nossa última opção... – Kylie murmurou, olhando para o pedaço de carne em suas mãos e depois levantou o olhar para me encarar – Eu te entendo.

— Ninguém nunca me contou como que você se juntou à um grupo de militares. – Sam comentou com ela e assim que a mulher loira se virou para encará-lo, ele continuou – Gostaria de saber.

— Hm... – Kylie murmurou, franzindo o cenho – Ok, olha, imagine a seguinte situação: Você está de boa vasculhando um lugar e do nada, escuta pessoas nada silenciosas... tipo, nada mesmo. – Ela olhou brevemente para Jason, de canto de olho – Desculpe, mas vocês militares não costumam ser muito silenciosos e o grupo que o Jason estava... bem, eles adoravam um barulho. E justamente por isso, fui dar uma espiada da janela do restaurante que eu estava e vi aquele grupo de homens uniformizados, vestidos como se estivessem na guerra e essas coisas.... Eles estavam rindo, falando alto, xingando uns aos outros no meio da rua, como se os mortos não pudessem escutá-los. – Ela parou, quando escutou o resmungo baixo de Jason – O que é, vai me desmentir?

— Longe de mim. – Harris lhe disse, levantando as mãos como forma de rendição – Mas vamos combinar que você está aumentando os fatos um pouquinho...

— Mentiroso. – Kylie disse meio alto, um pouco perplexa – Você e seus amigos só falavam gritando e foi por isso mesmo que atraíram aquele grupo enorme de mortos. E se não fosse eu abrir a porta, vocês estariam vagando por aí, sem rumo e sem cérebro.

— Teríamos dado um jeito. – Jason retrucou, parecendo estar se divertindo com aquilo – E como você mesma disse, estávamos prontos para a guerra.

— O que aconteceu com... – Comecei a perguntar, mas parei quando vi o olhar nada amigável da mulher loira – O que?

— Ainda estou contando a história. – Ela me respondeu, tão calmamente que me assustou – As perguntas são feitas no final da história. – E então ela se virou para Jason, semicerrando seus olhos azuis na direção dele – Se você me interromper novamente, com esses comentários idiotas... – Kylie deixou a ameaça no ar e assim que viu Jason levantar as mãos novamente, ela continuou – Bom, basicamente eu salvei a bunda deles e fui coagida a ser médica do grupinho deles.

— Está falando como se eu tivesse te obrigado. – Jason comentou com ela, fingindo estar chocado

— Fez pior do que isso.

— Claro que não.

— Ok, olha, os dois precisam calar a boca. – Sam resmungou, atraindo os olhares deles para si – Não importa mais quem persuadiu ou não, o importante é que hoje estávamos todos vivos... e juntos.

— Sua frase seria fofíssima se não tivesse me mandado calar a boca. – Kylie comentou com ele, balançando a cabeça negativamente – Que pena.

Apoiei meu braço no ombro do meu marido, ao perceber seu baixo grunhido e assim que Daryl me olhou, mastigando com todo o gosto aquela carne, tirei parte do seu cabelo da frente de seus olhos claros.

Daryl precisava urgentemente de um corte de cabelo, ele sabia disso, mas quem disse que me deixava chegar perto para cortá-lo?

Meu marido pegou mais um pedaço de carne que estava esfriando e colocou em minhas mãos, ao ver meu olhar ele cerrou seus olhos em minha direção, praticamente me dando uma ordem silenciosa para comer e não reclamar.

E parar de chorar, claro.

Respirei fundo e fazendo muito, muito esforço para esquecer o que eu estava comendo, mordi parte da carne bem passada e comecei a mastigar.

Caminhar agora, com a barriga mais ou menos cheia, era melhor. Claro que a vontade de tomar água é imensa e pensar sobre isso era horrível, pois dava mais cede ainda. Tentava não pensar, mas a cada engolida de saliva, me lembrava o quanto eu precisava beber um pouquinho de água.

Tínhamos um pouco de água restando, mas eu não beberia. Era melhor guardar para uma emergência.

— Está quieta. – Daryl comentou, caminhava lentamente ao meu lado, acompanhando meus passos e os passos dos outros – Não pense sobre os cachorros. Era eles ou nós.

— Não estava pensando neles até agora. – Resmunguei, olhando-o de canto de olho – Obrigada, Dixon.

— Se eu pudesse fazer isso desaparecer da sua mente, eu faria. – Daryl resmungou também, balançando a cabeça negativamente – Mas eu não posso, Dixon.

Olhei para ele, segurando um riso que parecia tão errado na situação em que estávamos vivendo. Lá estava Daryl, me olhando de volta, lembrando-me que estávamos casados, como se precisasse me lembrar de algo tão grande como aquilo.

— Daryl. – A voz de Glenn o fez desviar o olhar e encarar o coreano mais à frente no grupo

Glenn estava parado, estendendo uma garrafinha de água para o meu marido e assim que chegamos perto deles, Daryl pegou a garrafinha e praticamente me obrigou a segurar, já que Theodore estava no sling e minhas mãos estavam livres.

— Não. – Neguei, estendendo a garrafinha de volta para ele e assim que vi que ele não pegaria, estendi para Glenn – Qual é, cara, pega isso logo.

— Não pegue. – Daryl disse para o coreano – Ela está com cede. – E então se virou para me olhar – É melhor beber logo isso, você está amamentando.

— Não vai sair leite em pó dos meus peitos. – Resmunguei, olhando para ele e mesmo sabendo que no fundo eu poderia teimar mais, abri a garrafinha e bebi apenas um pequeno gole da água, só para molhar a garganta

— Podemos passar por isso. – Glenn comentou, ao receber de volta a garrafa de água – Mas apenas se estivermos juntos.

— Nós vamos passar por isso. – Comentei com ele e assim que o vi afirmar com a cabeça e apressar os passos para andar perto de sua esposa, me virei para o caçador – Nós vamos.

— Vamos. – Daryl repetiu, afirmando o que eu disse e então passou levemente a mão na cabeça do nosso filho – Diga a eles que fui procurar por água, ok?

Ele mal me esperou responder alguma coisa e já entrou floresta a dentro, sozinho, de novo. Respirei fundo, soltando o ar pela boca. Daryl estava muito, muito estranho e estava fazendo o possível e impossível para que não percebêssemos. Mas eu conhecia aquele homem de olhos fechados e sabia que tinha alguma coisa errada.

Ao meu lado, Abraham soltou um riso baixo, depois de entornar mais um gole do álcool que estava bebendo a um tempinho já.

— Não venha com comentários de bêbados. – Eu logo o avisei, olhando-o de canto de olho – É a última coisa que precisamos.

— A última coisa que precisamos é de alguém estragando tudo. – Abraham retrucou e logo indicou Sasha com a cabeça – Sua amiga está a um passo de fazer merda.

— Nós sabemos e não se preocupe, estamos de olho nela. – Murmurei, olhando dele para Sasha, a qual estava a bons passos de distância, caminhando ao lado de Sam – Ela só precisa de tempo.

Abraham resmungou e balançou a cabeça negativamente, em dúvida se era isso mesmo que ela precisava.

Quando percebi que o grupo estava parando, franzi o cenho e andei a passos largos até o começo do grupo, onde Rick e os outros estavam parados, em frente à um monte de garrafas de água e quatro galões cheios, junto com um bilhete escrito a mão em uma folha de caderno: “De um amigo”.

Olhei ao redor, colocando a mão sob o sling, enquanto procurava por qualquer rosto desconhecido ou conhecido na floresta ao redor da estrada.

Não tinha nada, se tivesse, obviamente um de nós escutaria.

— Que tentação. – Sam murmurou, rodeando os suprimentos duvidosos

— Ninguém encosta. – Rick disse meio alto e então procurou alguém especifico no grupo, como não achou quem queria, me encarou – Cadê o Daryl?

— Foi procurar água. – Respondi automaticamente, olhando para seu rosto

— Obviamente não precisa mais. – Jason resmungou ao fundo

— Vamos esperá-lo aqui. – Rick anunciou, enquanto se abaixava para pegar a folha de caderno rasgada com o bilhete

O grupo se dispersou, mas todos rodearam as garrafas de água.

Encarei Jason e crispei meus lábios, irritada com a súbita perseguição inútil ao meu marido. Meu Segundo-Tenente me olhou de volta, com uma típica cara de paisagem e me deu um sorrisinho amigável. Perto dele, vi Kylie revirar os olhos e balançar a cabeça negativamente, enquanto dizia algo como “Sam, me segura que eu vou bater neles”, fazendo com que Sam risse baixo e resmungasse “Te segurar? Eu pagaria para ver isso”.

A única coisa que denunciou Daryl ao sair da floresta foi o barulho dos gravetos se quebrando conforme ele passava para a rua onde estávamos, vi Rick se aproximar do caçador e estender o bilhete. Meu marido apelas leu, jogou o papel no chão e tirou sua besta dos ombros, para empunhá-la enquanto olhava ao redor.

— O que mais nós vamos fazer? – Tara perguntou, balançando a cabeça negativamente

— Isso não. – Rick negou, olhando ao redor, assim como a maioria do nosso grupo – Não sabemos quem deixou.  

— Se for uma armadilha, já estamos nela. – Eugene comentou, com seu olhar fixo nas garrafas de água – Mas prefiro pensar que veio de um amigo.

— E se não for? – Jason perguntou para ele, balançando a cabeça negativamente – Poderiam ter colocado alguma coisa dentro.

— Eugene!

Era tarde, pois Eugene já tinha pego uma daquelas garrafas de água do chão e já estava abrindo-a.

— O que você pensa que está fazendo, cara? – Kylie perguntou a ele, fingindo desinteresse, mas mesmo assim, dava para ver que ela não queria que algo ruim acontecesse com aquele homem

— O que está fazendo? – Rosita perguntou alto, perplexa com o homem gordinho – Pode largar isso aí.

— Controle de qualidade. – Eugene comentou, levando a garrafa de água até os lábios

Mas antes, bem antes da garrafa tocar seus lábios, Abraham se aproximou rapidamente e deu um belo tapa na mão dele, derrubando a garrafa de água duvidável no chão.

— Não podemos beber. – Rick disse a ele, enquanto Abraham se afastava e voltava ao seu lugar – Não sabemos quem deixou.

— Sua mãe não te ensinou a não aceitar doces de estranhos, cara? – Sam perguntou pra ele, enquanto balançava sua cabeça em negação

Percebi apenas agora que ao fundo, haviam trovões soando. Todos nós ficamos quietos e olhamos para o céu. Uma gota pesada de água atingiu a minha testa e logo em seguida, várias delas vieram.

Estava começando a chover.

Coloquei a mão em cima da cabeça de Theodore, tentando em vão não deixá-lo molhado, enquanto escutava o riso dos meus amigos. A maioria deles estavam com a cabeça erguida e de boca aberta, deixando com que a água da chuva enchesse suas bocas. Olhei para a única pessoa da qual eu estava interessada a ver e lhe encontrei com um semblante triste. Me aproximei de Daryl, tentando não pisar nas duas mulheres, Tara e Rosita, que estavam deitadas no chão e assim que cheguei perto o suficiente, o abracei do melhor jeito possível, não amassando nosso filho no processo.

Daryl respirou fundo, enquanto me abraçava de volta com sua mão livre e fiz todo o esforço possível para não comentar que ele estava cheirando a cigarro, mas pareceu que todo o esforço foi embora quando vi que a mão que ele estava usando para segurar a besta estava queimada propositalmente.

Ele se queimou com a bituca de cigarro, no mínimo.

— Por que ainda está fumando? – Perguntei baixo, em um tom de reprovação – E pior, por que diabos se queimou?

— Agora não. – Ele me disse, apertando meu ombro – Agora não, Gabriela.

Concordei levemente com a cabeça e me afastei, respirando fundo, tentando não bufar em resposta.

— Todo mundo pegando as bolsas. – Rick nos disse, depressa, enquanto se abaixava para pegar as garrafinhas vazias de sua mochila – Peguem todas que encontrarem.

Com minha mão livre, peguei a garrafinha de água que Daryl levava pendurada na calça e entreguei para seu dono. O caçador pegou a garrafa de água, a abriu e colocou no chão, perto das outras que as pessoas do nosso grupo estavam começando a colocar, para coletar a água da chuva.  

— Perdão. – Gabriel dizia, olhando para o céu – Perdão meu Deus.

— Vamos lá. – Rick apressou as pessoas que não estavam fazendo nada, enquanto colocava as garrafinhas de água em pé no concreto da estrada

— Já vai, já vai.

Peguei a manta de Theodore, a qual já estava quase toda molhada e tentei fazer uma espécie de guarda-chuva, aproveitando o fato de que Judith ainda era a única a estar chorando. Trovões e mais trovões ecoaram acima de nós e isso fez com que olhássemos todos para cima, apenas para constatar que não era uma simples chuva passageira.

Era uma tempestade.

Os risos pararam, as pessoas que estavam deitadas do chão se levantaram e agora, todos nós estávamos sérios. Como poderíamos ficar sem abrigo durante uma tempestade? Tínhamos crianças e logo anoiteceria...

Droga.

— Vamos continuar andando. – Rick anunciou, falando um pouco mais alto do que o costume, por conta do barulho da chuva

— Há um celeiro! – Daryl praticamente gritou para ele, por causa da chuva

— Onde? – Rick perguntou de volta, tão alto quanto antes

E assim que Daryl pediu para que seguíssemos ele, esperei que todos pegassem suas coisas do chão e caminhei a passos largos, seguindo o caçador pela floresta. Não demorou muito para que víssemos o celeiro e assim que nos aproximamos, Rick foi o primeiro a entrar, com seu revolver em mãos e uma lanterna iluminando o caminho, seguido por Carol, Daryl, Glenn e Maggie, para revistarem o celeiro.

Me pareceram longos segundos até que o celeiro estivesse cem por cento limpo e pudéssemos entrar. A primeira coisa que fiz ao colocar meus pés dentro do celeiro foi tirar meu filho choroso do sling e tentar secá-lo para evitar que pegasse um resfriado ou uma pneumonia.

Ah nossa, Deus me livre.   

Quando a noite chegou e os recém achados lampiões foram acessos, parte do grupo se dispersou pelo celeiro, para dormirem ou simplesmente ficarem sozinhos. Já seca e sentada em frente a uma pequena fogueira, ajeitei um Theodore sonolento em meus braços, enquanto ainda escutava a chuva abafada cair lá fora. Daryl jogou mais algumas palhas dentro da fogueira, tentando aumentar um pouco mais o fogo, mas não teve muito sucesso.

— Deixa que eu tento...

— Não, ainda está muito molhado. – Daryl resmungou ao escutar o coreano dizer, balançando a cabeça negativamente

Rick se remexeu onde estava e olhou para trás, onde seu filho mais velho dormia, abraçado com sua irmãzinha.

— Ele ficará bem. – Carol disse ao Rick, olhando-o carinhosamente – Ele se recupera melhor que qualquer um de nós.

— Eu tinha pena das crianças que crescerão agora. – Rick comentou com a gente, voltando a olhar para os nossos rostos – No meio disso. Mas acho que entendi errado. Eles crescem e se acostumam com o mundo. É mais fácil para eles.

Abaixei meu olhar, para o bebê que ainda mantinha seus olhinhos abertos e se recusava a cair no sono, enquanto me imaginava alguns anos no futuro, ensinando-o a se defender com a ajuda de Daryl, nós dois lidando com um adolescente... O que eu mais queria ver é Theodore Dixon ser um homem de bem, de bom coração, assim como seu pai.

— O mundo não é assim. – Michonne disse, olhando para ele. Estava sentada ao lado de Carol, perto de Rick – Não é.

— Poderia ser. – Glenn murmurou, enquanto cutucava o fogo com um graveto – Poderia. – Ele repetiu, ao ver nossos olhares

— Isso é desistir. – Resmunguei, olhando para ele

— É a realidade. – Glenn retrucou, balançando a cabeça negativamente

— Até que tudo mude, é com isso que teremos que conviver. – Rick comentou com a gente, nos olhando alternadamente e depois de alguns segundos em silencio, ele respirou fundo e nos contou – Quando eu era criança, perguntei ao meu avô se ele matou alemães na guerra. Ele não respondeu. – Ele abaixou o olhar para a fogueira e a cutucou com um graveto – Disse que isso era conversa de adulto. – Levantou o olhar, para nos encarar – Então perguntei se os alemães tentaram matá-lo.... Mas ele ficou muito quieto. – Rick abaixou o olhar novamente, para o fogo – Ele disse que era um homem morto quando pisou no solo inimigo. Todos os dias ele acordava e dizia para si: “Descanse em paz. Agora, levante-se e vá para a guerra”. – Ele levantou novamente o olhar – E depois de anos fingindo estar morto, ele voltou a viver. Este é o truque, suponho. – Disse, alternando o olhar entre nossos rostos – Se fizermos o que for preciso, teremos o direito de viver. Não importa o que encontraremos em D.C., sei que ficaremos bem. Porque é assim que sobrevivemos. Nós pensamos.... Pensamos que nós somos os mortos-vivos.

Fiquei quieta, olhando para ele, absorvendo sua história sobre seu avô e pensando o quanto aquilo era real, de já estar morto quando colocar os pés no solo inimigo...

— Não somos eles. – Daryl comentou, balançando levemente a cabeça em negação e então se levantou parcialmente, se ajoelhando no chão, enquanto quebrava um graveto no meio

— Nós não somos eles. – Rick concordou, e se inclinou levemente para olhar no rosto do caçador – Ei. – Ele o chamou e assim que tinha os olhos de Daryl nos seus, completou – Não somos.

— Não somos eles. – Daryl repetiu, enquanto se levantava

Eu o observei jogar os pedaços de graveto no fogo e pegar sua besta do chão, antes mesmo de falar qualquer coisa para ele, seus olhos se encontraram com os meus e ele indicou as laterais do celeiro com a cabeça e assim que viu minha cara de preguiça, ele apenas inclinou a cabeça de novo.

Revirei meus olhos, e com cuidado, me levantei do chão. Segui o caçador ranzinza pelo celeiro até o lugar que supus que iriamos dormir e ao vê-lo se sentar, coloquei nosso filho em seus braços e me ajeitei ao seu lado.

— Achou esse lugar enquanto fumava? – Perguntei baixo, enquanto apoiava minha cabeça em seu ombro – Nem precisa responder, eu sei que sim. Eu sei que você está passando por muita coisa, nós também estamos.... Mas, D, por favor não se afaste.  

Daryl respirou fundo, mexeu seu ombro de um jeito que me fizesse levantar minha cabeça e assim que o fiz, ele me abraçou pelos ombros, me puxando um pouco mais para ele enquanto segurava nosso filho em seu outro braço.

— Não estou me afastando. – Ele me disse, num tom de voz baixo e estranhamente calmo, enquanto sentia meu corpo se aninhar um pouco mais ao dele – Me afastar de você não está sequer nos meus planos.

Coloquei a mão sob a boca ao bocejar e logo em seguida, respirei fundo.

— Você sempre poderá conversar comigo. – Murmurei para ele – Sobre qualquer coisa.... Sabe disso, não sabe?

— Eu sei. – Ele murmurou de volta, enquanto acariciava a minha cabeça

Me distanciei um pouco dele, apenas para afastar os cabelos de seu rosto e lhe dar um beijo carinhoso bem no meio da testa. Pois sabia que não poderia obriga-lo a conversar comigo sobre Beth e o que tudo aquilo significava para ele. Por mais que hoje em dia esteja mais aberto a conversas, aquele ainda era o velho Daryl Dixon da pedreira, o homem de pavio curto, de boca suja, mas de bom coração.

Sai dos braços aconchegantes do caipira e fui arrumar um lugarzinho aqui perto para poder dormir com Theo e com ele. Consegui o máximo de conforto possível em uma jaqueta esticada no chão e já deitada, sobre ela, com meu filho ao meu lado, fechei meus olhos, para tentar dormir.

Pareceu que foi só eu fechar meus olhos para ter que abri-los novamente, ao escutar os gemidos. Me sentei subitamente, enquanto olhava ao redor e ao ver o que estava acontecendo, todo o meu sangue gelou.

Deixei Theodore dormindo e me levantei às pressas, praticamente corri em direção a porta do celeiro e me meti entre meus amigos, espalmando minhas mãos na madeira e a empurrando com toda a força que consegui, enquanto os caminhantes lá do outro lado tentavam abri-la. A tempestade agora não era o nosso único problema.... Eu sabia que se meus amigos decidiram empurrar a porta e não deixá-los entrar, é porque são muitos.   

Foi empurrando a porta, junto com minha família, impedindo que os caminhantes entrassem, que eu passei a maior parte da noite.


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Notas finais do capítulo

R.I.P. Cachorrineos :'(

MAIS UM RIP, EU NÃO AGUENTO MAIS ESSES RIP'S!



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