Todo o Espaço Entre Nós escrita por Tai Bluerose


Capítulo 2
Deixar Ir


Notas iniciais do capítulo

Esqueci de avisar, esta fic se passa 3 anos após Star Trek: Além da Escuridão e ignora os Eventos de Star Trek Sem Fronteiras.



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― Posso ajudá-lo, Sr. Spock? ― Christine Chapel perguntou no momento em que o vulcano entrou na Enfermaria. Spock teve que dar um passo para trás, a mulher tinha entrado muito em seu espaço pessoal. Ela fazia isso com frequência.

A Srtª Chapel tinha sido transferida para o cargo de Enfermeira-Chefe na Enterprise a pouco mais de dois anos, uma sugestão da Dra. Marcus, de quem é amiga. A ocupante anterior do cargo tinha morrido no incidente com Kahn.

― Estou procurando o Capitão. Fui informado de que ele veio para cá.

― Sim. Ele está no escritório com o Dr. McCoy ― ela respondeu. A mulher apontou a direção, desnecessariamente, Spock sabia exatamente onde ficava o escritório do médico.

Spock agradeceu a informação e ficou aliviado quando a enfermeira se afastou dele para verificar um paciente. Não era só a proximidade de Chapel que o deixava desconfortável, mas também a maneira como ela olhava e sorria para ele. Nyota tinha lhe explicado, com algum desgosto, que Chapel tinha, nas palavras dela, “uma queda por ele” ― Ilógico! ― O que não era nenhum problema, segundo Nyota, desde que Chapel não se tornasse mais “atrevida”. Neste caso, Nyota teria que, nas palavras dela novamente, “tomar providências”. É claro que Spock não fazia ideia de que providências seriam essas. Entretanto, depois de seis meses de estranheza, Nyota parecia ter ficado próxima da enfermeira. Spock sempre via Nyota conversando com Chapel, Dra. Marcus e a ordenança Rand no refeitório e na Sala de Recreação. Em todo caso, ele estava aliviado por Chapel nunca ter ultrapassado qualquer limite.

 Spock se aproximou do painel de controle ao lado da porta do escritório para solicitar a entrada, quando captou a voz do Doutor através da porta.

― ... é desperdício de tempo e de saúde ficar se preocupando com algo que ainda nem aconteceu e que talvez nem aconteça, tem de encarar a possibilidade de Spock aceitar a promoção. E se ele aceitar?

Spock percebeu que falavam sobre a sua pessoa. Por educação, quis recuar, mas a voz de Jim o prendeu exatamente onde estava.

― Se ele aceitar, tudo bem. É bom que ele vá. Uma experiência nova para ele. Um novo desafio. ­― Spock ouviu a voz do capitão. Soava tranquila e despreocupada. Era isso mesmo? Jim achava que ele devia deixar a nave?

­― An-ham... E como você fica? ― o Doutor novamente.

― Eu sou um homem adulto, Leonard. E um capitão. Sei me virar muito bem sem o Spock. ― Kirk soara irritado. O Capitão... Jim... Ele não se importava se Spock fosse embora. Não precisava dele. E por que precisaria?

Quando Komack fez a proposta a Spock, seu primeiro pensamento foi recusar prontamente. Mas, depois, pensou que seria indecoroso e insensato rejeitar uma oferta como aquela sem antes parar para refletir sobre ela. Spock tinha pedido a Komack tempo para pensar. Ele queria conversar com Jim primeiro, antes de tomar qualquer decisão. Spock estava preocupado que sua saída repentina pudesse afetar o Capitão, ou melhor, o progresso da nave. Mas ele começava a ver que sua preocupação era ilógica. Tudo o que ele fazia pela nave e seu capitão poderia muito bem ser feito por outro Primeiro Oficial.

Ainda assim, ouvir Jim dizer que não precisava dele causou em Spock uma sensação, uma emoção desagradável. Emoção que ele tratou de bloquear, antes que tomasse forma.

Não houve mais nenhuma palavra dentro da sala.

Spock percebeu que um dos enfermeiros auxiliares o observava. Spock suprimiu uma pontada de vergonha. Era vergonhoso que um oficial superior como ele fosse pego escutando atrás da porta. Spock ignorou a atenção do enfermeiro e deu meia volta.

.

.

― Jim, podemos conversar?

Carol Marcus entrou no escritório do capitão por volta das 2040 horas. Jim estava terminando de enviar para a Frota os últimos relatórios dos danos sofridos na última missão.

― Desculpe, Carol. Agora não. Estou esperando Spock para uma reunião ― seus dedos digitavam com rapidez, os olhos fixos no monitor a sua frente. Ele ouviu a mulher fazer um som de desagrado e achou prudente olhar para ela.

― Estou tentando conversar com você há uma semana e sempre tem algo mais importante para você fazer. Não tem pelo menos dez minutos?

Jim se afastou do computador, coçando a testa. Ele se levantou e foi para a frente de sua mesa, apoiando-se nela e ficando de frente para Carol.

― Se isso é sobre passarmos mais tempo juntos outra vez, eu prometo verificar com o Spock quando posso tirar outra Licença de Terra, ok? Prometo deixar agendado. Mas eu não entendo isso, estivemos em uma licença há poucos mais de dois meses.

― Seis semanas exatamente. Mas não quero ir à outra licença com você. A última não resultou bem.

― Pensei que você tinha se divertido. Você insistiu em ir pra começo de conversa ― respondeu Jim, se esforçando para entender qual era o problema.

Jim não sabia muito bem como ou quando, mas em algum momento nesses três anos depois da luta contra Kahn, Jim e Carol começaram a ficar muito próximos e, eventualmente, começaram a namorar. Em secreto, claro. Pois, como capitão, Jim está permanentemente proibido de manter um relacionamento romântico com qualquer tripulante hierarquicamente inferior.

Mas os dois acabaram se envolvendo e sempre foram muito cautelosos quanto a isso. Talvez o trauma os tenha aproximado. Carol tinha perdido o pai, o almirante Marcus, Jim tinha praticamente morrido. Eles se compreendiam quando falavam sobre isso.

 Talvez tenha sido a solidão a juntá-los. Em seu primeiro ano na Enterprise, Carol se sentiu muito sozinha. Ela sentia que alguns tripulantes direcionavam a ela a raiva que sentiam do seu pai. Mas Jim sempre a tratava bem e procurava mantê-la envolvida com a tripulação.

No caso de Jim, ele se sentiu um pouco abandonado por seus dois melhores amigos. Leonard ficara bem ocupado e empolgado com o treinamento da nova Enfermeira-Chefe. E com os demais novos enfermeiros também, para ser justo. Além disso, o Oficial Médico-Chefe de uma nave estelar não costuma ter muito tempo livre. E Spock...

Spock era uma contradição. Um mistério. A amizade entre eles tinha melhorado, sim. Eles tinham menos desentendimentos e funcionavam melhores do que nunca no comando da nave. Jim brincava com Spock e ria do humor seco do vulcano, mesmo Spock negando ter qualquer senso de humor. Gastavam horas e horas jogando xadrez e conversando. Mas isso foi mudando.

No primeiro ano da missão, depois de Kahn, Jim e Spock passavam quase todo o tempo juntos. No segundo ano, Spock se afastou um pouco. Jim achou que fosse porque a missão tinha engrenado de vez, e surgiram novas tarefas para deixar todos constantemente ocupados. Mas depois, Jim percebeu que era algo do Spock mesmo. Nesses últimos doze meses, Jim notou que Spock passava cada vez mais tempo com Uhura e menos tempo com ele. O que não deveria ser estranho, afinal, Uhura e Spock são namorados. Mas Spock começou a se fechar e a se retrair sempre que estava com Jim, mais do que o normal. Os jogos diários de xadrez passaram a acontecer somente três ou duas vezes por semana.

Spock distante, Carol mais perto. Foi quando a boa química entre ele e a jovem cientista virou namoro.

Ter Carol foi um alívio.

Desde que iniciou sua vida sexual, Jim sempre esteve namorando ou dormindo com alguém. Mas desde que se tornara Capitão da Enterprise, o lado romântico não estava indo bem. Por ser capitão e por outras razões também.

Não se tratava apenas de sexualidade. A vida de capitão não é fácil. Por vezes ele se sentia sozinho e necessitado de afeto. Uma simples companhia no fim do dia já era reconfortante. Mas nem sempre Magro ou Spock estavam disponíveis.

Namorar com Carol lhe deu nova vida, mesmo que eles só pudessem estar de fato juntos nas Licenças de Terra. E Jim realmente gostava dela. Os primeiros seis meses foram maravilhosos, mas depois começaram os pequenos desentendimentos. Curiosamente, na mesma época em que Spock voltara a passar mais tempo com Jim.

Não raro, Carol lhe jogava na cara que Spock sabia muito bem dividir o tempo entre Jim, a nave e a namorada. Enquanto Jim só dividia seu tempo em dois, nos quais Carol não estava incluída. Jim sabia muito bem o que Carol estava insinuando, mas não dizia nada, porque ela não estava tão errada. Então, ele tentava compensar gastando tempo com ela. Como a noite românica que tiveram na última licença. Eles tinham ido a um restaurante andoriano muito elegante e tiveram uma agradável noite de amor. Pelo visto não era o bastante. Jim não sabia mais o que fazer.

― Mas não é sobre isso que vim falar. Vim informar que solicitei a minha recolocação para uma base de pesquisa terrestre. Quando chegarmos à Terra me desligarei da Enterprise.

Kirk continuava sentado em sua mesa, os braços cruzados. Olhava para ela com as sobrancelhas franzidas, tentando processar a informação.

― Você quer deixar a Enterprise? Não pode sair. Tinha que ser justo agora?

― Qual o problema de ser agora?

― Spock vai ser recolocado. Ainda não é 100% certo, mas...

― Comandante Spock vai sair da Enterprise?! ― ela o interrompeu surpresa.

― Vão promovê-lo a capitão. Se Spock for mesmo, vou precisar de você comigo...

― Pra quê? Céus, você ouve o que está dizendo? E se ele for? O que você quer que eu faça? Que eu jogue xadrez com você? Talvez eu até coloque uma prótese de orelha vulcana pra ficar mais parecida com ele, quem sabe assim você me dá mais atenção.

Jim se moveu desconfortável. Desviou o olhar do rosto da mulher. Quando falou, sua voz saiu baixa e embargada.

― Você está sendo cruel, Carol.

A mulher fechou os olhos lentamente, arrependida. ― Desculpe. Me desculpe. Olha, Spock ficando ou indo, não importa. Eu irei. O Centro de Pesquisa Microbiológica já está aguardando minha chegada.

― Certo... Bem, vai ser mais difícil mantermos contato se você ficar na Terra.

― É o que estou tentando dizer, Jim. Não manteremos. Estou terminando nosso relacionamento agora.

Jim se ergueu de súbito e segurou a mulher pelos braços. ― Oh, oh, oh, Carol. Carol, por quê?

― Porque você não está pronto para assumir um relacionamento sério. E talvez nunca esteja. Pelo menos não comigo.

― Estamos namorando há um ano. Um. Ano. Carol. Eu só estive com você esse tempo todo. É mais tempo do que eu já estive com qualquer pessoa, e você me diz que eu não estou levando a sério?

― Acontece que não estivemos realmente juntos esse tempo todo, Jim. Tivemos momentos, encontros roubados com semanas, as vezes meses, separando um do outro. E já começamos a brigar — ela deu uma risada autodepreciativa.

― Eu gosto de verdade de você, Carol. Eu te amo. Se é o fato de termos de manter em segredo então... Então nós casamos. E você pode continuar aqui e não teremos de fingir.

Carol olhou para ele surpresa.

― Oh, Jim! ― Carol acariciou o rosto do jovem capitão. Ele tomou as mãos dela e beijou-as com carinho. Carol percebeu que as mãos dele tremiam levemente. Ela não imaginou que fosse ser tão difícil. ― Eu também te amo, Jim e acredito que você me ame, mas acho que amamos de formas diferentes. Ou pelo menos em níveis diferentes.

― Isso é uma bobagem...

― Não, não é. É fácil perceber. Eu não sou a prioridade em sua vida. Eu entendo suas obrigações como Capitão, mas não me refiro somente a isso, você sabe. Você sabe. ― Jim voltou a ficar desconfortável. Carol puxou o rosto dele para que ele olhasse para ela. ― Eu adoraria casar com você se eu soubesse que é o que você realmente quer. Mas eu sei que não é, e não posso continuar aqui, Jim. Tenho minha pesquisa sobre Terraformação, você sabe disso. Estou trabalhando nisso há anos, e não posso levar esse projeto adiante aqui na nave.

― Então eu deixo minha posição de Capitão, adquiro uma atribuição em terra.

Carol sorriu para o modo otimista de Kirk, foi a primeira coisa que a atraiu nele, como se tudo pudesse ser resolvido tão facilmente. Ela sabia que ele estava sendo impulsivo, tentando resolver como podia o problema que se apresentava.

― Jamais poderia permitir você fazer isso. Sejamos francos, James Kirk. Você é tão comprometido com seu trabalho quanto eu sou com o meu. Essa nave é a sua casa, a sua vida, se você a deixasse por um emprego burocrático em terra, em cinco anos, ou menos, você acabaria me odiando por tirar você do seu destino. Você acabaria se odiando por fazer a escolha errada. Seriamos infelizes.

― Destino, humph! ― Jim falou com amargura. Carol concluiu que ele tinha sua própria piada interna sobre destino. ― Você não tem como saber disso.

― Eu sei. E você também. Você sabe que não me ama o suficiente para passar o resto da vida comigo. Seu coração não me pertence. Você sabe disso, não sabe, Jim? ― nesse momento, uma lágrima escorreu pelo rosto dela, e Jim teve que se controlar para não fazer o mesmo. Ele não respondeu à pergunta que ela tinha feito. ― É melhor terminarmos agora enquanto ainda somos amigos.

Jim apenas meneou a cabeça concordando. Ela caminhou até a porta e parou.

― Obrigada por me salvar do Kahn, por me acolher em sua nave e por não me julgar pelos erros do meu pai. Obrigada por ser um amigo quando eu precisei e por me amar da melhor maneira que você pôde. Vou tentar me lembrar disso.

Jim escutou a porta abrir e fechar. Ele olhou para a hora em seu PADD pessoal e percebeu que Spock chegaria em poucos minutos.

Ele não se sentia em condições de conversar com Spock agora.

Não agora.

Deixou o PADD e o comunicador sobre a mesa e fugiu da sala.

.

.

― Acredito que combinei de encontrá-lo em seu escritório há 20 minutos.

Spock encontrou o capitão na Sala de Observação, sentado em um dos bancos de frente para a enorme janela de alumínio transparente de onde se podia observar o Espaço e os corpos celestes do lado de fora. A camisa amarelo-ouro do Capitão o destacava na vista panorâmica de fundo escuro e pontos brilhantes. Era como se Jim estivesse sentado no meio das estrelas. Um sol com seu próprio sistema. Uma visão agradável, Spock podia dizer.

 Jim se sobressaltou quando Spock falou e fez uma careta ao vê-lo. Uma expressão humana muito usada quando se vê alguém que não gostaria de encontrar, Spock não deixou de notar.

― Spock, sinto muito. Esqueci completamente ― Jim explicou. Spock não sabia dizer se era verdade ou não.

― Há algo o perturbando? ― Spock se aproximou, mas continuou em sua postura perfeita. Costas retas e braços presos atrás das costas.

― Por que você pergunta? ― Jim continuava de costas para Spock.

― Você tem o hábito de vir para cá quando está muito preocupado com algo.

Jim olhou para o vulcano por cima do ombro, mas não conseguiu perceber nada em sua expressão fria.

― E como você sabe disso, Spock?

― Para um cientista, observar fatos e a frequência com que eles ocorrem para chegarmos a uma conclusão óbvia é uma tarefa praticamente natural.

Jim soltou um sorriso tímido.

― Não se preocupe, estou apenas... descansando a mente um pouco. Você sabe, nossa última missão foi bem desgastante.

― Tenho certeza que nenhuma outra nave romulana tentará ultrapassar a Zona Neutra. Acredito que aqueles tenham sido rebeldes solitários. Sua solução diplomática foi muito sábia e lógica, Capitão, se me permite dizer.

― Obrigado, Spock ― Jim sorriu minimamente. Não era o sorriso rotineiro ao qual Spock estava acostumado.

O silêncio caiu sobre eles. Um silêncio desagradável. Era estranho. Jim é sempre muito eloquente, pensou Spock.

― Acredito que seja melhor deixar nossa conversa para amanhã, se você está, como disse, “descansando a mente”. Devo concluir que isso seja semelhante à meditação vulcana?

― Talvez... Mas não precisa ir, Spock. Podemos falar agora ― era melhor puxar o curativo de uma vez, era o que Magro sempre dizia. ― Imagino que seja sobre a proposta de Komack.

― De fato.

Jim indicou o espaço vazio no banco, e Spock veio sentar-se ao seu lado.

― É uma oportunidade maravilhosa, Spock. Capitão! Não conheço ninguém que mereça mais isso do que você ― Jim falou com um pouco mais de ânimo. Suas palavras eram genuínas. Ele realmente acreditava que Spock merecia subir de ranque, e qualquer privilégio que lhe fosse oferecido.

― Fico honrado com sua consideração. Não é a posição que me atrai, entretanto, mas a potencialidade científica da missão em questão.

― Imaginei que te interessaria.

Eles ficaram em silêncio de novo. Depois, começaram a falar ao mesmo tempo e se interromperam. Spock insistiu para que Jim falasse primeiro.

― Quero que saiba que, se você quiser ir, você tem todo o meu apoio. Não quero que se sinta obrigado a permanecer aqui por qualquer coisa. Todos têm o direito de seguir nossos sonhos. Ou podemos nos arrepender de não fazê-lo. Isso é algo que os humanos costumam dizer, mas acho que se aplica a todas as espécies. Afinal, todos têm um objetivo, um propósito. Todos nós temos algo que desejamos muito, mais do que qualquer outra coisa. É quase incontrolável.

― Incontrolável... o vulcano murmurou tão baixinho que Jim quase não ouviu.

Spock ficou em silêncio, olhando para algum ponto à direita de Jim.

― Então, qual foi a sua decisão? ― Jim tentou não parecer tão ansioso ou apreensivo pela resposta.

Spock ficou em silêncio por mais alguns segundos. Jim viu os olhos castanhos do vulcano giraram para ele. A sensação quente e familiar, que sentia sempre que Spock o olhava nos olhos como agora, se espalhou por seu corpo.

― Eu decidi aceitar.

Jim tomou consciência de como aquela sala estava vazia e fria. Sentiu seu coração falhar por um segundo. Apesar disso, puxou energia não sabia de onde e deu um tapinha camarada no ombro do amigo.

― Neste caso, meus parabéns, Capitão Spock!

O vulcano se empertigou, surpreso com o contato. Mas não se afastou do toque do humano.

― Obrigado, Jim.

― Agradecimentos não são necessários. ― Jim ousou brincar, imitando o modo de falar do amigo.

Jim viu Spock levantar uma sobrancelha e em seguida o canto dos lábios dele se curvar para cima, o máximo de um sorriso que o vulcano exibia. Ao ver isso, Jim sorriu genuinamente.

E ali estava ele. O sorriso que Spock conhecia.

Quando percebeu que eles estavam se entreolhando novamente, Jim pigarreou e se levantou. Se espreguiçou esticando a coluna.

― Bem, acho que vou me retirar ― ele gesticulou para a porta e sorriu de modo afetado.

― Me permitiria acompanhá-lo, Capitão? ― Spock solicitou, ficando de pé ao lado de Jim.

― Claro, Spock.

Os dois seguiram pelos corredores juntos. Seus passos entrando em sincronia automaticamente. Não conversaram, mas não importava. Não era um silêncio ruim desta vez. O silêncio parecia ser mais confortável naquele momento.

.

.

Quando estava na segurança de seu quarto, Jim ordenou o computador a deixar as luzes em 10%. Ele se livrou de seu uniforme de capitão e se deitou na cama.

Olhando para o teto, escutando apenas o ranger característico do metal da nave, Jim suspirou derrotado. Parecia azar demais saber que ele perderia Spock e Carol no mesmo dia.

As imagens de sua mãe e de seu irmão indo embora vieram à mente.

― Por que está surpreso, James? Ninguém quer ficar com você ― Jim repetiu uma das frases favoritas de seu horrível padrasto, Frank.

― Nem posso obrigar ninguém a me amar ― disse Jim a ninguém.

Ele estava sozinho.


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