I'm Just a Muggle Girl escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que você goste, frapuccino de morango ♥
E, novamente, feliz aniversário, e desculpe pela demora a postar.



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20 de Fevereiro de 2016.

O ar se condensava ao seu redor, e Clara começava a arrepender-se por não ter levado o casaco ao sair de casa, embora não estivesse raciocinando muito bem, ao fazer isso.

Era o primeiro aniversário que ela teria que passar sozinha. Lembrava-se perfeitamente dos anos anteriores, onde o inverno britânico sempre acabava prejudicando os seus planos, de algum modo. Quando não podia sair de casa, por causa da neve acumulada do lado de fora, ou quando o aquecedor quebrava, e todos da casa sofriam com o frio.

A neve, novamente, era a culpada por não poder passar uma data tão importante junto daqueles a quem amava. A neve, naquela época do ano, não costumava ser tão forte, mas é claro que, como sempre, ela tinha de estragar o seu dia.

Pelo frio elevado, seus avós ficaram doentes, e a recomendação médica era ficar em casa, debaixo dos cobertores. Seus pais, que tinham viajado a negócios, ficaram presos em outro estado, e nenhum aeroporto ou estação de trem que fosse tinha se disposto a fazer uma viagem.

Incrível como os vôos não decolavam, mas as cartas eram entregues facilmente.

Clara, novamente, envolveu-se com os seus próprios braços, sentindo como aquela manga comprida, que antes parecia tão confortável, estava com um tecido fino e fresco demais para aquele clima, mas a sua vontade de voltar para casa era nula. Sentia-se mais solitária dentro do pequeno espaço de casa do que entre as mil pessoas que habitavam Salcombe, o que era um pouco irônico.

Precisou conter o sorriso, ao ver o parquinho, o qual brincava quando criança, coberto de neve. Era uma visão linda, apesar de tudo. Aproximou-se mais dali, passando a mão por cima da neve suja, sem importar-se consigo.

Happy birthday to you... Happy birthday to you... — ela começou a cantarolar.

Assim que chegou à frente dos balanços, espanou o máximo de neve que podia, sentindo como a luva, que cobria suas mãos, não era mais suficiente para absorver a temperatura, e sentou-se ali mesmo, sem importar-se com mais nada.

Olhando de lado, pôde ver um vulto sentado no gira-gira que, ao menor vento, estremecia, apesar do peso extra posto sobre si. Em alguns momentos, enquanto o tempo passava, ela se perguntava se ele estava mesmo ali ou se era apenas uma miragem, uma peça pregada por sua mente.

Clara também não pôde deixar de notar a única flor viva, do outro lado do parquinho. Era incrível como ela tinha conseguido sobreviver às péssimas condições jardineiras do tempo. Sem conseguir evitar, quase que hipnotizada, levantou-se de seu balanço, quase escorregando pelo caminho, e dirigiu-se até onde viu a tal flor.

Ajoelhou-se, sem importar-se com os seus joelhos molhados pela umidade do solo, e parou a sua mão a centímetros do caule da flor, sentindo uma repentina pena de retirá-la de seu lugar. Se tinha sobrevivido a tantas coisas, ela deveria sobreviver por mais um tempo.

— Tem coisas que a ciência não pode explicar.

Clara precisou controlar-se para não cair de vez no chão molhado, ao escutar uma voz masculina desconhecida.

— Ah! — ela deu uma risada, que soou meio desesperada, ao vê-lo sentado no balanço ao lado do que ela estava antes, como se já estivesse ali há muito tempo.

Olhando o garoto mais de perto, ela percebeu que nunca tinha o visto por aquela região, o que era bem estranho, já que ele usava roupas normalmente usadas em lugares familiares. Outro fato que chamou a sua atenção foi a falta de casaco, ele tinha um suéter dobrado em seu colo, enquanto se balançava, mas apenas isso.

— Está visitando? — Clara perguntou, tentando conter a vontade de sair correndo.

— Não, eu moro na cidade ao lado — disse o estranho, vagamente.

Ela desviou o olhar, vendo onde ele apontava.

Ele morava depois da floresta?

Clara franziu o cenho, estranhando. Aquela região era tão estranha, nunca tinha escutado de pessoas morando por ali.

— Só a minha família e mais umas duas ou três — ele continuou dizendo, alheio à sua confusão.

— Deve ser legal. Uma vizinhança onde todos se conhecem — Clara deu de ombros.

— Não é como se Salcombe fosse enorme.

Nisso, ela precisou concordar. Era algo que a fazia odiar e amar, ao mesmo tempo, o lugar onde morava. Repentinamente, lembrou-se de que não conhecia o seu nome, e nem tinha apresentado-se.

— O meu nome é Clara — ela disse.

— Rony.

Como não tinha dito o seu sobrenome, não incomodou-se com a falta da informação.

— Por que está aqui fora? Está frio! — Rony voltou a puxar assunto, parecendo estar com os pensamentos em outro lugar.

— Olhe só quem fala! — ela retrucou.

— Eu já estou acostumado com o frio.

— Ah! É? Veio de onde? Da Rússia?

Ele negou com a cabeça, como se não tivesse planejado que a conversa chegasse àqueles extremos.

Apenas alguns tempos depois ela entenderia o porquê.

 

20 de Fevereiro de 2017.

Como todos os anos davam errado, Clara não podia desviar os olhos de qualquer lugar que fosse, esperando que aquele ano fosse como todos os outros. Sua família estava ali, a neve não alcançava uma grande altura, e o aquecedor funcionava. Mesmo assim, ela sentia como se estivesse faltando algo, mas não era por causa de seu aniversário, era uma sensação que já a alcançava havia bastante tempo, e ela só tinha notado aquilo naquele momento.

— Está tudo bem, querida? — sua mãe perguntou-a, vendo como ela estava distante do que acontecia ali, olhando pela janela embaçada pelo frio.

— Sim, está — Clara colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha, como uma atitude inconsciente.

— Ele não veio, não é?

Ela franziu o cenho, confusa, virando-se para ela.

— Ele quem? — perguntou.

Sua mãe sorriu, embora também tivesse franzido o cenho.

— Ué! O garoto do parquinho, que você gosta de conversar com ele. Eu sei que você nunca me falou sobre isso, me desculpe, mas eu não pude deixar de notar.

Clara voltou o seu olhar para a janela, sentindo um nó na boca de seu estômago.

Que garoto era aquele?

 

18 de Fevereiro de 2017.

— Não faça isso, por favor.

Clara nunca pensou que passaria por aquele tipo de situação.

Achava que era uma boa ideia visitar a Rony, do outro lado da floresta, mesmo que todo o seu corpo gritasse para que ela desse a meia volta e corresse. Sempre encontravam-se no parquinho, não era algo rotineiro, apenas acontecia algumas vezes. Mesmo assim, a curiosidade falava mais alto, só que ela nunca imaginou que aquela parte não era reconhecida por ela por um motivo específico, que os que moravam lá eram completamente diferentes dela e de seus vizinhos.

— Obliviate — ele disse, a varinha apontada à sua cabeça.

Quando abriu os olhos novamente, estava sentada no balanço do parquinho, e o garoto ruivo do ano passado era uma lembrança distante, e até mesmo esquecida, em sua memória.

 

20 de Fevereiro de 2018.

Clara puxou a alça de sua mala, ciente de que sua mãe a observava pela janela fechada, enquanto afastava-se cada vez mais da casa a qual viveu por todo aquele tempo. Como uma necessidade incompreensível, dirigiu-se ao parquinho mais uma vez, vendo um vulto sentado sobre o gira-gira. Sorriu, embora não entendesse o porquê, sabendo que estava deixando para trás muito mais do que imaginava.


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