Slytherin Past escrita por Gaia


Capítulo 5
Aparências




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— Pára de me encarar assim, a elfa não é só minha. Não posso usá-la só para fazer coisas que eu quero, quando quiser. – Jesse se contentou em dizer, como se aquilo saciasse todas as minhas dúvidas.

— Bom, tê-la de vez em quando já vai ser mais que o suficiente! – exclamei, ainda indignada. – Você devia ter mencionado.

Meu primo revirou os olhos e bufou, tomando mais um gole de sua caneca, enquanto eu cruzava os braços, irritada. Que ótima atmosfera para trabalhar em equipe.

— Esqueça Hestia, vamos pensar.

Encarei os olhos incrivelmente bonitos de Jesse e pensei que talvez ele estivesse sofrendo mais do que eu naquele momento. Quer dizer, eu conhecia CeCe quase durante a minha vida inteira, eu sabia que ela sabia se virar e que estava bem. Entendia suas capacidades e habilidades, além de seu incrível dom de se livrar de tudo com uma boa conversa.

Mas Jesse apenas conheceu parte dela, a conhecia só por um ano. Não sabia de tudo o que ela era capaz e devia estar pensando em mil cenários em sua mente. Se eu sentia uma certa urgência em busca-la, meu primo devia estar sentindo mil vezes mais.

Pela primeira vez, pensei que talvez buscar Beatrice fosse a prioridade. Quer dizer, como encontrar meus pais me deixaria em segurança se até acha-los eu me colocaria em mais perigo do que se ficasse em casa? Não fazia sentido. Além disso, uma parte de mim não sabia ainda se eu realmente queria encontra-los. Estamos falando de pessoas que concordaram em apagar minha memória e sumir da minha vida para nunca mais aparecerem.

Então, ainda encarando meu primo, decidi que desvendar meu passado era um luxo que talvez eu não teria ainda. É verdade que eu tinha prometido para Rabastan, mas ele não estava ali para cobrar nada, estava?

— A Mansão provavelmente está protegida por um feitiço de fidelius, então não adianta procurarmos alguém que sabe a localização. – Jesse ponderou e eu concordei. – Eu odeio admitir, Liz, mas acho que o único jeito de entrarmos lá é sermos capturados.

Soltei a minha melhor expressão de incredulidade, enquanto ele levava sua caneca para os lábios como se tivesse acabado de recitar um poema.

— Claro, não é como se Voldemort estivesse me procurando por...

Então, a casa antiga de Jesse pareceu ser afetada pelo que parecia ser um terremoto. Os rangidos começaram a ficar ensurdecedores e poeira caia da madeira enfraquecida do teto que, por sua vez, estava prestes a ceder. Levantei-me em um pulo e encarei o meu primo que, como eu, já estava com a varinha sacada.

— O que está acontecendo?! – gritei, tentando superar o barulho de desmoronamento. Mas Jesse não conseguiu me responder, de repente os vidros das janelas se estraçalharam e uma figura encapuzada apareceu em um estalo dentro da casa em ruinas.

Eu não pensei duas vezes ao me abaixar e soltar um feitiço estuporante no invasor, que defendeu com agilidade, já soltando um jato de luz verde em minha direção, que eu esquivei me jogando atrás de uma estante de livros empoeirados. Ouvi Jesse lutando com outro Comensal e me perguntei quantos tinham aparecido.

A estante cedeu imediatamente e caiu no chão, levantando todo o pó acumulado de anos e criando uma rachadura nos tacos do piso. Já lacrimejando, eu tentava manter meus olhos abertos e meu nariz tapado, enquanto localizava o Comensal da Morte.

Bombarda! – ele exclamou na minha direção, antes que eu pudesse enxergar de onde o feitiço estava vindo. Sem defesa, o feitiço acertou um abajur que estava bem ao meu lado, e eu vi as chamas aumentando em câmera lenta, para se transformarem em uma grande explosão.

Afetada diretamente pelos efeitos, fui jogada a metros de distância, sentindo a minha pele arder de forma insuportável. Já não conseguia ouvir nada e minha vista estava embaçada e turva quando encontrei o chão. Mesmo parecendo impossível de reagir, tentei me levantar e me proteger de um feitiço fatal.

Por sorte, o Comensal não viu onde eu cai, então tive alguns segundos para convocar minha mochila.

— Accio Poção Wiggenweld. – tentei murmurar baixinho, enquanto apontava a minha varinha para dentro da mochila, que veio voando pelos destroços. Assim que bebi a poção -que odeio admitir, aprendi com Snape-, me senti melhor e consegui levantar e enxergar minimamente.

Tudo ainda parecia estar submerso em poeira e só era possível enxergar vultos e sombras. O apito no meu ouvido ainda não tinha parado, então tive que confiar em meus outros sentidos para ajudar Jesse. Não podia sair atacando às cegas, já que não conseguia reconhecer as figuras.

Então, tive a brilhante ideia de usar a Transfiguração ao meu favor. É sério, eu não sei porque os bruxos não usam mais feitiços de Transfiguração. Sim, eles são complicados, mas são extremamente eficazes em quase todas as situações. Não são ideais para uma batalha, porque demoram para serem completados, mas naquelas circunstâncias, era a minha melhor opção.

Agradeci McGonagall mentalmente quando fiz um movimento complexo com a varinha e murmurei para o frasco de poção vazio:

Vipotdaschiopodo.

Como planejado, o vidro começou a se deformar e crescer descomunalmente. Quase sorri ao ver o ferrão se esticando e a couraça tomando forma. Mais rápido do que eu imaginava, o frasco da poção tinha se tornado um Explosivim, uma das –várias, diga-se de passagem- criaturas que o prof. Hagrid criou ilegalmente para a sua aula de Trato das Criaturas Mágicas.

Encarei o bicho, que era uma mistura de escorpião com caranguejo, e lembrei de todas as tardes desagradáveis que tivemos ao tentar controla-los quando eles soltavam fogo um no outro e torci para que esse estivesse de mal humor. Eu lembrava perfeitamente bem que Explosivins eram criaturas bem chatinhas de serem impedidas, eles só podiam ser atacados por baixo por causa de sua dura couraça que ficava em volta de seu corpo. Eu duvidava que os Comensais da Morte sabiam disso. Obrigada, Hagrid, nunca vou mentalmente te chamar de louco novamente.

Então, com muita dificuldade, me arrastei para fora dos destroços e finalmente consegui ver Jesse em um duelo fervoroso com os dois Comensais. Por um momento, pensei que talvez não precisasse ajuda-lo, que ele estava se dando muito bem, mesmo sendo minoria. Mas esse instante passou assim que o vi dar um piso em falso e tomar um feitiço na perna.

Nos protegi com um feitiço silencioso e aticei o Explosivim com algumas faíscas. O bicho soltou um barulho ensurdecedor antes de sair correndo longe da minha varinha, indo em direção aos Comensais.

Antes que eles pudessem fazer qualquer coisa, a criatura começou a soltar labaredas de fogo. Os homens encapuzados se sobressaíram e tentavam encontrar a fonte, enquanto eu tentava chegar em Jesse para aparatar.

Quando finalmente cheguei no meu primo, os Comensais estavam em uma luta sem fim contra a criatura, que recebia os feitiços em seu escudo natural e ricocheteava todos.

Accio mochila. – lembrei antes de segurar meu primo com força e aparatar para o mais longe possível.

Caímos na grama e era quase impossível acreditar no ar que estávamos respirando. Puro e limpo, meu nariz agora podia inspirar tranquilamente e as últimas lágrimas dos meus olhos estavam expulsando o resto da poeira.

Com dificuldades, me sentei e encarei Jesse, vendo os estragos de seu duelo. Sua perna estava sangrando e o seu rosto estava imundo, assim como as suas roupas. Suado e exausto, meu primo nunca esteve tão longe esteticamente de quando o encontrei pela primeira vez e o achei maravilhoso.

— Você está bem? – perguntei.

— Sim. Você? – acenei com a cabeça para ele e respirei fundo. – Aquilo foi brilhante. O que você fez, quero dizer.

— Obrigada. Você também, duelando com aqueles dois. Desde quando é tão bom? – apesar do meu tom brincalhão, a pergunta era séria. Jesse nunca passara a impressão de ser tão impressionante. Ele sempre me passou como engraçadinho e meio desligado. Mas tinha sido ele quem tivera ideia do plano para proteger os meus pais e agora tinha sido ele quem havia segurado dois Comensais da Morte sozinho.

Ele apenas se contentou em acenar com a cabeça. Ofegantes, ficamos em silêncio por alguns minutos antes de nos levantarmos.

— Como raios eles nos acharam? – perguntei finalmente.

— O nome. Você disse o nome de Você-Sabe-Quem. – ele me respondeu imediatamente, como se soubesse desde sempre.

— Mas o que que tem? Eu sempre falei e nenhum Comensal da Morte apareceu e destruiu a minha casa. – retruquei, finalmente sentindo as consequências dos ataques em todo o meu corpo. Ótimo, tudo o que eu precisava era mais dor.

— Eu sei, mas agora ele fez com o nome dele fosse um tipo de rastreador, para ficar mais fácil de encontrar seus inimigos, já que os seus seguidores só dizem “Lorde das Trevas”. – Jesse explicou, já soltando feitiços protetores em volta de nós. Por Merlin, quem faz isso? Eu não devia mais ficar surpresa com a malevolência do meu tio, mas era realmente de impressionar.

Não quis perguntar como Jesse sabia daquilo, mas estava desconfiando do meu primo cada vez mais. Será que as memórias que eu tinha dele também foram alteradas por Dumbledore? Era horrível não saber o que era real e o que não era.

— Não dizer o nome de Você-Sabe-Quem, anotado. – falei, massageando as minhas pernas e enxergando finalmente o meu corpo. Eu estava sangrando em várias partes, afetada pelos vidros estilhaçados, e o meu braço ainda estava ardendo com as queimaduras.

Eu nunca fui boa com feitiços, como insisto em repetir, então peguei mais algumas poções que tinha trazido e espalhei sobre minha pele queimada. Já para os meus machucados, usei algumas plantas que aprendi terem propriedades curadoras na aula de Herbologia. Os meus professores estariam tão orgulhosos de mim agora. Quer dizer, Madame Sprout sim, Snape - vamos ser realistas - não daria a mínima.

Ajudei Jesse com os feitiços que faltavam e ficamos em silêncio até escurecer, nos ocupando com tarefas como pegar lenha e construir um abrigo meia-boca só para passar a noite. Tudo era mais fácil com magia, lembro-me de ir acampar com os meus pais quando era criança e ter que fazer tudo isso do jeito mundano.

Pela primeira vez desde de toda a loucura, pensei em meus pais. Será que eles estariam bem no abrigo que eu os deixei? Será que os feitiços que soltamos foram o suficiente? Com o coração apertado, olhei o meu celular sem serviço e desejei que funcionasse, ou que eu ainda tivesse Rustie comigo para mandar cartas.

Assim que Hestia voltasse, eu iria querer notícias dos Miller.

— Precisamos de um plano. – Jesse interrompeu meus pensamentos depois de terminarmos de construir nosso abrigo.

Isso era óbvio, precisávamos saber como iriamos resgatar Suzanna, como iriamos encontrar Rabastan e como eu iria lembrar dos meus país. Tudo sem ser mortos ou torturados. Fácil, tranquilo, a vida era ótima.

— Eu sei. – me contentei em responder, suspirando. – Olha Jesse... Eu sei que você vai dizer que é loucura, mas eu realmente acho que é uma boa ideia tentar encontrar informações na Borgin & Burkes. Você é da Sonserina, não vai ter problemas entrando e conversando com alguém.

Esse era meu jeito de jogar verde e tentar colher alguma informação da vida de Jesse. Mas ele não mordeu a isca e respondeu:

— Eu não quero ser um espião e fingir que estou do lado deles, Liz.

Tentei pegar algum resquício de emoção em sua expressão por traz das luzes fracas do fogo, mas não consegui. Seu rosto estava ilegível e nada do que ele disse me ajudava em nada.

— Então entramos de outro jeito, podemos espionar pelo lado de fora, tomar poções polissuco, há várias possibilidades...

— Eu achei que tínhamos concordado que o único jeito de entrar na Mansão era sendo capturados, por que você está insistindo tanto nessa ideia? – ele me interrompeu com o rosto ainda escondido nas sombras. 

Eu nunca tinha concordado com aquele plano, Jesse, assim como eu, estava jogando verde. Ele já tinha percebido que eu estava escondendo alguma coisa e não queria ficar no escuro. Mas eu não podia contar para ele o real perigo no qual estava nos metendo, não quando ele concordou de bom grado em ajudar meus pais e Suzanna.

Mas ao mesmo tempo, me sentia culpada exatamente por isso. Era injusto manter segredos de alguém que estava sendo útil. Suspirei, por que tudo tinha que ser tão complicado? Por que eu não podia simplesmente confiar nas pessoas?

— Porque eu não acho que sermos capturados é a melhor ideia. Eu sou sangue-ruim, esqueceu? Eles não vão me capturar, vão me matar. – respondi, encarnando a melhor mentirosa que existia em mim.

Jesse ficou em silêncio e ficamos assim por mais um tempo. Ambos sabendo que os segredos que guardávamos estavam nos impedindo de ter ideias melhores. Relutante, apaguei a vela e me aconcheguei no travesseiro improvisado que fiz com meus casacos. Torci para que o dia seguinte trouxesse alguma ideia brilhante que nos fizesse nos sentir mais úteis.

Demorou para que eu finalmente tivesse sono, apesar de estar toda dolorida e mentalmente desgastada. Foi só quando meus olhos pesados estavam prestes a sucumbir que, para a minha total surpresa, eu ouvi uma voz que achei que nunca mais iria ouvir.

— O que vocês acham de acamparmos aqui? Já está tarde. – ninguém menos que o meu ex-namorado de fachada, Peter Roth.


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Notas finais do capítulo

Oiee, cap novo!
Demorei pq meu pc tava no conserto, mas já está de volta :)

Espero que tenham gostado!

Beijão :*



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