Traços do Destino escrita por Miss Daydream, LadyNightmare


Capítulo 11
Deslize


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde? Boa noite?
E cá estou eu para mais uma atualização de Traços do Destino. Eu não sei se choro, ou se acho graça do fato das atualizações terem se tornado anuais xD
Brincadeiras à parte, acredito que esse capítulo seja aguardado por muitos. Espero continuar agradando com o desenrolar da história daqui em diante.
Muito obrigada por todo o apoio que vocês tem nos dado. Vocês são leitores incríveis ♥
*Capítulo betado, mas ainda podem haver alguns errinhos.
Boa leitura!



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Nathaniel se remexeu sobre o banco, sentindo o olhar de Castiel preso em si. Era tão intenso e escancarado que o loiro sentia como se ele pudesse enxergar até mesmo a sua alma. Castiel não tinha pudores. Não se importava em ser pego no flagra encarando-o. Diferente de Nathaniel. 

O ex representante de turma engoliu em seco, fazendo o pomo de Adão em sua garganta subir e descer com dificuldade. Com a mão direita, ele pegou a caneca à sua frente e levou-a até os lábios, na esperança de amenizar a secura em sua boca. O líquido escuro desceu fervendo pelo esôfago, tornando a temperatura de seu corpo ainda mais alta. 

Os nós dos dedos de Nathaniel estavam brancos, evidenciando a força exagerada com a qual ele segurava a caneca, quase como se ela pudesse fornecer-lhe alguma espécie de apoio. Sentia-se patético. Um olhar. Apenas um olhar de Castiel fora o suficiente para deixá-lo assim. Desde quando estava acumulando tanta tensão em relação ao ruivo? 

Em contrapartida, do outro lado da bancada, Castiel observava o loiro com atenção. Estava considerando seriamente a hipótese de colocar as suas vontades em prática. De saciar de uma vez por todas aquela ânsia que dominava seus pensamentos. Castiel não era covarde. E detestava se sentir assim. 

O máximo que poderia acontecer, seria a rejeição. O ruivo já havia passado por isso antes. Mas por que ser rejeitado por Nathaniel parecia incomodá-lo tanto? Castiel ignoraria totalmente os sentimentos que agitavam o coração em seu peito e diria que era simplesmente porque ele não queria que o clima ficasse estranho entre os dois justo agora que ele estava ajudando o loiro. 

Contudo, arriscar era sempre algo que ele estava disposto a fazer. Ele nunca saberia se não tentasse. E viver com aquela dúvida permanentemente era pior do que ser negado. 

Quando Nathaniel abaixou o tronco para que pudesse alcançar a mochila em seus pés, Castiel viu ali a oportunidade perfeita para se aproximar dele sem que ele tivesse a chance de sair correndo.  

No instante em que o olhar de ambos se encontrou outra vez, a tensão pareceu duas vezes maior agora que eles estavam tão perto um do outro. Era sufocante e se espalhava por toda a atmosfera do ambiente, provocando novamente aquela secura desconfortável na boca de Nathaniel. Mesmo que sua insegurança insistisse em negar, lá no fundo de sua consciência, ele já sabia o que iria acontecer se continuasse parado ali. E ele também sabia que, para si, era mais do que agradável o rumo que as coisas estavam tomando. O loiro precisava que Castiel tomasse a iniciativa. Apenas isso. Se o ruivo cedesse, ele cederia igualmente. 

Como se estivesse lendo os seus pensamentos, Castiel não mais receou ao se aproximar tanto de Nathaniel ao ponto de grudar seus lábios. Este último imediatamente fechou olhos, desfrutando do ato com pura satisfação. 

Incontáveis arrepios atravessaram o corpo de Nathaniel. Como se ele estivesse sendo atravessado por corrente elétrica de alta voltagem. Seus músculos tornaram-se tensos, quase como se ele estivesse enferrujado. Contudo, a sensação era ótima. Pois era algo pelo qual ele também ansiava. 

Os lábios de Castiel eram urgentes sobre os seus, mas ao mesmo tempo, ele mantinha o tronco a uma certa distância do loiro, esperando pela resposta dele para se aproximar mais, ou se afastar completamente. Nathaniel queria corresponder com todas as suas forças. Ele sentia cada célula de seu corpo implorando para que ele se permitisse aproveitar o momento. 

Lentamente, o ex representante de turma abriu os lábios, dando a permissão da qual o outro precisava. Quase que instantaneamente, as mãos de Castiel voaram até a nuca dele, trazendo-o para mais perto para que pudessem aprofundar o ósculo. Ainda assim, o toque fora mais gentil do que o esperado. 

Nathaniel não hesitou ao subir as mãos pelo peitoral do ruivo, passando pelo pescoço, até chegar aos cabelos vermelhos nos quais ele tanto queria afundar os dedos. Agora podia fazê-lo sem medo. E era incrível. Era estranhamente satisfatório poder acariciar as madeixas de Castiel, enquanto os lábios deste devoravam os seus iguais com gula.  

O loiro não mediu esforços para retribuir à altura, seguindo o mesmo ritmo que a língua de Castiel parecia ditar. Estavam tão próximos que ele quase pensava que seria possível fundirem-se. E Nathaniel se sentia seguro, se sentia abrigado pelo abraço do ruivo de uma maneira que o teto de sua família nunca fora capaz de lhe proporcionar em anos. E sua vontade de cessar aquele contato era nula. 

As unhas curtas de Castiel arranharam levemente a pele da nuca de Nathaniel, fazendo com que ele estremecesse com o arrepio inesperado. Cada milímetro do corpo dos dois estava em estado de alerta. Extremamente ansiosos e sensíveis a cada toque, querendo compartilhar o máximo de contato possível. Mesmo que ainda houvesse certa hesitação nos movimentos de cada um devido ao fato de ser a primeira vez que faziam aquilo (e também por terem um passado conturbado como inimigos), o beijo era cheio de querer. De uma necessidade há muito tempo guardada. De uma atração física inegável. De ambas as partes. 

Apesar de sua vontade ser totalmente o contrário, Nathaniel se afastou quando o oxigênio se tornou escasso em seus pulmões e seus lábios dormentes. As respirações dos dois estavam ofegantes e misturavam-se em uma nuvem de ar quente. De repente, aquela cozinha parecia muito pequena para o tamanho da vergonha que não só Nathaniel estava sentindo, mas também Castiel. Embora ele fosse negar até a morte, caso lhe perguntassem algo. 

Estava nítido o que se passava na cabeça de ambos: o beijo havia sido ótimo, mas o clima entre eles estava estranho. De um modo constrangedor. Nem um dos dois sabia como prosseguir. E Nathaniel nem sequer tinha coragem o suficiente para erguer a cabeça e encarar Castiel, tirando vantagem dos poucos centímetros que tinha a menos do que ele. Estava tudo muito confuso e o calor do momento começava a se dissipar, trazendo de volta a frieza lógica com a qual ele costumava pensar. E esta lhe dizia que talvez esse fosse o momento ideal para dar no pé antes que as coisas ficassem ainda mais esquisitas. Nathaniel precisava de um tempo sozinho consigo mesmo. 

— Preciso ir para a minha aula. — foi tudo o que o loiro dissera, saindo porta afora logo depois de pegar sua mochila.  

Castiel não apresentou objeções. Talvez ele também precisasse de um tempo sozinho. Ou ele apenas já esperava esse tipo de reação vinda do ex representante de turma. 

*** 

Os corredores da universidade eram sempre abarrotados de alunos perambulando entre os turnos das aulas. Era comum que se esbarrassem, ou acabassem tropeçando em pés alheios pelo caminho. 

Nathaniel passou alguns bons minutos parado em frente ao seu armário, assimilando tudo o que tinha acontecido naquele café da manhã. Era incrível a forma como sua vida havia dado um 360° completo, lhe colocando ao lado de Castiel e até mesmo dividindo um apartamento com ele. Parecia um teste. 

O relógio no alto da parede indicava que faltavam apenas cinco minutos para que sua aula se iniciasse. Nathaniel retirou alguns cadernos do armário, substituindo por outros. Uma movimentação ao seu lado indicava que alguém estava se aproximando. 

— Pelo vermelho das suas bochechas, eu suponho que tenham se beijado. — Armin comentou, sem cerimônias, ou sem se preocupar em ser discreto. 

O loiro arqueou uma das sobrancelhas enquanto encarava o amigo. Estava tão na cara assim? De fato, ele não era alguém que sabia disfarçar quando algo mexia consigo. Um defeito e tanto. 

— Acho que estraguei tudo. — Nathaniel comentou, seguindo Armin para a sala de aula. 

O moreno lhe olhou interrogativamente, indicando que queria que ele desenvolvesse melhor aquele comentário. 

— Eu meio que fugi depois do beijo. — coçou a nuca, encabulado — Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós. 

Armin assentiu, parecendo compreender o que o amigo queria dizer. Conhecendo Nathaniel, sabia que ele provavelmente se sentia como um peso para Castiel, ocupando um lugar que não era dele. Nathaniel tinha dificuldade em confiar nas pessoas e aceitar favores, ele sempre sentia que precisava retribuir. Mesmo que a situação de agora o tivesse como vítima. 

— Nath, se o Castiel não gostasse de você, ou te achasse um incômodo, ele não iria oferecer o próprio apartamento para você passar um tempo. — Armin apoiou a mão esquerda no ombro do amigo — Só fica tranquilo, beleza? E se ele te der um pé na bunda, você pode vir para o meu covil secreto. — deu uma piscadela, tentando amenizar o clima. 

Nathaniel riu brevemente e agradeceu a Armin. Talvez devesse mesmo apenas seguir a maré. Já estava tão fodido, não tinha como ficar pior. 

*** 

Mesmo sendo um dia no meio da semana, o Coffee Shop sempre se encontrava movimentado. Alguns paravam ali para apreciar um café quente depois de um dia cansativo de trabalho e estudo, ou para sentar em uma mesa perto da janela e ler um livro. A estação em que estavam também era favorável aos negócios do café. O frio rigoroso do inverno parisiense praticamente implorava por uma bebida quente. 

Castiel aproveitou que não haviam pedidos no momento e se dispôs a limpar a bancada e algumas mesas vazias. Os cabelos ruivos sempre parcialmente presos para trás e o avental preto cobrindo suas vestes surradas. Rick costumava dizer que tinha acertado em cheio ao contratar Castiel, já que além de ser eficiente, ele também atraía a clientela com seu estilo peculiar. 

O ruivo mordeu os lábios, lembrando-se da sensação que fora beijar Nathaniel naquela manhã. Havia sido inegavelmente bom. E o fato de que o loiro não havia hesitado em retribuir, fazia com que Castiel se sentisse um pouco menos bobo por criar expectativas em cima daquele beijo. No fundo de seu âmago, esperava que a fuga de Nathaniel para sua aula houvesse sido causada apenas pela timidez já tão natural dele. 

Droga. Por que estava pensando tanto no ex representante de turma? Por que se sentia tão inquieto ao relembrar dos últimos acontecimentos? Era só um beijo. Só a porra de um beijo. Castiel já tinha beijado inúmeras pessoas em sua vida e Nathaniel era apenas mais uma. 

Certo? 

Não houveram mais tempo para divagações, pois o ruivo tivera sua linha de pensamentos interrompida pelo barulho do sininho que ficava sobre a porta de entrada, indicando que alguém tinha chegado. Direcionando seu olhar para o local em questão, Castiel avistou uma cabeleira loira atravessar a porta. Ótimo. A causa de seus sentimentos embaralhados havia acabado de chegar. 

O viu seguir para a parte de trás do estabelecimento, provavelmente para largar sua mochila e colocar o avental. O céu já estava escurecendo, o sol lentamente dando lugar às estrelas e o frio se intensificando. O horário de maior pico acontecia exatamente agora, durante a volta para casa. 

Naquele dia, Nathaniel se concentrou em fazer seu trabalho bem feito, descobrindo algumas coisas por si só, já que não queria ficar pedindo ajuda a Castiel sempre que uma dúvida surgisse. Trocaram poucas palavras, pois o movimento intenso do café não lhes permitia muita conversa. Secretamente, se sentiam aliviados por não precisarem lidar com a tensão que pairava no ar durante algumas horas. 

Ao fim do expediente, restavam apenas três clientes ainda sentados em suas mesas, o horário de fechar se aproximava. Castiel aproveitou que estavam menos atarefados agora para caminhar até o loiro, ficando ao seu lado na bancada. 

— Alguma notícia sobre os alojamentos? — perguntou casualmente. 

Nathaniel deixou um suspiro escapar, negando com a cabeça. 

— Não sei quanto tempo vai levar. — murmurou — Me desculpe. 

Castiel rolou os olhos.  

— Para com essa porra. Você não fez nada para se desculpar. — apesar de seu tom de voz ser contido para que os clientes não escutassem, a frase havia soado como uma reprimenda. 

Nathaniel mordeu o interior de sua bochecha e apenas assentiu, para mostrar que havia escutado. Não sabia muito bem como deveria agir agora. Contudo, Castiel pareceu mais rápido do que ele ao dar continuidade à conversa. 

— Olha, foi mal por hoje de manhã, ok? Eu devia ter perguntado antes se você queria. — resmungou, parecendo tímido ao pronunciar tais palavras. 

O loiro ergueu o olhar, encarando Castiel, este que havia desviado seu olhar para a porta de entrada do café, parecendo de repente muito interessado em observá-la. Nathaniel riu. Pelo visto, ele não era o único envergonhado ali. 

— Desculpe por ter fugido. — deu de ombros. 

— Você é um bunda mole mesmo. — Castiel debochou, um sorriso ladino preenchendo seus lábios. 

Nathaniel o empurrou com um esbarrar de ombros de forma descontraída. Não tinha ficado chateado pelo comentário do outro. Pelo contrário, em partes, ele até que concordava. 

— Pra um nerd como você, você até que beija bem. — Castiel alfinetou. 

— Você trata assim todo mundo que você beija? — Nathaniel retrucou. Surpreendentemente, o clima entre eles estava leve. 

— Não. Só os loirinhos certinhos. — deu uma piscadela. 

Quando o turno de ambos acabou, Castiel se encarregou de fechar o estabelecimento, enquanto Nathaniel terminava de limpar as louças sujas. Nenhum dos dois tocou mais no assunto sobre o beijo trocado, mas ambos sabiam que o mar de sentimentos confusos que os assolava em relação um ao outro era recíproco. Não tinham ideia de como prosseguir com aquilo, ou se deviam apenas ignorar. Mas era fato que o desejo e a vontade de repetir aquele beijo estava presente ali a todo momento. 

Eles só precisavam descobrir como lidar com isso sem parecerem estranhos um com o outro. 


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