Stolen Moments escrita por STatic


Capítulo 3
Rise


Notas iniciais do capítulo

Olaaá!

Vi que curtiram Johanna nos representando no último capítulo, hã? hahhahaha Um anjo!
Gente, novamente, MUITO obrigada pelos comentários maravilhosos e todo mundo que favoritou, vocês são incríveis! Eu amo que vocês estejam gostando da história porque amo escreve-la. Aliás, eu estou adorando e anotando todas as sugestões (duas já estão escritas até), então obrigada! Quem quiser entrar nessa, só gritar!

Esse capítulo vem de Rise e eu acho que traz uma coisinha que todo mundo queria que tivesse acontecido, pq sério! Espero que gostem!!

Boa leitura!



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Kate POV

Tentei ignorar a dor enquanto abria os olhos. Ela era demasiada e constante, e eu havia aprendido nos últimos dias que não adiantava muita coisa lutar contra, uma vez que, apesar dos remédios fortes – que eu ainda recusava até o último minuto possível – ela não deixaria de estar ali.

Eu sabia o que encontraria quando finalmente olhasse ao redor. Era a mesma cena que se repetia todos os dias. Outra constante.

Meus olhos se ajustaram a luz do quarto por um segundo, antes de pousar na figura familiar sentada na cadeira, sua atenção completamente no livro em seu colo.

— Você não deveria estar lendo isso. – Eu disse, minha voz ainda não tendo recuperado sua força habitual, me fazendo soar patética.

Ela levantou a cabeça imediatamente, nossos olhares se encontrando e pude constatar o quanto ela parecia cansada, como se tivesse envelhecido dez anos na última semana, como se tivesse visto coisas demais, passado por problemas demais. Como se tivesse visto o mundo acabar e sobrevivido para contar.

O que ela tinha, assim como eu.

Minha mãe se levantou devagar, colocando um pedaço de papel marcando a página que havia parado antes de depositar o livro na cadeira.

Aquilo sempre me intrigara e divertira sobre ela. Era seguro dizer que Johanna Beckett tinha um relacionamento ainda mais forte que o meu com os livros, lendo vários ao mesmo tempo, em qualquer lugar que estivesse. Era comum andar pela casa e tropeçar em livros deixados pelos cantos, ou em escadas. Ela tinha o hábito irritante de marcar as páginas com qualquer coisa que estivesse ao alcance das mãos: um pedaço de papel, um brinco ou mesmo outro livro. E ela carregava um livro para qualquer lugar que fosse, sempre.

— Você não pode deixar um livro ainda não publicado por aí e esperar que uma mulher tenha controle. – Ela respondeu, se aproximando e passando a mão em meu cabelo, afastando-o do meu rosto. Eu fechei meus olhos e ela se inclinou, beijando minha testa. Era bom, seguro... Uma sensação que só ela me trazia agora.

— Não estava "por aí". Estava no meu apartamento. – acusei.

— Bom, você precisava de roupas. – Deu de ombros.

Revirei os olhos. É claro que sim.

— E então?

— O quê?

— Como é o livro? – perguntei e vi seus olhos se iluminarem um pouco.

— Só... Incrível, como os outros. Não vou te contar o que aconteceu, e afinal, como você pode não ter lido? – ela perguntou, como se fosse a maior ofensa do mundo.

Olhei para meu corpo deitado na cama, praticamente incapaz.

— Eu estive ocupada. – disse e sua expressão se escureceu. Droga.

— Não precisa me lembrar disso.

— Eu sei, me desculpe. – Pedi e ela apertou minha mão. – Eu comecei, mas não pude terminar ainda. Eu vou, assim que puder.

— Faça isso. Ou – animou-se novamente – talvez eu possa ler para você, ia ser legal, como...

— De jeito nenhum! – protestei.

— O que? Ah, você não pode ter vergonha de algumas ceninhas quentes, pode? – Ela parecia incrédula.

— Quando elas foram meio inspiradas em mim? Eu acho que sim!

Meio inspiradas? – Ela balançou a cabeça, nenhum esforço para esconder o sorriso. – Oh, querida... Elas não foram meio inspiradas, acredite.

— Mãe! – Pude sentir meu rosto esquentar. – Você parece a Lanie.

— Nós somos mais inteligentes que vocês, crianças.

— Só mais intrometidas – murmurei.

Ela ia responder, mas foi interrompida quando a porta se abriu e a enfermeira entrou.

No segundo que a porta se abriu, o som, por menor que fosse, me fez pular, minha respiração presa na garganta, meu coração batendo dolorosamente forte. Pude sentir meus olhos arregalarem-se enquanto se grudavam na porta, antes de enfim notar a presença da familiar enfermeira e tudo voltar a seu devido lugar, minha respiração se regularizando.

Fechei os olhos por um segundo, abrindo-os e encontrando o olhar sempre preocupado da minha mãe. Droga, como se ela precisasse de outro motivo para arrancar os cabelos.

— Tudo bem – disse o mais baixo possível para ela. Eu disse, mas sabia que estava mentindo. Sabia que aquilo tendia a ficar pior, muito pior. 

Seus olhos não desviaram de mim, então eu foquei minha atenção na enfermeira, respondendo suas perguntas e deixando que ela fizesse o que tinha que fazer. Era quase como se meu corpo não me pertencesse mais, e eu odiava. Odiava a sensação, odiava o hospital, odiava aquele maldito atirador e odiava o olhar no rosto da minha mãe.

Me odiava por ser covarde. Claro, eu tinha acabado de sobreviver a uma bala no coração, contrariando todas as chances, mas a verdade era aquela, eu gostando ou não: Eu era uma grande covarde. Tinha mandado Castle embora, dizendo que ligaria e uma semana depois ainda não tinha pegado o telefone. Idiota.

A enfermeira saiu e me apressei a ser a primeira a falar, meus olhos fechados.

— Eu estou bem.

— Você...

— Eu estou bem. – Afirmei, interrompendo-a.

Ouvi um suspiro exasperado e abri meus olhos, sabendo o que aquilo significava.

— Você não está bem! – Começou – Eu vi aquilo, Katie. Foi repentino, mas foi um barulhinho. Você acabou de passar por um trauma, não é como...

— Não foi nada! – Tentei novamente. Aquilo pareceu deixá-la com raiva e, realmente, quem poderia culpá-la?

— Você e eu sabemos que isso é uma grande mentira, e você e eu sabemos que não vai ficar melhor se não lidar com isso. – Parou. – Eu não vou deixar você se esconder, sabia? Não vai fazer isso sozinha. Você é teimosa, mas eu sou mais, e eu não vou perder você assim. E isso é uma ordem.

Sua voz falhou no final e eu pude sentir as lágrimas se formando, espelhando as dela. Olhei para o outro lado e senti a cama se mover embaixo de mim quando ela se sentou do meu lado, novamente afastando meu cabelo.

E então eu não podia mais me controlar. Lágrimas escorriam livremente agora e eu sequer tentei pará-las, e então um soluço atrás do outro sacudiam meu corpo, fazendo meu peito queimar ainda mais. Eu não tinha realmente chorado por tudo aquilo, e aquele momento de repente parecia bastante propicio.

Ela continuou sentada na beirada da minha cama, segurando minha mão e murmurando palavras de conforto, tentando segurar as próprias lágrimas enquanto eu tentava me controlar.

— Eu não sei o que fazer. – Admiti baixinho depois de um tempo.

— Você não precisa fazer nada agora, nós vamos lidar com tudo em seu tempo. Que tal só descansar? Eu sei que está com dor.

— Eu não quero dormir. E nem os remédios, eles me deixam zonza.

Ela pensou por um segundo.

— Você devia falar com alguém, então. – Sugeriu e era obvio que o alguém não era ela dessa vez.

— Eu o mandei embora. – Disse. Qual o sentido de fingir não saber que ela estava falando sobre Castle?

— Eu tenho certeza que ele atenderia. – Disse docemente, a expressão de quem sabia demais.

Oh.

— Você o ouviu. – Não era uma pergunta. Estava claro, tanto por sua expressão quanto por sua voz, que ela tinha escutado as palavras de Castle no cemitério.

— Querida, eu acho que todos nós ouvimos. – Parou. – Incluindo você.

Assenti. – Eu menti para ele.

— Ele vai entender.

— Eu não tenho tanta certeza. – Sacudi a cabeça, tentando parar as lágrimas silenciosas que ainda teimavam em sair.

— Rick Castle ama você, Katie. De verdade. Isso é algo raro e você sabe que ele é o único capaz de te ajudar de verdade, de ficar do seu lado independente do que aconteça. O único que você vai ouvir, deixar chegar perto o suficiente.

— Mãe...

— Eu amo você, filha. Amo demais e amo o bastante para saber que ele alcança onde nem mesmo eu consigo, para saber que ele é o que você precisa. – Ela secou meu rosto. – Você é forte e acha que precisa fazer tudo sozinha... Mas não precisa. Então, apenas pegue o telefone. Comece por aí.

Ela segurou meu olhar por algum tempo, meus pensamentos há mil por hora, tentando decidir o que fazer. Tentando, eu sabia, encontrar um lugar para fugir, se esconder até ser seguro voltar. Eu não podia fazer aquilo. Não comigo, não com ele.

Eu amava Richard Castle, quer estivesse pronta para admitir para ele ou não. O mínimo que eu podia fazer era manter uma promessa.

— Tudo bem. – Sussurrei, sentando-me na cama e respirando fundo, esperando o pior da dor passar. Minha mãe sorriu, parecendo orgulhosa – de mim ou dela, eu não tinha certeza – e pulou da cama, agarrando meu celular e o entregando para mim. – Obrigada.

Ela me olhou com expectativa enquanto eu digitava o número conhecido, e então eu parei, levantando as sobrancelhas para ela em questionamento.

— Certo! – Levantou as mãos. – Eu vou... tomar um café.

Disse e deu a meia volta.

— Mãe! – Chamei quando ela chegou a porta, fazendo-a virar para mim. – Obrigada... Eu amo você.

Ela sorriu aquele sorriso amoroso que era exclusivamente meu. – Eu amo você também, bobinha. – Respondeu, soprou um beijo em minha direção e saiu pela porta, o sorriso imperturbável.

Quando ela desapareceu, me endireitei na cama, arrumando os cabelos e secando o rosto completamente. Era ridículo – ele não podia me ver, pelo amor de Deus! -, mas parecia necessário.

Enfim apertei o botão, respirando fundo. O telefone não tocou duas vezes, Castle atendendo no meio dele, como se estivesse ao lado apenas aguardando o telefonema. O que talvez estivesse mesmo, o que me tornava uma pessoa ainda pior.

— Kate. – Ele disse meu nome no segundo em que atendeu. Sua voz tinha um alívio tão grande que fez meu coração se apertar, as lágrimas retornando.

Eu realmente não merecia Castle e não tinha certeza se algum dia mereceria.

— Oi. – Respondi, sem ter certeza do que dizer. Eu esperava que ele não notasse a fraqueza que as lagrimas estavam causando em minha voz.

— Você ligou. – Ele parecia aliviado.

Eu meio ri, meio solucei. – Eu disse que ligaria. – Deixei de fora a parte onde eu quase não liguei.

— Você disse. – Era possível ouvir o sorriso em sua voz, o que imediatamente fez o meu próprio surgir. – Deus, é tão bom ouvir sua voz! Você sabe...

— É. – engoli seco – Eu senti sua falta.

E era verdade. Já estava obvio para mim antes, mas ao ouvir sua voz, parecia ainda mais como se eu estivesse afogando e agora ele me tirasse de baixo d'agua, fornecendo ar fresco.

— Eu sei! Dias sem minha brilhante presença... Isso é difícil!

Eu ri, feliz por ele ter me deixado escapar tão facilmente.

— Me lembre novamente porque eu senti sua falta? – Provoquei.

— Claro! – Quase pude vê-lo se jogando no sofá em seu escritório, suas pernas para o alto enquanto ele se preparava para responder a minha pergunta retorica. – Excluindo minha obvia maravilhosa aparência, meu bom humor, minhas histórias, meu prazer em alimentar seu vício em cafeína...

— Ah, isso mesmo! – interrompi – Café. Eu sinto falta de café. Obrigada.

Ele riu e ficamos em silencio por um segundo, ambos aguardando o assunto inevitável surgir.

— Então... como você está? – Ele finamente perguntou.

— Eu estou bem... Quer dizer, melhorando.

— Você é uma mentirosa terrível. – Ele apontou. – Mas tudo bem, posso te dar um passe livre dessa vez.

— Obrigada. –  sorri e revirei os olhos. – E, hm... Como vai você?

Eu estava mesmo preocupada, agora que havia parado para pensar. Quer dizer, ele também havia passado por um trauma. Eu não me lembrava, mas haviam me contado sobre algumas das coisas que aconteceram no cemitério e na ambulância depois que apaguei, e, ainda mais, minha mente era perfeitamente capaz de preencher as lacunas. Eu só podia imaginar o que não me contavam e torcer para não aparecer em algum pesadelo.

Castle havia passado por um trauma, assim como eu, e eu ainda assim havia mentido para ele.

— Eu estou bem, embora morrendo de tédio sem minha musa por perto. – Ele disse e eu sabia que ele estava mentindo. Não precisava ser um gênio para imaginar que ele estava trabalhando com o resto do time no meu caso.

— Não me chame de musa. – Decidi que se ele iria me dar um passe livre, eu poderia fazer o mesmo por ele. Haveria bastante tempo para aquele caso depois e eu não podia pesar naquilo agora.

— Bom, você é.

Eu ri, esperando que ele não tenha ouvido. Ficamos em silencio por um tempo, e eu respirei fundo antes de perguntar.

— Você... Você quer vir até aqui? – Perguntei hesitante. No fundo eu esperava que ele dissesse que não, que demorei demais para ligar e que ele tinha planos. Não foi o caso, claro.

— Sim! – Respondeu rápido demais. – Sim, eu adoraria...

— Tudo bem.

— Você precisa de algo? Eu posso...

— Café! Eu estou implorando por café já fazem dois dias, mas todos estão me ignorando.

— Talvez porque seu médico não tenha liberado. – Ele lembrou. – Talvez sem cafeína...

— Deus, não! É ainda pior que nenhum café... Você pode me trazer um milk-shake.

Mesmo que eu não seja capaz de tomar sequer metade.

— Feito. – Ele pensou – Sua mãe está aí?

Acenei com a cabeça, mesmo que fosse idiota e ele não pudesse me ver. – Ela está, mas não merece milk-shake, não se incomode.

Castle riu, e minha expressão emburrada se desfez em um sorriso inevitável.

— O que?

— Ela roubou seu livro. – Disse ao mesmo tempo em que o objeto de minha fala entrava no quarto. Quanta privacidade... Minha mãe me encarou com a expressão chocada que claramente gritava traidora, e eu dei de ombros.

— Certo, eu preciso de detalhes se vamos condená-la a proibição de sorvete. – Ouvi um barulho do outro lado e imaginei-o saindo do loft. – Eu estarei aí em alguns minutos, não faça nada que eu faria.

Eu ri. – Certo. Te vejo daqui a pouco.

Desliguei, o sorriso idiota no canto dos meus lábios, levantando a cabeça e encontrando a expressão sabe-tudo da minha mãe. Ela sorria também, um sorriso feliz que eu não via há dias.

Ela desencostou da porta, caminhando até a poltrona e pegando novamente o livro, voltando a ler de onde tinha parado.

— Vocês são idiotas apaixonados. –  comentou sem levantar os olhos do livro.

Eu não respondi, apenas escondi o rosto no travesseiro, e então encarando a porta, esperando que ele entrasse a qualquer momento. Talvez nós fossemos idiotas. Eu não me importava. Não agora.


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Notas finais do capítulo

Aaai ai, caskett...

Me contem o que acharam?
Beijo!



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