Dedução escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
dedução


Notas iniciais do capítulo

Vika pediu young!Johnlock com posh/publicschool!Sherlock e poor/workingclass!John and here it is.



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John Watson dizia a si mesmo que nenhum ser humano digno deveria estar acordado as três da manhã, dentro de um McDonalds, no meio de Londres. Aquilo não era digno: todos mereciam uma boa noite de sono e, caso não tivessem tido isso, mereciam pelo menos algo melhor que um cheeseburger murcho, batatas fritas frias e uma Coca-Cola aguada enquanto estivessem despertos. Mas aquele não era o seu caso, pois John Watson estava tentando aproveitar o seu lanche sem graça enquanto esperava do lado de fora do restaurante, vendo se algum taxi passava por ali.

A noite havia sido uma bagunça de música alta e danças, mas agora, depois de forçar Stamford a comer alguma coisa e colocá-lo em um taxi de volta para casa, John podia aproveitar o silêncio que só existe em um McDonalds as três horas da manhã. Nem mesmo música de fundo tocava na lanchonete e o único barulho eram os poucos carros que passavam e as conversas baixinhas dos funcionários. Era um silêncio urbano agradável aos ouvidos de alguém que passara a noite com os tímpanos quase sendo estourados por música alta.

Mas tal silêncio logo foi quebrado quando a porta do lugar foi aberta com força, dando espaço para um rapaz entrar. John sentiu vontade de escorregar para debaixo da mesa e terminar seu lanche ali, para não precisar correr o risco de chamar a atenção do recém-chegado. A julgar pelas roupas de aparência cara, o porte elegante e o jeito como ele olhava em volta, aquele garoto estava longe de ser alguém que frequentava um lugar como um McDonalds de terceira categoria no meio da madrugada. Ele devia, muito provavelmente, ter se perdido no caminho de casa depois de alguma reunião com o seu clubinho de escola particular ou algo parecido.

Abaixando a cabeça para prestar atenção nos desenhos e informações contidos na lâmina de papel que cobria a bandeja, Watson tentou ignorar o barulho causado pelos sapatos bem polidos do rapaz e pela voz dele enquanto ele pedia a comida. O inglês dele era impecável e o sotaque, pomposo e típico de um aluno de escolas particulares.

“Só porque terminou com o seu namorado, não significa que é decente flertar com todo cliente que entra pela porta.” John quase engasgou ao ouvir o rapaz falando e ergueu a cabeça para ver a atendente do caixa arregalar os olhos e ficar com o rosto tão vermelho quanto os seus cabelos vermelhos.

“Eu não-“ a garota começou a falar, dividida entre tentar se explicar e terminar de anotar o pedido.

“Seu dedo anelar direito tem a mancha deixada por uma aliança tirada a pouco tempo,” disse o garoto, olhando para as fotos dos lanches acima do caixa e apontando para a mão da moça que estava apoiada sobre o balcão. “Namoro que acabou faz pouco tempo. Você também está bem maquiada para alguém que veio trabalhar de madrugada em um McDonalds e, pelo jeito que está olhando o outro cliente ali atrás, tentou flertar com ele também, o que claramente falhou, caso contrário vocês estariam, pelo menos, trocando algumas palavras nessa altura.” O desconhecido respirou fundo, puxando o celular do bolso para olhar alguma coisa na tela. “Vou querer um Big Mac com batatas fritas e refrigerante.”

“Qu-Qual refri?” a garota perguntou, abaixando o rosto e quase se escondendo embaixo do boné do uniforme.

“Coca-Cola, por favor.”

John franziu o cenho enquanto observava o outro esperar pela comida e, depois, ir até uma das mesas para comer. O cheeseburger ficou ainda mais sem gosto e as batatas, ainda mais murchas. Parte de si queria se levantar e arrastar aquele rapaz pelo suéter de lã fofa e cara até o balcão para fazê-lo pedir desculpas enquanto outra só queria pegar o seu refrigerante aguado e derrubar na cabeça dele para ver aqueles cachos escuros ficarem empapados na cabeça dele e grudentos com açúcar. Mas ele não faria nada disso ali, não na frente da menina que parecia estar querendo se esconder debaixo do balcão e de seus colegas que já pareciam estar com medo da famosa frase, ‘Quero falar com o gerente’, caso alguma coisa acontecesse.

Dessa forma, John Watson esperou. Terminou o seu hamburger e batatas, observando o rapaz de escola particular. De onde estava, o garoto conseguia ver que o outro tinha olhos claros e um rosto fino, com maçãs-do-rosto proeminentes e lábios finos. Os dedos longos e magros alternavam entre segurar a comida e digitar algo no celular, volte meia se demorando mais em uma batatinha frita que segurava entre os dentes quando ele parecia se perder em algo que lia na tela do aparelho.  Quando o garoto terminou e se levantou, sumindo atrás da porta do banheiro, Watson também deixou de lado a sua bandeja, largou uma gorjeta generosa para os garotos que estavam fazendo aquele turno infeliz e seguiu o outro cliente.

Banheiros de McDonalds deviam operar sob a premissa de que um ser humano precisa apenas de um metro quadrado para fazer suas necessidades, pois era incrivelmente apertado, com o chão meio úmido depois de algum engraçadinho decidir que não sabia usar a pia direito. E lá estava o rapaz desconhecido, terminando de fechar a própria calça e agora encarando John com um par de olhos azuis que pareciam procurar por todos os mínimos detalhes nele.

“Vá pedir desculpas.”

“Como é?” o garoto falou, arqueando uma sobrancelha enquanto abaixava um pouco o rosto para olhar Watson.

“Vá pedir desculpas para a moça do caixa,” John repetiu, estreitando os olhos enquanto observava o outro lavar as mãos como se nada estivesse acontecendo. “Só porque seus sapatos custam mais que o resto das nossas roupas, não significa que pode sair por ai humilhand-“

“Eu só falei a verdade.” O garoto encolheu os ombros, parando na frente de Watson enquanto este bloqueava o seu acesso a porta. “Ela estava tentando flertar comigo, ela tentou flertar com você e isso tudo porque terminou com o namorado faz pouco tempo e está carente. Não é profissional e não iria funcionar comigo, mas é um tanto impressionante não ter funcionado com você-“

“O que quer dizer com isso?” perguntou Watson, vendo o outro respirar fundo como se não acreditasse que estava ouvindo aquela pergunta.

“Você obviamente passou a noite em alguma noitada e não conseguiu beijar nem uma pessoa sequer,” o rapaz falou. “É surpreendente que você não tenha aceitado um flerte depois de sair tão frustrado de uma festa.”

“Olha aqui, eu não sei quem você pensa que é, seu pompos-“

“Sherlock.”

“Como é?”

“O pomposo se chama Sherlock.” Mais um dar de ombros, antes do rapaz dar um passo para trás e se apoiar na pia. Ele era todo pernas e braços longos e John não queria admitir que, de todas as pessoas que vira desde que saíra de casa para acompanhar Stamford naquela noite, ele talvez fosse a mais bonita.

“Certo, Sherlock, eu não sei quem você pensa que é ou o que diabos está fazendo, mas não pode sair tentando adivinhar o que as pessoas estão pensando-“

“Não estou adivinhando, estou deduzindo com excelência,” o garoto falou, puxando um maço de cigarros do bolso, pegando um e colocando-o entre os lábios para acendê-lo com um isqueiro. “Aceita?” Watson negou com a cabeça, pressionando os lábios um contra o outro, antes de passar uma mão pelos cabelos. “E eu estava ajudando a polícia.”

“Hein?”

“Você falou que não sabe o que diabos eu estou fazendo: estava ajudando a polícia.” Ele tragou e depois soltou a fumaça lentamente. “Houve um assassinato ontem pela manhã na outra quadra e fui ver o que podia descobrir da cena.”

“Claro, garoto maravilha, a polícia está contratando detetives de quatorze anos agora,” ele resmungou, apoiando as mãos na cintura e enganchando os dedos nas hastes do cinto para ter alguma sustentação.

“Dezessete. E claro que não, mas vão ser muito idiota se ignorarem uma carta com teorias bem plausíveis sobre o assassinato,” ele falou, abrindo aspas com os dedos ao falar ‘teoria’. “E por teorias quero dizer que é o que realmente aconteceu.”

John observou o rapaz por um momento, torcendo o nariz ao cheiro da fumaça e tentando não prestar atenção na forma como os lábios pálidos dele se fechavam ao redor do cigarro (com uma pontada de arrependimento, John notou que o lábio superior dele realmente era fino e bem desenhado, mas o inferior era mais cheio do que parecia à distância).  Os olhos do garoto estavam presos nos seus e Watson agora queria apenas atirar fora aquele cigarro irritante, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, Sherlock (que tipo de nome era aquele?) apenas riu, sacudindo a cabeça, antes de tragar outra vez.

“Posso perguntar o que é tão engraçado?”

“Eu venho comer e tento ser seduzido duas vezes, por duas pessoas diferentes,” o garoto falou, inclinando a cabeça para o lado.

“Eu não estou tentando seduzir você!” disse John, franzindo as sobrancelhas, finalmente se forçando a andar e dando dois passos até chegar ao rapaz. Erguendo a mão rapidamente, conseguiu roubar o cigarro da boca do outro e apagá-lo em um resquício de água dentro da pia atrás do rapaz, antes de jogá-lo no lixo. “Você vai ativar o alarme de incêndio, seu idiota.”

“Você estava segurando o olhar por muito mais tempo do que o necessário, ficou passando a mão pelo cabelo, apoiando as mãos na cintura... Homens tem tendência a fazer isso para deixar mais evidente a região genital, sabia?” O garoto riu e Watson apenas sentiu o rosto esquentar. “Em pouco tempo, já entrou na minha zona de conforto e tirou um objeto da minha boca. Mas é claro que você não está tentando me seduzir.”

“Eu não sou gay.”

“Achar um rapaz atraente não é necessariamente algo que exclui a atração por garotas, sabia?” Sherlock suspirou, um sorriso presunçoso ainda em seu rosto enquanto ele puxava outro cigarro do bolso da calça.

“Você quer parar com isso?!” Watson segurou o pulso do garoto antes que ele pudesse levar o cigarro até a boca.

John não sabia explicar se o beijo resultou da frustração de horas em uma festa sem conseguir chegar perto de nenhuma garota, dos últimos meses mais ocupado com seus A Levels do que com garotas ou simplesmente do fato daquele rapaz ser bonito e insistente. O que realmente importava era que, em um espaço de segundos, conseguiu arrancar o cigarro da mão de Sherlock e aproximar-se ainda mais, pressionando os lábios contra os do outro. O garoto, apesar de todas as deduções prévias, pareceu surpreso por um momento, antes de puxar Watson contra si, abrindo a boca para corresponder ao beijo.

Os lábios do rapaz tinham gosto de tabaco e fumaça, com um gosto mais discreto de algo doce (a Coca-Cola aguada, John classificou). Os dedos longos dele se ocupavam em agarrar o moletom de Watson ou a nuca dele e os sapatos polidos escorregavam um pouco no piso úmido enquanto o outro garoto o empurrava contra a pia, pressionando o corpo todo contra o dele. Um gemido baixinho escapou da boca de Sherlock quando uma das mãos de John se esgueiraram por debaixo do suéter, que realmente era muito macio, e não demorou para que a mesma reação fosse arrancada do loiro quando os dedos do mais alto se esgueiraram por debaixo do moletom e da camiseta, as unhas curtas arranhando um pouco a pele ali.

Watson sentiu os lábios do rapaz escorregarem para longe dos seus, indo para em sua mandíbula e, depois, em seu pescoço, beijando e sugando a pele. O garoto deixou a mão livre subir para os cachos escuros de Sherlock, agarrando-os enquanto mordia o lábio inferior para evitar de fazer algum barulho ao sentir a sucção mais forte no ponto entre seu pescoço e ombro. Quando o mais alto voltou para os seus lábios, segurou o rosto de John entre as mãos e beijou-o firme por alguns segundos, antes de se afastar e se esgueirar para longe, não ficando mais entre John e a pia.

“Viu? Se fosse adivinhação, não teria acertado,” disse Sherlock com um sorriso convencido nos lábios agora avermelhados. “Espero que sua noite não tenha sido completamente desperdiçada.”

E, falando isso, o rapaz puxou outro cigarro do bolso, abriu a porta e saiu. John, ainda sem fôlego, escorou-se à pia e permaneceu ali por alguns minutos, até conseguir se equilibrar sobre as pernas e sair do banheiro sem entregar o que havia acabado de acontecer. Sherlock não estava mais na lanchonete e a moça do caixa o olhava com os olhos arregalados.


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Notas finais do capítulo

John com 18 anos, Sherlock com 17.