Nova Geração de Heróis escrita por lauragw


Capítulo 63
Sete meio-sangues atendem o chamado




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A sensação de desespero corria meus ossos. Destruía qualquer tipo de pensamento, na verdade impossibilitava qualquer pensamento. Onde eu estava? Acuada na frente do prédio do Olimpo. Cuidando de um garoto que deveria ter onze anos e o corte mais horrível no braço que eu já tinha visto.

A luta já acontecia há um bom tempo e eu não poderia ajudar. Como campista de Apolo estava responsável pelos primeiros socorros do acampamento. Eu ouvia urros e tilintar de espadas. Gritos e batidas constantes. E cada vez que um campista era carregado eu sentia um aperto. Poderia ser qualquer um dos meus amigos já que todos estavam lá lutando. Menos eu. Sentia-me uma covarde e a vontade de brandir uma espada e correr até eles corria todo o meu corpo.

- Aii! – o garoto no qual eu deveria estar prestando atenção gritou, tirando-me de devaneios.

- Desculpa. – disse afrouxando a atadura que tinha apertado demasiadamente.

Retomei o que estava fazendo e em poucos segundos terminei.

- Vou ficar com a cicatriz? – ele falava com raiva apontando o braço.

- Querido – disse calma -, se eu fosse você agradeceria por ficar com o braço.

Levantei-me e caminhei até a entrada do Empire States. Assim como os arredores o prédio estava deserto e sem qualquer movimentação. Abracei meus braços, mesmo sem ter frio, apenas para me sentir segura. Vaguei até sentar no balcão da portaria. Ali tudo estava silencioso. Ninguém havia se ferido gravemente então não havia necessidade de usar aquela parte. Eu estava começando a levar minha mente para longe quando um campista entrou gritando o meu nome.

- Lola! Lola!

- Sim, Harold? – respondi ainda sentada no balcão.

Harold era um campista simples, filho de Medeia e incrivelmente simpático. Tinha os cabelos ruivos aloirados, curtos e levemente bagunçados. Alto e forte, um sorriso cativante e sobrancelhas expressivas. Nariz meio torto.

- Desculpa atrapalhar.

A mãe de Harold é como uma deusa bruxa, e ele é o único filho dela no acampamento. No entanto é incrivelmente intuitivo.

- Não esta atrapalhando, eu estou sozinha. Então apura, você parecia nervoso. – falei sorrindo e descendo da bancada.

- Ah sim. A Bones, ela foi ferida. – ele falou me puxando pela mão.

Os músculos do seu braço se contrariaram me dando uma visão privilegiada enquanto ele me arrastava até uma maca mais afastada entre dois prédios.

A Luiza estava deitada. A barriga sangrava avidamente, mas ela ainda mantinha a consciência.

- Harold, a mantenha falando. – falei enquanto puxava sua camiseta pra cima.

Luiza soltou um gemido de leve quando passei a blusa pelo corte.

- Hey, vou precisar de outro favor. – olhei para Harold. – Meus materiais estão no chão na frente do Empire States.

Ele assentiu e sai correndo.

- Como conseguiu esse feito Bones? – falei sorrindo para ela.

- Eu estava lá, batalhando enquanto você está aqui. – ela falou sorrindo em resposta.

Ouvi um gemido baixo quando ela respirou.

- Não faça nada brusco. Se falar for dolorido nem isso. – olhei para ela que assentiu. – Só dê um jeito de se comunicar comigo.

- Sem problemas. – ela falou breve.

- Está muito ruim lá? – perguntei quando ela começou a fechar os olhos.

- Não... – ela disse quase fechando os mesmos.

Estalei os dedos perto do seu rosto a fim de não deixá-la dormir.

- Voltei. – Harold disse me entregando minha mochila.

- Fique falando com ela. – disse para ele que começou a falar com ela sobre qualquer coisa.

Eu me desliguei dos dois e me concentrei nos ferimentos. Limpei rapidamente a extensão que era coberta com sangue podendo assim olhar o corte. Duas batidas em cada lado e pelo visto nenhum órgão perfurado. Derramei um óleo de um frasco já conhecido por mim e murmurei algumas coisas em grego.

- Harold você vai precisar ficar aqui. Mantenha ela falando não importa o que aconteça. Está cicatrizando de dentro pra fora. E você Lu, vamos ter uma cicatriz pra contar histórias.

Os dois sorriram e assentiram enquanto eu pegava minhas coisas e voltava para o meu posto. Antes que chegasse ao local em que pretendia chegar vi um garoto. Deveria ter uns dezesseis, dezessete anos e carregava um corpo miúdo e conhecido por mim. Meus olhos encheram d’água. Minhas pernas me jogaram para perto deles e quando vi já estava olhando para o garoto que estava nos braços do outro.

- O que houve? – perguntei afagando os cachos de Felix.

- Se meteu na briga errada. – o garoto falou sentido.

- Pode deixar – disse pegando Félix. – Volte para onde você é necessário.

O garoto assentiu, sacou a espada e voltou correndo. O barulho de espadas ainda era auditivel. Carreguei o garoto para dentro do Empire States. Coloquei seu corpo sobre um sofá do hall do prédio. Havia sangue por toda parte. Ele não acordava de forma alguma e eu já estava desesperada.

Peguei um pote de ambrosia e a ultima coisa que me restou foi colocar um pouco dentro da sua boca e esperar que desse certo. Fiquei ali esperando, nada. A falta de reação me desesperava Félix era como um filho. Eu sei, ridículo mas era verdade. Muito novo para a vida de campista.

Já estava preste a chorar quando ouvi que ele estava se engasgando. Levantei rapidamente a cabeça dele e ele cuspiu no chão a ambrosia que tinha colocado na boca dele.

- Félix. – o chamei.

- Lola. – ele sorriu. – Eu sinto muito. Não cumpri a minha promessa.

- Não importa garoto. Eu vou cuidar de você agora. – eu falei olhando para ele e passando a mão na sua testa.

- Não vai adiantar, já deu pra mim. – ele falou sério.

- Félix! – ralhei com ele.

- Sério, Lola. Eu já vi os portões se abrindo e as almas clamando meu nome. Eu estarei por perto, um dia vá me visitar. Sinto honrado por morrer lutando. Obrigada por tudo.

Então sem me deixar despedir ele se foi. Seus olhos se fecharam e seu rosto ficou sem vida. Senti meu peito apertando e as lágrimas começando a jorrar pelo meu rosto. Tudo embaçou e me senti tonta. Eu temia por ele assim como temia por todos os outros, talvez mais porque sabia que ele não conseguiria se defender. Mas ele foi, Quíron deixou, Sr. D deixou, nada podia ser feito agora.

Queimar uma mortalha em nome do chalé inteiro seria pouco. Um velório descente seria triste. Não havia nada que pudesse lembrar Félix mais. Apenas podia esperar e torcer para que sua alma passasse pelo lado bom daquele mundo, e que o senhor do Mundo Inferior olhasse por ele. Ou talvez Perséfone. Abracei o corpo e cobri com um cobertor que eu tinha ali. Eu não queria pensar na sua morte. Não agora. Eu estava com ódio demais para pensar em um corpo.

Sai do prédio cega de ódio. Puxei a espada do meu bolso e corri em direção a rua onde as batalhas aconteciam. Havia muito sangue. Gente lutando para todos os lados e o desespero era visível em alguns rostos. Campistas cansados, suados, com sangue espalhado na roupa. Cortes abertos.

Liam lutava com um outro campista. Ele estava com um corte grande no braço, mas não parecia muito profundo. Os cachos estavam grudados no rosto por causa do suor e a camiseta também. Movia-se com a maior destreza possível, mas estava em uma luta bem equilibrada.

Clara e Flávia lutavam com o Minotauro. Clara tinha os cabelos loiros jogados no ombro e repleto de nós. A camiseta estava suja com sangue que não parecia dela e a calça tinha um rasgo no joelho que sangrara um pouco e tinha restos de terra no ferimento. Flávia estava com os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo, a testa vincada e um corte pequeno na bochecha. A roupa estava imunda com todo tipo de coisa, não pude identificar. As duas pareciam estar levando a melhor, mas não pude observar com clareza.

Na verdade nem consegui procurar os outros campistas e conhecidos. Fui atacada e tirada dos devaneios em choque. Uma campista loira segurava a espada com força. O nariz de porquinho e olhos finos estudavam a minha roupa. E antes que eu pensasse vi que sua lamina vinha em direção ao meu nariz. Desviei e fiz minha espada se chocar com a dela.

Aos poucos o barulho do tilintar das duas foi se tornando a única coisa que eu ouvia. Concentrava-me nos movimentos dela. Eu não era boa lutadora, assim como ela. Eu trabalhava muito bem com arco e flecha, mas terrivelmente com uma espada. Era ágil por causa das flechas e tira mira, o resto era realmente sorte. Então nós duas fazíamos uma luta equiparada, sem grandes momentos para nenhuma.

- CHEGA! – um grito irrompeu as lutas. – Eu não creio que estamos fazendo isso.

Uma mulher vinda do outro lado, vestindo um vestido roxo e com os cabelos escuros soltos e desgrenhados.

- Porque estamos nos atrevendo em uma luta simples. – era Circe – Deixe que os dois garotos da profecia lutem, deixem. Vamos, vamos.

Suas mãos batiam insistentemente nas costas de Lizzie e iam empurrando a garota pra frente. Os olhos de Lizzie eram uma tempestade. Os cabelos loiros estavam presos em uma trança assim como Circe. Vestia uma blusa e calças azuis, parecia seda a forma com que o tecido brilhava.

- Ande garoto. – um homem alto bateu ao lado de Oliver que caminhou para frente.

Enquanto dois lados retomavam as suas posições deixando um grande espaço no meio. Oliver foi caminhando em direção a Lizzie. Vestia uma camiseta vermelha de malha simples e uma bermuda qualquer preta. Os cabelos castanhos claros, levemente arruivados, estavam grudados na testa por causa do suor.

- A luta é deles deixem que eles decidam o futuro. – ela falou. – Os dois garotos da profecia.

- Circe, não quero perder a diversão. – Fobos se irritou.

Caminhou até o centro junto com Lizzie e parou do lado dela. Logo Deimos segurando uma espada correu até o lado do irmão.

- Não vamos. Quem serão os covardes que lutaram conosco? – Deimos disse sério encarando ao nosso lado onde ninguém se movia.

- Infeliz, matou o pobre garoto. – o mesmo que tinha carregado Félix murmurou perto de mim seus olhos cegos de ódio.

Então fora Deimos que matará, Félix? Ótimo, resolveremos isso nós dois.

- Você é meu Deimos. – disse girando a espada nos dedos. – Há tempos que precisamos resolver algumas coisas.

Vi que todos os olhares me acompanharam, exceto um. Um par de olhos tinha como acompanhante um sorriso presunçoso.

- Hey, Fobos, eu e você. Sem truques. – Clara caminhou até o meio comigo.

Assim estávamos nós. Clara, Oliver e eu. Antes que qualquer pessoa se pronunciasse outros quatro campistas do outro lado caminharam até o meio.

- Também vamos. – disseram em uníssono.

Isso fez com que Flávia, Dan, Liam e James assumissem as posições na frente deles.

- Tolos, lutam por que querem, façam o que querem, morram pelo que quiserem. – ela falou dando de ombros e virando as costas para onde estávamos.

Então era assim. Flávia, Dan, Clara, Oliver, eu, Liam e James. Sete campistas dispostos a responder por um chamado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por tudo. O próximo cap é o ultimo. CALMA. Tem um epílogo e mais um outro cap que é supresa e só eu e só eu saberei o que vai conter até o dia da postagem. Ou seja falta um capítulo, o Epílogo e a surpresa. Beijão.



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