Laconic escrita por Stormborn


Capítulo 1
Tired


Notas iniciais do capítulo

O terceiro movimento da piano sonata n.º31 de Beethoven expressa traição, angústia, tristeza e o tema progride até o esgotamento mental, onde você não aguenta mais nem pensar. Recomendo que escutem até os 3m20s.



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Kuchiki Rukia estava passando por um dos corredores da Karakura School of Music quando em uma das salas de prática, alguém começou a tocar Beethoven de uma forma que ela nunca tinha ouvido nem mesmo durante seus quatro anos de graduação.

Ela parou abruptamente, como se o som tivesse se materializado e agora a aprisionasse; hipnotizasse. As primeiras notas – tão tristes, pesadas, angustiantes – a haviam transportado para o fundo de um oceano.

Ela não conseguia nadar e nem resistir ao próprio peso da água.

O ar ficava cada vez mais rarefeito.

Rukia se aproximou de onde vinha a melodia e ficou na ponta dos pés para poder ver quem tocava pelo vidro da porta. Ela não reconheceu a pessoa de cabelo alaranjado. Não sabia se era um aluno ou professor.

Ela ficou debatendo internamente por alguns segundos se deveria ou não entrar, bater ou não na porta, mas por fim, resolveu não correr o risco de atrapalhar o pianista e acabar com a sua execução.

A posição de fofoqueira a teria incomodado em qualquer outra circunstância, fazendo com que Rukia se sentisse observada e julgada por qualquer pessoa que passasse ao seu lado – que provavelmente pensaria que ela estava fazendo alguma coisa de errado.

Mas naquele momento, só havia aquele garoto e seu piano em sua mente. Ele, seu piano e a porta que os separavam.

A música progredia de modo a explicitar sentimentos e assim contar uma história. Ela se sentia parte da vida dele; intimamente, interligada, como se pudesse ver sua alma e seus desejos mais profundos.

Até que...

Parou.

Rukia segurou a respiração e se endireitou, se distanciando da porta pelo medo de que ele tivesse parado por ter se sentido observado ou até mesmo sentido a presença dela do lado de fora.

Ela cogitou ir embora, mas no fim, ela queria ouvir mais.

Ela queria que ele continuasse.

Alguns segundos depois, ele começou a tocar tudo de novo, desde o início. Rukia ficou sem entender. Será que ele esqueceu o resto? Será que ele não sabe? Será...

Ela não podia mais aguentar só ficar do lado de fora.

Suspirando, ela abriu a porta o mais delicadamente possível, se surpreendendo positivamente ao ver que ele não percebera sua entrada. Estando no mesmo recinto que ele, Rukia sentia o som de seu piano de forma ainda mais clara, firme, forte; decisiva.

Ele não estava tocando por tocar.

Todas as suas notas eram intencionais, propositais.

Rukia queria chorar.

Quando ele parou pela segunda vez, ela não conseguiu mais se manter quieta.

— Sonata para Piano n.º 31.

Os ombros do pianista se enrijeceram. Ele se virou pouco tempo depois, tirando as mãos do teclado e a fitando de forma curiosa. Em seus olhos, Rukia conseguia ver tudo o que ele estivera passando para o piano momentos antes.

— Quem é você? — Ele perguntou.

— Eu... Beethoven.

O rapaz de cabelo laranja arqueou uma sobrancelha fina e de mesma cor.

— Você é Beethoven?

— Não, eu quis dizer... Seu Beethoven. Por que não tocou a fuga?

Os lábios dele tremeram quase que imperceptivelmente. Seus olhos caíram e toda a luta e rigidez evaporou de seu corpo. Ele parecia tão exausto mentalmente quanto o terceiro movimento demonstrava.

Com um suspirou, ele voltou a dar as costas para ela, mas não fez menção de continuar a tocar o piano.

Rukia se aproximou até ficar quase ao seu lado.

— Por que?

— Porque... eu não consigo.

Ela mordeu o lábio inferior. Rukia tinha tato o suficiente para não pressionar uma pessoa que ela acabara de conhecer a possivelmente revelar algo de sua vida que era no mínimo pessoal.

Mas ela simplesmente não conseguiria deixar isso de lado.

— Você não me disse quem é você. E o que faz aqui.

— Kuchiki Rukia. — Ela disse, convicta. Sentindo uma coragem que normalmente lhe seria estranha, Rukia empurrou o garoto do assento – ao que ela teve de ouvir algumas exclamações nem um pouco gentis – e tomou o lugar para si antes de voltar a responder. — E eu vim tocar a sua fuga.

O pianista cujo nome ela não sabia apenas a encarou como se ela fosse de outro planeta. Mas pelo menos, Rukia pensou, ele não está mais com aquele olhar...

Ela se pôs então a continuar o terceiro movimento da sonata com toda a convicção de alguém que sabe o que faz no instrumento, não percebendo que o garoto a observava como se ela apresentasse não só a fuga da música, mas também a fuga da sua vida.


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