Antes mesmo do céu se abrir por completo e o sol banhar as árvores, rios e casas com seus raios amarelados, Maggie já estava de pé. Aliás, não poderia dizer que estava de pé, visto que mal dormira na última noite. Os problemas de Hilltop zuniam em sua cabeça. Passou a noite toda dedicada a organizá-los para que fossem rapidamente resolvidos. Se sua ficha já não estivesse caído, descobriria, naquele momento, que a vida de um líder não era fácil.

Caminhando pela comunidade ainda vazia, cumprimentava os poucos moradores já acordados, todos já em idade avançada. Um sorriso apareceu em sua boca, ao ver que era a única jovem de pé, até mesmo Jesus estava dormindo – encontrara-o desmaiado na sofá de seu escritório, em Barrington House. Sua casa. Era estranho o quanto as coisas mudaram. Agora era uma mulher respeitada por toda uma comunidade, jamais contestada com suas decisões e vista com bastante admiração por todos. ‘’Se eles soubessem que essa mesma mulher chora por não ter picles em sua geladeira não teriam tanto orgulho assim’’, pensou.

O vento batia levemente em seu rosto quando chegara a seu destino. Sentiu o costumeiro amargo que lhe visitava, o peito se fechando aos poucos e as palavras sumirem. Sentou-se ali mesmo, na terra fria, e olhou para o túmulo do marido.

— Olá querido – falou. Soltou a respiração trêmula e erguera os olhos para o céu, buscando controlar o turbilhão de emoções que dominavam seu ser. — É bem cedo aqui e parece que só os velhos acordam neste horário, me pergunto se estou tendo algum tipo de envelhecimento precoce… — um som zombeteiro escapara de sua boca. — Não consegui dormir, de novo, desta vez não foi por pesadelos, e sim porque ser um líder é um trabalho bastante estressante.

Os pesadelos foram o principal motivo para trazê-la aqui. Quando fechava seus olhos e sucumbia ao mundo negro, imagens de toda sua família morta faziam-na acordar sobressaltada, gritando por seus nomes. Então, em um desses dias, ainda anoite viera ao túmulo de seu marido e contou sobre seus pesadelos. Desde então, vem aqui todos os dias.

— Mas não quero falar sobre isso  — continuou. — Dr. Carson me deu uma grande notícia ontem… tenho um pequeno jogador de futebol dentro de mim. Como você imaginou — sentiu que as lágrimas picavam os olhos e um sorriso, verdadeiro, invadira seus lábios.

Seu filho. Seu menino. Quando ouvira as palavras “é um garoto” da boca de Harlan, deixara a emoção lhe dominar. Primeiro, chorara de felicidade. Depois, tornou a chorar, desta vez de medo. Entretanto, Jesus estava lá e garantiu que tudo ficaria bem “Estamos falando de Maggie Rhee com medo?” foram suas palavras. E chorou uma terceira vez porque Glenn ficaria muito feliz em saber que sua aposta estava certa.

— Ele está bem e saudável. Mais três meses e ele estará aqui… comigo! Eu sei que você dizia que seria fácil, mas eu tenho medo, Glenn — as lágrimas começaram a rolar por seus olhos. — Eu não imaginava que criaria uma criança em um mundo dominado por mortos — e sozinha, pensou em completar. — Mas estou animada, se isso pode ser chamado de animação. É que, céus, ele se parecerá tanto com você!

Fechou os olhos e deixou que o silêncio preenchesse o espaço. Ele se passaria com Glenn, ele lembraria a ela todos os dias de seu marido morto e mesmo assim, a cada chute que recebia, sentia seu coração inchar de amor. Secou as lágrimas de suas bochechas e tornara a olhar para o túmulo.

— Eu te amo tanto que às vezes me sufoca. Não existe um dia em que eu não sinta sua falta, às vezes eu sinto como se a morte fosse minha única saída… mas eu não vou fazer isso. Por ele. Eu sei que faria o mesmo por nós. — repousou a mão sobre o relógio. — cuidando de nós, eu te amo, querido.

Sem mais delongas, pôs-se de pé, deixando seu último olhar no túmulo. Era uma tola por conversar com um punhado de terra, mas Maggie sabia que Glenn ouviria de onde estivesse.  Enquanto retornava a sua casa, avistara Jesus já de pé, certamente esperando por ela, para começar um novo dia. E, conforme caminhava, sentiu o vento em seu rosto e a resposta de Glenn estaria cuidando deles, como sempre esteve.