E se fosse diferente...? escrita por Klara Valdez


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722721/chapter/5

Eu estava arrumando minhas coisas no meu novo chalé. Vou dizer que eu estou bem feliz com a minha escolha. Eu me sentia bem, não só com a minha escolha, mas também pela imortalidade. Ela me fazia sentir mais forte, gostei disso. Apesar da confusão de sentimentos voltar depois de um ano fora, sentia que minha vida tomou o caminho certo. Sentia minha vida mudar, e se os deuses quiserem, para melhor.
— Toma! — olho pra Thalia e ela joga algo na minha cara — Agora para de mimimi.
— O casaco! — tiro o casaco da minha cabeça e o observo em minhas mãos. Eu sempre gostei desses casacos, eles são tão lindos.
Eu o vesti. Ele era muito confortável, mas tinha algo de estranho nele. Apesar de estar meio calor, quando eu o vesti, meu corpo ficou numa temperatura mais agradável.
— Acho que você já percebeu o que eles fazem, né? — Thalia senta na minha cama — O que eu mais gosto neles é isso. Nunca passamos frio e não suamos de calor.
Além ser um isolante térmico, como todo casaco, ele parecia ter um resfriamento interno que nos deixava mais confortável em temperaturas mais altas.
— Meninas — ouço a voz de Ártemis — hora do almoço.
...
Ártemis havia saído para algum lugar, eu não perguntei para onde e também não me interessava. Eu estava com fome e queria comer, apenas isso.
Thalia liderava o grupo de meninas, eu fiquei no meio delas com Megan do meu lado.
Eu já conseguia ouvir a voz de Quiron no silêncio do acampamento.
—...mas vai ser uma Caça a Bandeira mais especial, pois seremos um time e teremos como adversárias, as caçadoras de Ártemis — assim que ele disse isso, entramos no pavilhão. Todos olhavam para nós. Eu percebia alguns olhares em mim, alguns de surpresa e outros satisfeitos como Alice, Malcolm e Quiron.
Não me atrevi a olhar para ele, apenas me sentei na mesa com as outras meninas. Houve murmúrios falando coisas do tipo "desde quando elas estão no acampamento?" ou "sabia que era a Annabeth!" ou até mesmo "adorei o casaco delas".
— Crianças eu ainda não acabei! — Quiron volta a falar, bate os cascos no chão e todos se calam — Bem, a Caça a Bandeira será depois do jantar, como sempre. Como temos muito mais campistas do que caçadoras, esse jogo não será obrigatório — o chalé inteiro de Afrodite comemora e Quiron os olha com dureza — Tenham uma boa refeição — termina sorrindo.
...
Meu pai havia me mandado uma Mensagem de Íris a tarde, perguntando como eu estava e se eu iria para casa depois das férias de verão. Foi a oportunidade perfeita para lhe contar sobre a minha escolha. Ele parecia um pouco chocado, mas não muito. O que eu achei estranho. Na verdade, parecia até feliz ou satisfeito... Bem, eu decidi não questionar. Seria mais fácil para mim se ele aceitasse isso bem, e foi o que aconteceu, talvez o fato dele ter mais dois outros filhos ajudasse, mas não quis pensar muito nisso.
Depois ele disse coisas que os pais dizem, para eu tomar cuidado, para eu ter juízo e para eu não falar com estranhos. Acho que se eu tivesse seguido mais esse terceiro concelho, eu teria evitado metade dos monstros que enfrentei até hoje.
Havíamos jantado à alguns minutos e voltamos para o chalé para pegar nossas armas. Thalia tinha me dito que não era para eu ficar receosa quanto ao arco e flecha, era um tipo de dom adicional em ser uma caçadora, mas eu não quis arriscar. Uma espada e uma adaga eram suficientes para mim, além do meu boné de invisibilidade. Thalia também tinha me dado um tipo de bracelete prateado, ela disse que servia como algema em alguns casos e seria perfeito para o jogo.
Pegamos tudo que precisávamos e fomos até onde a maioria dos campistas (todos menos o chalé de Afrodite e alguns preguiçosos) estavam, ao lado da floresta.
— Agora que temos uma filha de Atena experiente conosco, que tal uma estratégia? — Thalia sugere olhando para mim, assim como todas as outras.
— Bem... — eu precisava de algo simples, mas eficaz. Não achei que seria eu a pensar numa estratégia, gostava de liderar, de ter todos seguindo minhas ordens, mas achei que dessa vez eu teria que segui-las — Er... Todas ficam na defesa e uma vai pega a bandeira.
Todas começaram a falar ao mesmo tempo, e eu não estou surpresa com isso. Realmente, parece burrice. Mas se você pensar bem, o que o outro time espera é que pelo menos um número considerável de pessoas vão para o ataque, e ver tantas pessoas na defesa vai os confundir.
E estamos jogando com praticamente todo o acampamento, seria inexperiente deixar a defesa com poucas pessoas.
Depois de um tempo elas pareceram entender bem meu raciocínio sem eu precisar explica-lo.
Não tem ninguém lerdo o bastante para começar a discutir comigo e para me fazer explicar minha estratégia...
— Quem vai atacar? — pergunta uma garota com aparência de 11 anos, aposto que ela era muito mais velha.
— Eu. Tenho um boné que me dá invisibilidade, então será fácil me infiltrar. E vai ser preciso habilidade na luta corpo à corpo na volta, algo que eu também domino — ninguém me contrariou, encarei isso como algo bom. Sei que não me vêm como a líder, para elas, é mais comum terem o mesmo nível de autoridade, elas apenas concordam que sou apta a atacar.
Os semideuses vestiam suas armaduras enquanto discutiam o que iriam fazer. Alice olha pra mim de longe tentando decifrar qual era minha estratégia dessa vez, mas sei que ela não conseguiu. Eu sempre tomava cuidado com isso, sempre variava meus planos, porque um dia, meus aliados poderiam se tornar meus inimigos.
— Preparados? — Quiron grita — Que comece o jogo.
Todos nós entramos na floresta. As meninas se dividiram, algumas ficavam nas árvores, outras perto da bandeira, bem visível numa clareira para elas acertarem qualquer um com uma flecha, e outra espalhadas pelo nosso território. Se depender da defesa, nós não falhariamos, quem precisava tomar cuidado era eu.
Olhei para Thalia e ela deu um sinal positivo.
Hora de ir.
Coloquei meu boné e comecei a correr até o riacho que dividia os territórios, assim que passei por ele, eu tomava cuidado para não pisar em galhos ou folhas secas. Não podia fazer barulho. Não havia semideuses na linha de frente, mas logo vi o chalé de Ares, Deméter e Atena correrem até o riacho.
Me escondi atrás de uma árvore, evitando que esbarrassem em mim. Continuei andando, quanto mais eu chegava perto, mais cuidado eu tomava. Sabia que deveriam ter armadilhas dos filhos de Hefesto por aí e filhos de Apolo nas árvores. De vez enquando, eu via filhos de Hermes andando por aí.
Eu já conseguia ver a bandeira, mas duas filhas de Hermes bloqueavam o caminho. Elas não pareciam muito interessadas em defender, elas conversavam animadamente sobre algo que tinha acontecido no seu chalé. Precisava tirar elas de lá.
Tentei ver um caminho alternativo, mas o único tinha uma armadilha. Uma rede que me puxaria pra cima.
Então tive uma ideia. Cheguei perto da armadilha e peguei uma pedra consideravelmente grande e joguei ela bem no centro da rede. A rede a puxou para cima, e isso chamou atenção das meninas.
Elas foram olhar mais de perto e eu consegui passar. Mais uns 5 minutos andando cuidadosamente e cheguei na bandeira.
Não tinha ninguém com ela, pelo menos, não a vista.
Tirei meu boné e peguei a bandeira.
A sensação de vitória invade o meu corpo quando toco no tecido da bandeira.
— Demorou — olho pra trás e vejo Percy sair de trás de uma árvore — Eu sabia que viria de qualquer jeito.
Droga, esqueci dele. Antes do jogo eu até pensei que não fosse participar. Na verdade, eu contava com isso.
Saquei a espada e segurei a bandeira mais forte.
— Você sabe que eu sou muito melhor que você na esgrima — ele sacou contracorrente.
— Vamos ver então
Ele me atacou e eu desviei, eu ataquei e ele contra-atacou. A bandeira me atrapalhava na hora da luta, então a larguei no chão. Eu a pegaria depois que cuidasse dele.
Passamos muito tempo lutando, mas nenhum de nós se cansava. A imortalidade no nosso sangue nos deixava fortes.
Ele olhava pra mim com intensidade, o que me fez desviar os meus olhos das espadas para os seus olhos por um segundo. Esse segundo bastou para ele arrancar a minha espada com a dele e me derrubar no chão.
— Eu disse que eu era melhor — ele se sentou em cima de mim e olhava bem pros meus olhos, sua expressão vitoriosa se desfez e ele me olhou sério — Porque fez isso?
— Fiz o que? Esse é o objetivo do jogo, alguém precisava vir pegar a bandeira.
— Você sabe que não é disso que eu estou falando Annie — ele acaricia minha bochecha. Parte de mim queria apreciar seu carinho e fechar os olhos, mas a outra parte falou mais alto me lembrando do juramento. Viro a cara tirando sua mão do meu rosto.
— Não me chame de "Annie". E o que eu faço com a minha vida não lhe interessa.
Ele pressiona mais seu corpo contra o meu, se deita em cima de mim e faz seu nariz tocar o meu.
— Eu amo você — ele sussurra. Tira uma mecha do meu cabelo do meu rosto e se inclina para me beijar.
Quando ele fecha os olhos, pego a bandeira que eu tinha largado, por sorte, do meu lado e bato ela na sua cabeça.
— Ai! Isso dói! — ele põe a mão na cabeça e ela suja de icor dourado.
— Eu tenho um compromisso com Ártemis e não vai ser por você que eu vou quebra-lo! — pego seus pulsos e coloco atrás do seu corpo. Arranco meu bracelete e ele se prende nos pulsos dele com força.
— Eu ainda posso te pegar!
— Eu acho que não — eu o empurro e ele cai de cara no chão. Pego a bandeira, tiro a adaga agarrada na minha coxa e começo a correr.
Eu conseguia ouvir seus gritos, mas foram ficando mais baixos conforme eu corria. Eu via filhos de Hermes gritarem e virem atrás de mim.
Muitos não conseguiam chegar perto pela velocidade que eu corria e quando conseguíam, eram derrubados ou com um corte da minha adaga na perna ou com uma empurrada do mastro da bandeira.
Eu já conguia ver o riacho, mas também via Clarisse do outro lado.
Ela estava com sua lança elétrica nova. É, o pai dela lhe deu uma nova. Vantagens de ser a preferida.
Ela esperava por mim e não me deixaria passar.
— Pensei que por ser um deus, agora ele era mais útil — ela grita — Mas nem segurar a ex ele consegue!
Ignoro o que ela disse e vejo Thalia vir até ela sorrateiramente.
— E aí Clarisse! — ela aponta o arco para ela — Como vai a vida?
— Não se mete garota elétrica, aqui sou só eu e ela. (N/A : Alguém entendeu a referência?)
Aproveito que ela baixou a guarda e corro até ela.
— Então tá — Thalia abaixa o arco e Clarisse se vira pra mim, mas era tarde demais.
Pulei o riacho a derrubando com tudo, ela parecia mais magra que antes. Vai ver o namoro tava dando em alguma coisa.
Me levanto e ergo a bandeira. Caçadoras saem de vários lugares e me levantam sobre seus ombros.
Meus irmãos discutiam com uns filhos de Ares e filhos de Hermes reclamavam que as armadilhas não funcionaram e que uma foi ativada sem motivo algum.
Vi Percy sair do mato sujo de terra, ele parece ter se livrado do bracelete, não me admira, só não achei que demoraria tanto.
— Perseus! Nem como deus você é útil! — Clarisse se aproxima de Percy gritando.
— Não enche Clarisse — Percy passa por ela derrubando ela no chão com uma simples esbarrada.
Ele vai embora e vejo aqui do alto, ele entrar no seu chalé.
...
Era noite e eu estava deitada na minha nova cama no meu novo chalé. Thalia dormia na cama ao lado e do meu outro lado tinha uma janela. Eu observava as poucas estrelas que eram visíveis no céu. O chalé estava em silêncio, ninguém estava acordado. Eu era a única que não consiguia dormir.
Eu tinha ficado feliz por ter ganho o jogo e passei o resto da noite pensando na nossa vitória. As caçadoras só sabiam falar disso, e riam da cara dos adversários quando pulei em Clarisse.
Mas quando me deitei para dormir, tudo o que eu fiz hoje me volta a cabeça. Desde a minha importante escolha até uma simples frase que ouvi.
Na hora eu não prestei muita atenção, estava mais preocupada em pegar a bandeira e ganhar o jogo. Mas agora pensando com calma... Ele disse que me amava? Isso é sério? Depois de tudo, ele fala que me ama?! E ainda me pergunta porque virei caçadora? O que ele está pensando? Que meus sentimentos são algum tipo de brinquedo?
Eu me iludi quando pensei que ser caçadora diminuiria o que eu sinto por ele e o que eu sofro por ele. Mas eu não estava arrependida do que fiz, sentia que isso me faria bem. Só agora entendi o perigo do amor, só agora entendi que ele deixa marcas e que não podem ser apagadas muito facilmente.
Uma coisa que nunca vai mudar, nao importa o que eu faça. Eu vou ama-lo, e reprimir esse sentimento dói, dói muito.
Suspiro engolindo soluços.
Depois de um tempo eu consegui dormir, mas só depois dos meus olhos derramarem algumas lágrimas no travesseiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguem aqui já leu A rainha vermelha? Se não, aconcelho ler. Talvez se tivesse lido teria entendido a referência... Enfim, final dramático como sempre. Fico bem feliz em saber que vocês tão gostando e acompanhando ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E se fosse diferente...?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.