Segundo ato escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 20
Ato final


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem o último capítulo, conversamos nas notas finais :)



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POV Ginny

—Obrigada por nos buscarem no aeroporto. - Ouvi Harry agradecer ao meu irmão enquanto eu puxava minha bolsa e o casaco de dentro do carro.

—Sem problemas, vocês agradecem quando tiverem tempo de abrir a mala e tirarem meu presente.

Levantei a cabeça de dentro do carro e me intrometi na conversa:

—Amor, você lembrou de pegar o chaveiro dele de dentro da gaveta no quarto do hotel?

—Acho que não… - Respondeu ponderando, completamente sério.

—Poxa… mas não se preocupa, Ron, compro algo temático pra você no eBay.

—Dá pro motorista de táxi que vai acordar 4 da manhã pra te buscar no aeroporto da próxima vez.

O mais engraçado dessas conversas é que todos nós falávamos sérios, e isso as fazia ainda mais divertidas. Rimos durante todo o momento que tiramos as malas do carro, até quando meu irmão entrou novamente no veículo para ir para casa.

—Obrigada, e diz pra Mione que essa semana marcamos algo entre nós quatro para contar da viagem e saber da de vocês.

—Pode deixar, eu aviso. Se cuidem, vocês dois.

O apartamento do Harry era mais perto do aeroporto, por isso foi o lugar escolhido para nossa primeira parada. Como ainda não eram nem seis da manhã, deixamos as malas na pequena sala e fomos direto para a cama, dormir as horas de sono que o trajeto nos tirou.

Já tínhamos conversado muito durante a viagem sobre a volta dele para casa, e já estava tudo decidido: usaríamos nossos últimos quatro dias em casa para organizar suas coisas e fazer a mudança, e nesse meio tempo ele também se encarregaria de devolver o apartamento para a imobiliária. Só pensar nisso me enchia de uma euforia que parecia que seria a primeira vez que tudo acontecia.

As horas de sono se estenderam mais do que esperávamos devido ao cansaço da noite não dormida, e acordamos já no meio da tarde. Após a refeição que nos foi entregue poucos minutos depois do pedido por telefone, já sabíamos o que tínhamos que fazer e nos empenhamos nisso, uma vez que ambos estávamos igualmente ansiosos.

Colocar tudo em caixas e malas não foi tão fácil, uma vez que estávamos sendo muito mais cuidadosos do que quando as malas de vinda foram feitas com um misto de mágoa e fúria, então gastamos o resto do primeiro dia e praticamente todo o segundo para tirar tudo dos armários e gavetas, organizar e encaixotar de uma maneira fácil para transporte.

Como terminamos já no fim da tarde e ainda tínhamos o final de semana todo pela frente, decidimos nos acomodar no quarto agora praticamente vazio e passar ali mesmo essa última noite antes de voltarmos para casa, na manhã de sábado.

Meu carro e o dele foram suficientes para o transporte, e durante todo o caminho eu não conseguia não sorrir ao olhar pelo espelho retrovisor e encarar seu carro me seguindo, a sensação de sentir a vida entrando nos eixos novamente era melhor do que eu conseguiria descrever.

Apertei o botão que abria o portão automático da garagem e estacionamos lado a lado. Após abrir a porta de casa, levamos tudo para a sala e fechamos a porta atrás de nós e liguei o aquecedor para que o ar quente dentro de casa nos acolhesse sem a interrupção do vento gelado que vinha de fora.

Tudo que era dele estava espalhado pela sala e sala de jantar, e eu passei os olhos por tudo até chegar nele, parado do outro lado, mais perto da porta do escritório. Assim que nossos olhares se encontraram, trocamos um sorriso em que nada precisava ser dito, mas que lembrou que eu tinha algo importante a fazer antes de qualquer coisa.

—Já volto! - Comentei pulando as caixas e passando reto por ele para o cômodo em frente.

Acendi a luz rapidamente e abri uma das gavetas em que eu sabia estar o que eu precisava devolver a ele urgentemente, e já estava mais do que na hora. Voltei à sala tão rápido quanto saí, ele mal havia se movido do lugar, e coloquei em sua mão as chaves que tirei de dentro do seu bolso sem nenhum resquício de carinho.

—Toma, vai ficar meio chato se eu tiver que abrir o portão pra você toda vez. - Tentei fazer piada, mas isso não foi o suficiente para desmanchar o sorriso feliz que ele exibia.

—Talvez eu deva colocar um chaveiro, fica tão vazio assim. - Ele comentou, olhando para as chaves como se fossem algo precioso.

—Eu sempre te falei isso, mas você dizia que era ruim de colocar no bolso.

Sem que eu esperasse, ele me puxou pela cintura e me grudou a ele.

—Sim, você sempre falou. - Interrompeu a frase com um selinho forte. - Mas agora eu vou ouvir. - Me beijou outra vez. - Vamos levar tudo isso para cima? Quero aproveitar meu primeiro dia em casa de um jeito que não seja desfazendo mala e arrumando gaveta, então precisamos terminar cedo porque eu planejo aproveitar muito.

Esses momentos com ele ainda me davam um certo frio na barriga, aquela euforia que eu gostava de sentir e só ele sabia me causar, e depois disso não foi necessária nenhuma motivação a mais para que começássemos a trabalhar. Eu não estava contando e nem havia me lembrado, porém, do impasse que me esperava quando subimos as escadas.

Ele foi à frente quando subimos as escadas com as primeiras malas, e parou bem antes do meu quarto, em frente à porta do nosso.

—Gin, precisamos decidir isso. - Falou quando se virou para mim. - Eu não quero mudar o nosso lugar em casa.

Mordi o lábio enquanto ponderava os fatos. Sendo honesta comigo, o que eu odiava dali era a memória daquele dia, daquela briga e daquela noite horrível que eu passei, mas aquela porta fechada também guardava muitas memórias que eu queria guardar, repetir, criar mais e mais e fazer uma vida toda baseada nelas.

—Eu quero começar de novo, claro, mas eu não quero apagar tudo e começar de novo, tem muita coisa que eu quero trazer e guardar pra sempre. A maioria delas está ligada àquela cama ali dentro. - Ele piscou para mim com cara de safado, e eu ri mesmo sabendo que era brincadeira. - É o nosso lugar na casa, Gin, nós dois escolhemos esse quarto pros bons e maus momentos, e o mau momento já passou.

Ele tinha razão quanto a isso, e além do mais eu sentia falta de ter um banheiro dentro do quarto, e aquele era o único que fornecia aquela praticidade em toda a casa.

—Então agora temos as minhas coisas para trazer também.

—Pronto, lá se foi o dia que eu tinha planejado… - Ele resmungou, me fazendo rir, abriu a porta e entrou.

O cômodo estava limpo e organizado, como o restante da casa, em cima da cama o edredom limpo e mais nada, porque os travesseiros ainda repousavam sobre a minha cama, no outro quarto, ainda que com outra fronha. Olhar em volta dessa vez não teve o mesmo peso, aquele incômodo ruim e desconfortável das outras vezes, foi apenas normal, como seria entrar em qualquer outro cômodo da casa.

Harry olhou tudo em volta com uma expressão que eu gostei de ver em seu rosto, era um misto de saudade e empolgação que refletia e me fazia sentir o mesmo, não que ambos sentimentos já não estivessem dentro de mim.

Começamos pela cômoda, organizando ali tudo o que era dele dentro das gavetas correspondentes à sua partes, depois foi a vez de voltar para o armário e prateleiras do banheiro as coisas que deveriam ficar ali. Enquanto ele organizava seus produtos de higiene, fui até o banheiro no fim do corredor para buscar os meus e organizar também, assim já seria uma coisa a menos para organizar.

Harry foi até a sala buscar a próxima mala enquanto eu terminava de organizar shampoos e condicionadores perto do chuveiro, e quando voltei ao quarto ele estava puxando as primeiras camisas, ainda no cabide.

—Essas são mais rápidas, é só pendurar. - Comentei andando em direção ao guarda roupas e abrindo as portas sem prestar muita atenção no que fazia, mas então meus olhos se chocaram como conteúdo ali dentro. - Ai, merda.

Em dois passos ele estava atrás de mim, encarando também o amontoado de molduras e fotos que eu deixei ali dentro, todas embaixo do envelope branco que eu sabia o que continha, e ele não precisou pensar muito para deduzir. Antes que eu soubesse como agir, Harry se debruçou sobre mim e pescou o envelope dali de dentro, abrindo e puxando o conteúdo sem nenhum constrangimento.

Foi estranho virar para ele e o ver entre nós o papel do divórcio que eu não consegui assinar. Essa falta de coragem, outrora considerada por mim como fraqueza, não passou despercebida:

—Você também não assinou?

—Também? - Perguntei de volta.

—A minha via está na gaveta do trabalho, esperando a Mione me dizer que você mandou me cobrar, porque eu só ia assinar depois de você.

—E eu não consegui, então deixei para depois e, pra falar a verdade, me esqueci completamente.

Ele desviou os olhos do papel e me olhou com um sorriso de canto:

—Parece que somos ambos fracos.

—Dois fracassados. - Entrei na brincadeira.

—Mas agora não precisamos mais disso, podemos completar o fracasso desse plano aqui, não acha? - Sem esperar minha resposta, ele rasgou o papel em vários pedaços.

—Concordo plenamente.

Vi quando ele se virou para deixar os pedaços do papel picado sobre a cômoda e voltou até mim.

—Quanto você ainda se incomoda com bagunça? - Perguntou com a sobrancelha levemente arqueada.

Eu conhecia aquele olhar, e gostava muito dele na minha direção.

—Muito.

—Então vamos falhar pela segunda vez hoje. - Determinou me puxando pela cintura e me arrastando até a cama já em meio a um beijo urgente.

Provavelmente o resto da bagunça ficaria para o dia seguinte, mas ninguém ali estava prestando atenção nisso.

 

POV Harry

Seu eu dissesse que nunca vivi dias como aquele primeiro mês seria uma mentira, porque o começo do nosso casamento foi incrível, mas passar por tudo isso de novo com a pessoa certa, e sabendo que tínhamos corrigido tantas coisas que já não davam certo entre nós, estava no que eu caracterizo como alguns níveis acima da perfeição.

Eu não via, e nem queria, uma Ginny diferente diante de mim, ainda era a mesma pessoa maravilhosa com todas as qualidades e pequenos defeitos que a faziam perfeita para a minha vida, mas sem o ponto negativo que nos afastava. Eu, por outro lado, não poderia me sentir mais apaixonado e conectado a ela do que estava, e sentia saudade o tempo todo. Não aquela saudade pesada e deprimente de algo distante, mas aquela sensação boa e reconfortante, que te faz querer que o dia acabe logo porque o que te aquece por dentro toda vez que você pensa, estará em casa te esperando.

Não saímos muito de casa desde que me mudei para lá novamente, o frio do lado de fora e todo o calor e aconchego do lado de dentro, sem ninguém para atrapalhar e toda a liberdade de ficarmos juntos e agarrados no sofá ou em qualquer outro lugar nos desencorajou para programas externos, com exceção de um almoço na casa do Ron e da Mione.

O dia do nosso aniversário de casamento estava chegando e eu queria mais do que nunca comemorar essa data com tudo o que pudéssemos: o dia todo juntos, jantar, presentes, cartão e filme romântico na TV pra gente perder o final porque estaremos muito ocupados um com o outro. O dia era quinta-feira e nós dois teríamos que trabalhar, mas ambos demos um jeito de estar livres após o almoço, assim teríamos tempo um para o outro.

Gin terminou sua última aula do dia um pouco antes, então quando cheguei em casa ela já estava lá há alguns minutos, mas ainda olhando de um armário para outro, tentando pensar no que comeríamos. Ela era tão sexy parada daquele jeito, com um braço cruzado na frente do corpo e o outro com a mão apoiada no queixo, sustentando uma expressão pensativa, que não me contive ao grudar sua cintura e afundar meu rosto em seu pescoço:

—A geladeira está tentando te morder de novo?

—Está, você acredita? Acho que vamos ter que comprar outra.

—Que crueldade a dela… - A virei de frente para mim e mudei o foco dos meus beijos de seu pescoço para sua boca. - Como foi seu dia?

—Tudo muito tranquilo, só tive três aulas e passaram rápido, e o seu?

—Nada empolgante, mas talvez porque eu estivesse ansioso para vir para casa logo.

—Para fazer nosso almoço? - Ela perguntou em meio ao sorriso de satisfação, fazendo nós dois cairmos na risada.

—E para que mais seria? - Dei um último selinho nela e me afastei. - Vamos começar, assistente. Macarrão?

—Ótimo, rápido e gostoso. - Aprovou o cardápio pensado de última hora.

Cozinhamos e almoçamos juntos antes de empilharmos a louça na pia e nos acomodarmos na sala, pois o nosso dia não poderia ser desperdiçado com essas pequenas tarefas que poderíamos realizar no dia seguinte.

Passamos uma tarde cheia de risadas, beijos roubados, mãos bobas e cumplicidade, daquelas que nossa rotina vinha sendo cheia ultimamente. A risada alta de Ginny encheu a sala quando minha barba um pouco grande raspou seu pescoço desnudo pela camiseta de alças, e aproveitei o caminho livre para estender o movimento até seu decote. Recebi com satisfação o som que se transformou em um gemido baixo.

—Então você gosta disso… - Comentei repetindo o gesto.

—Como se você não soubesse…

—É sempre bom ouvir sua confirmação. - Retruquei no mesmo tom e ela riu contra minha bochecha enquanto me dava um beijo ali.

Os dias eram sempre mais curtos no inverno, e a ausência de luz externa foi o que chamou nossa atenção para a hora que havia passado tão depressa. O plano era passar a noite em casa: já tínhamos escolhido o restaurante do qual pediríamos comida e o vinho já aguardava por nós em um dos armários da cozinha.

—Já está anoitecendo, a que horas pedimos o jantar? - Perguntei sem mudar minha posição, a cabeça deitada em seu peito.

—Você está com fome?

—Talvez um pouco.

—Então vamos tomar um banho e depois fazemos isso, temos tempo.

Era pra ser só um banho, mas durou quase duas horas porque tivemos a brilhante ideia de dividir o chuveiro para ser mais rápido. Depois de tanto tempo já deveríamos saber que água quente, ausência de roupa e a proximidade imposta pelo chuveiro não necessariamente nos apressava. Talvez tenha sido um esquecimento voluntário.

Nosso risoto de frutos do mar chegou quando ambos já estávamos famintos, então sem perder tempo eu coloquei os pratos na mesa do jantar enquanto Gin abria o vinho e trazia também as taças. Servi as bebidas enquanto ela enchia nossos pratos com a comida de cheiro apetitoso à nossa frente.

Assim que ambos estávamos acomodados ergui a minha taça em sua direção e perguntei:

—A que?

—Ao nosso dia? - Respondeu, imitando meu gesto.

—E a você, que é meu melhor presente. - Falei galanteador, arrancando um sorriso satisfeito e convencido de seu rosto feliz.

—E a você, que é o meu. - Ela se inclinou em minha direção e trocamos um selinho demorado.

—Eu amo você. - Falei com a boca ainda encostada à dela.

—Eu amo você também. - Gin respondeu fazendo um carinho no meu rosto.

Nos afastamos e tomamos o primeiro gole do vinho gostoso antes de começar a jantar.

A comida estava perfeita, o assunto leve e a paz garantida pelos celulares desligados e a vários cômodos de distância fizeram o momento perfeito. Perfeição era o que definia meu dia, minha vida ultimamente. Mas Ginny estava ali, estávamos juntos e estávamos bem, então não tinha como ser diferente: estávamos completos.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Espero que todos estejam bem, porque apesar do sumiço eu estou ótima.
Devo admitir que estou aliviada em terminar SA, que dentre todas as minhas histórias foi a que mais exigiu envolvimento emocional e empatia pelo que os personagens sentem. Não é fácil destruir uma relação para depois recriá-la, e a cada capítulo finalizado eu estava triste junto com eles. Por isso o alívio em terminar, trazendo os dois para onde eles devem estar: juntos e felizes.
Eu gostaria de agradecer a todos que acompanharam, vocês são minha melhor motivação!
Para quem me acompanha no grupo do Facebook, já sabe que tem história nova chegando, e para quem ainda não, aqui segue o link:
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Não deixem de comentar e me dizer o que acharam, cada opinião me motiva a continuar!
Beijos e até a próxima!



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