Enquanto você dormia escrita por Any Marie Whitlock


Capítulo 7
3 Capitulo Parte 2




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Na manhã seguinte, entrei pé ante pé no quarto real, antes que os primeiros feixes de luz do sol iluminassem as janelas. A rainha em si era visível apenas como uma pequena elevação no meio da cama, quase inteiramente escondida sob o cobertor bordado. Contornei na ponta dos pés o colchão de palha em que sua criada pessoal, Ester, dormia no chão, roncando, e retirei da lareira as cinzas da noite anterior. Com muito cuidado, acrescentei novas toras de lenha e acendi o fogo. Quando a chama estava bem firme, voltei ao corredor e busquei um balde d’água, que derramei na elegante bacia de porcelana colocada numa mesa comprida embaixo da janela.
Enquanto a água era vertida, meus olhos vagaram para um pedaço de pergaminho largado na mesa diante de mim. Distraída, li as palavras escritas numa letra elegante e meticulosa:
Onde o amor se abriu em flor
Sem dúvida há de fenecer.
Só a lembrança de seu olor
Persiste sem perecer...

— Menina.
Girei o corpo, com um medo terrível de ser repreendida por indolência.
A rainha Renne estava sentada na cama, olhando diretamente para mim. Seus olhos negros estavam vermelhos, as faces, molhadas de lágrimas.
— Passe-me uma toalha de mão – pediu.
Seu sotaque deu às palavras simples um ritmo melodioso. Peguei um quadrado de linho dobrado numa pilha ao lado da bacia e o entreguei a ela. A rainha passou o tecido sobre os olhos e abaixo do nariz e o devolveu. Quando estendeu a mão, a manga da camisola arregaçou-se e revelou um corte feio, vermelho e inflamado na parte interna do braço, um ferimento que começara a cicatrizar muito recentemente. Como era possível uma mulher com tantos privilégios ter arranjado um ferimento tão cruel?
Eu deveria ter pegado a toalha da mão dela sem dizer nada e desaparecido dali, como era esperado. Mas sua expressão contraída me fez querer ficar, para afastá-la daquela tristeza.
— Milady, o poema – comecei, fazendo um gesto com os olhos na direção do papel sobre a mesa às minhas costas.
— A senhora o escreveu?
Seus olhos se arregalaram de surpresa enquanto ela confirmou com um aceno da cabeça.
— É lindo – falei.
— Você sabe ler? – perguntou ela, num tom que não tinha qualquer indício de zombaria.
— Como se chama?
— Branca.
— É só isto, Branca.
Fiz uma mesura e me afastei, tardiamente perplexa com meu próprio atrevimento. Eu havia corrido um grande risco, mas o encontro acabara sendo favorável a mim. Apesar dos olhares furiosos de lady Petrova, meu emprego talvez estivesse seguro, afinal.
E assim pareceu, nas semanas seguintes. Todas as manhãs, eu acendia o fogo enquanto a rainha acordava e lhe entregava uma toalha com que enxugar o rosto, como se fosse perfeitamente normal saudar cada novo dia com lágrimas. Dia após dia, seguimos a mesma rotina. A rainha nunca me dizia mais do que algumas palavras, porém eu sentia um laço de afeição por ela que era totalmente desproporcional ao tempo passado em sua presença.
Havia nela um calor inato, que fazia com que eu me solidarizasse com sua aflição, apesar da vasta diferença entre nossa idade e nossa posição. Tal como eu, ela era uma pessoa de fora, isolada da família, objeto de intrigas depreciativas e desprovida de aliados naturais na corte. Apesar disso, assim como minha mãe, portava-se com dignidade e determinação. É de admirar que eu me sentisse atraída por ela?
Como Rosalie havia previsto, minha designação para os aposentos das damas da realeza desencadeou uma enxurrada de queixas à Sra. Norton e a inveja me isolou daquelas que poderiam ter sido minhas amigas.
A antipatia das outras criadas por mim só se reforçou ante minha ignorância sobre quem dava ordens a quem no Salão Inferior, onde as hierarquias eram mais obscuras que nos aposentos reais.
Uma noite, no jantar, após ver que o banco em que Rosalie estava sentada já se encontrava ocupado, acomodei-me num lugar vazio a uma mesa próxima. As mulheres já sentadas, olharam-me em silêncio, depois se entreolharam. Apresentei-me e, mesmo assim, elas continuaram caladas. Confusa e envergonhada, baixei os olhos para minha tigela e comi o mais depressa que pude, com o rosto ruborizado de humilhação. Ao sair às pressas do salão, com lágrimas correndo pelo rosto, ouvi a voz de Rosalie atrás de mim.
— Não dê importância a elas – disse-me em tom displicente, enquanto eu enxugava as faces no avental.
— Foi um erro comum.
— Por que elas não quiseram falar comigo?
— São costureiras – respondeu Rosalie.
Ao perceber que eu continuava confusa, ela deu um suspiro e explicou:
— Elas se acham melhores do que nós, por nunca terem precisado esvaziar um urinol. Imaginam-se grandes damas refinadas.
Um sorriso começou a se esboçar num canto da minha boca e Rosalie continuou, satisfeita com minha reação:
— Do jeito como se comportam, é como se ninguém mais fosse capaz de manejar uma agulha. Até parece que eu gostaria de ficar presa o dia inteiro na sala de costura, debruçada sobre as roupas de baixo de lady Petrova. Escreva o que digo: todas elas vão acabar corcundas e nós é que vamos rir por último. Então eu dei uma risadinha e Rosalie me convenceu a voltar com ela ao salão.
Em sussurros abafados, explicou-me a distribuição de assentos que tanto havia me intrigado. Os pajens sentavam-se com os camareiros, nunca com os lacaios. Vez por outra, esses últimos comiam com os carpinteiros e outros trabalhadores especializados, mas qualquer serviçal dos estábulos que se atrevesse a se sentar com eles seria marginalizado.  
Como camareira, esperava-se que eu me sentasse com as servas mais jovens e inexperientes; em caso de extrema necessidade, eu poderia me sentar à mesa das arrumadeiras, mas fazer isso com frequência seria considerado pretensioso. As criadas pessoais das damas de companhia, que cuidavam das necessidades das senhoras da nobreza, tinham uma mesa própria de um lado do salão, só conversavam entre si e ignoravam solenemente o resto de nós. Eram a realeza do Salão Inferior.
Rosalie, graças a Deus, achava-me uma novidade intrigante, em vez de um estorvo. Metade do castelo parecia ter algum parentesco com ela, que gostava de conversar com qualquer um cujo estilo de vida lhe fosse desconhecido. Perguntava-me sobre a fazenda com a expressão sonhadora de quem nunca teve de ordenhar vacas ao alvorecer. Quando lhe falei de minha mãe e meus irmãos , ela chorou comigo.
E, ao descobrir que eu sabia ler e escrever, pediu minha ajuda para aprender o alfabeto. É assim que deve ser ter uma irmã, eu pensava enquanto estudávamos juntas pedaços de pergaminho que a Sra. Norton nos arranjava. Sem Rosalie minha vida teria sido realmente desoladora, e tudo em que pude me transformar no castelo deveu-se, em parte, a seu espírito generoso.
Durante os breves momentos em que minhas obrigações tinham sido concluídas e Rosalie não estava disponível para agir como minha defensora, eu ficava perambulando do lado de fora dos aposentos da rainha, na esperança de executar qualquer tarefa humilde que pudesse levar-me à presença dela. Foi ali que me vi frente a frente com a mulher que havia me intrigado desde o dia em que seu nome saíra da boca de Rosalie.
Jurei contar minha história sem o julgamento da visão retrospectiva, retratando os acontecimentos do modo como se deram. Assim, embora eu ache difícil separar minhas primeiras lembranças de Athenodora da consciência do que um dia ela viria a ser, digo a verdade quando afirmo que nosso primeiro contato me deixou abalada. Eu já tinha visto a tia do rei a distância algumas vezes, em meio às outras senhoras mais velhas da corte. De perto, entretanto, admirei-me ao reconhecer que um dia ela já fora bela. Embora o passar dos anos houvesse embranquecido seu cabelo e deixado sua pele flácida, não havia alterado seus traços mais marcantes: o nariz reto e afilado, os grandes olhos verde-acinzentados, os lábios carnudos e a testa larga e pronunciada. Ela usava o cabelo bem puxado para trás, à moda antiga, sem cachos que abrandassem as linhas de seus ossos malares, o que atraía ainda mais a atenção para seu rosto majestoso. Tinha um andar resoluto, e pontuava cada passo com a batida de uma bengala que, segundo suspeitei, ela usava não por necessidade, mas para alertar os outros sobre sua aproximação.
Os olhos dela cravaram-se nos meus com tanta intensidade que fiquei paralisada, incapaz até mesmo de fazer a reverência exigida pela etiqueta.
— Não tem nada melhor para fazer do que ficar perambulando por aí? – perguntou-me.
Tinha a voz forte e ríspida, e cada palavra era proferida com a autoridade de quem está acostumado a comandar. A mentira me escapou dos lábios sem esforço:
— Recebi autorização para auxiliar as damas da rainha.
— Humpf – fez ela, e eu não soube dizer se o som indicava satisfação ou dúvida.
— Nesse caso, vá fazer algo de útil. Deixei uma capa na minha cama. Vá buscá-la.
— Sim, senhora – respondi, abaixando respeitosamente a cabeça.
— Queira me perdoar, mas onde fica seu quarto?
Athenodora soltou um suspiro alto, exasperada com minha ignorância.
— Na Torre Norte. Primeira porta no alto da escadaria de mármore. Vá.
Não entendi nada do que ela disse, mas não me arriscaria a desagradá-la com outras perguntas. Enquanto ela ia com passos firmes para os aposentos da rainha, segui para a escada central dos criados. Na época, eu nada sabia sobre a triste história da Torre Norte, e não podia imaginar o terrível papel que um dia ela desempenharia em minha própria vida. Mesmo assim, um mau pressentimento se abateu sobre mim quando segui o corredor estreito que me fora apontado por um dos lacaios, uma extensão solitária e deserta dos movimentados corredores de serviço do castelo.
Atribuí meu nervosismo ao medo de decepcionar Athenodora, um medo que só cresceu quando emergi do corredor num salão grandioso.
O que me impressionou de imediato foi a sensação de amplitude e luz transmitida pelo aposento. Ao contrário do resto do castelo, que preservava as características de uma fortaleza, essa parte tinha janelas grandes e paredes pintadas de branco. Estátuas de cavaleiros em poses heroicas encontravam-se dispostas em nichos, entremeadas de tapeçarias com cenas bucólicas. O salão tinha um senso de proporção e graça que faltava até aos aposentos de Renne. Então por que não havia mais ninguém além de Athenodora nessa área do castelo?
Athenodora.
Eu sabia que não devia provocar sua ira com minha demora, mas não consegui achar a escadaria de mármore de que ela havia falado. Virei para um lado e para outro e acabei perdendo completamente a orientação geográfica. Os ângulos das paredes de pedra faziam o eco de meus passos voltar de direções inesperadas, de modo que eu me sentia perseguida por um inimigo que ora estava um passo à frente, ora um passo atrás.
Obrigando-me a manter a calma, usei as janelas para me orientar e discernir o ponto em que a torre se ligava à fortaleza central. Após mais algumas voltas, deparei com o que estava procurando: uma escadaria revestida de mármore cor de rosa. No alto dela havia duas portas, ambas fechadas.
Subi buscando sinais de gente, mas não consegui discernir nenhuma diferença perceptível entre as duas portas. Ouvi então um som vago e trêmulo, que vinha de trás da que ficava à direita. Dei mais um passo à frente.
O som ganhou um tom mais agudo, depois mais grave. Era uma voz de mulher, cantando. As palavras eram indistintas, mas as notas tinham uma beleza melancólica, que transmitia o peso da perda.
Bati de leve e disse:
— Olá?
O ruído parou abruptamente. Estendi a mão e segurei a maçaneta, mas a porta não se moveu quando a empurrei. Minha pele se arrepiou, com a consciência da presença de outra pessoa que me queria longe dali, e tive uma vontade súbita de correr daquela torre e das coisas estranhas que ela porventura escondesse. Andei depressa até a porta da esquerda, que cedeu ao meu toque com um rangido. Assim que entrei, soube que havia encontrado o quarto de Athenodora.
A maioria das mulheres que passavam o fim da vida no castelo tinha poucos pertences, já que a ausência de riquezas era a principal razão para viverem da caridade do rei.
Algumas possuíam broches com a imagem pintada do falecido marido, outras tinham pequenos crucifixos de marfim ou prata em lugar de destaque. Sendo tia do rei, esperava-se que Athenodora contasse com aposentos maiores do que a maioria, mas ainda assim fiquei perplexa com a grandiosidade do quarto, com o pé-direito altíssimo e lampejos deslumbrantes de ouro e pedras preciosas.
Uma cama enorme ocupava o centro do cômodo, com suas colunas requintadamente entalhadas e bem mais altas que eu. Na cabeceira fora gravado um escudo em que um javali e outros animais selvagens eram cercados por quatro árvores. De ambos os lados da cama havia cadeiras pesadas e baús, todos de um tamanho e luxo inéditos para o quarto de uma solteirona.
Ao avançar mais para o interior do aposento, notei objetos espalhados por todas as superfícies planas, desde o pesado console de pedra da lareira até o tampo dos baús e as bordas da mesa em que Athenodora mantinha sua bacia de água e seus pentes. Delicadas colheres de prata, anéis incrustados de pedras de cores que eu nunca tinha visto, uma tigela com pétalas de flores aromáticas: cada nova descoberta me enchia de assombro.
O que mais me intrigou foram as estatuetas dispostas acima da lareira. Algumas tinham o aspecto de santos, mas outras retratavam mulheres cujos trajes eu não conhecia.
Uma delas, uma figura pequenina entalhada em madeira, não vestia roupa nenhuma, o que chamava ainda mais a atenção para seus seios inchados e sua barriga de grávida.
Outra, não maior que o meu polegar e feita de uma estranha pedra verde, era tão brilhosa que minhas mãos foram involuntariamente atraídas por ela.
Essa mulher também estava nua e, embora a falta de pudor me perturbasse, descobri-me estranhamente calma ao deslizar as pontas dos dedos por suas curvas lisas, imaginando quem teria feito aquele objeto.
— O que está fazendo?
Mortificada, virei-me e vi Athenodora parada na soleira da porta.
Abaixei-me numa reverência precipitada, as pernas bambeando de medo.
— Pensou em se servir do que lhe aprouvesse, não foi? – disse ela, em tom ríspido.
— Não! – protestei. – Eu me perdi, acabei de entrar aqui...
Athenodora me interrompeu com a voz gélida, apontando para minha mão:
— E o que está segurando?
Estendeu a mão para a minha e a abriu. Pareceu surpresa ao ver o que eu segurava. A estatueta verde continuou aninhada na palma da minha mão por um momento, enquanto ela me olhava com desconfiança e, em seguida, tornava a fitar a estranha bonequinha. Fiquei morta de medo.
Se Athenodora preferisse acreditar que eu estava roubando, poderia ordenar minha demissão desonrosa. Minha palavra não valeria nada contra a dela.
Desesperada para evitar esse destino, caí de joelhos.
— Por favor, senhora, eu só a estava admirando. Nunca tinha visto algo assim. – Disso eu tenho certeza – retrucou ela com azedume.
Estendi-lhe a estatueta e a pressionei em sua mão. Minha postura subserviente e minha óbvia aflição pareceram amolecê-la, Athenodora bufou e fez sinal para que eu me levantasse.
— Minha capa – falou, em tom enérgico.
Havia uma peça de veludo verde estendida ao longo dos pés da cama. Quando a peguei, o tecido ondulou-se em meus braços e vi que a barra era bordada com uma estampa em que se alternavam diamantes e estrelas.
No mesmo instante, compreendi.
Minha mãe havia tecido trabalhosamente aquele desenho no corpete de meu vestido de domingo; vi as pequeninas linhas diagonais típicas do bordado dela. Desde que eu chegara ao castelo, não tinha encontrado qualquer sinal da presença de minha mãe ali; agora esse sinal estava bem ali em minhas mãos. Meus dedos demoraram-se nos pontos, seguindo as linhas engendradas anos antes. Athenodora me olhou, impaciente, e segurei a capa atrás dela, engolindo um soluço ao ser tomada por uma onda de tristeza.
Ela se virou e, confusa, olhou para meu rosto contorcido de angústia.
— Sinto muito – resmunguei. – O desenho se parece muito com um trabalho da minha mãe. Da minha falecida mãe.
— Você deve estar enganada. Ela foi feita por uma das costureiras do castelo.
— Carmem? – indaguei, baixinho
O nome a pegou de surpresa. Depois a confusão deu lugar ao entendimento e ela esticou o braço para segurar meu queixo na mão em concha.
Ao fitar meu rosto, foi como se enxergasse, para além do uniforme de criada, a jovem que havia do lado de dentro, assim como a ambição implacável que eu mantinha escondida sob uma fachada de humildade. Minhas esperanças de progresso, meu medo da humilhação, a vergonha por meu nascimento bastardo... Ela não me condenou por nada disso.
O poder que exercia fluiu de sua pele para a minha, e meu corpo formigou de expectativa.
— Sim – murmurou ela –, agora estou percebendo.
Deixou cair a mão, puxou os lados da capa sobre os ombros e andou até a lareira. Lá, ergueu o braço para repor ao console a estatueta verde. Então fez uma pausa, com a mão a meio caminho, reconsiderando. Num rodopiar de tecido, girou o corpo e me entregou a peça.
— Se foi isto que chamou sua atenção, por incrível que pareça, agora é seu. Abaixei-me numa reverência profunda e lhe agradeci.
A figurinha minúscula me atraía e repelia ao mesmo tempo, mas eu não conseguia evitar que meus dedos deslizassem repetidas vezes pela pedra lustrosa.
— Quem é ela? – perguntei. – Uma santa?
Athenodora deu uma risada desdenhosa, achando a pergunta divertida.
— Longe disso. Esse tipo de entalhe é chamado de pedra do desejo. Esfregue a barriga dela e seus desejos mais profundos se realizarão. É o que dizem.
Athenodora enunciou essas palavras com um sorriso, mas havia em seus olhos um brilho malicioso. Estaria fazendo pouco das suspeitas da criadagem de que ela era capaz de controlar as forças da feitiçaria? Ou estaria reconhecendo que os boatos eram verdadeiros?
Corri para acompanhar os passos dela enquanto voltávamos aos aposentos reais; apesar da idade, ela andava rápido, com suas pernas mais longas que as minhas. À porta do quarto da rainha, deteve-se abruptamente e perguntou meu nome.
— Branca, senhora – falei.
— Você é uma menina muito curiosa, Branca. Eu me pergunto até onde conseguirá chegar por aqui.
Era impossível dizer, por sua expressão enigmática, se ela estava prevendo o sucesso ou o fracasso. Curiosamente, essa incerteza não me perturbou.
Agora a tia do rei me conhecia por meu nome, prova de que vinha me destacando das outras criadas, embora ainda não pudesse imaginar que vantagens me trariam as boas graças dela.

Nessa noite, tirei do meu baú a pedra do desejo e a enfiei embaixo do travesseiro. Todas as noites a partir de então, meus dedos a esfregaram de forma rítmica, acalmando-me até que eu pegasse no sono. Será que aquele berloque pagão possuía poderes mágicos? Não correrei o risco da danação eterna dizendo que sim.
Mas também é a pura verdade que, inesperadamente, a rainha me nomeou camareira-chefe de seus aposentos, apenas alguns dias depois de eu ter sido presenteada com a pedra.No primeiro dia em que assumi meus novos deveres, Athenodora passou por mim no corredor e fez uma breve pausa para menear a cabeça na minha direção. Foi um olhar rápido, nada mais, porém compreendi no mesmo instante o que ela queria dizer.
Ela estava me observando, percebendo meu progresso, avaliando meu talento. Com que finalidade?


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