Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 2
What I’ve Done.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite...
Bel e eu estamos tão felizes com o retorno de vocês que o capitulo chegou antes do previsto.
Então vamos ver o loiro mais lindo de Panem.



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Nesta despedida,

Não existe sangue,

Não existe álibi,

Porque eu estava fadado ao remorso da verdade,

Por trás de milhares de mentiras...

...O que eu fiz,

Eu vou enfrentar a mim mesmo,

Para apagar o que me tornei,

Apagar a mim mesmo. E deixar ir embora...

... Por tudo o que fiz

Eu vou começar novamente e encarar qualquer dor que vier

Eu vou enfrentar a mim mesmo para apagar o que me tornei

Apagar a mim mesmo...

(What I've Done - Linkin Park)

 

As horas seguintes são tranquilas. Toda a equipe ficou para o jantar. Ajudo minha mãe na preparação e avisamos a eles que nossa refeição, não é tão elaborada como na Capital. Eles parecem não se importar. É como se já esperassem por algo assim. Minha mãe que, vem tentando ao máximo uma melhor relação comigo, capricha no cardápio da noite.

Peeta chega pouco antes do jantar. Todo elegante, cheiroso e bem arrumado. Não que ele tenha o costume de andar malvestido, mas eu sei que hoje está vestido para nosso teatro. Além da sobremesa – devo admitir que estava espetacular – trouxe um buque de flores para mim e isso, claro, acabou emocionando nossos convidados. Depois da Turnê da Vitória somos quase profissionais em nosso pequeno teatro. Toques singelos, sorrisos “apaixonados” é como se, seu mundo girasse ao meu redor, enquanto estou ao lado dele. Ele puxa minha cadeira quando todos vão para sala de jantar e posso ver minha equipe sorrir quando senta ao meu lado. Durante o jantar ele, como sempre, é gentil com todos. Ainda assim, sempre demonstra uma atenção especial a mim.

Após a sobremesa, ofereço ajuda a minha mãe para organizar a cozinha. Ela me dispensa dizendo que tenho outros assuntos para resolver. Queria poder evitá-los, mas sei que não posso. Sendo assim, vou até a sala – agora organizada – e tento parecer interessada nos preparativos do casamento. Pela tradição, Peeta não pode ver nada referente aos vestidos de noiva até o grande dia. Mas nosso casamento não era um casamento qualquer. Se ele quiser, pode ver cada modelo que possivelmente, irei usar. Já que haverá um especial onde, todos os modelos que provei, serão mostrados a população de Panem que, aliás, irão votar no que usarei na cerimônia.

Sento no sofá de dois lugares, acompanhada por ele que, passa seus braços gentilmente em meu ombro com naturalidade. Effie me entrega o grande catálogo e sinceramente acho as decorações escandalosas demais. Tudo muito colorido e cheio de brilho, algumas parecem ofuscar minha vista.

— Gostou de alguma decoração? – Peeta pergunta bem próximo a mim.

— Quer que eu seja sincera? – Parece que estamos segredando algo.

Logo à nossa frente, a equipe se mostra apreensiva enquanto tomam chá.

— É claro que eu quero que seja sincera. Francamente, penso que você deveria escolher isso. Não que eu não queira, mas tem que ser seu gosto e não o meu. – Mesmo nas pequenas coisas ele tenta fazer o que eu quero. Sempre me coloca no topo de suas prioridades.

Nesses momentos fico na dúvida se ele está realmente atuando, o que duvido muito que seja atuação. Independente disso, a verdade é que, não quero fazer nada disso sozinha.

— Não gostei de nenhum. – Ouço alguns murmúrios, mas não ligo. — Nada disso tem a ver com nossas personalidades. Não parece em nada conosco.

As flores que compõem a decoração até que em certo aspecto são bonitas, mas o resto ou é uma explosão de cores, ou uma completa falta delas, deixando sombrio demais.

Peeta parece pensar por alguns instantes, enquanto a equipe começa a discutir o que poderia ser feito.

— Então, por que não fazemos assim? – Ele se levanta e pega seu caderno de desenho e o estojo de lápis-de-cores que deixou aqui em outra ocasião. — Vamos usar nossas cores favoritas. – Peeta começa a esboçar algo no papel. Todos param para olhar o que está fazendo, mas ele não se importa. Alguns arranjos de flores, convites e até a decoração do bolo. — O que acha?

Olho para o desenho com atenção. Vejo que praticamente em tudo ele usou o verde e o laranja suave. Por incrível que pareça deu um ótimo resultado. Em pouco tempo Peeta mesclou, o glamour que a população da Capital espera, com a suavidade que ele sabe que me agradaria.

— Quer que eu seja sincera novamente? – ele assente, apreensivo. — Está ótimo. Perfeito. – Agora parece mais aliviado e por um momento nos encaramos. Olho no olho. Volto minha postura de antes e assim que olho para nossos convidados a maioria está suspirando.

— Ah, vocês dois são tão lindos juntos. – Octavia seca algumas lágrimas.

— Que bom que gostou. Vou passar tudo a limpo para que, a equipe possa levar para a Capital e apresentar aos decoradores. O que acha? – ele sugere.

— Sim, acho ótimo você fazer isso.

— E nós, já vamos indo, Katniss querida. – Effie se levanta e os outros fazem o mesmo. — Nos hospedaremos numa das casas aqui da Vila. Agora deixaremos você descansar. Amanhã continuamos. – Minha mãe surge no corredor. — Sra. Everdeen, o jantar estava maravilhoso. Muito obrigada. Tenham todos uma ótima noite. – Se despede, mas antes de ir olha mais uma vez para mim. — E, você mocinha vê se descanse...

— Ou vou estar com uma aparência cansada para as fotos – repito, a mesma frase que Effie sempre usa para mim. — Pode deixar, vou procurar dormir. – Então, um por um me abraçam e se vão.

— Katniss, estou subindo. Depois você tranque a porta da frente. – Minha mãe pede já subindo os degraus. — Boa noite, Peeta.

— Boa noite, Sra. Everdeen. E, muito obrigado pelo jantar. Estava tudo muito bom. – Peeta como sempre, é muito gentil. Minha mãe apenas sorri e sobe.

— Boa noite, Katniss e Peeta. – Prim abraça a mim e depois a ele e sobe também.

— Acho que vou indo então. – Tenho impressão de que não quer isso e acho que, de certa forma, também não quero que vá. Parece mais fácil quando está por perto, então seguro sua mão. — Como está sendo tudo isso para você? Acha que estamos conseguindo convencer ele? – Peeta aperta meus dedos com delicadeza.

— Não sei Peeta. Na verdade, não sei mais o que podemos fazer para convencê-lo.

— Bem, nós vamos nos casar, não é? Acho que isso já será o bastante para acalmar as coisas. – Sinto um embrulho em meu estômago e acabo soltando sua mão.

— É melhor eu ir me deitar – digo, sentindo minha garganta se apertar.

— Eu disse alguma coisa errada, Katniss? Por favor, me desculpe. – Há preocupação em seus olhos.

— Você não disse nada demais. – Me aproximo de seu rosto e beijo sua bochecha. — Boa noite, Peeta. Durma bem.

— Boa noite, Katniss. você também durma bem. – Ele desce os degraus lentamente. Acabo ficando na porta olhando-o se afastar enquanto me observa por cima dos ombros e quando chega em sua casa acena um “tchau” para mim. Repito seu gesto antes de entrar e trancar a porta atrás de mim.

 

→←→←→←

 

 Um turbilhão de pensamentos invade minha cabeça, mas tento deixar todos de lado. Subo a escada até chegar em meu quarto. Tiro a roupa e coloco uma mais leve. Deito e logo o sono chega, mas como sempre, não chega sozinho. E, lá estão os pesadelos para atormentarem minha noite.

Em um deles estou vestida de noiva e logo vejo Gale sendo chicoteado em praça pública, a população da Capital está vibrando e pedindo por mais. Tento impedir, mas não consigo me mover. Fico assim por um tempo em meio a algazarra que estão fazendo e quando enfim o alcanço, só vejo sangue. Meu vestido, até então branco, agora está vermelho vivo, coberto por sangue. Aproximo-me dele e para meu desespero Gale não respira. Tento fazer alguma coisa. Peço ajuda, mas não há mais ninguém, estamos sozinhos. Repentinamente vejo Peeta se aproximar lentamente e sinto um pequeno alívio por ter alguém para me ajudar, mas quando ele para à minha frente também está todo ensanguentado.

— A culpa é sua.— Sua voz soa fraca. Em seguida cai ajoelhado e quando vou acudi-lo, não respira mais.

Acordo sobressaltada e com a respiração acelerada. As imagens não saem da minha mente. Meus dedos estão agarrados ao lençol da cama que já se encontra toda bagunçada. Com toda certeza devo ter gritado, mas será que foi alto o suficiente para alguém ter escutado?

Afasto as cobertas me levantando e vou até a janela. A rua está escura sem nenhuma iluminação, mas a noite está clara e posso ver claramente a casa do Peeta do outro lado rua. A imagem dele ensanguentado não sai da minha cabeça. Penso em telefonar para ele. Saber se está tudo bem. Mas antes mesmo de me mover em direção ao escritório deixo essa ideia de lado, seria algo sem sentido ligar a essa hora por conta de um pesadelo. Mesmo sabendo que ele me entenderia, afinal, não sou a única pessoa assombrada por eles. Ainda falta muito para o dia amanhecer e mesmo assim não quero me deitar novamente. Não quero mais pesadelos.

Pensando nisso, coloco uma roupa confortável e minhas velhas botas de caça, uma das poucas coisas que consegui guardar da minha vida antes dos jogos, visto a jaqueta de couro que um dia pertenceu ao meu pai. Desço até a cozinha para preparar algo para lanchar. A equipe vai chegar por voltas das 9 h, para continuarmos a prova dos vestidos e resolver todos os detalhes que faltam, referentes ao casamento. Ainda é cedo, então, acredito que chegarei antes do horário marcado. A madrugada está fresca, porém iluminada somente pelo clarão da lua e algumas luminárias na entrada da Vila.

As ruas estão desertas, mas conforme vou me aproximando da Costura posso ver a velha movimentação dos mineiros indo em direção às minas para mais um dia de trabalho. Automaticamente penso em Gale e no sonho que tive na noite anterior. Então com o olhar, vasculho entre as pessoas enquanto continuo meu caminho e não demoro a avistá-lo. A fisionomia cansada como a dos demais – resultado das jornadas diárias de 12 horas em um ambiente precário – sinto um alívio no peito em vê-lo bem. É estranha a relação que temos agora, já que, mesmo afirmando que tudo entre Peeta e eu, seja encenação, ele julga o contrário. Sinceramente isso tem me cansado, já que tenho muito para pensar ultimamente e ele parece não entender realmente o que está em jogo. Parece não entender que a vida de todos aqueles que me importo, incluindo a dele, estão em jogo. Entretanto, com todas as câmeras voltadas para mim, para o casamento e com a jornada de trabalho dele, nossa interação é basicamente nula.

Ao chegar à cerca, sigo o velho ritual para me certificar que a mesma está deligada e ao atravessá-la caminho entre as árvores até chegar ao tronco onde guardo meu arco e aljava de flechas. Com o que preciso em mãos, sigo até meu ponto de espera. Pela temporada sei que não abaterei algo grandioso. Não costumo caçar quando sei que estão procriando. Isso seria cruel da minha parte.

Logo um pensamento me vem à mente.

— Ninguém nunca sai desse trem. Se fizerem tudo correto viverão felizes para sempre.

Foi o que Haymitch disse durante Turnê da Vitória. Peeta e eu, teremos um futuro juntos, isso é fato. Como será depois de estarmos casados? Dormiremos em quartos separados ou terei que dormir com ele? Filhos, será que seremos obrigados a coloca-los no mundo? Essa, com toda certeza, é a pergunta que mais me assombra.

Avisto um ganso e preparo meu arco para acertá-lo. Acabo por errar o alvo – algo que nunca acontece -, mas reconheço que não estou totalmente concentrada. Caminho um pouco mais, tentando deixar todos aqueles pensamentos que vêm me assombrando de lado e após alguns minutos acabo por desistir. Então decido comer algo e voltar para casa. Embora não tenha conseguido esquecer os problemas, a caminhada até a floresta já me fez bem.

Depois de comer, guardo meu arco dentro do tronco novamente e caminho de volta para casa. No caminho encontro algumas plantas que minha mãe usa para preparar medicamentos. Recolho e guardo na bolsa de couro e continuo meu caminho até minha antiga casa no limite da Costura. O dia já amanheceu e sei que não é seguro andar pelo distrito vestida como estou, não com uma equipe inteira hospedada na Vila. Troco minha roupa confortável por algo mais apropriado para uma vitoriosa.

Penso um pouco na vida que tínhamos quando morávamos nesta casa. Noto que minhas preocupações mudaram. Antes era apenas colocar comida na mesa e que, Prim e eu não fossemos sorteadas para os jogos. Agora tenho outras preocupações a pensar.

Me alongo antes de sair porta a fora. Os sapatos incomodam meus pés enquanto caminho pelas ruas irregulares da Costura, ainda assim não quero voltar à realidade, não ainda. Decido dar uma passada pelo Prego. Só para ver como andam as coisas por lá. Ripper como sempre, com sua barrada de água ardente e outras quinquilharias. Passo por ela e dou um “olá”. Avisto Greasy Sea e caminho até ela.

— Bom dia, menina. O que trouxe de bom aí? – pergunta, apontando para minha bolsa, onde geralmente guardo alguma caça.

— Bom dia, infelizmente hoje não abati nada. – Dou de ombros.

— Você anda meio sumida.

— Pois é, meu tempo anda meio apertado.

— A vida de uma vitoriosa famosa não deve ser fácil? – Ela sorri e tento transparecer alguma animação também.

Peço uma sopa, não porque estou com fome, mas de alguma forma, posso ou pelo menos tento, ajudar aqueles que me ajudaram antes. Escuto uma conversa entre alguns Pacificadores ali perto e quando tento prestar mais atenção reconheço Darius rapidamente, assim como Cray, chefe dos Pacificadores.

— Recebi alguns relatos vindo do Distrito 8. As coisas não vão bem por lá – diz Cray.

— Me parece que foi uma manifestação em frente ao Edifício da Justiça. – Darius comenta — Mas no Distrito 5 não está nada fácil também. Está havendo muitos movimentos e confusões.

— Se continuar assim, acho que o presidente tomará alguma medida. – Sinto uma sensação ruim e decido ir para casa.

— Greasy acho que já vou indo, tenha um bom dia – digo a ela já me virando, mas Darius me vê e faz um aceno que retribuo tentando demostrar naturalidade.

— Vai lá menina e quando ver o Gale diga, que não me importo dele trazer alguma caça para eu preparar sopa – assinto com a cabeça e saio logo.

Ao adentrar a Vila dou de cara com Peeta.

— Oi, bom dia. – Me cumprimenta gentilmente — Estava na floresta?

— Oi... Sim eu estava... – É tudo o que consigo dizer. De repente, a imagem de Peeta ensanguentado dizendo que eu era culpada, passam como um flash na minha cabeça. — Eu sinto muito. – Automaticamente envolvo meus braços ao seu redor sentindo o cheiro bom de sempre.

— Sente muito, pelo o quê? – Ele retribui meu gesto, mesmo sem entender o que estava acontecendo.

— Por tudo isso... – Queria tanto que ele não estivesse no meio de tudo isso. Queria tanto não estar no meio de tudo isso. — Eu não aguento mais, Peeta... eu...

— Ei, acalme-se. Estamos juntos nessa, entendeu? – assegura, segurando-me pelos ombros e olhando nos meus olhos. — Estou indo até a padaria. Quer que eu lhe traga algo? – nego e ele sorri ligeiramente. — Você vai ficar bem? Se quiser posso te acompanhar até em casa.

— Não precisa, depois de experimentar um monte de vestidos e tirar fotos que detesto, acho que estarei bem. – Tento sorrir.

— Se não fosse toda essa bagunça, diria que qualquer vestido ficaria perfeito em você. – Sinto minhas bochechas se aquecerem com sua observação.

Lembro do que acabei de escutar e penso em comentar com ele, mas nós dois temos compromissos agora.

— Peeta, podemos nos encontrar mais tarde, quando a equipe tiver ido embora?

— Claro, eu estava pensando em ir até o Haymitch levar algumas coisas para ele, o que acha?

— Tudo bem, podemos ir lá e aproveito para conversar com vocês dois – ele concorda, logo vejo algumas pessoas passando indo em direção ao centro, olho para Peeta e aproximo dele selando nossos lábios. — Tenha um bom dia. – Peeta se surpreende, mas logo entende o teatro.

— Até mais tarde e tenha um bom dia também. – Carinhosamente acaricia minha bochecha e as pessoas que nos observam curiosas logo continuam seu caminho rumo à centro.

Quando Peeta se vai, respiro fundo já me preparando para mais um dia fático.

 


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Notas finais do capítulo

É isso, os preparativos para o casamento do ano continuam...
Espero que tenham gostado, sei que esta no começo, mas escrever essa fic esta sendo uma experiência muito legal. Esta sendo ótimo trabalhar junto com a Bel nos capítulos é um enredo diferente do que estou acostumada a escrever então fiquem a vontade para deixar a opinião de vocês.
Um excelente domingo e uma semana ainda melhor.
Beijos