Preço do Amanhã escrita por Cristabel Fraser, Sany


Capítulo 11
Storm


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... Olha quem chegou bem atrasada hoje rs.
Bom o capitulo anterior deixou muito curiosidade, mas chegou a hora de descobrir se as suspeitas são reais ou não.



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Há quanto tempo eu estou nessa tempestade?

Tão oprimido pelo oceano disforme

Está ficando mais difícil caminhar sobre as águas

Com essas ondas quebrando sobre minha cabeça...

... E eu vou caminhar sobre as águas

E você vai me segurar se eu cair

E eu vou me perder dentro dos seus olhos...

... Eu sei que você não me trouxe aqui para me afogar

Então por que eu estou a dez pés de profundidade de cabeça para baixo?

Mal sobreviver se tornou meu propósito

Por que eu estou tão acostumado a viver de baixo da superfície...

(Storm - Lifehouse)

 

As nuvens cobriram qualquer vestígio do sol deixando o dia nublado. A multidão reunida em frente a praça, observava atenta a leitura do velho discurso usado todo ano pelo prefeito, embora poucos estejam de fato prestado atenção ao que ele diz. No fundo, todos sabem que não importa o que seja dito, a verdade é clara. Dois jovens terão suas vidas destruídas em alguns minutos. Procuro Prim em meio a multidão e não encontro. Desejo desesperadamente que qualquer força divina a proteja e que Effie não tire o nome dela, em alguns minutos, daquela redoma de vidro.

Peeta está sentado ao meu lado, sua mão direita segura a minha com firmeza enquanto olha com atenção a movimentação no palco. As câmeras estão ali e mesmo o foco sendo a colheita, sei que estão nos observando. Cada movimento nosso, deve demostrar o “casal” feliz que somos. Dessa forma qualquer tipo de constrangimento que ainda possa existir em relação, a nossa noite juntos, deve ficar de lado por um bem maior. Haymitch está consideravelmente sóbrio, embora não pareça dar a mínima para as palavras do prefeito. Effie assume o microfone e apresenta sua velha saudação. O sorriso largo nos lábios, os cabelos esse ano estão em um tom púrpura e a maquiagem extravagante presente. Se não conhecêssemos os Jogos poderíamos facilmente pensar que ela estava falando de algo bom, de uma ocasião realmente comemorativa.

— Primeiro as damas! – aperto as mãos dele com mais força, mas ele não solta em nenhum momento, prendo a respiração involuntariamente enquanto as mãos dela buscam um nome. – E o tributo feminino do Distrito 12 é... Tyah Omsioge – solto o ar e observo a jovem que estava na frente, ela aparenta ter cerca de dezessete anos e caminha com determinação em direção ao palco. Effie pergunta por voluntários, mas ninguém se apresenta. Ela não parece se importar, ou pelo menos finge não se importar. Não a conheço, mas pelas roupas sei que é da costura. – Agora o corajoso rapaz, que irá representar o Distrito 12 – o silêncio momentâneo enquanto ela mistura os nomes parece mais longo do que realmente é. - Doryan Mackenzie – anuncia e em um primeiro momento ninguém se apresenta, vejo que muitos procuram o tributo e uma pequena movimentação começa ao fundo, sinto um aperto no peito antes mesmo do garoto se apresentar.

Ele não deve ter mais do que treze anos. Os passos são lentos em meio a multidão que abre caminho enquanto ele se aproxima. Noto que Peeta fica nitidamente apreensivo. Ele é uma criança ainda, posso ver o medo em seus olhos enquanto Effie pergunta por voluntários, mas também ninguém se apresenta. A leitura do Tratado da Traição é feita e os dois apertam as mãos, enquanto o hino de Panem toca não consigo deixar de pensar em Rue e no quanto ela era jovem, no momento em que morreu em meus braços.

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A viagem até a Capital esse ano me deixou pior do que no ano anterior, talvez fosse a lembrança da perda do Johan e da Narah. Talvez fosse por ver Doryan com seus quase treze anos ouvindo possíveis estratégias para cativar o público da Capital, mas eu realmente senti alívio ao descer daquele trem. Alívio que durou pouco, já que, a Capital não era nem de longe o lugar que gostaria de estar.

— Você está bem, Katniss? – Peeta pergunta quando vem me buscar para abertura dos Jogos.

— Estou bem, só desejaria não estar aqui – ele segura minha mão e antes que falasse qualquer coisa, Haymitch se junta a nós. Esse ano ele havia sido “convidado” a comparecer a Capital. O mesmo está lendo um panfleto com atenção e posso ver a foto do presidente com um ponto de interrogação, antes que ele amasse o papel e jogue na lixeira mais próxima.

Encontramos os tributos próximos a carruagem e passamos os últimos conselhos, cabeça erguida e confiança. Tyah pareceu não ter problema em relação a isso, mas Doryan não está nem um pouco à vontade, ainda assim a multidão vibra enquanto a carruagem deles passa. Após o desfile somos cercados pela imprensa e que não poupa perguntas em relação aos nossos planos para esse ano e tento não parecer perturbada quando citam o fracasso do ano anterior. Peeta mantem seu braço em minha cintura enquanto fala e sinto uma ligeira tontura com toda movimentação ao meu redor.

Procuro manter o controle, mas assim que chego em nosso andar no Centro dos Tributos corro em direção ao quarto e entro no banheiro, onde me ajoelho no sanitário e coloco tudo que tenho no estômago para fora.

— Acho que é bom chamarmos um médico. Você não está nada bem, Katniss – Peeta entra no banheiro com a fisionomia preocupada enquanto estende uma toalha de mão úmida.

— Não é preciso, estou bem é só um mal-estar. Provavelmente por estar novamente nesse inferno – ele parece não estar convencido, mas nitidamente não quer discutir, então apenas me ajuda a voltar para o quarto.

O jantar acontece em meio a conversas vagas e acabamos seguindo a rotina do ano anterior. Contudo, na manhã seguinte durante o café é que temos a primeira surpresa.

— Não acho que seja uma boa ideia que nos orientem juntos – Peeta estava explicando como faríamos nos próximos dias quando Tyah se pronunciou.

— Como?

— Nada contra você Doryan, mas quero voltar para casa quero vencer esses Jogos e não posso fazer isso com você. A regra é simples, só um vence. – ela olha fixamente para Peeta e eu. - Vocês dois são uma rara exceção que não vai se repetir então preciso entrar aquela arena querendo sair. E para isso preciso estar sozinha.

— Tyah, não estamos pedindo para que fiquem juntos os Jogos inteiros, mas seria bom estarem juntos no começo. Uma aliança vai ajuda-los no início. – Peeta explica com paciência.

— Ele é uma criança! Pensar nele só vai me atrapalhar, desculpa Doryan, mas é verdade. Além do mais vocês usaram essa estratégia ano passado. Os tributos não duraram nem cinco minutos. – sei que ela não tem intenção de magoar, que está falando apenas a verdade, ainda assim as palavras magoam embora mantenha a melhor expressão de indiferença possível. - A arena é para matar, não para fazer amigos. Se preciso de uma aliança no começo, quero uma com os carreiristas.

— Tyah...

— Tudo bem Peeta, talvez ela tenha razão juntos vamos atrapalhar um ao outro e a última coisa que quero é ser a desculpa pra alguém morrer na arena – Doryan parecia ligeiramente ofendido, mas tentou esconder.

— Acho que vocês terão trabalho dobrado esse ano – Haymitch comenta enquanto enche seu copo com alguma bebida no bar.

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Os três dias seguintes são um verdadeiro tumulto já que tínhamos que manter duas estratégias diferentes e falar com os dois sempre separadamente. A estratégia usada com Doryan não exigia muito. Ele não queria se aproximar dos carreiristas e a princípio seguiria sozinho. Haymitch costumava dizer que, ele iria usar a velha tática de sobreviver e improvisar. Tyah por outro lado queria uma aliança com os Distritos mais populares e isso fez com que Peeta e eu passássemos muito tempo tanto no coquetel quanto depois dele negociando com os mentores dos Distritos 1 e 2. Graças ao modo persuasivo do loiro conseguimos um “acordo” que manteria uma aliança em um primeiro momento.

— Não confio neles – Peeta comenta sentando no sofá que ficava em nosso quarto após mais um encontro com alguns possíveis patrocinadores e os outros mentores. – Sinceramente preferia que Tyah não tivesse pedido essa aliança.

— Também não gosto disso, mas como Haymitch mesmo disse, se essa é a estratégia que ela quer seguir precisamos apoiar – obviamente meu ex-mentor não tinha sido tão delicado com as palavras. Suas palavras após algumas doses de álcool incluíam que ela tinha direito de escolher como morrer na arena. Tento abrir o zíper do vestido que estava usando para trocar por algo mais confortável, mas não consigo. Odiava quando Cinna fazia esses modelos. Eu realmente precisava ter uma conversa com ele sobre minhas roupas desse ano. Entendia que precisava de mudanças no estilo, mas não via a necessidade de modelos tão justos. – Você pode me ajudar, por favor?

— Claro – ele se aproxima e abre lentamente o zíper que ia até metade das costas.

— Obrigada – agradeço seguindo rapidamente para o banheiro tentando não demostrar meu constrangimento.

Troquei de roupa rapidamente e seguimos em silêncio para sala de jantar onde os outros já nos esperavam.  A apresentação individual seria no dia seguinte, mas evitamos falar muito sobre ela já que estávamos preparando os dois separadamente.

Após o jantar não demoro a voltar para o quarto. Abro o armário do banheiro em busca de algum remédio para dor de cabeça. Geralmente os banheiros eram todos abastecidos e a dor estava me incomodando demais. Assim que vasculho o local, meus olhos se voltam para outra coisa. Os absolventes fechados chamam minha atenção quase que imediatamente. Estava atrasada, muito atrasada.  Tento me lembrar da data da minha última menstruação e sinto o pânico tomar conta do meu corpo, não era possível.

Pego a caixinha com um teste ao lado dos comprimidos e embora nunca tenha cogitado a ideia de fazer um desses, comecei a ler atentamente como funcionava. Eu só poderia estar ficando louca. Não fazia o menor sentido. Não havia como isso ter acontecido. 

Três minutos nunca pareceram tão longos e assim que olho o resultado sinto meu mundo girar. Eu precisava de ar. Precisava respirar. Aquilo não poderia estar certo.

Saio do banheiro indo em direção ao terraço esbarando em Peeta ainda no quarto. Como aquilo tinha acontecido?

O desespero me corroía por dentro. Me encosto no parapeito e minha mente vagueia. Tento respirar, mas é inútil, parece que o ar me abandonou.

 

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— Katniss... – viro e o encontro olhando em minha direção. – Isso é seu? – pergunta estendendo o teste que tinha esquecido no banheiro.

Tento falar, mas antes que as palavras chegassem à minha boca as lágrimas foram mais ligeiras. Procuro segurar os gemidos que queriam vir à tona e nada acontece. Então, lá estava seus braços me acolhendo e amparando. Chorei o que me pareceu horas e aos poucos fui me recompondo.

— Como isso foi acontecer, Peeta? – ele parece calmo e não posso deixar de pensar se conseguiu entender o que aquela gravidez significava. Aquele ser dentro de mim era a faca e o queijo que o presidente queria.

— Katniss, é isso que acontece entre um casal que se relaciona, não lembra nas aulas de biologia? – afasto minha cabeça de seu peito para lhe encarar.

— Eu estava me protegendo mesmo achando que isso nunca iria acontecer entre a gente. – seus olhos se dispersam por alguns segundos antes de voltar a me encarar.

— E, posso te perguntar de que maneira estava se protegendo?

— Encontrei uma planta que tem o efeito contraceptivo e por um longo período causa infertilidade – seus olhos me encaram com incredulidade.

— Não fala sério – Peeta parece incomodado e ligeiramente nervoso. – Isso poderia lhe causar algum dano, já pensou nisso? Tomar algo que nem ao menos sabe o que é direito. Não se faz isso, é perigoso.

— Pois é, e causou... estou com algo aqui dentro que nunca pensei em ter! – me exalto e mesmo ele tentando manter a voz tranquila começa a levanta-la gradativamente.

— Entendo que seja difícil lidar com tudo isso Katniss, mas estou aqui e não vou deixar que nada de mal aconteça a vocês. – o simples fato dele usar o plural no fim da frase me deixa em pânico, deixa as coisas um pouco mais reais, mais assustadoras do que já são.

— O problema Peeta é que você não pode prometer isso. Será que não percebe o que está acontecendo? Ou o que isso significa! Ele vai usá-lo, o máximo que puder, é mais uma razão para me preocupar, mais uma forma dele nos ferir e nos manipular.

— Sei disso, acha que não sei. Acha mesmo que não me preocupo com isso? Eu me preocupo, mas agora estou preocupado com outros riscos. Nem sabemos o que essa planta que você tomou faz.

— O que era esperado fazer, não fez, no fim das contas.

— Como chegamos a esse ponto? – Vejo algo em seus olhos que não costumo ver e sei que minhas palavras o magoaram, mas não recuo. – Teria sido tão mais simples se você tivesse feito diferente... Se tivesse feito o certo... – ele passa as mãos pelos cabelos.

— Do que está falando?

— Deveria ter me deixado na arena e poupado tanta culpa, sabia? Eu deveria ter morrido naquela arena.

— Não podia ter te matado... – algo dentro do meu peito se aperta.

— Ah, não? E, por que? – pede uma explicação e tento me focar na verdade.

— Me sentia em dívida com você.

— Pelo o quê?

— Pelo o pão que jogou e salvou a minha família. Naquela época não comíamos há dias... então, antes de mais nada, você tinha salvo a mim e senti que devia fazer o mesmo – Peeta parece surpreso com minha declaração.

— Agora não me deve mais nada... Mas está presa a mim por conta de um pão. – Ficamos em silêncio por um momento.

— Não sei como aconteceu isso... Nunca quis me casar... pois, sempre soube que casamentos eram para se construírem famílias e no mundo em que vivemos isso é impossível – desta vez ele não me ampara, parece paralisado. – Jamais pensei em ter filhos, porque não aguentaria vê-los sendo preparados todos os anos para a colheita. Eu não quero isso... – continuo a lamentar.

— Me responda... por que se entregou a mim, se sente toda essa culpa agora? Foi algo que eu fiz?

Seu comentário me pega de surpresa. Por que mesmo me entreguei a ele? Desejo? Mas a verdade era que o pesadelo onde sua mãe dizia tudo aquilo e depois eu o alvejava e, quando acordei percebi que estava vivo e bem, me senti aliviada e de certa forma feliz. Eu precisava dele, precisava sentir algo.

— Quer saber, deixa isso pra lá. Temos que nos concentrarmos nos tributos agora, depois pensamos em todo resto. – diz de uma maneira rápida. – Só fico me perguntando o que restará quando voltarmos para casa – ele dá alguns passos para trás.

— Não sei... Os Jogos e agora essa descoberta me deixam mais confusa - ele espera por mais explicação e nada acontece. 

— Bem, quando seu estado de confusão passar e tiver alguma resposta, me avise - a dor é perceptível em sua voz. Como não digo mais nada ele se vira e some na escuridão.

Permaneço pelo tempo que me é permitido e assim que entro no quarto Peeta já se encontra deitado. Uma sensação ruim me incomoda. E quando deito a vontade de sentir seus braços é sedenta. Estou de frente pra ele. Seu rosto está sereno e de repente a vontade de chorar retorna e me viro segurando a vontade de desabar outra vez. Não posso fazer isso outra vez. Preciso ser forte, muitas coisas dependem de mim.

Ao levantar pela manhã não o encontro. Vou até o banheiro e depois de fazer minha higiene matinal levanto a bainha da blusa e analiso meu ventre frente ao espelho. Ela está normal, se não fosse o teste e os demais sintomas, diria que não tinha nada aqui dentro. Após me trocar vou ao encontro dos demais. Cumprimento a todos e Peeta disfarça bem sua indiferença comigo. Tento comer algo leve e opto mais pelas frutas.

— Preciso falar com os dois, agora – Haymitch exige assim que entra no cômodo. O seguimos até uma outra sala e tira algo de dentro do casaco jogando em cima da mesa de centro. – Algum dos dois pode me explicar o que significa isso?

Observamos o panfleto onde uma foto nossa, aparentemente da noite anterior, estamos nitidamente discutindo está estampada. A frase em destaque faz com que um gelo me suba à espinha.

OS AMANTES DESAFORTUNADOS SERIAM MESMO UM CASAL?


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Notas finais do capítulo

É isso... A coisa não esta ficando mais fácil para esses dois.
Espero que vocês tenham gostado do capitulo, comentem o que vocês acharam dessa gravidez, o que acham que vai acontecer... A Bel e eu realmente gostamos da interação de vocês.
Aproveitando que estou por aqui, pra quem acompanha LT essa semana tem atualização promessa de dedinho. Eu não desisti dela, só esta sendo difícil escrever.
No mais é isso.
Uma excelente semana para todos.
Beijos