Olhe nos meus olhos escrita por Kikyo
Notas iniciais do capítulo
Então, estou amando escrever essa fic. Xandoca, acho que você que me deu um presente.
Esse cap é focado no relacionamento de Emma e Regina.
Acho que vocês perceberam uma certa rispidez no último cap ^^
É preciso pedir desculpas, com arrependimento sincero, pois somos também aquilo que fazemos com as pessoas, aquilo que dizemos, que doamos ou não. Quem é traído, agredido, ironizado, desprezado, quem sofreu, enfim, é que se machuca dolorosamente, muitas vezes sem ao menos merecer. Isso deixa marcas, isso não some de repente de dentro de nós.
Hernani Cardoso
— Primeiro você reclamou quando eu levei a menina pra ficar algumas semanas. Agora você me fala que quer levar o menino também, e a gente nem sabe por quanto tempo. Emma, nós não somos ricas.
— Desculpa se sou só uma policial que ganha 50 mil por ano.
— Eu não quis desmerecer seu trabalho, você sabe disso.
— Agora.
Ficaram em silêncio, havia algo errado ali. Algo foi quebrado, mas nenhuma das duas conseguia identificar os cacos, só sentiam os estilhaços. Há algumas semanas brigavam fácil, a irritação era constante por qualquer coisa. Coisas bestas. O que havia acontecido?
— Você quer falar sobre Killian ser meu novo parceiro? - Emma tentou a primeira tentativa de colar algum pedaço.
— Mesmo que me incomode, prefiro que ele fique com você, do que um novato machista que ficaria dando em cima da minha esposa o tempo todo.
Não era isso que havia quebrado, Emma pensou com pesar.— Vejo que você já falou com o Killian. - bebericou seu copo de chá, fingindo não queimar sua língua. Olhou para o copo ainda intacto na mão de Regina.
— Eu estava preocupada e liguei pra você e você não atendeu. Liguei pra ele e conversamos. Aí descobri sobre o novato que iria pra você.
Emma afiou o olhar— Você sabia que eu não estava com Killian, por que ligou logo pra ele? Não confia em mim?
Regina respirou fundo e jogou o copo cheio na lixeira, mesmo a três metros a pontaria foi impecável.
— O que ta acontecendo, Emma? Por que eu não consigo confiar em você? - Era quase um sussurro, algo que não deveria ecoar pelo corredor vazio.
Pronto.
Estava exposto uma parte das rachaduras.
— Eu nunca te traí. E isso não passa pela minha cabeça.
— Eu sei, mas... Não consigo tirar algumas cenas da minha cabeça. Cenas que eu mesma imaginei.
Os olhos castanhos estavam marejados.
— Você não vai me perder, amor - Emma abriu os braços e, vagarosa, Regina a abraçou.
— Quem pode nos garantir isso?
— Eu. - Emma apertou o abraço, queria passar confiança, queria acreditar que tudo estava bem entre elas. Mesmo sabendo que ainda havia algo errado.— Mesmo que eu não seja muita coisa pra você. - Soltou de repente, o gosto amargo do arrependimento ficou em sua boca.
Regina saiu do abraço e a olhou magoada.— Você não é muita coisa pra mim? - Sua voz estava mais magoada que seu olhar. - Desde quando você pensa isso?
— Vocês estão brigando? - Lara as olhava assustada, braços apertados em volta de sua pelúcia.
Regina limpou os olhos e se abaixou na altura da menina.— Não querida.
— Mas você está chorando. - tocou a bochecha da morena que fechou os olhos com o toque, pegando a pequena mão e a beijando.
— Às vezes algumas palavras machucam e a gente chora. Isso não quer dizer que é uma briga ou que estamos tristes, só que estamos cheios demais... então, choramos pra esvaziar um pouco.
— Não seria mais fácil tampar os ouvidos assim e não ouvir? - tampou os ouvidos com as mãos, deixando Tigra cair no chão.
Emma pegou a pelúcia, e também abaixada na mesma altura, olhou para as duas mulheres.— As vezes não dá pra evitar ouvir algumas palavras. Você tá com fome?
— Aposto que essa aqui não te deu nada que preste pra comer. - Regina apontou para a loira, que trocou um olhar cúmplice com Lara.
— Comemos sanduíche natural e suco de laranja sem açúcar. - Lara falou confiante, fazendo Emma arfar de orgulho.
Regina balançou a cabeça e revirou os olhos para a frase feita. - Sabia que não gosto de mentiras e que mentir é feio?
— Tomamos chocolate com marshmallow! - Lara falou rápido, puxando Tigra das mãos de Emma e abraçando a pelúcia.
— Mentir não é bom. - Emma falou murcha diante do olhar de Regina. Se irritava em como, às vezes, a morena a tratava como mais um dos seus filhos.
— Vamos comprar algo saudável pra você e para seu irmão. Então, você me leva pra conhecer ele, ta bem? - levantou e deu a mão a Lara que olhou para Emma.
— E Emma não ganha comida saudável?
Regina olhou para sua esposa e estendeu uma mão— É claro que ganha. - Tentou sorrir.
***
Emma abraçou Regina por trás. Ambas em pé aguardando no corredor.
— Estamos em público, Emma.
— Eu quero abraçar minha esposa ao menos uma vez em público. Mesmo que seja no corredor de um hospital público às 11 da noite. Não está confortável?
— Seu abraço sempre é confortável. - se acolheu nos braços da esposa.
— Então, por que você pede tão pouco por ele?
— Porque abraços não devem ser pedidos. Devem ser doados.
O médico se aproximou e as duas se soltaram. Dr. Rupert explicou que Nicolas recebeu alta há uma semana, mas não havia vaga disponível em casas de apoio e era necessário uma ordem judicial para um orfanato.
— Vou ligar pro Edward. Ele deve resolver esse problema. - Regina falou, o médico trocou o peso dos pés, ansioso ou cansado?
— Então, vocês vão levar o garoto? Realmente precisamos daquele leito.
Emma e Regina se entreolharam. Algo estava errado entre elas, seria esse o momento certo de levar mais uma criança para um lar ameaçando trincar?
Ambas olharam para os dois irmãos, dois pares de olhos azuis ansiosos por uma resposta.
— Se for o receio das contas médicas, elas podem ser divididas e... O governo deve ajudar com um pouco. — O médico insistiu, bolsas de olheiras demonstravam o cansaço de não iniciar uma discussão. Era sua ultima tentativa
Emma tocou a mão de Regina, entrelaçaram os dedos, era a resposta silenciosa.
O médico sorriu quando Regina meneou a cabeça positiva e Lara deu um pulo de sua cadeira, abraçando o irmão.
***
Os dois carros foram estacionados devagar, já passava da meia noite, e as mulheres não queriam acordar os filhos.
Em silêncio entraram na casa, Emma ajudou o novo hóspede com o banho e Regina preparou uma cama improvisada no sofá, ao lado do sofá de Lara.
— Desculpa não ter muito pra oferecer, Nico.
— O que isso quer dizer? - Regina reparou melhor o garoto, poderia ter 13 anos, mas sua cara era de bem menos.
— Quer dizer que você vai dormir no sofá. - sorriu sem graça— Não temos um quarto disponível.
— Eu sei a parte do quarto. O que não entendi é porque você tá se desculpando. Porque, tipo, essa é sua casa. Você já deu muito mais que merecemos.
— Você se contenta com pouco, rapaz. - Arrumou um travesseiro no canto do sofá.
— E isso é ruim? Ao menos não causa decepção e, sei lá. Tô tão acostumado com pessoas vazias que quando vejo alguém completo assim, fico envergonhado de aceitar até o pouco.
Regina sentou no sofá. Aquela frase era complexa e profunda demais para não se dar um tempo de reflexão.
— Agora é minha vez. O que você quer dizer com pessoas vazias e completas?
Nicholas sorriu— Na casa do meu padrasto batia muitas pessoas desesperadas por coisas que não faziam nada bem. E minha mãe falava que eram pessoas vazias. Precisam tanto se preencher que aceitam coisas "nacivas" pra continuarem existindo.
— E viver e existir tem muita diferença.
— Pessoas completas sabem essa diferença - O rapaz sorriu e tentou tirar a blusa. Regina o ajudou, com extremo cuidado com o braço engessado, enquanto pensava sobre a mãe daqueles irmãos. Uma pessoa que ensina isso aos filhos, pela lógica, seria alguém sábio. Não resistiu perguntar:
— Sua mãe criou dois seres muito inteligentes, como acabou com um traficante? Não dá pra entender.
— Talvez ela também era uma pessoa vazia.
Enquanto cobria o novo hóspede, refletiu sobre sua vida. Ela tinha tudo que uma pessoa precisa para ser feliz, por que então estava complicando as coisas? O que mais ela queria? Ela era uma pessoa completa, certo?
— Obrigado - Nico falou e abriu um sorriso, por algum motivo Regina gostava de ver aquele garoto sorrir, trazia paz.
— Não por isso.
— Não tô falando da ajuda com a coberta, tô falando por ter nos aceitado aqui, mesmo sendo por pouco tempo. É uma trégua com a insegurança, aqui temos paz. Sei que vamos trazer problemas e despesas, mas... Se eu puder fazer algo... Posso fazer qualquer coisa pra ajudar nesse tempo.
Gratidão.
Era gratidão genuína que Regina via naqueles olhos azuis. Havia tanto que ela podia aprender com aquele garoto.
— Você já está fazendo.
Tanto que ela já tinha aprendido com ele.
Voltou para seu quarto e tomou um banho. Esperou paciente por Emma colocar Lara para dormir no sofá, e depois tomar seu banho.
— Oi - Emma saiu incerta do banheiro. Incerta se Regina a queria na cama.
— Oi. Estava te esperando pra dormir. Vem cá esquentar meus pezinhos.
Emma sorriu. - É sempre ao contrário. Parece que eu tenho um freezer em cada final da perna. - Deitou na cama e Regina se aproximou, abraçando-a.
— Obrigada Emma. Obrigada por me amar, por me entender e principalmente por não desistir de mim.
— Ei, tá tudo bem? - Virou na cama encarando a esposa que tinha os olhos marejados.
— Sei que às vezes exijo muito e até implico, mas não é porque acho você pouco. É porque tenho medo de ser pouco pra você e você ir embora. Eu não quero te perder.
— Já falei que você não vai, amor. - abraçou a esposa mais forte— Tô aqui e ninguém me tira.
— Eu tenho tudo pra ser feliz, Emma. E é isso que me assusta. Eu tenho tudo. Ninguém nunca me deu tudo antes.
— E nem te deu agora, foi você que conquistou, amor. Me conquistar só foi a metade do caminho pra felicidade.- Ambas riram. Como era gostoso ficar assim, abraçada com Regina, corações no mesmo ritmo.
— Pelo que me lembro foi você que penou pra me conquistar. - a morena falou satisfeita.
— Nossa! Como foi difícil, mesmo. Esse é meu lema, sabe? "Se conquistei Regina, posso fazer qualquer coisa." - Falou orgulhosa. - Acredita que ainda guardo aquele papel com seu número de telefone errado que você me deu?
— Eu não te suportava naquela época. Você e sua alegria irritante me davam raiva.
— A melhor parte era que você, exatamente você, era o motivo daquela alegria. - beijou a bochecha da morena que corou— Eu quase engolia minhas orelhas quando te via. E ficava lá, toda idiota te rodeando.
— Adorava sua idiotice. Me fazia rir.
— Você ria muito das minhas piadas.
— Eu não ria das suas piadas, ria de você. Minha idiota. - Selou os lábios sorridentes da loira.
— Eu sei. Inventava piadas na hora, por isso era tão ruim. - beijou os lábios da esposa, da SUA esposa.— Te amo, preguicinha.
Regina gargalhou com o apelido do começo do namoro. - Tantos anos que você não me chama assim.
— Deixei de fazer muitas coisas, não vou deixar mais. Não quero que você fique insegura ou pense que gosto menos de você. Eu te amo.
Regina a beijou com vontade— Também te amo, miss Swan. - Relembrou o modo como chamava a “irritante alegre”
Sim. Emma havia acertado! Finalmente o que foi quebrado se colou. Como um simples gesto de roubar um marshmallow e assistir dois irmãos se protegendo pode mudar tanto sua vida? Ela estava feliz, era isso que importava.
— Não podemos fazer amor, Emma. - Regina a parou a mão da esposa que adentrara sua blusa do pijama.— Está silencioso demais aqui. Nossos filhos podem nos ouvir.
— Acho que eles já tem idade pra saber que fazemos sexo. - Emma riu.
— Ainda são crianças pra mim.
— Amanhã, no intervalo do almoço você não me escapa. - Beijou Regina mais uma vez. - Ah, mas não me escapa mesmo.
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