Rolos da Vida escrita por camila_guime


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Bella esteve por um fio, e Edward demorou pra perceber que não queria deixá-la escapar. Reviravoltas ainda sucederão...



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Edward PDV

Não pensei que eu me importava tanto assim com ela.

 

Eu já tinha percebido isso: dona Renné e Charlie não parecia mais um casal feliz. Eu pude ver que Bella percebia isso também, depois que pensei sobre o acontecido, quanto ao bilhete da geladeira. E, assim que entramos em casa, logo vi a mala na porta. Charlie estava obviamente abatido.

Não sei se foi telepatia, se era coisa de homem, ou sei lá o que, mas percebi, no olhar do pai de Bella, que ele não tinha o mínimo jeito para lidar com aquela situação, e não estava nem um pouco pronto para falar com ela.

Talvez o fato de eu não ter tido uma figura paterna tenha criado em mim um instinto mais apurado no caso “perceber os pais”. Logo, entendi que Charlie só queria fugir do olhar questionador e preocupado da filha, ao levar Jacob até a rua. Então, tive a clara sensação de que a casa hoje iria ferver.

Eu talvez não consiga entender muito sobre casais com filho, etc., mas posso imaginar que Bella iria se sentir muito mal com tudo aquilo. Só aquela reação dela quanto ao bilhete de Renné já era prova suficiente de que esse assunto era tenso demais para ela. Então, numa tosca tentativa de desviar Bella daquela óbvia verdade (sei lá por que quis protegê-la daquilo!), me precipitei e paguei o papel de bobo, em vão.

Quando Bella saiu correndo, dona Renné estava tão chocada que só teve tempo de sentar e tentar não ter um enfarte. Tentando ser prestativo, entreguei a ela um copo com água, então, saí para frente da casa. Jacob não estava mais por lá e Charlie estava atônito, tentando impedir o choro.

– Pra onde ela foi? – perguntei.

– Bella desapareceu! Correu pela estrada cantando pneu! – Charlie informou desorientado.

– Senhor, se me permite a intromissão, dona Renné não está muito bem. E se o senhor me permitir, eu posso achar Bella...

– Tudo bem, rapaz, vá!

Não precisou que ele falasse mais nada. Corri pra dentro da viatura de Charlie e dei a partida. Na verdade, achava muito mais fácil que eu me perdesse em vez de encontrá-la, mas, não sei exatamente por que, eu precisava tentar. Talvez seja por que eu sei o quanto é difícil viver sem um dos lados da família, e eu possa estar me vendo nessa situação pela qual Bella está passando. Então, vi a caminhonete de bella estacionada na beira da estrada. Pegadas invadiam a mata.

A floresta estava sinistra e calada. Não ventava. Não havia som de e nem animais em parte alguma. A cada passo que eu dava, parecia que as árvores em volta iam fechando a pequena trilha de mato pisado, e era justamente esta minha única pista de onde Bella poderia ter ido.

Aos poucos, fui perdendo a noção das horas, mas sabia que já estava ali, andando, há um bom tempo. Enquanto isso, a trilha de mato pisado ia ficando mais estreita. O tempo começou a mudar também, logo entendi o porquê daquela calmaria: vinha uma tempestade. Os clarões no céu eram úteis naquela escuridão densa que as árvores projetavam uma sobre as outras.

Continuei andando. Admito ser bom andar no meio dessa tranquilidade verde, se não fosses estas as circunstâncias. Porém, logo comecei a me perguntar se, talvez, Bella já estivesse em casa enquanto eu continuava vagando pela mata como uma criatura noturna dos contos, o que me pareceu uma boa comparação, somado ao fato de que eu não tinha sono algum.

Depois de andar mais um pouco, num ultimo clarão no céu, começou a cair uma pesada e fria chuva. Apressei o passo e comecei a correr sempre para frente. Algo me disse então que Bella não deve ter voltado, e que de alguma forma, eu estava no rumo certo. Assim, corri dentre as árvores até encontrar uma clareira. Eu não estava cansado nem com frio ou sono, a preocupação por Bella era a única coisa que eu conseguia sentir.

De repente, vi um brilho pequeno e fugaz do outro lado da clareira.

– Bella! Bella é você?! – gritei.

A pequena luz moveu-se, virando em minha direção. Depois, simplesmente começou a sumir no meio da mata. Minha intuição dizia que era Bella. Tinha que ser ela.

Disparei, seguindo aquele ponto luminoso por entre as árvores. Admito: eu corria melhor que o outro que tropeçava aqui e ali. Com certeza deveria ser Bella, pois eu sabia que, no fundo daquela dureza toda, ela era delicada demais pra correr no meio da mata.

Continuei gritando, chamando por ela, mas ela só fugia. De vez em quando, eu chegava perto o suficiente para perceber que ela estava chorando. Quando chegamos a uma segunda clareira, Bella parou adiante. Dei um tempo a ela e decidi me aproximar de vagar. A uns quinze metros de mim, finalmente pude ver seu rosto: estava vermelha de choro e tinha os olhos rasos. Ela chorava e soluçava apertando o peito. Suas roupas tinham vestígios de grama e de terra, assim como suas mãos. Esta imagem dela partiu meu coração, e tive o impulso de correr até ela e...

– Bella! Bella, por favor, me escuta! – comecei. – Vem comigo. Volta pra casa. Seus pais estão preocupados com você!

– É mesmo?! – ela revidou com ironia. – Então diga pra eles, Cullen, que não é justo o que estão fazendo!

– Bella, você não pode fazer isso com eles! Isso sim não é justo. Eles te amam e você está sento egoísta. Eles só querem viver felizes, e se pra isso eles acharam melhor se separar, não há nada que você possa fazer!

Aproximei-me um pouco mais, só então vi que Bella estava na ponta de um precipício, e, daqui de cima, dava pra ouvir um ruído, provavelmente era o mar. Gelei só de imaginar o que ela poderia estar planejando.

– Não, Edward! Vai embora! Você não entende. Sou eu! Sempre fui eu!

– O que? Não, Bella, você...

– Sou eu sim! Eles eram felizes antes, um casal que se amava. Só que, então, eu nasci, e Renné passou a amar a mim mais que ao meu pai! Enquanto isso, Charlie se afogou no trabalho pra poder cuidar de mim e me sustentar, já que minha mãe teve que parar de dar aulas. Eles eram felizes, Edward!

Bella gritou seu desabafo de forma dolorosa de se ver. E então chorou mais, compulsivamente e desesperadamente. Eu tive que segurar um impulso de correr até ela, pois, se caso eu o fizesse, era bem provável ela se jogar dali. Eu nem tinha percebido que até eu já estava chorando até que Bella me encarou fixamente.

– Bella, não. Escuta, me deixa apenas conversar com você! – pedi quase que desesperado quando ela sentou no precipício e encarou para baixo.

– É sério Edward, vai embora. Essa família não é sua e você não tem que se intrometer...

– Deixa disso, Bella! Pelo amor de Deus! Você acha que é a única que tem problemas? Bella, eu nunca conheci meu pai! Eu sei como é sentir um buraco dentro de si mesmo, principalmente quando eu via Esme sofrendo às vezes, durante várias noites. Eu posso não saber especificamente como é ver seus pais se separando, mas sei que não é o fim do mundo! Bella, eles não são sua vida, mas você é a vida deles e não tem o mínimo direito de acabar com ela assim!

Nunca pensei em tocar no assunto da minha família de novo, mas, diferente do que eu pensava, de que era inútil e perca de tempo, até que foi bom desabafar.

Bella olhou por cima do ombro pra mim. Estava ensopada e ainda chorava. Era de cortar o coração.

– Eu não sabia de nada disso... D-desculp-pa... – ela soluçou, parecia mais amena.

Caminhei até ela e me ajoelhei perto o suficiente para puxá-la dali.

– Certo, não precisa pedir desculpa. Temos nossas crises... Mas, agora, me dá a sua mão?

Estendi a minha. Bella olhou e hesitou. Com a mão em que segurava o celular ela se firmou no chão. Esticou seu outro braço pra mim, tentando virar de frente e dar as costas ao precipício, mas aí, então, sua mão de apoio derrapou. Por reflexo, abracei Bella, mas metade de seu corpo estava pendurada. Bella gritou de medo, estava gelada e quente ao mesmo tempo, provavelmente com febre. Tentei puxá-la com toda a força que tinha. Eu estava quase conseguindo trazê-la de volta, pois ela cooperava, puxando-se para mim. Porém, de repente, Bella amoleceu e pendeu pra trás. Tentei não deixá-la escorregar puxando-a desesperadamente pelos braços, mas os resíduos de terra nos antebraços de Bella fizeram-na deslizar.

 

Isabella PDV.

Céus, só morrendo pra eu ver que Edward era lindo?

 

A morte é tão calma, tão confortável. É como morfina para uma dor insuportável.

Edward estava ali, não sei ao certo por que ele estava, mas gostei de vê-lo. Eu estava triste pelos meus pais, mas fiquei satisfeita por levar como última imagem o rosto de Edward. Ele tinha demonstrado uma preocupação que eu nunca recebi de alguém, que eu nunca imaginei receber, principalmente de uma pessoa que eu tratei tão mal e que não tinha motivo algum para fazer o que fez. Talvez, agora, seja hora certa para admitir que ele seja mesmo um bom rapaz.

A queda se extinguiu junto com minha consciência, e então, tudo o que eu senti depois foi um grande e doloroso baque na lateral do meu corpo. Talvez pelo impacto, eu pude abrir meus olhos. Estava tudo escuro e a escuridão se movia de forma espectral. Quando dei por mim, não podia respirar, e só quando meu corpo subiu para a superfície foi que entendi onde eu estava. No mar. Uma onda grande de tempestade disparou em minha direção. Meu corpo dolorido e mole só pode recebê-la. De repente, tive a impressão de ouvir meu nome.

Droga! Eu me joguei! Que porcaria que eu fiz?!

Talvez o que Edward disse seja verdade: eu não posso acabar com minha vida. Vejo isso na força que estou fazendo (inutilmente) para me manter viva, nem que seja por mais um fio de respiração. Eu não estou lutando para continuar lutando, mas estou simplesmente agindo por instinto, o que talvez signifique que eu não posso aceitar a morte...

De repente, minhas costas se chocaram em algo duro, outra onda veio e eu fui pra baixo...

 

Estava frio. Impossivelmente frio. Minha garganta estava seca e meus lábios doíam desidratados. Eu sentia doer atrás de meus olhos, mas mesmo assim forcei para abrí-los. Eu vi o céu. Parecia o céu de Forks à noite, um céu brabo e carrancudo. Talvez eu dissesse que era mesmo o céu de Forks se eu não soubesse que tinha morrido, e que seria impossível estar em Forks depois de morta.

Droga, eu nem pude me despedir de minha mãe... De Charlie...

­– Bella? – pude ouvir.

Eu ouvi meu nome? De diabo de morte é essa? Eu não deveria descansar em paz?

De repente, uma mão gelada segurou meu rosto e virou-o para o lado, num movimento que eu tinha esquecido de que podia fazer. Vi então algo além de céu: a praia. Quando firmei minha vista mais perto de mim, enxerguei de forma embaçada, Edward, deitado ao meu lado, na areia. Ele estava olhando pra mim, e seu rosto estava cansado e molhado, assim como ele todo.

Bem, se estou morta, por que ele está aqui? Com certeza eu não tinha ideia, mas gostei de vê-lo, me fazia ter a fina esperança de voltar a trás. Edward parecia tão vivo...

De repente, Edward sorriu um sorriso torto e cansado, ainda olhando pra mim. Parecia que ele não tinha ideia do que estava havendo, assim como eu. Reparei, então, nos olhos dele – nunca tinha visto que eram verdes! – na pele incrivelmente branca dele, que aparentava uma textura lisa e uniforme... Edward tinha um rosto longo e mandíbula forte, um nariz reto e olhos simétricos. Parecia, pelo menos aqui, como uma escultura em gesso: branco e gelado, mas bonito, e delicadamente másculo também.

Céus! Depois de morta é que eu vou me interessar pela beleza do cara que, em vida, dividiu o quarto comigo? Sinceramente, Bella, Rosely talvez tenha razão em pensar que você tem algum desvio no cérebro.

Debilmente comecei a rir de mim mesma. Edward riu também.

– O-o... – tentei falar. Fiquei ridiculamente feliz por ver que consegui. Entusiasmada, joguei pra fora a primeira frase que me apareceu: – Cara, você é bonito...

Mesmo depois de morta, eu não sabia que a gente ainda podia se sentir envergonhada. Meu rosto esquentou e formigou. Enquanto Edward riu de novo.

– É bom ver que está viva, mesmo que um pouco débil! – ele falou, divertido e sarcástico.

– Hei! O que disse? Você pode falar? – perguntei surpresa.

– Bella, é claro que eu posso falar! Onde pensa que está? – disse ele, sentando-se com dificuldade.

– Esse aqui não é o céu? Ou algum estágio entre ele e a Terra? – Edward gargalhou. – Eu morri! Você não deveria desaparecer daqui? Fala sério! Nem na minha morte você para de se intrometer!

– Bella, - Edward falou entre risadas, – você não está morta! Felizmente você está viva!

O QUE? VIVA? Não é possível!

– M-m-mas...

– Eu tirei você do mar, não lembra? – Edward prosseguiu, ficando preocupado, provavelmente pensando que eu enlouqueci.

Não! Droga! Então eu acabei de dizer pra um Edward vivo que eu o achava bonito?!!!!!  Céus! Só estando débil mesmo!

– Bella, agora, falando sério, você pode se levantar? Sabe, estamos na praia e você precisa de um médico... – Edward disse cuidadoso.

Pelo menos ele não falou em nada constrangedor, nem persistiu na minha loucura. Tentei, então, fazer o que ele disse, mas não havia meios de suportar a dor que havia no meu corpo, quando eu tentava movê-lo.

– Tudo bem, tudo bem, não se esforce mais. – ele interveio. – Deixa... Deixa-me ver uma coisa...

Edward se aproximou de mim e apalpou as laterais de meu corpo. Tentei protestar, mas ele se afastou antes, bem a tempo de ouvir um grande palavrão da minha boca.

– Você está com algumas costelas quebradas, - ele informou com preocupação maior. Senti minha cabeça girar um pouco, e enjoei. – Calma Bella, fica tranqüila, eu vou ver o que dá pra fazer... Consegue dizer pra mim onde estamos?

Olhei em volta com dificuldade.

– Acho que é La Push... – informei. – É uma reserva, e Jake mora aqui, em algum lugar pela estrada... Dá pra achar a casa dele. Eu espero aqui...

– Mas você não sabe de nenhum hospital? – Edward perguntou. Sem querer ser paranóica a essa altura, mas posso jurar que Edward, pelo jeito, não gostava de Jacob.

– Nessas condições, dificilmente chegaríamos lá.

Edward expirou, como se desestressasse.

– Certo, me deixa ajudar você.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Aposto que vai ter coisa por aí... Por favor, mão deixem de dar uma opiniãozinha... É sério, isso é essencial pra meu combustível. Espero que tenha agradado...
Beijinho!
Mila.