Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 24
A Decisão de Frodo!


Notas iniciais do capítulo

Presente de dia dos pais!



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O décimo dia de viagem chegava ao fim. As Terras Ermas estavam atrás de nós. Agora não podíamos mais avançar sem escolher entre o caminho do Leste e o do Oeste. O último estágio da Demanda estava diante de nós.

Aragorn conduziu-nos pelo braço direito do Rio. Ali, na margem Oeste, sob a sombra do Tol Brandir, um gramado verde corria para a água, vindo dos pés do Amon Hen.

—Descansaremos aqui esta noite. -disse Aragorn. -Este é o gramado de Parth Galen: um belo lugar nos dias de verão de antigamente. Esperemos que ainda nenhum mal tenha chegado até aqui.

Arrastamos os barcos através dos verdes barrancos das margens e ao lado deles montamos acampamento. Montamos guarda , mas não ouvimos nem vimos sinais dos inimigos.

Se Gollum tivera êxito em segui-nos permanecia escondido e em silêncio.

Apesar disso, à medida que a noite avançava, Aragorn foi ficando inquieto, freqüentemente se agitando durante o sono e acordando. Durante a madrugada, levantou-se e veio até  mim que estava de guarda.

—Por quê está acordado?

—Algo está obscuro está se aproximando de nós. -falou fitando-me. -Sente algo Aura?

—Sim, assim como você, sinto que os inimigos estão perto.

—Vá descansar um pouco. Ficarei de guarda agora. 

Legolas abriu espaço para mim assim que me deitei, e abraçou-me carinhoso.

—Não deveria está acordado Legolas. -ele apenas sorriu e me puxou para si, me mantendo segura em seus braços.

Meu sono assim como o de Aragon foi agitado, sombras difusas iam e vinham, até que o mago branco entrou em foco.

Uma criatura horrenda se mantinha ereta a sua frente, enquanto este o arrodeava admirando-o.

—Você sabe como os orcs surgiram? -perguntou seriamente o mago branco a criatura. -Eles já foram elfos.

Os olhos verdes lodo da criatura fitava-no, seus dentes afiados cresciam disforme, e saliva negra descia entre eles perpassando sua boca e caindo por seu tronco. Sua cor ficava entre o azul petróleo e o negro, seus cabelos longos e ralos desciam por seu ombro. Seu corpo grande e torneado estava coberto por uma camada molhada, como se este tivesse acabado de sair de um ovo. Ele era obviamente maior e mais forte que o mago, mas a forma como se portava a sua frente demonstrava claramente a obediencia que sentia.

—Tomados pelos poderes escuros, torturados e mutilados. Uma forma de vida arruinada e terrível. -os olhos da criatura se mexiam curiosos, como se procurassem entender as palavras do mago. -Agora aperfeiçoada. Meu guerreiro Uruk-Hai. A quem você serve?

—Saruman. -disse ele, e sua voz era rouca e sombria.

Logo eu vi o mesmo guerreiro com mão branca em seu rosto, como um símbolo de guerra enquanto esse rugia para um exercito de orcs, que eram marcados da mesma forma. 

—Cacem-nos, e não parem até que os encontrem. -gritava o mago. -Vocês não conhecem a dor. Não conhecem o medo. Vocês provarão carne humana. -gritos de guerra eram ouvidos por todo o lugar.

Mas o mago se virou calmamente para o orc ao seu lado, e falou numa voz baixa e maliciosa. 

—Um dos pequenos carrega algo muito valioso. E a apenas uma mulher com eles. Traga-os vivos e ilesos para mim. -o mago fitava a criatura com grande seriedade. -Mate os outros.

Acordei com um sobressalto, e por sorte estava sozinha ali.

O dia já tinha começado, e meus amigos já trabalhavam no café.

—A estrada para Minas Tirith é a mais segura. -ouvi Boromir dizendo a Aragorn  e me levantei. -Você sabe disso. De lá podemos reagrupar-nos. Atacar Mordor a partir de uma posição de força.

—Não há nenhuma força em Gondor que possa nos ajudar. -Aragorn disse sabiamente.

—Você confiou rapidamente nos elfos. -acusou Boromir revoltado e eu me dirigi até eles, mas fui parada por Legolas. -Tem tão pouca fé em sua própria gente? Sim há fraqueza, há fragilidade. Mas também a coragem e honra a ser descoberta nos homens. Mas você não vera isso. -ele quase gritava, e Aragorn o olhava entediado. -Você tem medo. -ele puxou nosso líder pela barra da camisa e este o olhou finalmente puto. -Toda a sua vida você se escondeu nas sombras. Com medo de quem você é, do que você é. -Aragorn se soltou dele, e com um olhar mortal o respondeu.

—Eu não conduzirei o Anel diante de centenas de aliados de sua cidade. -sua voz foi clara e precisa, e este saiu dali deixando Boromir sem palavras.

Vi Frodo deitado, parecia pensar profundamente no que ouviu, mas nada disse.

—Preciso conversar com você e Aragorn. -disse a Legolas tocando sua mão, e este afirmou.

—Vamos dar-lhe uns minutos, não muito pois não acho que tenhamos tanto. -disse ele olhando ao nosso redor com cuidado. -Mas o suficiente para que ele se acalme um pouco.

—Certo. -suspirei resignada. -Você está preocupado que o inimigo esteja próximo. -ele afirmou sem me olhar, pois seus olhos esquadrinhavam a floresta a frente com cuidado.

Esperamos alguns momentos na borda da floresta, mas antes que fossemos chamar o guardião, este veio a nós preocupado.

—Acho melhor irmos embora agora. -Legolas ditou antes mesmo de Aragorn falar.

—Não. -o guardião foi resoluto. -Orcs patrulham a margem Leste, precisamos esperar escurecer. E também decidir para onde vamos.

—Não é a margem Leste que me preocupa. -o elfo parecia extremamente preocupado. -A sombra de uma ameaça cresce em minha mente. Alguma coisa se aproxima, posso sentir. 

—Aura, o que você nos diz. -ambos me olharam esperando uma resposta e eu suspirei mais uma vez.

—Devemos decidir para onde ir, disso temos certeza, mas concordo com Legolas, não podemos ficar muito mais aqui Aragorn, não quando estamos sendo caçados por criaturas que vocês desconhecem. -ambos me olharam aturdidos, e eu os contei o que tinha visto em meu sonho. -Não foi um sonho, disso tenho certeza. Aquelas coisas estão aqui e estão nos caçando.

—Eles não vão tocar em você. -Legolas veio até mim tocando meu rosto de leve.

—Nem em você, nem nos pequenos. -ditou Aragorn.

—Não temo por minha vida. -toquei na mão de Legolas e os olhei firme. -Temo por todos nós. 

Depois daquilo nos separamos e todos fomos comer, e só após isso Aragorn nos reuniu.

—Finalmente o dia chegou. -disse ele. -O dia da escolha que adiamos por tanto tempo. Que será agora de nossa Comitiva, que viajou até aqui como uma sociedade. Devemos rumar para o Oeste com Boromir e nos dirigir para as guerras de Gondor, ou rumar para o Leste em direção ao Medo e à Sombra, ou devemos ainda romper nossa sociedade e ir por este ou aquele caminho, como cada um escolher? O que quer que façamos deve ser feito logo. Não podemos permanecer aqui por muito tempo. Sabemos que o inimigo está na margem Leste, mas receio que os orcs possam já estar deste lado do Rio.

Fez-se um longo silêncio, durante o qual ninguém disse nada ou se mexeu.

—Bem, Frodo. -disse Aragorn por fim. -Receio que o fardo recaia sobre seus ombros. Você é o Portador, nomeado pelo Conselho. Só você pode escolher seu próprio caminho. Neste assunto, não posso aconselhá-lo. Não sou Gandalf, e embora tenha tentado desempenhar o papel dele, não sei que desígnio ou desejo ele tinha para este momento, se é que na verdade tinha algum. Parece mais provável que, mesmo que ele estivesse aqui agora, a escolha ainda seria sua. É o seu destino.

Frodo não respondeu de imediato. Depois falou devagar.

—Sei que precisamos nos apressar, e mesmo assim não consigo fazer uma escolha. O fardo é pesado. Dê-me mais uma hora, e então falarei. Deixem-me sozinho.

Aragorn olhou-o com pena e carinho.

—Muito bem, Frodo, filho de Drogo. -disse ele. -Você terá sua hora, e ficará sozinho. Vamos ficar aqui por um tempo. Mas não se perca e nem se afaste demais.

Frodo ficou sentado por um momento, com a cabeça abaixada. Sam, que estivera observando seu patrão com grande preocupação, balançou a cabeça e murmurou:

—Está tudo claro como água, mas não seria bom Sam Gamgi meter o bedelho neste momento.

Naquele instante, Frodo levantou-se e se distanciou, Sam assim como eu, viu que, enquanto os outros se contiveram e não olharam para Frodo, os olhos de Boromir o seguiram atentamente, até que ele sumisse de vista por entre as árvores ao pé do Amon Hen.

Todos ficaram ali, mas logo começaram a discutir, contudo meus olhos estavam presos em Boromir, esperando seus próximos passos. Algo me dizia que ele iria aprontar, pois era notável seu transtorno emocional naquele momento.

—O que Frodo escolheria fazer? Por que estaria hesitando? -ouvi alguém dizer.

—Acho que ele está pensando qual caminho proporcionaria menos esperanças. -disse Aragorn. -E tem motivos para isso. Agora há menos esperanças do que nunca de a Comitiva ir para o Leste, já que fomos seguidos por Gollum, e devemos temer que o segredo de nossa jornada já tenha sido traído. Mas Minas Tirith não fica mais perto do Fogo e da destruição do Fardo. -Podemos ficar lá algum tempo, e manter uma resistência corajosa, mas o Senhor Denethor e seus homens não podem ter esperanças de conseguir fazer o que até Elrond disse estar acima de seu poder, ou manter o Fardo em segredo, ou conter toda a força do Inimigo quando ele vier buscá-lo. Que caminho qualquer um de nós escolheria no lugar de Frodo? Não sei. Na verdade, este momento é o que mais nos faz sentir falta de Gandalf.

—Nossa perda foi imensa. -disse Legolas. -Mesmo assim, devemos tomar uma decisão sem a ajuda dele. Por que não podemos decidir, e dessa forma ajudar Frodo? Vamos chamá-lo de volta e fazer uma votação! Votarei para Minas Tirith.

—Eu também. -disse Gimli. -É claro que nós só fomos enviados para ajudar o Portador ao longo da estrada, e para acompanhá-lo até o ponto que quiséssemos, e que nenhum de nós está sob juramento ou ordem que determine que devemos procurar a Montanha da Perdição. Foi difícil para mim a despedida de Lothlórien. Apesar disso, cheguei até aqui, e digo o seguinte: agora que chegamos à última escolha, está claro para mim que não posso abandonar Frodo. Eu escolherei Minas Tirith, mas se ele não fizer a mesma escolha, vou segui-lo.

—E eu também irei com ele. -disse Legolas.-Seria desleal dizer adeus agora.

—Eu não votaria em Minas Tirith tão rapidamente, o caminho mais fácil geralmente não é o melhor. -eles me olharam, e nesse momento eu vi Boromir partir, sem dá atenção ao que dizíamos. -Mas não foi dada a mim essa escolha, e concordo com você Legolas, que deixá-lo só seria desleal nesse momento.

—Na verdade, seria uma traição, se todos nós o abandonássemos. -disse Aragorn. — Mas se ele for para o Leste, então não é preciso que todos o acompanhem: nem eu acho que todos deveriam. Essa aventura é desesperada, tanto para oito, para três, como para uma única pessoa. Se me deixassem escolher, eu apontaria três companheiros: Sam, que não suportaria se fosse de outra forma, Gimli e eu. Boromir retornará a sua própria cidade, onde seu pai e seu povo precisam dele, com ele os outros deveriam ir, ou pelo menos Meriadoc e Peregrin, se Legolas não tiver intenções de nos abandonar. Mas sei que sua intenção nesse momento é proteger Aura, e irá para onde ela for. Mas Aura, À você eu digo de coração, não acho sensato que siga o Anel daqui em diante, o mal vem por vocês dois.

Não lhe respondi, apenas o fitei por uns instantes, antes de sair dali. Legolas iria me seguir, mas o parei com um aceno de mão. Eu iria decidir sozinha quando o momento chegasse, mas por hora eu seguiria Boromir. Peguei meu arco e a aljava e adentrei a floresta.

—Isso não vai dar certo de modo algum! -gritou Merry. -Não podemos deixar Frodo! Pippin e eu sempre quisemos acompanhá-lo aonde quer que fosse. E ainda queremos. Mas não percebíamos o que isso significava. Tudo parecia diferente lá longe, no Condado ou em Valfenda. Seria loucura e crueldade permitir que Frodo fosse para Mordor. Por que não podemos detê-lo?

—Devemos detê-lo. -disse Pippin. -E tenho certeza de que é isso que o preocupa. Ele sabe que não concordaremos com sua ida para o Leste. E não lhe agrada pedir que qualquer um de nós o acompanhe, o pobre camarada. Imagine, ir para Mordor sozinho! -Pippin estremeceu. -Mas o velho e tolo hobbit tem de saber que não será preciso pedir. Tem de saber que, se não conseguirmos detê-lo, não vamos abandoná-lo.

—Desculpe-me. -disse Sam, e sua voz já ficava longe para mim ouvi-lo direito. -Acho que não estão entendendo meu patrão de forma alguma. Ele não está hesitando sobre que caminho tomar. Claro que não! Qual seria a vantagem de Minas Tirith, sim eu concordo com Aura, e sei que o senhor Frodo também! Quero dizer, para ele, se o senhor me desculpa, mestre Boromir... -acrescentou ele. Foi nesse momento que descobriram que Boromir, que primeiro estivera sentado em silêncio fora do círculo, não estava mais lá.

—Agora, aonde ele foi? — gritou Sam. 

Eu segui floresta adentro, pelo caminho que eu tinha visto ele ir. Não sabia como os outros tinham seguido com aquela conversa, e não me importava. No fim era Frodo quem decidiria. Mas eu sabia que não poderíamos mais continuar juntos, não com Boromir, o desejo pelo Anel já o havia consumido quase que completamente, e isso me preocupava. Pois se ele tinha seguido Frodo, eu temia pelo pior.

Andei cerca de 15 minutos, e quando achei que não os acharia mais, finalmente ouvi a voz de Boromir e me aproximei me escondendo nas árvores ali.

—Estava preocupado com você, Frodo. -disse ele, chegando mais perto do Hobbit. -Se Aragorn tem razão e os orcs estiverem nas proximidades, então nenhum de nós deve vagar sozinho, e você menos ainda, muita coisa depende de você. E meu coração também está pesado. Posso ficar agora e conversar um pouco, já que o encontrei? Isso me consolaria. Onde há muita gente, qualquer conversa se torna um debate sem fim. Mas duas pessoas juntas Podem talvez encontrar a sabedoria.

—Você é gentil. -respondeu Frodo cansado. -Mas não acho que conversa alguma possa me ajudar. Pois sei o que devo fazer, mas tenho medo de fazê-lo, Boromir, tenho medo.

Boromir ficou em silêncio. As Cataratas de Rauros continuavam rugindo infinitamente.

O vento murmurava nos galhos das árvores. Frodo tremeu.

De repente, Boromir se aproximou e sentou-se ao lado dele.

—Tem certeza de que não está sofrendo sem necessidade? -disse ele. -Quero ajudá-lo. Você precisa de um conselho nessa difícil escolha. Aceita o meu?

—Acho que já sei que tipo de conselho você vai me oferecer, Boromir. -disse Frodo triste. -E eu poderia considerá-lo um sábio conselho, se não fosse pela advertência do meu coração.

—Advertência? Advertência contra quê? -disse Boromir abruptamente ficando mais revoltado.

—Contra a demora. Contra o caminho que parece mais fácil. Contra a recusa do fardo que é colocado sobre meus ombros. Contra... Bem, é melhor que eu diga, contra a confiança na força e na sinceridade dos homens.

—Apesar disso, essa força vem por muito tempo protegendo vocês em seu pequeno país, embora não soubessem disso.

—Não duvido do valor de seu povo. Mas o mundo está mudando. As muralhas de Minas Tirith podem ser fortes, mas não são fortes o suficiente. Se não aguentarem, o que pode acontecer?

—Pereceremos na batalha, valorosamente. Mas ainda existe esperança de que elas aguentem.

—Não há esperança enquanto o Anel continuar existindo. -disse Frodo sabiamente, e eu me senti orgulhosa dele.

—Ah! O Anel. -disse Boromir, com os olhos faiscando. -O Anel! Não é um destino estranho nós sofrermos tanto medo e dúvida por uma coisa tão pequena? Uma coisa tão pequena! E eu o vi apenas por um instante na Casa de Elrond. Poderia vê-lo um pouco outra vez?

Frodo levantou os olhos. De repente, meu coração gelou. E assim como eu, ele captou o brilho estranho no olhar de Boromir, apesar de seu rosto ainda se manter gentil e amigável.

—É melhor que ele fique escondido. -respondeu ele.

—Como quiser. Não me preocupo. -disse Boromir. -Mas não posso nem falar dele? Pois você parece estar sempre pensando só no poder do Anel nas mãos do Inimigo, em seus usos maléficos, e não nos bons. O mundo está mudando, você diz. Minas Tirith vai perecer, se o Anel perdurar. Mas por quê? Certamente seria assim se o Anel estivesse com o Inimigo. Mas por quê, se estivesse conosco?

—Você não estava no Conselho? -respondeu Frodo. -Porque não podemos usá-lo, e porque o que é feito com ele se transforma em malefício.

Boromir levantou-se e ficou andando de um lado para outro, impaciente.

—Você continua dizendo isso. -exclamou ele. -Gandalf, Elrond... todos esses lhe ensinaram a falar desse modo. Em relação a eles próprios, podem estar certos. Esses elfos e meio-elfos e magos, eles talvez fracassassem. Apesar disso, ainda tenho dúvidas se são sábios, e não apenas tímidos. Mas cada um é do seu modo. Homens de coração sincero, estes não serão corrompidos. Nós, de Minas Tirith, temos permanecido firmes através de longos anos de provações. Não desejamos o poder dos senhores dos magos, só a força para nos defendermos, a força numa causa justa. E veja! Em nossa necessidade, o acaso traz à luz o Anel de Poder. É uma dádiva, eu digo, uma dádiva aos inimigos de Mordor. É loucura não fazer uso dela, não usar o poder do Inimigo contra ele mesmo. Os corajosos, os destemidos, só estes conseguirão a vitória. O que não poderia fazer um guerreiro nesta hora, um grande líder? O que Aragorn não poderia fazer? Ou, se ele se recusar, por que não Boromir? O Anel poderia me dar poder de Comando. Como eu poderia rechaçar os exércitos de Mordor, e todos os homens seguiriam minha bandeira!

Boromir andava para cima e para baixo, falando cada vez mais alto.

Parecia quase que tinha esquecido de Frodo, enquanto sua fala se detinha em muralhas e armas, e no ajuntamento de tropas de homens, fazia planos para grandes alianças e gloriosas vitórias futuras, e destruía Mordor e se tornava um rei poderoso, benevolente e sábio. De repente, parou e agitou os braços mostrando em fim sua completa loucura.

—E eles nos dizem para jogá-lo fora! -gritou ele. -Não digo destruí-lo. Isso seria bom, se racionalmente pudéssemos ter alguma esperança de fazê-lo. Mas não podemos. O único plano proposto é que um pequeno deva andar cegamente para dentro de Mordor e oferecer ao Inimigo todas as chances de recapturá-lo. Loucura!

—Certamente você está entendendo, meu amigo? -disse ele, voltando-se agora de repente para Frodo outra vez. -Você diz que está com medo. Se é assim, os mais corajosos devem perdoá-lo. Mas não seria na verdade o seu bom senso que se revolta?

—Não, estou com medo. -disse Frodo. -Simplesmente com medo. Mas estou feliz por ter ouvido você falar tão abertamente. Minha mente agora está menos confusa.

—Então você virá para Minas Tirith? -gritou Boromir, com os olhos brilhando e o rosto ansioso.

—Você não está me entendendo. -disse Frodo.

—Mas você virá, pelo menos por um tempo? -persistiu Boromir. -Minha cidade não está longe agora, e a distância de lá até Mordor é um pouco maior do que se partíssemos daqui. Faz tempo que estamos viajando por lugares desertos, e você precisa saber o que o Inimigo está fazendo antes de tomar uma decisão. Venha comigo, Frodo. -disse ele alucinado. -Você precisa descansar antes de sua aventura, se é que precisa mesmo ir. -colocou a mão no ombro do hobbit de um modo amigável, mas eu vi a mão tremendo com uma agitação contida. 

Frodo deu um passo abrupto para trás, e olhou alarmado para aquele homem alto, com quase o dobro de seu tamanho e muitas vezes mais forte que ele.

—Por que essa hostilidade? -perguntou Boromir. -Sou um homem sincero. Não sou ladrão nem perseguidor. Preciso de seu Anel, agora você já sabe, mas dou-lhe minha palavra de que não pretendo ficar com ele. Você não permitiria pelo menos que eu tentasse pôr em prática meu plano? Empreste-me o Anel!

Puxei uma flecha a ajeitando no arco e tentei mirar, se fosse preciso eu atiraria, eu protegeria Frodo.

—Não! Não! -gritou Frodo. -O Conselho designou-me como Portador.

—É por nossa própria tolice que o Inimigo vai nos derrotar. -gritou Boromir. -Isso me enfurece! Tolo! Tolo obstinado! Correndo de livre e espontânea vontade em direção à morte, e arruinando nossa causa. Se algum mortal tem o direito de reivindicar o Anel, esse direito pertence aos homens de Númenor, e não aos pequenos. O direito não é seu, exceto por um acaso infeliz. Podia ter sido meu. Devia ser meu. Dê-me o Anel!

Frodo não respondeu, mas se afastou até que a grande pedra plana ficasse entre eles.

—Vamos, vamos, meu amigo! -disse Boromir numa voz mais suave. -Por que não se livrar dele? Por que não se libertar de sua dúvida e de seu medo? Você pode colocar a culpa em mim, se quiser. Pode dizer que eu sou forte demais e o tomei à força. Porque eu sou forte demais para você , pequeno. -gritou ele, e de repente subiu na pedra e saltou sobre Frodo.

Seu rosto antes falsamente belo e agradável estava terrivelmente transformado, um fogo feroz lhe queimava os olhos.

Frodo recuou e outra vez a pedra ficou entre os dois. Só havia uma coisa que eu podia fazer, eu precisava atirar, mas antes que eu o fizesse, Frodo tremendo, tirou o Anel da corrente e colocou-o depressa no dedo, no exato momento em que Boromir saltava de novo em sua direção.

O homem ficou atônito, olhando surpreso por um momento, e depois correu em volta do lugar, ensandecido, procurando aqui e ali por entre as rochas e árvores.

—Trapaceiro miserável! -gritou ele. -Deixe-me colocar as mãos em você! Agora entendo o que pretende. Levará o Anel para Sauron e nos venderá a todos. Só estava esperando uma oportunidade para nos deixar em apuros. Amaldiçoo você e todos os pequenos com a morte e a escuridão!

Então, tropeçando numa pedra, caiu e esparramou-se de rosto no chão. Por um momento, ficou parado como se sua própria praga o tivesse atingido, depois, de repente, começou a chorar. Levantou-se passando a mão nos olhos, limpando as lágrimas.

—O que eu disse? -gritou ele. -O que eu fiz? Frodo, Frodo! -chamou ele. -Volte! Uma loucura tomou conta de mim, mas já passou. Volte!

Não houve resposta. Frodo nem ouviu seus gritos. Já estava longe, saltando cegamente pela trilha, em direção ao topo da colina.

Respirei aliviada e coloquei a flecha no lugar saindo de meu esconderijo. Boromir me olhou assustado, e depois se levantou como se novamente estivesse dominado pela raiva.

—Você, a culpa é sua...

—Pelo quê? Por não tomar o Anel daquele que jurei proteger? -disse tão simplesmente que aquilo o pegou de surpresa. -Eu jamais traí meus amigos Boromir. 

—Você não sabe o que está falando, é amante dos elfos, dorme como um como uma meretriz, esquecendo-se de seu povo, jogando sua raça na lama.

—Meu povo? -o olhei acida. -Que eu saiba nenhum de você é "meu povo". Eu não pertenço a essa terra, eu não devo nada a nenhum dos humanos. Pertencermos a mesma raça, apenas me faz ter vergonha, pois eu jamais trairia a confiança de todos assim. Você fala mal dos elfos, escarneia os hobbits e os anões, se vangloria abertamente de sua força, mas foi o primeiro e o único a se deixar dominar pelo poder do anel.

—Hora sua... -ele veio para cima de mim e eu puxei meu punhal. -Você sabe bem que não pode contra mim, e Legolas não está aqui para te proteger dessa vez. -eu sorri.

—Acho que você se esqueceu quem eu sou Boromir, se esqueceu dos poderes que tenho. -sorri quando ele me olhou taciturno. -Mas se eu fosse você, eu não cometeria mais nenhum ato que vá se arrepender, você já se envergonhou demais. Volte e conte a verdade aos outros. Eu vou com Frodo, para onde ele for, mas acho que nossos caminhos se separam aqui.

—Eu irei, mas acredito que você não terá mais sorte que eu em sua empreitada. -o olhei quando esse passou por mim rindo com escarnio e loucura. 

Segui pelo caminha que Frodo tinha corrido, mas eu não precisava, o poder do Anel emanava forte naquele lugar, e eu sabia exatamente onde encontra-ló.

Corri colina acima sentindo o poder obscuro do anel, e quando finalmente o encontrei ele já tinha tirado o anel, e falava sozinho.

—Estão me procurando. -disse ele. -Pergunto-me quanto tempo fiquei ausente. Horas, eu acho. -Hesitou. -Que posso fazer? Devo ir agora, ou não irei nunca mais. Não terei outra oportunidade. Odeio a ideia de deixá-los, ainda mais desta forma, sem qualquer explicação. Mas certamente irão entender. Sam entenderá. E que mais posso fazer?

Me aproximei dele, e não demorou muito para este me ver, aturdido me olhou e tentou correr.

—Frodo espere. -ele parou me fitando. -Porque foge de mim, acaso acha que lhe faria algum mal?

—Não, mas sei o que pretende e não posso deixar que faça isso. -ele me fitou com aqueles olhos azul celeste.

—O que quer dizer?

—Em alguns não posso confiar, e aqueles em quem confio me são muito caros: o pobre Sam, e Merry e Pippin, você. Passolargo também, seu coração deseja ir para Minas Tirith, e ele será necessário lá, agora que Boromir foi tomado pelo mal. Irei sozinho. Imediatamente.

—Por que sozinho, por que não me deixa acompanha-ló, eu posso me proteger...

—Não, não pode. -sua seriedade me mostrava o quão resoluto estava. -Ambos sabemos que não tem força suficiente para resistir ao mal, que quanto mais nos aproximarmos de Mordor mais venenoso será para você Aura, você só me atrapalharia.

—Por que esta dizendo isso. -lágrimas começaram a cair, e ele pareceu se corroer por dentro, mas por fim se decidiu e veio até mim.

—Eu amo você Aura. Amo como jamais amarei alguém em minha vida. -aquilo me pegou totalmente de surpresa, e eu me ajoelhei no chão ficando a sua frente. -Se eu levasse você comigo, não seria por nada além de minha própria vontade de separa-lá de Legolas para tentar conquista-lá.

—Mesmo assim eu...

—Eu não me perdoaria se algo acontecesse a você por egoismo meu. -ele beijou minha bochecha com carinho. -Você é preciosa demais para mim. 

—Frodo eu... -ele tocou meu lábios me fazendo calar, e sorriu terno.

—Legolas protegerá você melhor do que eu jamais poderia. -lágrimas caiam de seus olhos também. -Não me siga Aura. Precisa me deixar partir.  -fiz que sim entendendo. -Obrigado. -ele beijou o topo de minha cabeça e saiu.

—Frodo... -o chamei e ele se virou para mim. -Lembre-se, até mesmo a menor das criaturas pode mudar o futuro. -ele afirmou. -Volte para mim, você ainda me deve um almoço em sua casa. -disse sorrindo enquanto limpava o rosto.

—Nada me dará mais prazer do que te-lá em minha casa. -ele se curvou. -Adeus Aura.

—Adeus Frodo!

E assim ele partiu floresta adentro me deixando ali no meio do nada, sem saber o que fazer...

 

 


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