Nunca brinque com magia! escrita por Lyana Lysander


Capítulo 21
O caminho a seguir!




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Ele segurou meu rosto, e me obrigou a olhá-lo.

—Eu estou aqui, eu estou com você, e prometo que nunca mais vou te deixar. -ele alisou minha bochecha com seu polegar, e com aquele leve toque eu já me sentia reconfortada. -Eu não vou permitir que nada de mal lhe aconteça. -ele disse firme, e seus olhos faiscaram, e antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ou entender o que estava acontecendo o elfo me beijou.

Seus lábios eram finos e macios como algodão, mas a força de seu beijo era única. Seu gosto doce e almíscarado não me remetia a nada conhecido, e ao mesmo tempo a tudo. Eu sentia como se minhas pernas fossem fraquejar a qualquer momento, mas ele me segurou pela cintura me puxando ainda mais para si. 

Meu coração batia como louco e eu tinha a sensação de que nunca mais queria larga-lo, nunca mais queria perder-lo ou me separar dele. Mas no momento em que esse pensamento se formou em minha cabeça, ele se afastou.

Nós olhávamos firmemente, ambos com o coração acelerado, mas as palmas ao nosso redor me tiraram do seu encanto.

—Parabéns meus amigos, já estava na hora de se resolverem. -olhei para Aragorn que nos sorria amplo.

Ao nosso redor muitos elfos se aproximaram para nós parabenizar. Pippin, Merry e Sam também nos felicitaram, e Gimli deu um tapa de felicitação nas costas de Legolas. Frodo nos saudou distante, e Boromir simplesmente saiu.

Logo todos se afastaram dando passagem a um dos guardas, e este pediu para que o seguíssemos pois o rei solicitava nossa presença. 

Legolas me estendeu a mão e eu a segurei firme, e assim todos nos dirigimos  ao salão de Celeborn, e ali o Senhor e a Senhora nos cumprimentaram com belas palavras.

E finalmente, Celeborn falou de nossa partida.

—É chegada a hora. -disse ele. -Em que aqueles que desejam continuar a Demanda devem endurecer seus corações e deixar esta terra. Aqueles que não mais desejam prosseguir podem permanecer aqui, por um tempo. Mas quer fiquem quer partam, a paz não pode ser assegurada. Pois chegamos agora ao limiar de nosso destino. Aqui, aqueles que desejarem podem esperar a aproximação da hora em que ou os caminhos do mundo se abrirão de novo, ou os convocaremos para a luta suprema de Lórien. Então poderão voltar às suas terras, ou ir para a morada duradoura daqueles que caem na batalha.

Fez-se silêncio.

—Todos resolveram partir.  -disse Galadriel, olhando nos olhos de cada um de nós.

—Quanto a mim. -disse Boromir. -Meu lar fica adiante, e não lá atrás.

—Isso é verdade. -falou Celeborn. -Mas toda a Comitiva vai com você para Minas Tirith?

—Ainda não decidimos nosso caminho. -explicou Aragorn. -Depois de Lórien, não sei o que Gandalf pretendia fazer. Na verdade, acho que nem ele tinha um propósito definido.

—Talvez não. -disse Celeborn. -Mas mesmo assim, quando deixarem este lugar, não poderão mais esquecer o Grande Rio. Como alguns de vocês bem sabem, os viajantes não podem atravessá-lo com bagagens entre Lórien e Gondor, a não ser de barco. E não estão as pontes de Osgiliath destruídas, e todos os desembarcadouros sob o domínio do Inimigo? -perguntou astutamente ele. -De que lado vão viajar? O caminho para Minas Tirith fica deste lado, no Oeste, mas a estrada da Demanda fica do lado Leste do Rio, na margem mais escura. Que margem pegarão agora?

—Se meu conselho for acatado, iremos pela margem Oeste, e pelo caminho de Minas Tirith. -respondeu Boromir. -Mas não sou o líder da Comitiva.  -nenhum de nós disse nada, e Aragorn parecia preocupado e cheio de dúvidas.

—Vejo que ainda não sabem o que fazer. -disse Celeborn. -Não é meu papel fazer essa escolha em seu lugar, mas vou ajudá-los como puder. Alguns entre vocês sabem lidar com barcos: Legolas, cujo povo conhece o veloz Rio da Floresta, Boromir de Gondor, e Aragorn, o viajante.

—E um hobbit! -gritou Merry. -Nem todos nós achamos que um barco é como um cavalo xucro. Meu povo mora às margens do Brandevin.

—Isso está bem. -disse Celeborn. -Então providenciarei barcos para a sua Comitiva. Devem ser pequenos e leves, pois se avançarem muito pela água haverá lugares onde serão forçados a carregá-los. Chegarão às correntezas do Sarn Gebir, e talvez finalmente às grandes cachoeiras de Rauros, onde o Rio cai vertiginosamente do Nen Hithoel, e lá há outros perigos. Os barcos podem fazer com que sua viagem seja menos penosa durante um certo trecho. Apesar disso, eles não vão ajudá-los a decidir. No fim, devem abandoná-los e ao Rio, e rumar para o Oeste ou para o Leste.

Aragorn agradeceu a Celeborn várias vezes. Eu entendia que a doação dos barcos o consolava por vários motivos, e não menos por agora poderem postergar por mais uns dias a decisão sobre qual caminho seguir. Os outros, da mesma forma, pareciam mais esperançosos. Quaisquer que fossem os perigos à frente, parecia melhor descer flutuando a larga correnteza do Anduin para enfrentá-los, do que prosseguir num caminho penoso com as costas arcadas. Apenas Sam parecia que ainda tinha dúvidas, ele, de qualquer forma,  considerava que os barcos eram como cavalos selvagens, ou piores, e nem todos os perigos pelos quais tínhamos passado mudavam sua ideia a esse respeito.

—Prepararemos tudo, e vocês serão esperados no porto antes do meio-dia amanhã. -disse Celeborn. -Enviarei pessoas pela manhã para que possam ajudá-los nos preparativos da viagem. Agora desejamos -lhes uma boa noite e um sono tranquilo.

—Boa noite, meus amigos! -disse Galadriel. -Durmam em paz! Esta noite, não sobrecarreguem seus corações pensando no melhor caminho. Pode ser que as trilhas nas quais cada um de vocês deve pisar já estejam diante de seus pés, embora talvez não consigam enxergá-las. Boa noite! 

Saímos dali e voltamos direto para o pavilhão. Legolas nos acompanhou, pois aquela deveria ser nossa última noite em Lothlórien, e apesar das palavras de Galadriel todos queriam ficar juntos para planejar a viagem.

E por um longo tempo, eles debateram sobre o que deveríamos fazer, e sobre o melhor modo de tentar atingir nossos propósitos em relação ao Anel. Mas não chegaram a decisão alguma. Estava claro que a maioria deles desejava ir primeiro até Minas Tirith e escapar, pelo menos por um tempo, do terror do Inimigo. Estariam dispostos a seguir um líder através do Rio e para dentro da sombra de Mordor, mas Frodo não dizia nada e Aragorn ainda estava dividido.

Eu, como Frodo, fiquei apenas observando a discussão, pois para mim eu seguiria apenas Aragorn. 

Eu sabia que o plano de Aragorn, enquanto Gandalf ainda estava conosco, era ir com Boromir e, com sua espada, ajudar a libertar Gondor. Pois ele acreditava que a mensagem dos sonhos era um chamado, e que tinha chegado finalmente a hora em que o herdeiro de Elendil deveria se apresentar e lutar contra Sauron pelo comando. E eu não discordava disso. Mas em Moria o fardo de Gandalf passara para seus ombros, e ele sabia que não podia agora abandonar o Anel, se Frodo finalmente se recusasse a acompanhar Boromir. Apesar disso, que ajuda poderia ele ou qualquer um de nós prestar a Frodo, a não ser caminhar ao seu lado para dentro da escuridão?

Eu sabia que assim como eu, Aragorn não o abandonaria.

—Irei para Minas Tirith, mesmo que vá sozinho, pois este é meu dever. -disse Boromir, e depois ficou calado por um tempo, sentado com os olhos fixos em Frodo, como se tentasse ler os pensamentos do Pequeno. Finalmente falou de novo, numa voz suave, como se estivesse discutindo consigo mesmo. -Se você quer apenas destruir o Anel. -disse ele numa voz mansa. -Então não haverá muita utilidade na guerra e nas armas, e os homens de Minas Tirith não poderão ser de grande ajuda. Mas se você deseja destruir a força armada do Senhor do Escuro, então é tolice avançar pelos domínios dele sem armas, é tolice jogar fora... -parou de repente, como se tivesse percebido que estava pensando em voz alta. -Seria tolice jogar fora vidas, quero dizer. -terminou ele. -É uma escolha entre defender um lugar forte e caminhar abertamente para os braços da morte. Pelo menos é assim que vejo as coisas.

Frodo assim como eu percebeu algo novo e estranho no olhar de Boromir, e olhei-o fixamente. Estava claro que o pensamento de Boromir divergia de suas últimas palavras, Seria tolice jogar fora: o quê? O Anel de Poder? Ele tinha dito algo semelhante no Conselho, mas na ocasião aceitara a correção de Elrond. Frodo olhou para Aragorn, mas este parecia estar mergulhado em seus próprios pensamentos, e não fez sinal de que prestara atenção às palavras de Boromir.

—Suas palavras me parecem estranhas Boromir. -ele me olhou frio. -Todos aqui escolheram esse caminho, e nada nos impede de parar onde quissemos e voltar. Mas o Anel deve ser destruído. -ele iria falar algo mais eu continuei. -Se vidas serão perdidas, isso não é culpa do portador nem dessa comitiva. O único culpado é Sauron. E usar o Anel como arma, é o mesmo que entrega-ló de bandeja a esse. Seu coração não resistiria ao desejo, e você sucumbiria a ele. -ele me olhou furioso e saiu dizendo que jamais tinha dito algo assim. E assim a discussão terminou. Merry e Pippin já estavam dormindo, e Sam caindo de sono.

 A noite avançava.

—Você e Boromir realmente não conseguem conviver juntos. -o elfo ao meu lado disse sorrindo.

—Ele está cedendo ao desejo Legolas, eu posso sentir. -o elfo veio até mim e me abraçou.

—Já era esperado, ele desejou o Anel desde o primeiro momento. -fiz que sim. -Mas vamos dormir, temos muito a fazer pela manhã.

—Você vai dormir comigo? -eu quase morri por perguntar aquilo, e meu rosto esquentou na mesma hora.

—Posso dormir em outro lugar se não se sentir confortável. -ele disse tranquilo.

—Não. -sussusrei e ele sorriu.

No fim acabamos nos deitando juntos como antes, e eu me escondi em seu peito.

Eu sabia que ele me olhava com um sorriso nos lábios, e eu me sentia tão envergonhada que não sabia como reagir aquela situação.

Nunca tinha sido a menina dos sonhos de ninguém, não havia namorado, e o meu primeiro amor me largou pela minha inimiga, então o que eu deveria fazer, o que dizer?

—Você está estranhamente quieta e calada Aura. -ele me fitou curioso, mas depois seu rosto se transformou. -Eu fui desrespeitoso por ter te beijado daquela forma, sinto muito, deveria ter perguntado e...

Toquei seu peito suspirando.

—Não foi. -alisei de leve o local ali, sentindo a textura de sua roupa. -É só que eu não sei como agir agora. -o olhei por enfim, tentando sorrir. -Quando eu finalmente percebo que gosto de você, tudo vira uma bagunça, e no fim, você me beija e eu... -rir desconsertada. -É bom demais para ser verdade, sinto que estou sonhando. 

—Não está! -ele me abraçou e depois sorriu. -Porque que se for um sonho, não quero acordar, não agora. Não quando em fim percebeu o que sente por mim. -o olhei curiosa. -Há muito que eu compreendi que estava apaixonado por você, mas tive dúvidas de como seguir, já que você me via apenas como amigo. E depois de chegarmos aqui e falarmos com a senhora Galadriel tudo ficou pior.

—Ela também falou com você sobre nós? -ele confirmou. -Foi com o que ela me disse que percebi o que sentia por você. -ele assentiu. -Mas algo que ela me disse me intrigou. Ela falou sobre um elfo só amar uma pessoa na vida, ou algo assim.

—É a verdade, nos elfos só nos apaixonamos e amamos um único alguém a vida inteira. E esse é um dos motivos de elfos não se relacionarem com os homens. -eu me libertou de seu abraço o olhando de frente.

—Quer dizer que...

—Sim, meus sentimentos por você nunca mudarão Aura. -ele me fitava sério como nunca. -Mas se os seus mudarem, eu jamais usaria isso contra você. Se é isso que à preocupa. 

—Legolas, eu... -ele encostou nossas testas.

—Não escolhemos quem amar Aura, nos apaixonamos. E só de ter esse momento com você, já vale por toda a minha vida. -foi minha vez de abraça-lo.

Conversamos sobre muitas coisas antes de dormir, mas não tive coragem de lhe perguntar o que a senhora Galadriel lhe falou em nosso primeiro encontro. Se ele não quis me contar, era por que eu não deveria saber.

Eu ainda sentia a presença do Anel, mas estava menor, e nesse momento não me representava nenhum mal. Como se estar com ele me fizesse mais forte. E então eu entendi o que a senhora Galadriel quis me dizer. Eu não poderia deixar meu coração fraquejar mais, nunca mais.


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