Obscuro escrita por Benihime


Capítulo 8
Capitulo 7




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Cassie fumegava de raiva, furiosa por Nick ter se posicionado a favor de Nia. James decidira respeitar a opinião de seu irmão mais novo, o que fez com que a loira fosse voto vencido na discussão sobre irem embora daquele lugar.

— É sério, Nia! — A moça mais nova protestou. — Não estou sendo paranóica, tem alguma coisa errada nessa casa.

— Já falamos sobre isso, Cass. — Nia rebateu calmamente. — Estamos bem. Não tem nada aqui com o qual não possamos lidar.

— É o que você acha!

— O que foi, irmãzinha? — A morena finalmente cedeu à sua irritação, falando sarcasticamente. — Está com medo?

— Vá se danar, Nia!

— Já chega, Cassie! — James interrompeu, ao ver um gesto de frustração desajeitado da loira derrubar um dos vasos negros na mesa de centro. Por sorte, Nicolas o pegou antes que se espatifasse no chão. — Entendo que esteja zangada, mas agora você está exagerando.

Cassandra não respondeu, simplesmente se largou pesadamente em uma das poltronas, lançando à sua irmã um olhar de absoluto mau humor.

— Ei, dêem uma olhada nisso aqui. — Nick disse, erguendo um objeto prateado no ar. — Um anel. E, pelo jeito, parece que estava escondido dentro daquele vaso.

— Sério? — Nia se inclinou para a frente com interesse. — E como será que isso foi para aí?

— Essa casa já foi um hotel. — James lembrou. — Talvez o anel tenha pertencido a algum hóspede, que provavelmente o perdeu.

—É, isso faz bastante sentido. — A jovem morena concordou. — Venha cá, deixe eu ver esse anel mais de perto.

O rapaz atendeu ao pedido sem questionar, observando enquanto Nia girava a joia em suas mãos e a examinava sob todos os ângulos possíveis. James de repente estendeu uma das mãos e segurou-lhe o pulso.

— Eu já vi esse anel. — O homem mais velho declarou. — Em algum lugar. O engaste da pedra é muito familiar.

Nia se inclinou para ele, todo o seu rosto se iluminando em antecipação e curiosidade.

— Mesmo, James? — Ela inquiriu. — Onde?

— Eu não consigo me lembrar. — James respondeu. — Mas, por sorte, o anel foi claramente feito à mão por algum ourives. Tenho um amigo nesse ramo que talvez possa nos dizer mais.

— Isso é perfeito! Em quanto tempo você acha que conseguimos uma resposta?

— Dois ou três dias. — O homem ponderou. — Me deixe tirar algumas fotos, e logo saberemos.

— James. — Nia abriu um sorriso brilhante. — Eu já disse o quanto você é incrível?

Para divertimento de seu irmão mais novo, que caiu imediatamente na gargalhada, James corou violentamente com aquele elogio.

No dia seguinte, os dois irmãos chamavam as garotas em altos brados, de algum lugar no terceiro andar da casa. As jovens, que conversavam placidamente na varanda, entraram correndo. James as encontrou ao pé da escada e as conduziu até onde Nick os esperava.

— Encontramos uma passagem secreta. — O rapaz mais novo anunciou. — Vocês nem imaginam o que tem aqui!

A passagem se encontrava escondida atrás de uma antiga tapeçaria no  oposto do corredor ao que se encontrava o quarto ocupado por Nia. O cômodo a que ela levava era escuro e sem janelas, porém James e Nick haviam levado lanternas. O rapaz mais novo as conduziu imediatamente até o fundo do cômodo, que parecia ser uma espécie de galeria, e as duas ficaram paralisadas ao ver o quadro que a luz das lanternas revelou. 

— Olhem na mão direita dela. — James apontou. — É o mesmo anel.

— Está querendo dizer que o anel pertenceu a ela? — Nia soou absolutamente descrente. — Duvido muito, James. A julgar pelo estilo e o estado da pintura, aposto que esse quadro tem uns cinquenta anos. No mínimo.

— Acho melhor falarmos sobre isso lá embaixo. — O homem mais velho disse. — Tenho uns documentos que você vai querer ver.

Cassie e James saíram juntos, mas Nia não conseguiu se mover. Seus olhos continuavam grudados no quadro, mesmo sem luz para vê-lo. Nick se aproximou e tocou-lhe o ombro com delicadeza, fazendo-a pular de susto.

— Você está bem? — Ele inquiriu, com preocupação que parecia genuína.

— Sim. — Nia respondeu quase num sussurro. — É só … O quadro. É a minha mãe, Nicolas. Como isso é possível?

Nicolas a encarou com ainda mais preocupação, olhando-a com olhos arregalados de choque e surpresa.

— Você tem certeza absoluta disso, Nia?

— Tenho. — A morena suspirou, um som de derrota. — Quer dizer, não tenho. Eu … Isso é meio complicado, sabe? Eu era muito nova, não me lembro de quase nada.

— Bem … Poderia ser só uma semelhança.

— Tem razão. É, na verdade, o mais provável. — Ela respirou fundo e esboçou um pequeno sorriso. — Venha, vamos descer logo antes que aqueles dois pensem que estamos fazendo alguma coisa aqui em cima.

— E por que não?

Para sua surpresa, Nick viu Nia rir e lhe bater no ombro com as costas da mão ao passar por ele para sair da sala.

— Você não vale nada, sabia? — Ela disse, já parada na porta.

O rapaz riu alto enquanto a seguia de volta para o primeiro andar, onde Cassie e James já os esperavam.

— Eu disse que já havia visto aquele anel. — O homem mais velho disse imediatamente, estendendo uma pilha de papéis para Nia. — Lacey Cresswell o encomendou. Dizem que o anel desapareceu depois da morte dela. E também há uma lenda falando sobre poderes especiais relacionados à ônix incrustada no anel.

— Ela cometeu suicídio, não foi? — Cassie quis saber, soando chocada ante a mera ideia.

— É o que diz a história. — James respondeu. — Há uma outra lenda atribuindo isto ao anel, falando sobre a joia enfeitiçada que fez uma mãe querer morrer.

— Não acredito! — Nia exclamou, horrorizada. — Lacey tinha uma filha?

— Duas, segundo eu soube, duas meninas pequenas. — Foi a resposta. — E ninguém sabe o que aconteceu com as crianças. Segundo os boatos na cidade, elas simplesmente desapareceram no ar.

— Talvez a mãe as tenha matado. — Cassie conjecturou com relutância. — E escondido os corpos. O pessoal da Divisão de Homicídios já me falou sobre um ou dois casos assim.

— Alguma coisa me diz que não foi isso que aconteceu. — Nia objetou. — Droga! Eu queria poder acessar algum arquivo, qualquer coisa relacionada a esse caso.

— Isso eu posso resolver. — Nick disse. — Descobrimos que o investigador que cuidou desse caso era um grande amigo do nosso pai. Talvez possamos convencê-lo a nos fazer um favor.

— Vale a pena tentar. — Nia assentiu. — Vai à cidade?

— Sim. Pelo que sei, o velho Jackson ainda vive por aqui.

— Ótimo. Vou com você. Quero ver o que consigo descobrir por conta própria.

— No Google? — O rapaz zombou. — Nada, com certeza.

— Você ficaria surpreso. — Nia disse, rindo. — Minha irmã não é só uma repórter freelancer, é uma hacker de primeira.

— Ora, ora, uma mulher de muitos talentos. — Nick provocou. — Tudo bem, então, vamos lá ver o que descobrimos.

Cerca de meia hora depois, os dois seguiram para a pequena cidade de Devil’s Pit. Nia ficou na biblioteca com seu computador, usando o sinal gratuito de internet para conseguir pesquisar o máximo possível sobre Lacey Creswell, enquanto Nick saiu para encontrar o investigador Jackson. No final da tarde, quando a biblioteca estava fechando, os dois se reuniram nos degraus na frente do prédio.

— E aí? — O rapaz inquiriu. — O que você descobriu?

— Não muito, apenas linhas gerais sobre a vida dela. — A morena respondeu. — Lacey nasceu aqui, em uma das famílias fundadoras da cidade. Era uma desenhista e pintora talentosa, chegou a vencer alguns concursos, mas não conseguiu sair para ganhar a vida. Engravidou jovem, com dezenove ou vinte anos. Era filantropa, ajudando todas as causas ligadas à cultura, inclusive a escola e a biblioteca da cidade. Curiosamente, sempre foi tratada como uma espécie de pária. Haviam rumores sobre ela, que aparentemente possuía “poderes misteriosos”. E isso foi tudo. Nada sobre as crianças, ou sobre o dia da morte dela. Nem mesmo sobre o pai das duas meninas.

— Bom … — Nick abriu um sorriso malandro, estendendo um envelope de papel pardo. — Parece que eu tive mais sorte do que você.

— As informações! — O deleite da jovem era claro. Talvez, o rapaz pensou, até mesmo grande demais para simples curiosidade acadêmica. — Obrigada, Nicolas, você não sabe o quanto está me ajudando.

Ela se pôs a estudar os documentos assim que retornaram ao casarão, transformando as informações em um único texto. Nick observava aquela concentração tão profunda com desconfiança. Não era simples curiosidade ou perfeccionismo, aquilo tinha um forte toque de determinação, algo completamente pessoal.

Nia agiu em segredo naquela mesma noite, esgueirando-se até a galeria dos quadros. Foi fácil, dada a proximidade do cômodo. Uma vez lá, examinou as pinturas minuciosamente à luz de uma lanterna até chegar ao que queria: o quadro que vira mais cedo.

A pintura retratava Lacey Cresswell sentada na grama às margens do lago. Deitada com a cabeça em seu colo havia uma garotinha de dois ou três anos de idade e aninhada em seus braços um bebê envolto num cobertor cor de rosa. O rosto da mulher exibia um largo sorriso, brilhando de alegria.

Nia procurou minuciosamente por algum nome ou outro tipo de assinatura do artista, mas nada encontrou e acabou decidindo examinar o restante das obras. Uma delas a fez soltar um arquejo abafado de susto.

A pintura era de uma menina de dois ou três anos de idade usando laços nos cabelos negros e um vistoso vestido de babados cor de rosa. A criança estava sentada em uma cadeira estofada de espaldar alto, segurando um bebê muito novo, quase recém nascido, nos braços. Embora séria, havia um certo movimento dos lábios da garotinha que indicava que ela continha um sorriso, assim como um certo brilho travesso em seus olhos azuis. Seu rosto em formato de coração seria perfeito se não fosse pelo machucado na bochecha esquerda, que o artista se dera ao trabalho de retratar.

Nia arfou e levou uma das mãos à própria bochecha, onde havia uma cicatriz exatamente igual a da garotinha no quadro. Ao se inclinar para ver mais de perto, pôde ler os nomes escritos em letras miúdas perto da moldura: Natalia e Cassandra Cresswell.

— Natalia … — A jovem sussurrou. — Cassandra … Não pode ser!

Mas ela sabia que sua intuição estava certa. Caminhando mais um pouco pela galeria às escuras, deparou-se com algo que não era um quadro: tratava-se de um desenho de um homem. A morena arfou audivelmente no silêncio, a memória retornando com clareza cristalina.

— Natalia. — Papai se inclina e afasta os cabelos do meu rosto, prendendo uma mecha atrás de minha orelha. — Preciso que seja forte agora, filha.

— Não, papai! — Seguro o pulso dele com minhas duas mãos, mas são tão pequenas que o esforço é patético. Posso ser muito pequena, mas sei disso. — Por favor, não. Não me deixa aqui!

— Você vai ficar bem. — Ele garante com carinho, se inclinando mais para beijar minha testa. — Você é nossa garotinha guerreira.

— Não quero ficar aqui!

— É por pouco tempo, querida. — Papai diz. — Preciso que faça isso por mim, está bem? E cuide da sua irmã.

Ele espera até eu fazer que sim com a cabeça antes de se virar e se afastar.

Nia abriu os olhos, que nem percebera haver fechado. Seu peito subia e descia erraticamente ao sabor de sua respiração arfante. Ela finalmente lembrara, agora sabia quem era.

— Nia.

O som da voz de sua irmã a fez dar um pulo de susto.

— Cass! — A morena exclamou. — Pensei que você já estivesse dormindo.

— Eu estava, mas tive um sonho estranho. Pensei em ver se você estava acordada.

A morena abriu os braços e Cassie se aninhou contra seu peito. Com um braço passado ao redor dos ombros de sua irmã, as duas saíram daquele cômodo.

Nia ainda deu uma última olhada por cima do ombro. Não podia ver o desenho do rosto de seu pai na escuridão, mas ele continuava claro em sua mente.


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