Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 6
Capítulo 6 – Laugh to Keep From Crying.


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Aqui vamos nós, com mais um capítulo.
Esse capítulo é algo que eu quero tentar fazer em todas as "temporadas". É pegar um episódio da série com algum caso ou acontecimento importante e encaixar meus personagens com mais contato com os da série. E eu lembrei desse caso do homem obeso, e achei legal encaixá-lo aqui. Espero que gostem da ideia!
A música de hoje, para ser sincera, eu não conhecia. Pesquisei por músicas que se encaixassem com a mensagem da narração da Claire, e achei essa da Madonna (https://www.youtube.com/watch?v=ARJKRE6uGpo).
Então vamos para o capítulo. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720919/chapter/6

Senso de humor é algo muito relativo. Às vezes, aquilo que te fazia morrer de rir há alguns anos, hoje em dia não tem mais a mínima graça. E, daquilo que você não ria quando era criança porque não entendia, atualmente te faz chorar de tanto rir. O que, para algumas pessoas, é extremamente engraçado, para outras, é o motivo de chorarem antes de dormir. É o quando precisamos refletir: até quando podemos fazer piada?

Akira e eu encontrávamo-nos no chuveiro, nos beijando calorosamente, enquanto ele mantinha meu corpo contra a parede e minhas pernas em volta de sua cintura. Essa já seria a terceira vez que transaríamos apenas naquela manhã, o que fazia eu me perguntar de onde tirávamos tanta disposição.

Fomos interrompidos pelos bipes, que se encontravam sobre a pia do banheiro. O rapaz resmungou, sem parar de me beijar, e eu decidi ignorar o barulho também. Contudo, aquele som agudo já estava me irritando, e meu clima já havia se acabado.

— Nós realmente deveríamos parar. – falei, separando nossas bocas.

— Droga, é verdade... – reclamou, olhando-me com desejo – Nós continuamos isso mais tarde. – afirmou e me beijou rapidamente, deixando meus pés tocarem o chão.

Terminamos de tomar banho e nos arrumamos rapidamente, comendo qualquer coisa antes de sair. Caminhamos juntos até o hospital, e algum tempo depois juntamo-nos a Lexie e o resto dos internos, que se encontravam do lado de fora de uma das salas de aula que tinham no hospital.

— Vocês não podem chegar no horário pelo menos uma vez na vida não? Deus. – Grey repreendeu-nos, e ambos ficamos um pouco constrangidos – Pois bem, hoje a Dra. Bailey vai nos dar uma aula muito... importante. Sobre sensibilidade com o paciente. Então prestem atenção em tudo o que ela diz e utilizem. – explicou, olhando todos nós – Agora vamos entrar que devemos estar atrasados. – olhou feio para Akira e eu e entrou na sala, sentando-se logo atrás de Meredith e seus amigos.

Adentramos a sala e tomamos nossos lugares ao fundo, e pouco depois Dra. Bailey começou a falar.

— Reação, observação, comunicação. Alguma pergunta até agora? – disse pegando o canetão de escrever na lousa, e várias pessoas ergueram o braço – Estamos aqui porque o Chefe Shepherd sugeriu uma revisão da nossa prática de sensibilidade com os pacientes. – afirmou, como se já soubesse o que todos iriam perguntar – E na manhã de hoje temos essa oportunidade. Além disso, metade de vocês foram criados por lobos.

— Sério? Isso é mais tedioso que os pós-operatórios do Bêbado Webber. – reclamou Diego, e eu o bati com meu cotovelo, na intenção de fazê-lo calar a boca.

— “Reação”. – Miranda começou a explicar, escrevendo na lousa – “Mantenha o rosto impassivo. Caso seja instigado pela aparência de um paciente ou resultado de exames, expressões faciais de surpresa, preocupação, nojo, etc., podem ser contraproducentes”. – leu em um papel que segurava, e pulou algumas partes antes de continuar – Piadas. Não façam piadas sobre pacientes. Nem na frente deles, nem secretamente. – foi interrompida por Cristina Yang, que ameaçou falar alguma coisa – Yang. – olhou para a médica, dando a chance para ela se pronunciar.

— E se a piada for muito engraçada? – questionou, fazendo todos rirem.

— Não é. E nem essa foi. Seguindo em frente. – a cirurgiã geral virou-se para a lousa, e voltou a escrever – “Observação.” – foi interrompida por seu bipe, mas continuou falando – Muito bem. “Usem a escuta reflexiva. Repitam os sentimentos do paciente em voz alta para eles”. – leu rapidamente – “‘Vejo que está preocupado com a cirurgia. Deixe-me explicar os riscos’”. – exemplificou, e escreveu mais alguma coisa na lousa.

— “Posso ver que você gosta de vegetais. Após a cirurgia, talvez você vire um”. – Alex Karev sussurrou para seus colegas com uma voz engraçada, mas nós também pudemos ouvir então acompanhamos seus amigos no riso.

— “Comunicação”. – continuou Bailey, nos olhando feio – “Não use jargão médico. Use linguagem que o paciente pode entender. Seja criativo no uso de metáforas”.

— Sou terrível com metáforas. Não consigo lembrar nenhuma. – reclamou um dos residentes, o amigo de Jackson que tentou apartar a briga há alguns dias atrás.

— Por quê? É idiota como uma caixa de pregos? – retrucou Yang, fazendo alguns de nós rirmos.

— Viu, essa foi boa. Você é uma idiota, mas essa foi boa. – falou o mesmo residente de anteriormente.

— E vocês são tão incompetentes quanto o médico que tirou vocês da barriga de suas mães. – sussurrou Rebecca, rindo ironicamente, e fazendo-me revirar os olhos.

— “Seja claro e compreensível. Explique os riscos e resultados possíveis, sem deixar nada de fora”. – continuou Miranda, aparentemente querendo acabar logo – Pergunta. – viu uma residente erguer a mão, também amiga de Avery – Adamson.

— Por que está falando tão rápido? – perguntou a moça de cabelos curtos e castanhos.

— Acontece que temos um paciente de emergência chegando que vai precisar de um pouco de sensibilidade extra. Portanto lembrem-se de empregar seus R, O, C. – respondeu e continuou, sublinhando as iniciais das palavras que escrevera na lousa – Porque assim vocês irão... Tratar seus pacientes como uma estrela do ROCk. – tentou fazer uma piada, mas nós rimos apenas de compaixão – Muito bem, chega disso. Sigam-me até a Emergência. Depressa!

Levantamos de nossos lugares e seguimos até a entrada de ambulâncias, todos curiosos para saber do que se tratava. Paramos ao lado de Lexie, que se encontrava atrás de Meredith Grey e Alex Karev.

— Recebeu o recado da Izzie? Já mandou os papéis do divórcio? – perguntou Meredith ao médico ao seu lado.

— Preciso encontra-los para mandar. – respondeu Karev, olhando em volta.

— Izzie mandou os papéis do divórcio? – questionou Lexie, intrometendo-se na conversa dos dois.

— Sim, e daí? – rebateu Alex, e nós nos entreolhamos chocados com sua grosseria.

— Nada. Só... parabéns. Ou... algo assim – falou a Grey mais nova, tentando não parecer atingida – Com licença. – pediu passando no meio dos dois, e nós a seguimos, olhando-os desconfiados.

Touché. – comentou Rebecca, fazendo-nos rir baixinho.

— Muito bem, gente, lembrem-se do que aprenderam. E usem o dia todo. Haverá consequências, se não usarem. – afirmou Bailey, logo que as ambulâncias e uma espécie de caminhão chegaram.

— Que diabos é isso? – perguntou Karev, franzindo o cenho.

— O circo chegou na cidade? – alguma das residentes brincou, enquanto todos observavam a porta da carroceria do caminhão se abrindo.

— Não. Só o elefante. – respondeu Avery, rindo ao ver o que estava dentro do caminhão. Era um homem obeso, realmente obeso. Enormemente obeso.

— Avery, está fora do caso. Vá embora. – ordenou Miranda, e o mesmo reclamou, antes de afastar-se – Consequências. – afirmou, notando nossos olhares curiosos.

— Vamos precisar de um hospital maior. – disse o paciente, fazendo piada de sua própria situação.

— Hoje será um grande dia. – sussurrou Diego, para Bailey não ouvir.

— Teremos um gordo aprendizado. – brincou Rebecca.

— Droga, gente... Parem com isso. – repreendi-os, negando com a cabeça.

— Sua chatice é tão enorme quanto ele. – rebateu a morena, revirando os olhos e rindo ironicamente.

— E seu senso de humor é tão pequeno quanto a expectativa de vida dele. – falou Diego, fazendo Cooper rir alto.

— Metáforas. Nós arrasamos. – disse a inglesa, e os dois fizeram um toque de mãos.

Enquanto o paciente era transportado para a Sala de Emergência, Lexie nos puxou para um canto, ficando a sós com nós 5.

— Eu quero que vocês guardem todas as piadinhas para vocês, sejam elas de morrer de rir. Mantenham a postura, e coloquem em prática tudo o que vimos com a Bailey hoje, estão me escutando? Vocês já andaram me ferrando muito, então por favor, não estraguem essa. – afirmou, quase implorando.

— Deixaremos nossas piadas entaladas na garganta. – respondeu Rebecca, e Lexie a olhou feio.

— Quer ficar fora desse caso? – questionou a residente, desafiadoramente.

— Desculpa. – falou, dando de ombros.

Grey revirou os olhos e juntou-se aos outros médicos, parando no meio do caminho para falar conosco novamente.

— Fiquem fora do caminho, prestem atenção e anotem tudo. – ordenou, voltando a andar até o paciente.

Aproximamo-nos mais do amontoado de cirurgiões, observando tudo atentamente. Anastasia anotava tudo em um caderninho, enquanto Rebecca e Diego sorriam ironicamente, muito provavelmente formulando um milhão de piadinhas maldosas. Akira se mantinha neutro, e seus olhos acompanhavam tudo com atenção. E eu, esforçava-me ao máximo para não demonstrar nenhuma reação àquele caso.

— Façam hemograma completo e exame de função hepática. Tipagem e cruzada. – ordenou Owen Hunt.

— Pode deixar. – afirmou uma residente.

— Isso dói? – perguntou uma das residentes amigas de Jackson, que eu ouvira falar que era apaixonada por Derek Shepherd, enquanto pressionava e batia os dedos na barriga do paciente.

— Querida, não consigo nem sentir isso. – respondeu o homem.

— Não consigo encontrar uma veia aqui. – falou Meredith.

— Ou em lugar nenhum. – rebateu Cristina, ironicamente.

— Estou usando todos os seus médicos. Não tem ninguém morrendo em algum lugar? – disse o paciente, deixando todos um pouco sem jeito.

— Raio-X. – avisou Lexie, aproximando-se com a máquina.

Todos aguardaram alguns segundos até a máquina trabalhar, e nesse meio tempo pude ver que Bailey tirou Cristina do caso, que saiu da sala um pouco inconformada.

— Liberados. – falou a “Pequena Grey”, e todos voltaram a fazer seus respectivos trabalhos.

— Senhor, quando as dores de estômago se tornaram mais agudas? – questionou Miranda.

— Nos últimos dias, eu acho. – respondeu o homem – Difícil lembrar. Sou um cara ocupado.

— Estou aqui! – exclamou uma moça loira, aproximando-se da maca – Bobby, o que aconteceu com você?

— Desculpe, quem é você? – perguntou Bailey.

— Sou a esposa dele. – respondeu a mulher, deixando todos surpresos.

— Cara, se até ele é casado, temos grandes chances, pessoal! – comentou Diego, fazendo todos menos eu rirem.

— Estou bem, amor. – afirmou o paciente, olhando para a esposa – Melissa se preocupa. Ela gosta de fazer uma tempestade em copo d’água. Mas eu sou uma jarra. – fez mais uma piada de si mesmo, rindo novamente, junto de sua esposa – Nossa, que plateia difícil. – finalizou, vendo que ninguém além da mulher riu.

— Sr. Corso, teremos que virá-lo novamente. – avisou Richard Webber.

— Epa. – disse Karev, ao tentar virá-lo – Dr. Webber, veja isso. – chamou, erguendo a pele da barriga do paciente, revelando vários pontos de infecção massiva. Todos fizeram uma cara surpresa, e Anastasia ameaçou vomitar.

— Controle-se, lembre-se das expressões faciais, esconda o nojo... – advertiu Akira.

— Está abrindo o capô aí embaixo? – brincou o paciente, sem saber da seriedade do problema.

A loira ao meu lado não aguentou, e correu até a lixeira mais próxima, vomitando por muitos segundos.

— Fraca... – murmurou Diego, e todos olharam feio para Lexie, que nos olhou com raiva.

—-

O paciente estava sendo transportado para um quarto, e nós estávamos o aguardando junto de Lexie e outros residentes. Quando a maca estava passando pela porta que dividia o corredor, ela trombou com a parede, e eles provavelmente não conseguiriam passar com ela.

— Karev! – repreendeu Richard.

— Droga. Pensei que tínhamos passado. – reclamou Alex, que estava tentando guiar a maca – Vamos remover os lados. – disse, dando “ré” na maca.

— Deviam botar uma placa de “carga larga” nessa coisa. – falou o paciente, e novamente apenas ele e a esposa riram.

— Temos uma maca aqui. Não podemos colocá-lo nela? – sugeriu Reed, uma das residentes.

— Não, eu não quero que... – negou Webber, mas o paciente cortou-o.

— Sim, eu posso fazer isso. – rebateu o homem, ameaçando sair do leito.

— Não, não. Senhor, deixe que nós o moveremos. – afirmou Bailey, enquanto tentavam impedi-lo.

— Vamos lá, são só dois passos. – falou Bobby, sentando-se na cama – É isso ou terão que me untar como um porco entalado. Ninguém vai querer fazer isso.

— Ele não anda há um ano... Bobby! – exclamou a esposa.

— Muito bem. Calma, calma. – disse Richard, auxiliando-o a dar alguns passos, enquanto Lexie aproximou a outra maca da porta.

— Não sabia que eu podia fazer isso! – falou o homem, animadamente, enquanto caminhava, com um pouco de dificuldade.

— Meu Deus, querido, está de pé! – comemorou a esposa, alegremente.

— Sabe o que isso me lembra? – perguntou parando e segurando as mãos da mulher – Nosso casamento. – sorriu ternamente.

Poucos segundos depois, foi possível ouvir o som de sua perna se quebrando, e num piscar de olhos o paciente caiu no chão, fazendo todos aproximarem-se para ajudar.

— Cara, a estrutura desse hospital é resistente. – ironizou Diego, apenas observando.

— Toquem as sirenes que vai ter um terremoto. – riu-se Rebecca, e eu não pude mais aguentar.

— Se não querem trabalhar nesse caso, ótimo, mas parem de fazer esse tipo de piadas. Ele é uma pessoa, vocês sabiam? Do mesmo jeito que não devemos fazer piada da comunidade LGBT+ que da qual vocês participam, vocês também não têm o direito de insultarem esse homem! – exclamei, perdendo a paciência.

Eles me olharam de cara feia, e ficamos em silêncio por todo o procedimento de leva-lo ao quarto, biparem Callie e a mesma fazer uma consulta.

— Fratura bimaleolar do tornozelo. Fraco demais para suportar o peso. – diagnosticou Torres, saindo da sala e juntando-se aos médicos do lado de fora – Ele pode ir para a CT agora.

— Ele não vai para aquela CT. – rebateu Shepherd.

— Se pudermos posicioná-lo... – sugeriu Richard.

— A capacidade é de metade de seu peso. Se quebrar, não estará disponível para os outros 50 pacientes que precisam. – afirmou o Chefe de Cirurgia.

— E o zoológico? Devem ter uma tomografia para rinocerontes, certo? – falou o residente amigo de Jackson.

— Percy, está fora do caso. Adeus. – retrucou Bailey, olhando-o feio.

— Não é piada. É uma sugestão de verdade! – reclamou o jovem.

— Vá. – ordenou a mulher.

— É uma boa ideia, na verdade. – concordou Owen.

— É uma péssima ideia. – discordou Teddy.

— Vamos evitar que esse homem seja tratado como um animal de zoológico. – afirmou Webber – Se não pudermos ter uma imagem, usaremos os exames clínicos e testes.

— Posso fazer um teste de esforço do seu coração. Gostaria de poder colocá-lo na esteira ergométrica. – disse Altman.

— Isso não vai acontecer. – respondeu Hunt, rindo fraco.

— Muito bem. Tenho uma advogada me esperando. Quero uma reunião com todos quando receberem os exames, antes de prosseguirmos, okay? – falou Shepherd, e todos concordaram, seguindo em direções diferentes.

— Só mais algumas perguntas. – falou Lexie, saindo da sala com a esposa – A diabete, ele já tinha antes de ficar... imobilizado? – perguntou, gaguejando um pouco.

— “Imobilizado”. – riu-se Diego, ironicamente.

— Não. Foi desde que engordou. – respondeu a mulher.

— E isso faz... – Grey gaguejou novamente – Há quanto tempo...

— Há quanto tempo ele está assim? – questionou a esposa, tentando ajudar a médica – Há 5 anos, a empresa para a qual ele trabalhava despediu 300 funcionários. Ele passou dois anos tentando encontrar um emprego. Em vão. Aí ele parou de tentar. – explicou, com uma pitada de tristeza na voz – Foi muito difícil para ele. E comer fazia ele sentir-se melhor. Então... Acho que ele tem sentido dores há algum tempo. Ele dizia que era indigestão, mas não dava para ignorar. Após a notícia, tive que insistir. – riu sem graça.

— Que notícia? – indagou Lexie.

— Vamos ter um bebê. Estou grávida. – respondeu a mulher, deixando todos chocados.

— Como?! – questionou Grey, aparentemente sem pensar, rindo – Quero dizer... uau! Parabéns! – tentou consertar – Isso... Isso é uma notícia feliz.

— Tchauzinho, caso do cara obeso... – cantarolou Rebecca, bufando.

— Você está fora do caso. – Bailey falou sem som à Lexie, tentando disfarçar o constrangimento.

Grey então devolveu o prontuário à cirurgiã geral, saindo dali de fininho.

— Nós não podemos continuar no caso? – perguntou Akira, e Miranda apenas olhou-o feio como resposta, fazendo-nos correr atrás de Lexie. 

—-

Após sermos chutados do caso do homem, Lexie descobriu que Callie Torres precisava de residentes, então fomos trabalhar em seu caso, junto com o amigo de Jackson, que descobri que se chamava de Charles Percy.

— Dra. Grey. – pediu Torres, olhando para as imagens de Raio-X.

— Sim. – respondeu a jovem, virando-se para os exames e depois para a paciente – Jamie, vamos abrir seu joelho e religar todas as partes de sua patela. – explicou.

— É você quem fará a cirurgia? – perguntou a paciente, encarando Callie.

— Sim. – afirmou a cirurgiã.

— Vai segurar minha mão durante a coisa toda? – continuou, soando mais como um flerte, fazendo todos nós sorrirmos maliciosamente.

— Acho que será melhor se eu segurar o bisturi. – rebateu a ortopedista, rindo sem jeito – Mas posso segurar sua mão agora.

— Ótimo. – a paciente sorriu, e Callie pegou em sua mão.

— Okay. – disse a médica – Tem mais perguntas?

— Não consigo pensar em nada, mas não quero soltar sua mão, então podemos ficar aqui por um minuto? – a moça sorriu sacana.

— Você é tão levada. – riu-se Torres, corando um pouco – Nos veremos na Sala de Operações. – finalizou, finalmente saindo da sala.

— Só para constar, eu posso segurar sua mão, se você quiser. – insinuou-se Rebecca, fazendo a paciente rir.

— Não seria mal, também. – ergueu uma sobrancelha, e reviramos os olhos saindo do quarto.

— Uau, devíamos ter deixado vocês duas sozinhas? – questionou Charles, ironicamente.

— O quê? – Callie fez-se de desentendida.

— A coisa estava esquentando lá dentro. – afirmou o jovem.

— Parem com isso. Sou uma mulher comprometida. – rebateu a cirurgiã – Era só brincadeira.

— Pode ser, mas estava saindo fumaça. Brincadeira quente. –falou Lexie, apoiando-se no balcão das enfermeiras.

— De mãos dadas. – adicionou o rapaz.

— Contado físico é importante quando se quer ganhar a confiança do paciente. Bailey ensinou sensibilidade hoje para vocês. Não aprenderam nada? – a morena tentou explicar-se.

— Então não houve qualquer tipo de flerte lá dentro. Só estou imaginando coisas. – ironizou Percy.

— Ela flertou e eu correspondi, porque estou tentando deixa-la à vontade. Falar com o paciente da maneira que falam com você faz com que se sintam compreendidos. E seguros. – rebateu Callie, ainda na tentativa de se explicar – E... vocês são uns retardados. – continuou, devolvendo uma caneta à enfermeira e afastando-se – E pervertidos. Jesus. – finalizou já um pouco afastada, virando-se para trás antes de seguir seu caminho.

—-

Nós cinco estávamos em nossa mesa de sempre, comendo nosso almoço. Diego e Rebecca já haviam feito um milhão de piadinhas sobre o paciente, o que estava me deixando extremamente desconfortável, porém me mantive firme.

— Vocês já entraram na aposta do Karev? – perguntou Diego – Eu apostei 750 libras.

— Eu apostei 680, não creio que ele seja tão pesado assim. – disse Rebecca, bebendo suco.

— Eu fui de 730. – afirmou Anastasia.

— E o casal politicamente correto, não apostou em nada? – questionou Gomes, rindo ironicamente.

— Eu nem estava sabendo da aposta. – respondeu Akira, dando de ombros.

— Bom, e eu tenho o mínimo de noção, né. – rebati, olhando-os feio – Depois de tudo que vimos com Bailey hoje, vocês ainda estão com essas piadas. Ele é uma pessoa! Um ser humano! Como vocês se sentiriam, se fossem tratados como uma aberração?

— Para de tomar a dor dos outros, ele mesmo faz piada com si mesmo. – retrucou Rebecca.

— Ele esconde a dor fazendo piada e tentando parecer okay com tudo isso. Mas quer saber, eu cansei disso, ainda bem que estamos fora do caso dele. Vejo vocês mais tarde. – disse e me levantei da mesa, levando minha bandeja comigo.

—-

O dia depois do almoço foi bem parado. Acabou que Akira participou da cirurgia com Callie, e eu assisti à operação de Bobby da galeria, um pouco isolada do resto dos meus colegas. O paciente teve algumas recaídas, mas conseguiu sobreviver à cirurgia.

Eu me encontrava passando hidratante em meu corpo, enquanto Akira arrumava a cama para irmos dormir, comentando o caso de Torres, porém eu não prestei muita atenção. Deitei-me na cama ao seu lado e fiquei em silêncio por um tempo, até que decidi falar alguma coisa.

— Você ainda sairia comigo, se eu fosse gorda como aquele homem? – perguntei, virando-me para ele.

— Não sei, mas não precisamos pensar nisso, já que você tem esse corpinho maravilhoso. – riu e abraçou minha cintura, tentando se esquivar da pergunta.

— E se eu não tivesse esse “corpinho maravilhoso”? – questionei, afastando-me um pouco, insegura.

— Por que está me perguntando isso? É por causa das piadinhas de gordo? Porque eu particularmente achei aquilo...

— Não, é só que... – cortei-o, e comecei a acariciar seu peitoral, decidindo se deveria contar ou não – Eu nem sempre fui assim... magra. – falei logo de uma vez, suspirando – No ginásio, eu era... obesa. Daí eu comecei a ter alguns problemas, e a muito custo eu perdi peso, pois já estava correndo riscos de morte. Passei por um milhão de cirurgias plásticas e aqui estou eu. – confessei, suspirando – Então e se... E se eu não tivesse emagrecido? Você ainda gostaria de mim?

— Uau, por essa eu não esperava... Quer dizer, você é tão... – arregalou os olhos, medindo meu corpo, que estava coberto apenas por uma camisola – Se você fosse essa pessoa incrível que é hoje em dia, então sim, eu gostaria de você do mesmo jeito... Amaria, na verdade. – afirmou, sorrindo bobo.

— Você está dizendo que me ama, Dr. Aoki? – indaguei, com um sorriso sacana no rosto.

— Eu amo. De verdade. – disse me olhando profundamente nos olhos, causando um clima um pouco tenso – E é por isso que vamos começar a correr amanhã, para não corrermos o risco. Fechado? – continuou, aliviando um pouco a tensão.

— Eu acho uma ótima ideia. – respondi, sorrindo encantada, e ficamos em silêncio por um tempo, apenas curtindo a presença um do outro.

— Você sabe quem ganhou a aposta do Karev? – quebrou o silêncio.

— Não, quem? – perguntei, acariciando sua mão.

— Bailey. – afirmou, e eu o olhei chocada.

— Que hipócrita! – ri inconformada, voltando a olhar para frente – Eu acho que também te amo. – finalizei, depois de remoer isso em minha cabeça por vários minutos.

Pude sentir que Akira estava sorrindo, e confirmei quando olhei para cima, e o beijei ternamente, talvez pela primeira vez realmente demonstrando meus sentimentos por ele.

— Que tal aproveitarmos esse seu corpinho maravilhoso, uhn? – sugeriu entre beijos, sorrindo malicioso, me fazendo rir.

— Pervertido, aposto que só disse que me ama para conseguir sexo. – rebati, voltando a beijá-lo.

— Nem brinque com isso. – retrucou e ficou por cima de mim, tirando minha camisola.

Como eu disse, o que é extremamente engraçado para alguns, pode ser uma baita insegurança para outros. É natural do ser humano fazer piada com as coisas que não são “comuns”, mas até onde podemos ir, sem sermos completos cretinos? Não dá para saber. Varia de caso para caso. Mas lembre-se que, nem sempre quando alguém ri de algo, é porque acha engraçado. Às vezes, rimos de nossas próprias inseguranças, na tentativa de esconde-las das outras pessoas, ou até tentamos aceita-las nós mesmos. Porém isso só acaba piorando as coisas, confie em mim, experiência própria! Não deixe as outras pessoas fazerem piadas como que você acha errado. Posicione-se! Senão você acabará sendo cúmplice da cretinice dessas pessoas, e não é isso que você quer, né


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Digam aí nos comentários. E vocês, já sofreram com piadinhas de mal gosto por serem gordos, ou qualquer outra coisa? Porque olha, eu já.
Vejo vocês nos comentários!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Claire's Anatomy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.