Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 36
Capítulo 33 – Wind of Change.


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, meus bons! Aqui estou eu sem sumir finalmente, com mais um capítulo fresquinho para vocês. Senti uma drástica queda nas leituras do de semana passada, mas eu entendo, afinal a culpa foi minha por ficar tanto tempo sem postar. Mas espero reconquistar o coraçãozinho dos leitores.
O capítulo de hoje é bem curtinho e objetivo em relação aos outros. Ele é um daqueles que se passa em um episódio da série, no caso, o 09x18 "Idle Hands", que é aquele em que eles começam a usar seus novos aparatos tecnológicos, e o nome do hospital muda. Enfim, verão tudo isso ao longo da leitura.
A música combina apenas em nome, o ritmo e a letra não ornam tanto. Mas é uma música bonita e que traz certa paz ao ouvi-la. Link: https://www.youtube.com/watch?v=n4RjJKxsamQ.
Espero que gostem. Boa leitura!



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Às vezes, a vida nos mostra algumas coisas novas. Tudo está em constante mudança, algumas mais drásticas que outras. Um simples corte de cabelo, um celular novo, ou um novo relacionamento. Ouvi falar em alguma série por aí que “O novo é sempre melhor”. Em alguns casos é mesmo, mas nem sempre.

— Bom dia, princesa. – ouvi a voz masculina de sotaque irlandês dizendo, antes mesmo que eu abrisse meus olhos. Senti seus lábios tocarem os meus brevemente, até que finalmente visualizei sua figura. Seu rosto ainda estava marcado pelo sono, mas isso não tirava sua beleza estonteante, e seu sorriso brilhante combinado com suas íris azuis me tirava o fôlego. Eu mal podia acreditar que finalmente nós havíamos conseguido. Eu estava genuinamente feliz, depois de tanto tempo miserável. Tirando algumas coisas em minha vida, ela estava quase perfeita. Quase...

— Que horas são? – questionei, ainda zonza de sono.

— Cinco e meia. – respondeu, num ânimo que eu não conseguia acompanhar, principalmente numa hora daquelas da manhã. Ele me acordara uma hora antes do meu horário de costume, e eu sabia que esses 60 minutos fariam muita falta em algum momento do dia.

— Ainda está muito cedo... – reclamei, virando-me de costas para ele e me aconchegando novamente.

— Eu achei que talvez... – falou sugestivamente, subindo os dedos por minhas pernas, até chegar por baixo do tecido de minha camisola. Como um ato reflexo, segurei sua mão a fim de pará-la, agora despertando de verdade. Encarei a parede à minha frente por alguns instantes, sem coragem de virar-me para ele.

Ronan e eu nunca passamos dos beijos. Eu já havia tentado ceder, mas toda vez que as coisas ficavam mais quentes, a lembrança da noite do nosso primeiro encontro vinha à minha cabeça, e eu era obrigada a parar, pois não podia evitar a sensação de que os eventos daquela noite voltariam a acontecer. E eu sabia que ele já deveria estar impaciente, afinal nós dormíamos na mesma cama praticamente todos os dias, mas eu simplesmente não conseguia. Além disso, ele deveria respeitar meu tempo, independente de quanto fosse.

— Okay. – suspirou, já entendendo o recado – Eu vou preparar o café. – tirou a mão de mim e levantou-se da cama, ainda num tom desapontado.

— Ronan... – chamei-o e virei para olhá-lo, e pude sentir uma chama de esperança se acendendo em seus olhos – Desculpe-me. – pedi, e o homem voltou a desanimar-se.

— Está tudo bem amor. Não tenha pressa. – forçou um sorriso, antes de deixar o quarto de vez.

Bufei e cobri minha cabeça com o travesseiro, um pouco envergonhada comigo mesma. Eu sabia que não conseguiria dormir de novo, então decidi tomar coragem e levantar, quase caindo ao pisar em algo mole no chão. Ao retomar o equilíbrio, olhei para baixo e notei que havia pisado em um sapato jogado de Ronan, o que me deixou levemente irritada. Por uma questão pessoal de organização, eu nunca deixei meus calçados espalhados pelo quarto. Mas parecia que o homem não pensava da mesma forma, pois adorava deixar tudo espalhado por todo lugar.

Respirei fundo e peguei a bota, procurando seu par por todo o quarto. Encontrei-o debaixo da cama, então coloquei ambos dentro do guarda-roupas, na parte destinada a meu companheiro.

Segui para o banheiro, depois de dar uma passada no quarto dos gêmeos para ver como estavam as coisas. Despi-me rapidamente e entrei no chuveiro, levando um choque ao deparar-me com a água gelada. Eu odiava banho gelado! Para mim, a água quanto mais quente melhor. Desliguei o registro o mais rápido que pude e mudei a temperatura da água, sentindo a água fervente escorrer em meu corpo, relaxando-me. Contudo, foi quando peguei o sabonete que meu momento maravilhoso acabou: ele estava totalmente coberto de pelos, e eu podia garantir que não eram meus. Fiz uma careta de nojo, voltando a irritar-me. Eu não queria ser rude com Ronan, afinal havia apenas um mês desde que estávamos morando juntos. No entanto, eu não aguentaria aquela divergência de comportamentos por tanto tempo...

Decidi relevar e voltei o sabonete na saboneteira, pegando um novo para mim no armário. Eu só queria evitar desentendimentos, afinal, minha vida estava quase perfeita, não estava?

—-

Adentrei o hospital e logo senti um clima diferente. Na entrada, já dei de cara com o novo logotipo, mostrando o novo nome do hospital. Ergui as sobrancelhas e neguei com a cabeça, um pouco surpresa com a novidade.

— Claire, reúna seus internos. Tour para explicação das novas adaptações da Emergência em vinte minutos. – afirmou Hunt, passando rapidamente por mim.

— Okay... – murmurei, observando-o afastar-se.

Peguei meu bipe e chamei meus internos, enquanto me dirigia até o vestiário dos residentes. Ao entrar no local, encontrei prontamente quem eu menos queria ver: Diego. Ele me ignorava desde os últimos acontecimentos, e eu realmente não sabia o que fazer para tentar uma reaproximação.

— Bom dia. – cumprimentei a todos, um pouco sem jeito.

O rapaz apenas olhou-me de maneira cortante e contornou meu corpo, saindo do cômodo. Suspirei frustrada e fiz que não com a cabeça, falhando mais uma vez. Todos os dias que eu encontrava-o, era daquele mesmo jeito.

— Relaxa, Claire. Ele só precisa de mais tempo para perceber que não foi culpa sua. – afirmou Anastasia, que assistira a cena em silêncio. Depois de tudo o que acontecera, a moça parecia ter esquecido de nosso pequeno desentendimento sobre meu relacionamento com seu irmão, ainda mais depois que eu terminara de vez com ele para ficar com Ronan. Pelo menos eu tinha uma pessoa a menos me detestando.

— E como ele está? – questionei, preocupada.

— Levando. – deu de ombros, um pouco desanimada – Ele me deixou preocupada. Diego tem tendências depressivas, já que a mãe dele sofria com a doença... Então eu o obriguei a ir morar comigo, para manter um olho nele bem de perto. Eu tento dá-lo espaço, mas sei lá, tenho medo. – explicou, soando quase como um desabafo.

— Eu sei que não sou a pessoa que ele mais quer ver no momento, mas se ele precisar, pode contar comigo. Eu sei exatamente pelo o que ele está passando, então poderia ajuda-lo talvez. – ofereci-me, relembrando-me rapidamente de Akira.

— Obrigada, Claire. Vou tentar falar com ele. – sorriu fraco – Agora preciso ir. Esse hospital está meio louco com essas mudanças. – riu levemente – Até mais.

— Até. – acenei e aproveitei o momento a sós para me trocar logo.

— Você viu a palhaçada no nome do hospital?! – exclamou uma voz feminina muito conhecida por mim, adentrando o vestiário.

— Bom dia Rebecca, como tem passado? Eu estou bem também, obrigada. As coisas com Ronan estão amáveis, aprecio sua preocupação. – falei ironicamente, ignorando seu chilique. Aquele era o primeiro dia da jovem de volta ao trabalho, desde que ficara afastada por causa do tiroteio na boate. Então, se eu a conhecia bem, ela queria inventar algo para tirar os holofotes daquele momento de certa forma importante.

— Por favor, eu não quero saber sobre sua vida irresponsável ao lado de um desconhecido que você convidou para morar com você. – revirou os olhos – Eu estou falando sério, você viu o novo nome do hospital? Grey-Sloan? Que palhaçada é essa? – franziu o cenho, negando com a cabeça – Já não basta eu ter que ser aluna daquela megera da Meredith, agora eu vou ter que ser empregada do hospital dela, que tem o nome dela? Isso é demais para mim.

— O Grey do hospital não tem nada a ver com a Meredith, e sim com a Lexie, então você deveria estar feliz. – dei de ombros, não entendendo a indignação de minha amiga.

— Você percebe que o Grey da Lexie está diretamente ligado com a Meredith, certo? – uniu as sobrancelhas, fazendo-me revirar os olhos.

— É só um nome, sai da neura. Lembre-se da Lexie, não da Meredith. – retruquei, sem paciência para aquele drama sem sentido.

— Parece estressada. – ergueu a sobrancelha, um pouco sarcástica.

— Estou bem. – afirmei, já sabendo onde ela queria chegar.

— Só dizendo, se estiver tendo problemas com o príncipe encantado... – começou a falar, mas eu cortei-a antes que terminasse. Todos os dias ela arrumava um jeito de criticar meu relacionamento, e aquilo estava me tirando do sério.

— Eu tenho um tour com Hunt para ver as mudanças no hospital, então não posso ficar. Tchau. – dei as costas para ela e saí dali rapidamente, mas brequei em seco – Ah, e bem-vinda de volta, Rebecca. Sentimos sua falta aqui no hospital. Aproveite seu primeiro dia. – sorri carinhosamente e retomei meu caminho para fora, dando de cara com meus internos, que pareciam impacientes – Bom dia. Vamos. – cumprimentei e direcionei-me para o saguão do hospital, onde provavelmente Owen começaria.

— Como muitos de vocês devem saber, o hospital passou por uma série de mudanças e renovações tecnológicas, e a Dra. Kepner e eu achamos necessário um pequeno tour para deixá-los a par das novidades, principalmente da Emergência. Então, apertem seus cintos e abram suas mentes, pois verão muitas coisas novas. – Hunt pronunciou-se, aparentemente muito animado – Primeiramente, nada mais de bipes. As chamadas devem ser feitas via mensagem pelos celulares, então por favor estejam atentos. – disse, chocando a todos logo de cara. Como assim via celular? Aquilo parecia estranho para mim – Em segundo lugar, creio que todos já notaram, mas contemplem nosso novo logotipo, e nosso novo nome. Grey-Sloan Memorial, em homenagem a nossos queridos médicos Lexie Grey e Mark Sloan, que morreram no trágico acidente de avião, que foi o grande responsável por tudo o que está acontecendo.

— Quem? – ouvi Daniel questionar baixinho a seus colegas internos, com um leve tom de desprezo.

— Dois dos melhores médicos e professores que esse hospital já viu. – respondi, com um toque de hostilidade, deixando-o surpreso, pois provavelmente não era para eu ter ouvido.

— Tudo bem, agora já podemos ir para a Emergência, onde verão a maior parte das novidades. Sigam-nos. – foi a vez de April falar, puxando a fila em seguida.

Seguimos todos à jovem cirurgiã, que fazia alguns comentários aqui e ali, no entanto, nada muito relevante.

— Conheçam o novo painel eletrônico. – falou Hunt, apontando para uma TV ao chegarmos em nosso destino – Ele atualiza a localização dos pacientes e os exames pedidos.

— Agora temos estações de trabalho em todos os leitos, integradas como novo sistema de prontuários. – Kepner também explicou, andando por entre as macas – E os leitos estão com número diferente, então prestem atenção. – alertou.

— E agora, o que todos estavam esperando. – afirmou o traumatologista, parando em frente a uma porta que dava a uma pequena sala e acendendo sua luz interna, revelando um aparelho gigante – O Lodox. O raio-X de baixa dose de radiação, com visão anterior e lateral de corpo inteiro. E a baixa radiação torna o exame seguro para crianças e grávidas. É a nossa ferramenta mais avançada em tecnologia diagnóstica. – discursou sobre a máquina, mostrando uma mistura de orgulho com amor em sua fala. Ele mal acabara de falar, e uma das novas internas, que também nos acompanhava no tour, ergueu a mão, requisitando a chance de perguntar – Murphy?

— Quando vamos usá-lo? – indagou curiosa.

— Eu me voluntario. – uma outra interna tomou a vez – Com 6 anos, enfiei uma bola de gude no nariz. Ela nunca saiu. Checamos as fezes por mais de um ano. – justificou, e todos fizemos cara de nojo,

— Isso não é um brinquedo. Sei que queremos vê-lo em ação, mas tenham paciência. A última coisa que precisamos é uma fila quando chegar um caso. – Owen acabou com a graça, deixando todos levemente desapontados.

— Atropelamento chegando. – uma enfermeira do balcão avisou, dando-nos esperança de que usaríamos o aparelho.

— E aí está. – o cirurgião ruivo apontou, apressando-se junto com a equipe para a entrada das ambulâncias.

— Onde vocês pensam que vão? – perguntei a meus internos, que seguiam o fluxo animadamente.

—  Não sei se você ouviu, mas houve um atropelamento... Lodox... – Darla respondeu, com uma pitada de sarcasmo.

— E o que os faz pensar que estamos na Emergência hoje? – ergui as sobrancelhas – Estamos com a Dra. Torres. – afirmei, recebendo reviradas de olhos como resposta.

— Pensem pelo lado positivo, estamos na Ortopedia, pode ser que tenhamos a chance de usar o Lodox antes de todos eles. – Cecelia disse, o que pareceu reanima-los, e foi minha vez de rolar os olhos.

— Tanto faz, vamos logo. – dei as costas e segui em direção ao quartos, procurando pela médica. Depois de perguntar para algumas pessoas, finalmente encontrei-a escorada em um dos balcões, mexendo num tablet, que eram os novos prontuários – Bom dia, Dra. Torres. Estamos a seus serviços hoje. – sorri educadamente, chamando sua atenção – Desculpe pela demora, é que estávamos acompanhando o Dr. Hunt e a Dra. Kepner por um tour na Emergência, para conhecermos as novidades.

— Dia. – assentiu e voltou a olhar o aparelho – Esse novo sistema de prontuários... É bacana, inovador, inspirador, mas complicado. – suspirou e olhou-me novamente – Vamos logo. – puxou a fila para dentro do quarto à nossa frente – Bom dia, Renan. Como está sua perna hoje? – cumprimentou, aproximando-se da cama do paciente.

— O de sempre. Algumas dores aqui e ali, mas nada insuportável. – o rapaz loiro, de seus 25 anos no máximo, deu de ombros, mostrando indiferença.

— Isso é bom. – Callie sorriu e entregou o tablet para Steve – Com licença. – pediu antes de tocar a perna do moço – Alguém pode por favor apresentar o caso, enquanto eu me mexo aqui?

O interno que segurava o prontuário fez uma careta confusa, apertando em alguns locais da tela. Um silêncio se estabeleceu no quarto, enquanto todos o encaravam, esperando-o se pronunciar.

— Não estou ouvindo. – falou a ortopedista, provocando-o.

— Deixe-me ver. – Daniel tomou o aparelho da mão do outro – Esses idosos não servem para lidar com tecnologia. – zombou, também tocando em vários lugares, sem sucesso.

— Parece que o fodão da tecnologia também não faz ideia de como mexer no negócio. – foi a vez de Cecelia pegar o tablet, também ficando confusa.

— Ah, pelo amor, me dá isso aqui. – Darla pegou-o, franzindo o cenho antes de fazer qualquer coisa, e olhou para a única interna que não havia tentado ainda, como se sugerisse que era a vez dela.

— Eu não vou nem tentar, sou péssima com essas coisas. – Sud negou com a cabeça, desacreditada.

— Posso? – estendi a mão, e a jovem me entregou o aparelho, revirando os olhos.

O sistema era realmente bastante confuso, e demorou para eu entender o que estava acontecendo. Depois de vários cliques, finalmente cheguei na ficha geral do paciente, sentindo-me orgulhosa e aliviada.

— Renan Evans, 23, quebrou a perna em um acidente de moto, e foi necessária cirurgia para o reparo. – li as informações.

— Vocês demoraram tanto, que nem precisava mais. Acabei por aqui. As enfermeiras virão logo trocar seu curativo. Passo aqui novamente amanhã. – afirmou Torres, sorrindo simpática para o paciente.

— Ah, nada de Lodox? – minha interna ruiva reclamou, fazendo um biquinho.

— Dra. Torres, não seria bom tirar uma chapa completa do corpo dele? Dura apenas 13 segundos e dá pra ver tudo o que está acontecendo. – sugeriu Hughes, fazendo a cirurgiã olhar-nos com uma cara feia.

— Ele quebrou apenas a perna, não há necessidade de um raio-X do corpo todo. – negou com a cabeça, inconformada – Desculpe-me Renan. – virou-se rapidamente para o paciente, desculpando-se.

Saímos todos do quarto, meus internos e eu com caras envergonhadas.

— Em que mundo vocês vivem? Meu Deus, vão fazer um curso de informática básica. – franziu o cenho, incrédula – E eu não quero ouvir falar desse tal de Lodox novamente. Eu sei bem da existência dele, e se eu julgar necessário usá-lo, eu o farei. Estamos entendidos? – encarou-nos com firmeza, e todos apenas assentimos, desapontados – Agora, vamos continuar.

—-

O dia passou-se sem grandes acontecimentos, além de apanharmos constantemente com as inovações tecnológicas. Nós precisaríamos de muito tempo para nos acostumarmos com tudo aquilo.

Enquanto entrava no vestiário dos residentes, dei de cara com Diego mais uma vez, que apenas mediu-me com um olhar de desprezo e seguiu seu caminho. Suspirei chateada, e recebi um olhar empático de Anastasia, que seguiu-o para fora. Talvez eu devesse realmente tentar falar com ele, mas eu não sabia como, e tinha medo de piorar as coisas. Então decidi deixa-lo ter seu tempo, e quem sabe um dia voltaríamos a sermos amigos.

Caminhei até meu armário e comecei a trocar de roupa, notando que Rebecca parecia um pouco aborrecida.

— Dia difícil? – questionei, olhando-a com o canto dos olhos.

— Trabalhei com ela. – revirou os olhos, e logo entendi que ela se referia à Meredith Grey – Mas o pior não foi isso. O caso foi um tanto tocante. Em suma, uma professora de crianças que descobrimos estar com câncer. Eles vieram todos visita-la, foi muito fofo. Enfim, eu fiquei com inveja. Não do câncer, é claro. Mas da importância que ela tem para aquelas crianças. Eu queria ser importante para alguém desse jeito. – desabafou, um pouco melancólica, diferente do normal. Provavelmente a experiência de quase morte havia a amolecido um pouco.

— E você acha que não é tão importante assim para mim? – indaguei incrédula – Rebecca, quando eu ouvi seus aparelhos apitando, e o som contínuo da máquina alertando que seu coração tinha parado, foi como... – procurei a metáfora certa, sem sucesso – ... eu nem sei explicar. Foi tão doloroso quanto ver o Akira morto. Eu achei que havia perdido você para sempre, e eu não sei se conseguiria sobreviver com isso. Sem ouvir suas broncas, suas provocações, sua risada. Você é, e sempre será, meu Suporte à Vida. Então pare de pensar tão pouco de si mesma. Você é importante sim. – afirmei, numa espécie de bronca carinhosa.

— Esse negócio de quase morrer nos deixa meio loucas. – riu sem humor, deixando algumas lágrimas escaparem.

— Acredite, eu sei muito bem, melhor que ninguém. – acompanhei-a no riso, e a envolvi num abraço.

— Obrigada, Claire. Você também é meu Suporte à Vida. – apertou-me mais contra si, chorando um pouco mais.

— Você quer sair pra fazer alguma coisa? – convidei, numa tentativa de animá-la – Comemorar sua volta ao hospital.

— Não estou no clima, mas obrigada. Pode ir pra casa comemorar com seu príncipe encantado. – ironizou a última parte, fazendo-me revirar os olhos.

— Por favor, não. – afastei-me um pouco dela, finalizando o abraço.

— Desculpa, é que eu ainda não me conformo. – deu de ombros, fazendo que não com a cabeça.

— Eu já entendi seu ponto de vista, mas, sem querer ser grosseira, não é da sua conta. – tentei ser o mais delicada possível nas palavras.

— Ouch. – fingiu sentir dor – Não está mais aqui quem falou. – ergueu as mãos em sinal de rendição – Vejo você amanhã, princesa. – não perdeu a oportunidade de provocar-me antes de sair dali.

Ri fraco e terminei de me trocar, louca para ir para casa descansar. No entanto, no fundo, tinha medo de me deparar com algo que não me agradasse, obviamente relacionado com Ronan.

—-

Encontrava-me em meu quarto, passando um hidratante corporal, como fazia às vezes antes de dormir. Ronan estava encolhido debaixo das cobertas, tremendo um pouco.

— Hoje está frio. – comentou, soprando as mãos e esfregando-as uma na outra – Você pode pegar um par de meias para mim por favor? Meus pés estão congelando. – pediu-me.

— Claro. – sorri fraco e caminhei até o guarda-roupas, abrindo algumas gavetas até chegar na de meias.

Com o movimento rápido da gaveta, algumas meias rolaram para cima de outras, revelando um objeto estranho que parecia escondido ali. Franzi o cenho e, como reflexo, tirei o resto de cima, e o que vi fez minha espinha gelar, deixando-me paralisada por não sei quanto tempo.

— Hey, você está bem? – ouvi a voz de Ronan em minhas costas, mas não tive coragem de virar-me para ele. Aquela havia sido a gota d’água, e eu não podia ignorar aquilo.

Peguei o objeto com muito cuidado e virei-me bruscamente para ele, furiosa.

— Você pode me explicar o que é isso? – questionei, mostrando o revólver a ele, sem esconder minha irritação. O homem suspirou e olhou-me com culpa, provavelmente se amaldiçoando por ter sido pego.

— Claire, eu posso explicar... – ficou na defensiva, parecendo nervoso.

— Então explique, vamos lá. – rebati, impaciente.

— É por uma questão de segurança. Imagina só se alguém entra aqui, e tenta fazer algo de ruim com um de nós dois, ou com os gêmeos? Temos que estar preparados. – afirmou, deixando-me ainda pior.

— Você percebe que, graças a pensamentos como esse, o pai dos meus filhos está morto? E o namorado do meu amigo morreu em minhas mãos? E minha melhor amiga quase morreu há um mês? Foram pessoas que se esconderam atrás dessa desculpa esfarrapada, que conseguiram comprar armas que feriram um monte de gente. – retruquei, tentando não gritar – Você sabe como eu sou traumatizada com isso, e mesmo assim manteve essa merda aqui nas gavetas, como se fosse nada. Bom, não é nada! É uma arma, Ronan, uma arma, que serve para matar pessoas, que matou o pai dos meus filhos. – senti algumas lágrimas brotarem em meus olhos, e o som do disparo veio em minha mente, perturbando-me novamente – Eu não posso, Ronan. – neguei com a cabeça, finalmente tomando uma decisão – Você tem que se mudar. A tentativa foi válida, mas nós precisamos nos conhecermos mais. – desviei o olhar, passando os olhos pelo chão e depois para o revólver que eu segurava, sentindo-me suja em apenas tê-lo em mãos.

— Você está terminando comigo? – indagou, aparentando tristeza.

— Eu não sei, Ronan. – fechei os olhos, sem coragem de encará-lo.

— Claire, por favor... – pediu e levantou-se da cama, aproximando-se rapidamente de mim e tocando meus braços.

— Eu preciso de um tempo. – falei, sem conter as lágrimas – Eu preciso de tempo. – reafirmei, agora olhando para ele. Livrei-me de suas mãos e coloquei a arma no chão, secando as lágrimas na manga de minha blusa – Essa noite você pode dormir no sofá, mas procure outro lugar para ficar, por favor. – afastei-me e caminhei até a cama – E por favor, livre-se disso. – disse firmemente, ainda de costas para ele.

— Eu sinto muito. – desculpou-se, mas continuei sem virar-me para ele. Ouvi-o pegando a arma e fechando a gaveta, deixando o quarto logo em seguida, fechando a porta.

Cai num choro abafado, sentindo-me sem chão novamente. Eu havia sido boba de novo. Quando decidi fazer algo por impulso, dera errado. E Rebecca tinha razão. As escolhas que eu fazia eram péssimas, e talvez fosse por isso que minha vida era predominantemente miserável. Eu nunca teria uma vida perfeita, e tudo por culpa minha, que só conseguia ferrar comigo mesma.

Coisas novas na vida nos forçam a adaptarmo-nos. E nem sempre isso é uma coisa fácil. Ficamos dias odiando nosso novo corte de cabelo, e querendo voltar no tempo para não fazermos aquilo. Apanhamos de nosso novo celular, pois estávamos acostumados com o antigo, que não tinha tantas coisas diferentes e tecnológicas quanto o atual. Amamos nosso novo namorado ou namorada, mas nem sempre é um mar de rosas, afinal, as diferenças sempre acabam vindo à tona e abalando tudo. Há casos em que a adaptação demora, mas chega. Mas há casos que sair de nossa zona de conforto não é uma boa ideia, e acabamos desistindo, tendo que abrir mão da novidade e voltarmos a jogar de forma segura. E está tudo bem com isso.


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Notas finais do capítulo

Lembram-se do episódio? E o que acharam da briga feia entre Claire e Ronan? Todo mundo sabia que estava muito cedo para morarem juntos né, mas a Claire é a rainha das decisões erradas. Vocês acham que ela deveria perdoá-lo? Falem um pouco nos comentários, gente. Mostrem que estão nessa comigo ainda, por favor!
Obrigada pela leitura, e vejo vocês no próximo! Beijos!



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