Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 29
Capítulo 27 – Try.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos! Tudo bem com vocês? Espero que sim.
Agora finalmente acabou a tour FUVEST, o jeito é esperar. Não estou lá muito confiante, mas estou conformada.
Sobre o capítulo de hoje, teremos que lidar com uma certa morte bem triste aí. Creio que vocês já devem saber do que se trata. E tem mais um personagem novo na área: Erick Lewis, "interpretado" pelo Mike Vogel (homão da porraaa). Espero que gostem dele.
A música de hoje é da P!nk, e é maravilhosa. Eu sempre achei que ela combinava perfeitamente com a pegada da fic, e queria usá-la num capítulo bacana. Esse não foi lá o que eu esperava para usá-la, mas combina com a premissa dele, então vamos lá. Link: https://www.youtube.com/watch?v=yTCDVfMz15M
Agora vamos logo ao capítulo. Espero que gostem! Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720919/chapter/29

A vida é feita de oportunidades. Às vezes, quando parece tudo perdido, de repente surge algo que pode mudar nossa vida, e mesmo não sabendo ao certo se será para melhor ou para pior, vale o risco. Porque se a situação está ruim, continuar nela não vai fazê-la magicamente melhorar. Então arriscar em uma nova oportunidade é bom.

— É hoje. – afirmou Rebecca, encostando na prateleira ao lado da minha.

— Eu ouvi falar. – respondi tristemente – Eu não queria que as coisas fossem assim.

— Nem eu. – suspirou e ficamos em silêncio – Com quem você está hoje?

— Então, eu acabei de ver que estou na Plástica, mas o nome do médico é desconhecido para mim. – virei-me para ela, franzindo o cenho.

— Quem é? – ergueu uma sobrancelha, demonstrando curiosidade.

— Erick Lewis. – falei, observando-a para ver se ela conhecia.

— Nunca ouvi falar. – deu de ombros e negou com a cabeça.

— Bom, acho que vou ter que descobrir por mim mesma. – disse enquanto vestia meu jaleco – Vou nessa. – dei um beijo em seu rosto e dirigi-me até a porta do vestiário.

— Às 17:00. Não se esqueça. – reforçou, e eu apenas assenti, seguindo meu caminho pelo corredor.

Ouvi meu bipe disparar e já peguei-o para ver quem era, descobrindo que era o médico desconhecido, chamando-me no quarto de Mark. Bipei meus internos para irem para lá também e caminhei rapidamente até o local, encontrando uma multidão em frente ao quarto.

— Olá... – cumprimentei, um pouco hesitante.

— Olá. – respondeu um homem loiro, que, por ser a única pessoa ali que eu não conhecia, logo deduzi que era meu Atendente do dia. Ele ergueu uma sobrancelha e mediu-me com o olhar, esboçando um leve sorriso de canto – Você é...?

— Dra. Claire Scofield, residente, estou a seus serviços hoje. – apresentei-me e estendi a mão para que ele apertasse.

— Dr. Erick Lewis, cirurgião plástico. – apertou minha mão, sem tirar seus intensos olhos azuis dos meus – Eu vim de Nova York para “substituir” o Dr. Sloan como Chefe da Plástica. Mark é insubstituível, mas pretendo ao menos tentar.

— Você o conhecia? – perguntei curiosa, soltando sua mão com um pouco de dificuldade.

— Sim, ele foi meu professor lá em NY. Ensinou-me tudo o que eu sei sobre cirurgia plástica. – afirmou, finalmente desviando seu olhar de meu rosto para dentro do quarto, parecendo sentido.

— Eu sinto muito. – falei tristemente, olhando-o com um pouco de pena.

— Está tudo bem. Mark completou sua missão na Terra. Agora temos apenas que continuar seu legado como Rei da Plástica. – sorriu, mas notei que foi um pouco forçado.

— Como assim, novo Chefe da Plástica? – questionou Avery, surgindo rapidamente, parecendo irado.

— É exatamente o que ouviu, companheiro. – disse Erick, olhando-o com um pouco de ironia – E quem é você?

— Jackson Avery, Chefe da Plástica. – respondeu o moreno, estufando o peito.

— Não é o que eu ouvi do Chefe da Cirurgia. – sorriu sarcasticamente.

— Mas é a verdade. – rebateu, aproximando-se do homem, aparentemente querendo intimidá-lo.

— Você tem por escrito? – perguntou com uma sobrancelha erguida, mas o outro não respondeu nada, então ele continuou – Eu tenho. – tirou o crachá do jaleco e posicionou-o bem próximo do rosto de Jackson, que arregalou os olhos ao lê-lo – Está aqui ó, “Dr. Erick Lewis, Chefe da Cirurgia Plástica”. – apontou para o objeto – Eu sei que você é parente do Harper Avery, e deve ter tudo de mãos beijadas, e eu não pretendo roubar seu cargo para sempre não, na verdade, só vim mesmo pelo meu queridíssimo amigo e professor Sloan, para quebrar um galho enquanto você termina sua especialização. Eu tenho um emprego excelente em Nova York, e assim que esses dois anos terminarem, eu volto correndo, porque eu sou tão aclamado, que meu cargo vai ficar lá me esperando. – explicou, sem perder a oportunidade de gabar-se. Ele até lembrou-me o Mark – Eu juro de dedinho. – ergueu o dedinho e riu fraco, e eu não pude segurar o riso também.

— Vamos ver se você vai aguentar ficar aqui por dois anos. – Avery disse entredentes, deixando seu rosto ainda mais próximo do de Erick, e deu as costas e afastou-se apressadamente.

— Eu achei que ele fosse me beijar. – brincou o loiro, fazendo-me rir mais – Bom, vamos começar, temos que deixar tudo pronto até às 17:00. – afirmou e deu uma última olhada para o quarto, seguindo em frente pelo corredor logo em seguida.

Passei os olhos rapidamente por Mark, virando-me para seguir o cirurgião. Foi somente aí que notei a presença de meus internos, que observavam a cena com expressões de quem queria rir.

Olhei-os feio, como se mandasse eles segurarem o riso, e comecei a caminhar atrás de Lewis, e os cinco seguiram-me.

Fomos todos até o quarto do primeiro paciente, que era uma mulher que aparentava ter uns 30 anos, mas não parecia ter nenhum problema aparente.

— Bom dia, Srta. Scott. Como estão as coisas? – cumprimentou o homem, segurando o prontuário.

— Na medida do possível. – respondeu, parecendo infeliz – Eu sinto muito em saber sobre o Dr. Sloan. – suspirou – Então você é o médico que vai entrar no lugar dele?

— Sim. – o loiro sorriu fraco e assentiu – Agora vamos começar. Quem vai apresentar o caso? – virou-se para mim, que olhei em volta e notei que todos os internos estavam de mãos erguidas, ansiosos.

— Hmmm... – passei os olhos por todos, pensativa – Dra. Mitchell. – chamei-a, e a mesma aproximou-se mais do médico, pegando o prontuário.

— Francine Scott, 32, está internada para uma cirurgia plástica reconstrutora. O Dr. Sloan já havia ressecado algumas lesões, após descobrir  através de uma biópsia que era um Melanoma extensivo superficial. No entanto, as machas voltaram a aparecer na região abdominal, e foi comprovado ser a doença novamente, então faremos a cirurgia nesses outros lugares. Os últimos exames parecem promissores. Está tudo pronto para a cirurgia de reconstrução com enxerto hoje, às 17:00. –  leu, e olhou o cirurgião ao terminar.

— 17:00? – questionou, franzindo o cenho – Desculpe-me, amigão. – murmurou, negando com a cabeça – Eu não vou usar o enxerto. Eu vou usar o retalho. – afirmou, parecendo realmente decidido.

— E qual é a diferença? – perguntou a paciente, confusa.

— Na minha opinião médica, o retalho é melhor pois tem vida própria, ele cresce por si só. Pode ser uma recuperação um pouco chata, mas é melhor que o enxerto. – respondeu com emoção nas palavras – Isso, é claro, se você topar algo diferente do que o proposto pelo Dr. Sloan.

— Sloan parecia mais experiente do que você. Tem certeza que posso confiar? – Francine ergueu uma sobrancelha, desconfiada.

— Você pode. Ele foi meu professor. Não estou falando nada que ele não tenha me ensinado. – sorriu orgulhoso, tentando convencê-la.

Eu nem podia intervir, já que não conhecia-o, não sabia de seu número de sucessos e fracassos. Então, mesmo tendo simpatizado com ele logo de cara, tentei manter-me neutra, apenas observando-o.

— Bom, eu não entendo nada disso, mas se você está falando que está certo, quem sou eu para questionar? Pode fazer com o retalho. – a mulher deu de ombros, rindo fraco.

— Não poderia ter tomado melhor decisão. – Lewis olhou-a galanteadoramente, e lhe lançou uma piscadela – Dra. Scofield, agende uma SO para uma ressecção de Melanoma extensivo superficial e reconstrução com retalho, e pode adiantar a cirurgia por favor, marque para às 14:00. – pediu, e eu assenti, ainda calada – Obrigado pela confiança, Srta. Scott. Se precisar de alguma coisa, pode bipar qualquer um de nós sete, que viremos o mais rápido possível. Vejo você na SO. – despediu-se sorridente e deixou o quarto, sendo seguido por meus internos e eu.

— Você atualizou o prontuário dela? – questionei a Cecelia, que ainda carregava o objeto.

— Ainda não. – respondeu, olhando para o que carregava.

— Então faça isso agora, antes que se esqueça. Eu vou agendar a SO. – falei e aproximei-me do balcão das enfermeiras, pedindo para marcarem a operação.

Apressei o passo para acompanhar Erick, que já estava distante no corredor. Ao parar ao seu lado, continuei em seu ritmo de passadas, e um silêncio desconfortável formou-se entre nós.

— Então, Dra. Scofield. Conte-me mais sobre você. – ele quebrou o silêncio, virando-se para mim enquanto andava.

— Como o quê? – ri fraco e dei de ombros, sem saber o que responder.

— Você já tem uma área definida? – disse depois de pensar um pouco.

— Não. – neguei com a cabeça.

— Família?

— Mãe, pai e dois filhos, um menino e uma menina, gêmeos.

— Namorado? – ergueu uma sobrancelha, sugestivamente.

— Não. – respondi em um ato reflexo, arrancando um sorriso sacana do homem, que me fez corar.

— Bom saber. – sorriu para mim, mantendo seus olhos nos meus.

Fiquei um tempo vidrada naquele momento, encarando aqueles olhos azuis, tão diferentes dos que não saíam da minha mente. Mesmo assim, continuavam sendo encantadores. Na verdade, o homem por inteiro era encantador. Ele era simpático e parecia atencioso, coisas que eu presava em alguém.

— Erick? Que diabos está fazendo aqui? – indagou uma voz feminina, e eu dei um pulo de susto, desviando o olhar até a direção do som, rapidamente. Logo vi Anastasia, fitando-nos com o cenho franzido.

— E aí, maninha? – o homem sorriu vitorioso, encarando-a.

— O que está fazendo aqui? – repetiu a pergunta, impaciente.

— Estou bem também, obrigado por perguntar. As coisas estão ótimas em Nova York, mas fui convidado a substituir Mark Sloan como Chefe da Plástica. – disse com uma pitada de ironia.

— Mas e o Avery? – questionou, parecendo ainda mais confusa.

— Ele ainda está na especialização, não pode sair assumindo assim. E o Hunt sabe que eu sou perfeito para o trabalho. Dê as suas boas-vindas ao seu mais novo patrão! – abriu os braços, provocando a jovem.

— Inacreditável! – Ana riu-se sem humor, negando com a cabeça – Então agora eu tenho um babá?

— Não pretendo me meter na sua vida não, maninha. Relaxa. – pegou rapidamente no queixo dela – Agora eu tenho mais o que fazer. Vejo você por aí. – contornou a garota e continuou seu caminho.

Eu encontrava-me boquiaberta, observando a cena. Como eu não havia ligado os pontos?! O sobrenome dele era Lewis, e o de Anastasia também. Sem contar que a semelhança era notável.

Olhei para minha colega, que também parecia meio perdida, e segui o cirurgião, olhando-o surpresa.

— Você é irmão da Anastasia? Uau. – falei, erguendo as sobrancelhas.

— Vocês se conhecem? – perguntou, pousando seus olhos sobre mim.

— Sim, ela foi da minha turma de internato. Somos amigas. – concordei com a cabeça, e ele imitou-me, ficando em silêncio – Você sabia que acabou de comprar briga com o ex da sua irmã? – ri fraco, querendo puxar assunto.

— Quem? – uniu as sobrancelhas, confuso – Avery? – questionou ao cair sua ficha – Minha irmã namorou o Jackson Avery? – arregalou os olhos.

— Sim. – confirmei, fazendo-o bufar.

— Ela sempre teve um dedo podre para homens. – pareceu ficar mais sério, deixando-me um pouco constrangida.

—-

Acabamos as rondas, então eu caminhava lado a lado com Erick pelo corredor, sem ter ao certo um rumo. Eu mandara todos os meus internos fazerem alguma tarefa, então estávamos a sós, em um silêncio levemente constrangedor.

— Você topa um café? – convidou, sendo o primeiro a falar depois de vários minutos.

— O almoço não vai demorar... – falei sem pensar, só depois notando que poderia ser interpretado como uma desculpa para negar.

— Não estou a fim de almoçar. – deu de ombros – E aí, topa? – olhou-me com aqueles olhos pidões, e eu não ia conseguir resistir. E não sabia muito bem se queria resistir.

— Claro. – concordei, sorrindo levemente.

Seguimos quietos até a pequena lanchonete fora do hospital, e entramos na fila. Fiquei olhando em volta, sem notar que a pessoa à nossa frente era Diego, que de repente olhou para trás e fez uma cara de quem tinha visto um fantasma.

— Ah não... – disse, medindo Erick com os olhos – Por que todas as pessoas que eu durmo depois de conhecer naquela maldita boate LGBT+ acabam vindo trabalhar nesse hospital? – reclamou, aparentemente falando para si mesmo.

— Diego? – o loiro ergueu as sobrancelhas, surpreso – Não sabia que você era médico, e especificamente que trabalhava aqui.

— Idem. – o moreno não parecia muito feliz – Você é novo aqui, certo?

— Sim. Eu vim substituir o Sloan. Diga olá ao seu novo Chefe da Plástica. – sorriu orgulhoso.

— Assim fica difícil separar o trabalho do pessoal. – revirou os olhos e virou-se, pois chegara sua vez de pedir.

— Vai me dizer que conhece esse também? – sussurrou para mim, abaixando um pouco a cabeça para ficar próximo do meu ouvido.

— Também era da minha turma. Ele é tipo, o melhor amigo da sua irmã. – respondi e ri fraco – Você deu sorte. – ironizei.

O cirurgião negou com a cabeça, parecendo insatisfeito. Gomes nem ao menos olhou para trás antes de ir embora, e logo depois fizemos nossos pedidos, que não demoraram a ficar prontos. Sentamo-nos em uma mesa ali perto, e eu fiquei observando o movimento, sem saber o que falar.

— Você parece conhecer quase todo mundo nesse hospital. – afirmou, dando um gole em seu café logo em seguida.

— Quase. Com a convivência, a gente acaba conhecendo todo mundo. Mas é um hospital muito grande, tem muita gente, é difícil conhecer absolutamente todo mundo. – respondi, dando de ombros.

— É verdade. O hospital que trabalho em Nova York não é tão grande quanto esse, e mesmo assim eu ainda não conheci todo mundo. E olha que fiz até minha residência nele, então já faz um tempo que estou lá. – nós dois rimos, e eu neguei com a cabeça. Não soube complementar o que ele disse, para assim continuarmos o assunto, então apenas dei alguns goles em meu café, sem falar nada – Você disse que tem gêmeos. Conte-me mais sobre eles.

— Se é sobre o pai que você quer saber, ele está morto. – fui direto ao ponto, logo entendendo suas intenções.

— Oh, eu sinto muito... – fez cara de pena – Mas não era só isso que queria saber. Quantos anos eles têm? Quais são seus nomes? E se não for muita curiosidade, como o pai deles morreu? – interrogou, deixando-me um pouco desconfortável com a última pergunta.

— Eles têm 1 ano e alguns meses. Akira e Tsunade. Essa história é melhor deixar para outro dia. – respondi, não querendo relembrar aquilo naquele momento.

— Que tal você me contar em um encontro fora desse hospital? – sugeriu, deixando-me paralisada e com os olhos arregalados.

Eu já previa que aquilo iria acontecer. Ele não estava me tratando tão bem apenas para fazer amizade, e eu sentira isso desde o começo. Eu sentia-me lisonjeada por atrair um homem daqueles, mas ao mesmo tempo não sabia muito bem se podia aceitar seu convite. Primeiramente, ele era irmão de uma das minhas amigas; segundo, ele havia dormido com um de meus amigos na noite anterior; e terceiro, e o mais relevante: Ronan. Eu não conseguia esquecê-lo por nenhum segundo, e mesmo sabendo que a melhor coisa era seguir em frente, não sabia se estava pronta. Ele tinha sido meu primeiro contato romântico depois de Akira, e não dava para simplesmente colocar isso de lado e pular de cabeça com outra pessoa. Ou será que dava?

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do meu bipe, e dei um pulo de susto na cadeira. Olhei o aparelho para ver quem era, deparando-me com o nome de uma enfermeira, e logo soube o que havia acontecido, e em um piscar de olhos coloquei-me de pé.

— Eu preciso ir. – disse, colocando o bipe de volta no uniforme – Vejo você na cirurgia. Tchau. – despedi-me e saí rapidamente, sem dar tempo para que ele falasse qualquer coisa. Não queria encarar aquele convite naquele momento, e aquele chamado era bem mais importante.

Segui apressadamente para o balcão da enfermeira em questão, chegando lá em pouco tempo, ansiosa.

— Saiu? – questionei, curiosamente.

— Sim. – respondeu com um sorriso fraco, e eu aproximei-me do computador, lendo o que estava escrito.

Soltei um sorriso aliviado ao terminar de ler, olhando alegremente para a mulher ao meu lado.

— Obrigada. – agradeci, animada – Você pode imprimir para mim, por favor? – pedi, e a mesma assentiu, clicando em algumas coisas no computador, e logo o papel saiu da impressora.

Agradeci novamente e bipei todos os meus internos, sempre recebendo respostas de que estavam muito ocupados. E realmente, eu dera várias tarefas a eles. Suspirei e fiquei um pouco hesitante de fazê-lo ou não, e depois de muito pensar, decidi encarar aquilo logo de uma vez, afinal, já fazia 4 meses.

Bati na porta já aberta do quarto e entrei lentamente, bastante constrangida. O homem olhou-me por cima dos óculos de leitura e arregalou os olhos, provavelmente não esperando minha presença ali.

— Claire? – disse com surpresa na voz, tirando os óculos – Eu... – começou a falar, mas parou, parecendo nervoso.

— Não diga nada, Ronan. – cortei-o, impaciente – Eu vim trazer isso. Não tinha mais ninguém disponível. – mostrei-lhe o papel, que eu havia dobrado em três partes, para parecer uma espécie de correspondência.

— O que é isso? – indagou, franzindo o cenho.

— É o laudo do naufrágio do seu navio. – respondi, seca, fazendo-o ficar ainda mais chocado. Aproximei-me dele e estendi o papel a ele, que segurou-o, sem tomar completamente da minha mão, assim ficando cada um segurando uma ponta.

— Você leu? – perguntou, olhando-me um pouco aflito.

— Não. – menti – Não é da minha conta. Pode ler com sua esposa. – soltei minha ponta e dei as costas, seguindo para a porta.

— Foi erro do comandante. – afirmou, e eu parei antes de sair, surpresa por ele ter lido tão rápido e em voz alta – Só caso você queira saber. – abaixei a cabeça, engolindo em seco – Eu sinto sua falta.

— Não! Não comece! – virei-me bruscamente, perdendo a paciência – Você é casado, e está há poucos meses de realizar seu sonho, que é ter filhos e construir uma família. Não venha com essa de que sente minha falta.

— Se você tivesse só um pouco mais de paciência... – olhou-me suplicante, e eu ri ironicamente e neguei com a cabeça.

— O que você quer, Ronan? Que eu te espere até seu filho nascer e crescer para você pedir o divórcio? – rebati, indignada –  Quantos anos até isso, hein? 18? Até ele casar? Você realmente acha que eu vou atrasar minha vida por você?

— Isso é amor, Claire.

— Não, isso não é amor. Isso é atraso de vida. Esperar por alguém que não te ama, isso é atraso de vida. E não me diga que você me ama, porque não é verdade. Se você amasse, não teria me iludido e mentido que não estava nem tocando em sua esposa, sendo que você fez um filho nela. – fiz que não com a cabeça, cansada daquilo – Você quer saber, Ronan? Você está morto para mim. – dei de ombros – Parabéns, o naufrágio não foi sua culpa. Espero que durma melhor à noite. – finalizei, dando as costas para ele e saindo de vez do quarto, apressadamente.

—-

Encontrava-me lavando minhas mãos em silêncio com Erick e Cecelia, que foi escolhida para participar daquela cirurgia. Havia uma tensão entre nós dois, e era óbvio que ele estava esperando uma resposta, mas eu ainda não podia dá-la. Eu ainda estava em conflito dentro de mim mesma. E não queria dar uma resposta da qual me arrependeria.

Lewis acabou de lavar-se e saiu dali sem falar nada, e eu segui-o junto com minha interna logo em seguida. Vestiram nossas luvas e roupas cirúrgicas e aproximamo-nos da mesa, onde a paciente já estava desacordada.

— Vamos começar. Bisturi. – falou, e o material foi-lhe entregue. Fez um corte sobre a grande mancha na barriga da mulher, enquanto eu e Mitchell apenas observávamos. Para a ressecção, eu ajudei-o com algumas coisas, contudo não foi nada demorado. Finalmente chegou o momento do retalho, o qual eu estava ansiosa – Vamos construir o pedículo. Essa é a melhor parte. De onde você acha melhor tirarmos o retalho, Dra. Scofield?

— Eu havia pensado em puxarmos o tecido debaixo dos seios, onde em caso de cicatriz, ficaria menor. – respondi, tentando parecer confiante.

— Não é má ideia. Vamos proceder dessa forma. – afirmou, e começou a realizar o procedimento. Essa parte foi mais longa, e eu não tirei os olhos de seus movimentos por nenhum segundo, assim como minha interna – Testando a irrigação do retalho. – disse, e soltou a veia que faria isso. O tecido ficou corado, mostrando que a operação fora um sucesso, e o médico recebeu alguns aplausos – É isso aí, pessoal. Perfeito. – sorriu e olhou-me com olhos alegres, e eu correspondi ao seu olhar. Foi quando lembrei-me de Sloan, e sua tentativa meio frustrada de me mostrar o “maravilhoso mundo da plástica”. Mas naquele momento, eu entendi. Eu vi o que ele via de tão maravilhoso em sua carreira. De repente, senti-me mais próxima dele.

Pouco tempo depois, nos encontrávamos novamente lavando nossas mãos, com a sensação de dever cumprido. Erick olhou no relógio e arregalou os olhos, apressando-se para acabar logo ali.

— Já são 17:00. O tempo voou. – falou e terminou de enxaguar-se, secando sua mão – Vejo vocês depois. Mantenham um olho nessa paciente. – pediu antes de sair.

— O que tem de tão importante hoje às 17:00? – perguntou Cecelia, aparentemente sem entender nada.

— Os aparelhos de Sloan vão ser desligados. – respondi tristemente, também acabando de me enxaguar – Faça o que ele disse, eu vou também. Qualquer coisa, pode me bipar. – mandei e segui para fora, direcionando-me ao quarto do cirurgião em coma.

Ao aproximar-me, encontrei meus três amigos escorados no balcão das enfermeiras, de frente para o quarto. Avery estava sentado nas cadeiras ali perto, e lá dentro estavam apenas Richard, Derek, Callie e Erick. Webber falava alguma coisa para os três médicos, e eu presumi que ele estivesse explicando o procedimento. Parei ao lado de Rebecca e enfiei as mãos nos bolsos do jaleco, assistindo àquela cena tristemente. Quando finalmente o antigo Chefe acabou de desligar os aparelhos, Torres puxou uma cadeira e sentou-se, assim como Shepherd, e o novato apenas encostou-se na porta de vidro, cruzando os braços. Agora só restava esperar.

Anastasia sentou-se ao lado de Jackson e passou uma mão em suas costas, fazendo carinho na tentativa de confortá-lo. Senti um olhar feio vindo de Eli, que também estava nas redondezas, mas naquele momento aquilo era fútil.

Horas se passaram, e a noite finalmente caíra. Meredith também juntara-se a nós, que já estávamos sentados nas cadeiras, cansados de esperar.

— Nós nos empenhamos tanto... lá na floresta. – afirmou Grey, quebrando o silêncio melancólico que estava estabelecido – Achamos que se o trouxéssemos de volta vivo... – suspirou e negou levemente com a cabeça, sem tirar os olhos de seu marido, que estava apoiado sobre a cama do amigo – Não posso ficar. – disse depois de levantar-se rapidamente – Digam a Derek que eu estive aqui e precisei ir. Eu estou... Vou para o aeroporto. Vou ver Cristina.

Assentimos e continuamos ali por mais um tempo, até que mais médicos se aproximaram, como Karev e Bailey. A mulher sentou-se ao lado de Richard e pareceu hesitar, mas perguntou mesmo assim.

— O meu apelido sugere respeito? – olhou-o desconfiada, e todos prendemos o riso.

— Não. – Webber respondeu, fazendo cara de paisagem.

— Causa medo no coração dos residentes?

— Não.

— Qual é? – questionou impaciente.

— Você tem estado... feliz. – afirmou o médico, depois de passar um tempo pensativo – E os internos notaram que sua felicidade tem a ver com a chegada do Dr. Warren. – continuou, pisando em ovos – E é tudo o que eu vou dizer!

— Vamos, precisa me dizer. – insistiu, olhando em volta e depois para o homem ao seu lado.

— Não posso, sou um cavalheiro. E também, eu não quero. – rebateu, deixando a mulher indignada. Continuamos segurando o riso, e tentando ao máximo fazer uma cara neutra.

— Vou lhe dizer porque estou para ir embora para sempre. – disse Alex, depois de terminar de escrever algumas coisas e começar a afastar-se dali, e fazendo Miranda levantar-se e ficar de frente para ele – Seu nome é BCB.

— BCB? – indagou a médica, confusa.

Booty Call Bailey. É como a chamam. – desembuchou, deixando a mulher totalmente chocada, e Diego não se conteve e soltou um riso alto, sendo olhado feio por todos.

— Obrigada. – agradeceu falsamente.

— Tchau Dra. Bailey. – despediu-se, um pouco sem graça.

— Tchau Karev. – também despediu-se, totalmente constrangida.

Mais algumas horas se passaram, e agora Ben Warren, o noivo de Bailey, juntara-se a nós também, e nós quatro sentamo-nos no chão, com as costas escoradas no balcão, para dar espaço para os outros. Eu estava com a cabeça encostada no ombro de Rebecca, prestes a cochilar. Meu corpo estava pedindo arrego.

— Erick me chamou para sair. – sussurrei para a morena, que olhou-me surpresa com o canto dos olhos.

— Sério? E o que você disse? – questionou curiosa.

— Não respondi. Estou fugindo disso. – respondi, olhando para frente.

— Por quê?! O cara é um gato! – exclamou, e eu cutuquei-a para que ela falasse mais baixo.

— Ele é irmão da Anastasia, e transou com o Diego noite passada. – retruquei, omitindo o principal motivo da minha dúvida.

— E daí? Eu já participei de uma suruba com o ex-noivo da Anastasia e com o Diego. Nada mais me surpreende. – Cooper riu-se, fazendo-me ficar um pouco sem graça.

— Eu estou pensando. – finalizei a conversa, e voltamos a ficar em silêncio.

De repente, quando meus olhos se fecharam por um instante, o som da máquina ecoou pelo corredor, fazendo-me arregalar os olhos, assustada. Agora era real: Mark Sloan estava morto.

As lágrimas foram inevitáveis da parte de todos, e os três que estavam lá dentro debruçaram-se sobre o corpo do homem, também chorando. O clima estava extremamente pesado, e ninguém sabia ao certo o que fazer.

O primeiro a sair do quarto foi Erick, com o rosto e olhos vermelhos devido ao choro. Sua irmã levantou-se rapidamente e abraçou-o, mas o mesmo manteve-se firme, encarando-me tristemente. Ao ser soltado por Anastasia, o homem apenas seguiu pelo corredor, sem dizer uma palavra  sequer.

Talvez ele fosse minha chance. Talvez eu estivesse perdendo a oportunidade de mudar minha vida. Eu estava precisando de mudanças, e mesmo que fosse difícil seguir em frente, não custava tentar. Mark estava morto, aquilo não podia ser mudado, infelizmente. E os boatos eram que ele deixara para dizer que amava Lexie no último suspiro dela. Eu não queria deixar tudo para a última hora. Eu precisava viver um pouco. Sair da rotina. Afinal, eu poderia morrer a qualquer momento, e o que eu teria feito da minha vida? Sofrido sem tentar mudar.

Em um ato reflexo, levantei-me e corri atrás dele, parando à sua frente.

— Eu sei que não é um momento muito oportuno, mas... Sobre aquele seu convite, eu topo. Vamos sair algum dia desses. – afirmei, encarando-o nos olhos, nervosa. O loiro esboçou um sorriso e assentiu, parecendo alegrar-se um pouco.

— Eu espero por você no saguão amanhã, às 20:00. Não se atrase. – disse ainda sorrindo de canto, e deu-me um beijo na bochecha antes de continuar seu caminho. Virei-me e fiquei observando-o afastar-se, pensando se aquela realmente era a decisão certa.

“Quando o mundo fecha uma porta, Deus abre uma janela”. Creio que todo mundo já ouviu isso pelo menos uma vez na vida. É um daqueles grandes clichês. Mas será que só pelo fato de ser um clichê, é uma mentira? Okay, talvez não foi Deus. Foi o Universo, a vida, o que você preferir acreditar. Mas novas oportunidades surgem em momentos inusitados. Arrisque-se! Continuar na zona de conforto, só porque tem medo de as coisas piorarem, não é uma coisa muito boa. O esforço para melhorar sua vida vai eventualmente valer a pena. Agarre-se às oportunidades que lhes são entregues. Você pode estar perdendo a jogada de mestre da sua vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram do Erick? O que acham do clima ali entre a Claire e ele? Será que vão dar certo? E o Sloan morreu mesmo, gente. #RIPMcSteamy
Ah, e vocês viram que vai ter uma minisérie de Grey's Anatomy, chamada "B-Team"? Vai ser sobre os novos internos adaptando-se no hospital, e sendo treinados pela Bailey. Estou bem ansiosa para ver.
Enfim, vejo vocês nos comentários! Beijos!