Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 18
Capítulo 17 – When You Believe (Parte II).


Notas iniciais do capítulo

Hey! Mil desculpas por ter deixado de postar duas semanas, é que eu queria postar capítulo novo só depois de acabar o que estou escrevendo, mas ele está dando muuuito trabalho, então vou postar esse logo de uma vez.
Lembrando que foi um capítulo dividido em 2 partes, e essa é a segunda e última. Se a fanfic fosse dividida em temporadas, essa seria a "Season Finale" da "2ª temporada", coincidindo com o final da 7ª temporada da série. Eu gosto muito desse capítulo, e espero que gostem também!
A música é a mesma do anterior (https://www.youtube.com/watch?v=LKaXY4IdZ40)
Vamos ao capítulo. Boa leitura!



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Anastasia

1 mês depois.

 

Três meses desde o parto. Claire apresentava algumas melhoras praticamente insignificantes aqui e ali, mas a possibilidade de ela acordar parecia cada vez mais remota. Aquela situação era com certeza a pior em que eu já tinha me metido, e o fato de ninguém se pronunciar quanto a uma decisão me torturava mais ainda. Eu estava disposta a continuar ajudando com os bebês, apesar de nunca ter me dado muito bem com crianças e de já estar para lá de exausta. Os dias se emendavam com as noites, e as poucas horas de sono que eu costumava ter se reduziram ainda mais. Quando não estava de plantão no hospital, estava na casa dos Scofield cuidando dos bebês, e vice-versa. O único momento que eu podia dormir eram cochilos no sofá durante à noite enquanto tomávamos conta dos bebês e em meu horário de almoço, no qual eu comia qualquer coisa rapidamente e corria para a Sala de Descanso, tirando a maior soneca possível.

— Bom dia, Sra. Scofield. – sorri ao adentrar a casa. Eu passara a noite no hospital, e, como de costume, dei uma pausa e fui até a casa dela para tomar café da manhã e ver os bebês.

— Bom dia, Anastasia. – cumprimentou também sorrindo fraco, e voltou para a cozinha rapidamente.

— Obrigada, Deus. Toma aqui. – disse Rebecca, entregando-me a bebê sem nome, que chorava desesperadamente – Faça sua mágica e consiga que ela cale a boca, que eu preciso de uma banho urgentemente.

— Mas... – tentei discutir, no entanto sabia que seria inútil – Cadê o Diego?

— Olha ele aqui. – respondeu a morena, dando um tapa na perna de Diego, que estava deitado no sofá, provavelmente dormindo – Acorda, folgado! – exclamou antes de subir as escadas.

— Já vou... – murmurou o rapaz, ajeitando-se no sofá e cobrindo-se ainda mais com o cobertor de lã que Sara nos emprestara.

Revirei os olhos e comecei a balançar a bebê, que chorava desesperadamente.

— Shh, está tudo bem, a tia Anastasia está aqui... Não precisa chorar, fica quietinha, que tal? – falei com a voz mais calma que pude, e depois de chacoalhar ela por mais alguns segundos, a menina parou de chorar, apenas olhando-me curiosa, com aqueles olhinhos puxados como os do pai. Começou a fazer alguns barulhos típicos de bebês, e sorriu para mim, fazendo-me derreter. Não gostava de crianças, mas aquelas em especial faziam eu me sentir uma boba – Ela sorriu para mim!

— Pois é, eles já estão tão espertos! Sorriem para quem gostam, mas fazem uma carranca para quem os desagrada. – disse Sara, colocando a mesa do café.

— Eles não gostam de alguém? – questionei, franzindo o cenho.

— O pai do Akira, eles têm pavor. – a mulher riu-se, e eu acompanhei-a.

Coloquei-a na cadeirinha de balanço que se encontrava no tapete da sala e sentei-me no sofá de frente. Encarei o rapaz dormindo mas decidi deixa-lo dormir, porque eu sabia o quanto aquilo era raro e precioso. Fiquei fazendo umas caretas para a bebê, até que fui interrompida pelo som do toque do meu celular, que era a música “Run the World (Girls)” da Beyoncé. Peguei o aparelho e olhei quem era, mas revirei os olhos e, antes de rejeitar a chamada, percebi que a bebê sorria e fazia alguns sons parecidos com risadas, balançando os bracinhos e perninhas, parecendo animar-se com a música.

— Você gosta? – perguntei, rindo boba. Deixei o aparelho de lado até que a chamada fosse para a caixa postal, apenas para ver a reação fofa da menina com a música.

— Não vai atender? – indagou Diego, que nos observava, sem que eu tivesse percebido.

— Não, é só um cara que eu estou saindo. Ele fica enchendo meu saco, e eu não estou a fim hoje. – afirmei, dando de ombros.

— O café está servido. – avisou a Sra. Scofield, e o jovem e eu nos levantamos rapidamente para juntar-nos à mesa.

—-

Caminhava pelo corredor do hospital, e as pessoas pareciam alvoroçadas. Senti que alguma coisa estava acontecendo e que as fofocas estavam a todo vapor, então tratei de informar-me. Aproximei-me do balcão das enfermeiras e me escorei nele, esticando o pescoço.

— O que está acontecendo? Todo mundo parece estar falando sobre algo. – sussurrei para a enfermeira, que aproximou seu rosto do meu.

— Meredith Grey arruinou o experimento de Alzheimer do Derek Shepherd. Ela trocou uns documentos ou alguma coisa assim. As más línguas dizem que foi por causa da mulher do Chefe, mas acho que isso é só boato. Pelo jeito agora o casal perfeito MerDer desmorona. – respondeu a moça, com a voz baixa.

— Oh meu Deus... – falei, surpresa – Que mancada... – neguei com a cabeça, já me lembrando da mãe de Rebecca. Apesar de ela não falar sobre o assunto, nós já sabíamos que a mulher estava internada para o experimento e que sua filha se recusava a falar com ela, mas não entendíamos o porquê – Obrigada. – agradeci e fui atrás de Rebecca, a bipando no caminho.

Caminhei rapidamente pelos corredores do hospital, até finalmente encontrá-la na Emergência. Aproximei-me rapidamente, já ofegante, e mesma encarou-me confusa.

— O que aconteceu? – questionou, franzindo o cenho.

— Você não ouviu as fofocas? – indaguei, tentando retomar o fôlego.

— Não, sobre o quê? – pareceu começar a se preocupar.

— Meredith Grey arruinou o experimento do Alzheimer. – respondi, estudando seu rosto, que ficou indecifrável.

A jovem apenas saiu dali e me deixou falando sozinha, e achei melhor deixa-la fazer o que quisesse, afinal ela gostava de manter seus segredos e eu respeitava aquilo.

Olhei no relógio e notei que já era horário de almoço, então segui para o vestiário dos residentes, onde eu guardava a marmita que a Sra. Scofield mandava para nós. Esquentei-a no micro-ondas que ficava ali e comi-a o mais rápido que consegui, já me direcionando para uma Sala de Descanso, onde encontrei um médico dormindo no beliche de baixo, então subi para a parte de cima e acomodei-me ali, não demorando muito para apagar.

—-

Era final de tarde, e nós, os “três sobreviventes”, os pais de Claire e os de Akira fomos convocados para uma reunião em uma das Salas de Conferência do hospital. Sentei-me numa cadeira ao lado de Diego e fiquei aguardando começar a reunião, já temendo sobre o que se tratava. Rebecca encontrava-se de pé, caminhando de um lado para o outro, parecendo nervosa.

Pouco depois, Roger e Derek entraram na sala, e ambos ficaram de pé na cabeceira da mesa em formato oval. Os dois trocaram um olhar e concordaram com a cabeça, virando-se para nós sete.

— Pode se sentar, Rebecca. – disse o obstetra, encarando a morena.

— Eu estou bem de pé, vamos logo com isso. – retrucou, cruzando os braços e parando de andar.

— Muito bem, vamos direto ao assunto. Claire já está internada há 3 meses, sem muito sinal de melhora. Há dias que até dá um pouco de esperança, mas ela acaba voltando para a estaca zero tão rápido quanto melhora. Agora já é o momento de começar a considerar desligar os aparelhos, ou movê-la para uma clínica de tratamento intensivo, onde ela será supervisionada 24 horas. Em caso de desligar os aparelhos, Claire sempre foi muito clara que queria doar os órgãos, então assim que desligados, uma equipe médica virá e a levará para cirurgia. Se escolherem a clínica, o hospital pode indicar algumas boas opções. Vale destacar que as chances de ela acordar a partir de agora são quase zero. Mas a decisão legal é dos pais da paciente, contudo nós achamos melhor convocarmos essa reunião com todos os envolvidos, assim talvez seja mais fácil chegarem a uma conclusão. Não há pressa para terem uma resposta. – explicou Shepherd logo de uma vez, com sua voz calma.

— Nós não podemos desligar os aparelhos! É loucura! – exclamou Cooper, negando com a cabeça – Nós vamos movê-la para uma clínica.

— Mas você ouviu o Dr. Shepherd, as chances de ela acordar são quase zero! Eu acho melhor libertá-la logo desse sofrimento, e deixa-la descansar em paz. – retrucou a mãe de Akira.

— Eu sei quais são as chances, eu sou uma médica, e enquanto tiver 1% de chances de ela acordar, nós temos que mantê-la viva. – rebateu Rebecca – Esses bebês não podem ser órfãos de pai e de mãe!

— E ela por acaso está sendo uma mãe para eles, estando deitada naquela cama? Eles estão sendo órfãos do mesmo jeito. – Diego pronunciou-se, dando de ombros.

— Mas ela pode ser uma mãe, no futuro. Nós não vamos desligar as máquinas e ponto final. – disse a jovem médica, negando com a cabeça.

— Infelizmente, essa não é sua decisão, Dra. Cooper. – afirmou Roger, encarando-a com pena.

— Obrigada por me relembrar pela milésima vez, até porque eu poderia esquecer desse detalhe mesmo com você me falando isso todos os dias. – a garota ironizou.

— Nós podemos tirar um tempo para pensar no assunto? – pediu Sr. Scofield, abraçando os ombros de sua esposa, que chorava desesperadamente.

— Todo o tempo que precisarem. – Dr. King assentiu, olhando-os com compaixão.

— Bom, creio que o objetivo dessa reunião já foi atingido, que foi explanar a situação e ouvir as diversas opiniões dos envolvidos. Se ninguém mais tiver nada para acrescentar, podemos terminar por aqui. A decisão agora fica com os pais da Claire. – disse Derek, olhando em volta.

Dei de ombros e neguei com a cabeça, sem saber o que dizer. Eu não conseguia tomar um lado naquilo. Era muito difícil decidir entre deixar uma de minhas melhores amigas “descansar em paz”, como dizem, ou mantê-la viva, mesmo com uma chance de 1% ou até menos de sobrevivência.

— Então acho que estamos acabados por aqui. Obrigado pela participação de todos, e eu lamento pela situação. – continuou o neurocirurgião, e saiu da sala, sendo seguido por Roger.

Bufei e enfiei o rosto nas mãos, completamente perdida. Agora, além de fisicamente esgotada, estava emocionalmente esgotada também. Passei as mãos nos cabelos e fiquei encarando o nada, tentando digerir e tendo uma briga interna, sobre qual seria a melhor decisão.

— Vocês não podem desliga-la. – afirmou Rebecca, virando-se para os pais de Claire – Ela iria querer lutar para ficar viva por seus filhos.

— Rebecca, deixe-os pensar... – pediu Diego, calmamente.

— Ah, vai se foder, Diego! Você nunca nem foi amigo dela, e agora paga de BFF só porque quer parecer o coitadinho com a amiga em coma! – retrucou a jovem, fazendo-me arregalar os olhos.

— Falou a que só ficou amiga dela porque ainda acha que tem chances com ela. Encare a realidade, Rebecca, mesmo que ela acordar do coma e souber que você lutou por ela e o caralho, ela nunca vai te amar de volta! Você vai ficar presa na friendzone para sempre e pronto, aceita! – rebateu o rapaz, deixando todos perplexos.

— Pessoal, menos! Vamos para outro lugar, esfriar as cabeças, pensar um pouco, e depois nos encontramos de novo. – finalmente pronunciei-me, tentando fazer os dois calarem a boca.

— Eu não vou arredar o pé desse hospital, vou fazer guarda no quarto dela, mas vocês não vão desligar os aparelhos. – disse a morena, antes de correr para fora da sala.

Suspirei e esfreguei os dedos na testa, sentindo a dor de cabeça, que já era constante devido à falta de sono, aumentar. Levantei-me e deixei a sala, seguindo diretamente para a capela. Aproximei-me do altar e acendi uma vela, fazendo o sinal da cruz.

— Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém. – sussurrei, beijando os dedos ao terminar. Fiquei de joelhos e juntei as mãos, um pouco sem jeito – Eu sei que faz tempo que não falo com o Senhor, não é? – comecei minha oração, limpando a garganta, estranhamente nervosa – Mas é que as coisas realmente estão sérias agora, Deus. Você deve conhecer a Claire Scofield, né. Ela acreditava bastante em Você. Bem, Você também deve saber que ela está a um fio de ir se encontrar com o Senhor. Mas o problema é que ela não pode ir. Ela acabou de dar à luz a duas crianças que já não têm pai, e elas não podem ficar sem mãe também. Então por favorzinho Deus, quebra esse galho aí. Traz ela de volta. Eu sei que ela tem quase zero chances, mas milagres acontecem o tempo todo, então nos dê um também. Eu faço qualquer coisa que o Senhor quiser. Até só faço sexo depois do casamento a partir de agora, se Você trazê-la de volta. Por favor. Amém. – concordei com a cabeça e levantei-me.

Encarei a imagem de Cristo e tentei, pela primeira vez, realmente acreditar que Ele me ouvia. Que Ele responderia nossas preces. Afinal, os pais de Claire organizaram um grupo de orações todos os dias, e até o pai de Rebecca participava. Por falta de pedidos não seria.

Respirei fundo e saí dali, seguindo para o quarto de Claire. Para minha surpresa, estava vazio, então aproveitei para entrar e bater um papo com ela. Sentei-me na poltrona ao seu lado e segurei sua mão, um pouco desconsertada.

— Hey, eu sei que não tenho vindo muito aqui, mas sabe como é né, a vida anda muito corrida. Seus filhos nos dão um trampo danado! – ri fraco, mas meu sorriso foi se desmanchando lentamente – Eles querem desligar seus aparelhos, Claire. Então, se você quiser continuar viva e conhecer seus filhos, agora seria uma boa hora para você acordar. É hora de voltar para casa, Claire. Por favor. Eu tenho medo do que Rebecca pode fazer se te perder. Você é a pessoa mais importante para ela, então você tem que voltar. Eu estou implorando... – deixei a primeira lágrima escorrer, e deitei minha cabeça em seu braço, entregando-me ao choro.

De repente ouvi um barulho como se alguém estivesse sufocando, além dos alarmes das máquinas estarem disparando e senti seu braço movimentar-se embaixo de minha cabeça, como se lutasse contra alguma coisa. Ergui os olhos até seu rosto e vi seus olhos abertos, e ela parecia procurar o ar. Arregalei os olhos e abri a boca, chocada com o que via.

— Claire? – chamei, e a mesma se debatia na cama, tentando livrar-se das máquinas – Alguém me ajuda aqui?! – gritei, e várias enfermeiras adentraram o quarto – Ela está lutando contra o tubo. – sorri em meio as lágrimas e segurei sua mão com força – Está tudo bem, calma Claire, está tudo bem.... – tentei acalmá-la, sorrindo largo e ainda chorando de emoção – Alguém bipe Rebecca Cooper! – ordenei, virando para trás, e uma enfermeira assentiu e moveu-se rapidamente – Obrigada. – olhei para cima e agradeci a Deus, sentindo um grande peso sair de minhas costas.

 

Claire

 

Eu não sabia mais o que era real e o que era sonho. O tempo parecia não passar, e era tudo escuro, como se estivesse trancada num quarto sem portas nem janelas, com nenhuma iluminação. Às vezes eu ouvia algumas vozes, elas pareciam muito reais, tanto que até podia ver os rostos das pessoas. Contudo, em questão de tempo elas despareciam e tudo ficava quieto e sombrio novamente.

Inicialmente, aquilo me pareceu bem confortável. Parecia que eu estava tirando uma soneca tranquila. No entanto, aquilo foi se tornando um pouco assustador, pois eu comecei a me sentir presa. Presa em minha própria mente. Às vezes alguns sonhos me tiravam daquela prisão, mas alguns deles eram pesadelos, que me deixavam ainda mais assustada. Eu gritava por socorro, mas não parecia surtir efeito. A sensação seguinte foi de tédio, porque eu havia desistido. As vozes ficaram cada vez mais distantes, até que eu demorei para ouvir uma novamente. Porém, quando ouvi, senti como se alguém abrisse uma porta naquele quarto escuro, e senti uma luz forte em meus olhos. Sempre dizem que não podemos correr para a luz, mas eu não pude evitar. Qualquer coisa era melhor do que ficar presa ali. Aproximei-me da luz, até que finalmente consegui enxergar alguma coisa, depois de ficar cega por algum tempo.

Abri os olhos lentamente e a primeira coisa que senti foi algo em minha garganta, que me fazia engasgar. Tentei cuspir aquilo, inutilmente, então comecei a debater meu corpo, me sentindo como se estivesse amarrada a alguma coisa. Comecei a reconhecer as formas à minha volta. Notei que estava no hospital, pois os sons das máquinas eram estrondosos em meus ouvidos, e pude ver a cama, meu corpo coberto por uma manta branca, e um cabelo loiro se misturando com o branco dos tecidos.

—  Claire? – a voz feminina ecoou em minha cabeça, e senti vontade de gritar, mas ainda havia algo em minha garganta, que me sufocava – Alguém me ajuda aqui?! Ela está lutando contra o tubo. – senti um aperto em minha mão e tentei apertar de volta, mas não tinha muita força para aquilo – Está tudo bem, calma Claire, está tudo bem.... Alguém bipe Rebecca Cooper! – a jovem loira, que reconheci ser Anastasia, começou a gritar para as enfermeiras, que moviam-se rapidamente.

Finalmente alguém puxou aquilo que me sufocava, e pude respirar por conta própria. Tossi e tentei retomar o fôlego, sentindo meus pulmões encherem-se de ar novamente. Inclinei a cabeça para frente e tentei acalmar-me, aos poucos parando de me debater na cama. Eu estava zonza, e não conseguia entender muito bem o que se passava ali, como se eu estivesse debaixo d’água, estava tudo embaçado e os sons pareciam distantes. Avistei Rebecca, que correu até mim e abraçou-me com força, e eu retribui o gesto, ainda confusa. Vi meus pais aproximarem-se também, e os pais de Akira pararam na porta, junto com Diego. Foi quando me ocorreu: eu tinha filhos agora. Será que eles estavam vivos? Como estavam? Aquelas perguntas foram crescendo dentro de mim e eu comecei a me desesperar, finalmente conseguindo dizer algo.

— Onde estão meus filhos? – sussurrei, esforçando-me para falar. A morena me segurava fortemente contra si, e podia sentir suas lágrimas molharem minha roupa hospitalar.

— Eles estão bem, nós os traremos assim que possível. – respondeu Anastasia, encarando-me com um sorriso no rosto.

— Você está viva, você acordou! Eu sabia! Sabia! – Rebecca exclamava, ainda com seus braços em volta de mim.

— Ela acordou mesmo? – questionou uma voz masculina, adentrando o quarto – Eu sei que sentiu falta dela, mas eu preciso que se afaste agora, Dra. Cooper. – pediu, e Rebecca afastou-se, um pouco relutante. A garota segurou meu queixo e sorriu largo, transbordando felicidade. Ao afastar-se, pude ver que a voz se tratava de Derek Shepherd, que já chegou apontando sua lanterninha em meus olhos – Reflexos normais. – afirmou, parecendo surpreso – Erga seus dois braços em posição horizontal e segure-os no ar, por favor. – disse, e eu fiz o que ordenou, um pouco trêmula, mas fui capaz de mantê-los erguidos até ele dizer que eu podia abaixá-los – Vou pedir um exame completo, CT, Ressonância Magnética, hemograma, ECG... – virou-se para uma enfermeira, que anotava tudo – Vamos leva-la para os exames e deixa-la adaptar-se com o ambiente. – olhou todos os presentes, e voltou a me olhar – Boa noite, Claire. Você esteve em um coma após uma complicação em seu parto, e três meses se passaram desde então. – explicou calmamente, chocando-me. Como assim, três meses?! Para mim, pareceram algumas horas, talvez um dia ou dois. Aquilo não podia ser real!

— O quê...? – questionei, franzindo o cenho e negando com a cabeça, ainda muito confusa.

— Eu sei que está tudo confuso para você, mas seus amigos e familiares aqui estiveram tomando conta de tudo enquanto você esteve fora, e vão te ajudar a se adaptar à nova situação. – disse o homem, encarando-me com compaixão – Agora vamos deixar a equipe trabalhar, e depois podemos organizar as visitas. Quem sabe até trazer os bebês hoje para você vê-los. – assentiu e virou-se rapidamente para os outros, e voltou a olhar-me – Eu estou muito feliz que você tenha acordado, Claire. – sorriu fraco – Vejo você mais tarde. Agora vamos todos sair. – enxotou todos dali e saiu do quarto, deixando-me a sós com as enfermeiras.

—-

Depois de fazer todos os exames, tomar banho e comer comida de verdade, estava na cama do hospital, e esperava ansiosamente que alguém aparecesse. Eles haviam dito que trariam as crianças para eu vê-las, e já estava nervosa. Como elas estavam? Já deveriam estar enormes. Eu recordava de ter ouvido alguma voz dizendo que os olhos eram do Akira, mas não sabia se tinha sido um sonho ou se era real.

— Com licença. – falou minha mãe, adentrando o quarto, com um bebê em seus braços. Pela cor das roupas, era um menino, que realmente tinha os olhos do pai. Na verdade, era quase tudo do pai, menos o nariz e a boca, que eram mais parecidos com os meus.

Sorri largo ao ver o garotinho, e já estendi as mãos para pegá-lo no colo. Logo atrás entrou meu pai, segurando a menina. Ela era praticamente uma cópia do irmão, também bem japonesa.

— Você tem certeza que tem força para segurá-los? – perguntou meu pai, enquanto minha mãe posicionava o menino sentado sobre minhas pernas, e eu apenas apoiei-o com as mãos.

— É claro que sim... – respondi, sorrindo para a criança em meu colo, que parecia incomodada com o local.

— É melhor pegar um de cada vez, filha. – disse a mulher, também observando o bebê.

— Vocês deram nomes? – questionei, sem tirar os olhos do pequenino.

— Estávamos esperando por um milagre que fizesse você acordar. E como ele veio, agora você poderá nomear seus próprios filhos. – afirmou minha mãe, sorridente.

— Que bom... – concordei com a cabeça – Eu queria nomes japoneses, para honrar o Akira... Então decidi que os nomes serão: Akira Jr., em homenagem ao pai, e Tsunade, que significa união, pois ela sempre será a união entre Akira e eu. – sorri fraco, e meus pais imitaram meu gesto.

— Belos nomes, com certeza. – elogiou meu pai, que colocou uma mão em meu ombro, carinhosamente.

Contudo, o momento foi interrompido com o choro da criança no meu colo, e eu comecei a balançar as pernas cuidadosamente, tentando acalmá-lo, porém foi inútil.

— Qual é o problema? – indaguei, preocupada, e a menina começou a chorar também.

— Eles devem estar estranhando o ambiente, só isso... Pegue-a um pouquinho e eu vou leva-los para casa, você terá bastante tempo para curti-los quando tiver alta. – respondeu minha mãe, e ela pegou o bebê, enquanto meu pai tentou colocar Tsunade no lugar dele, mas a mesma não quis sair de seu colo, chorando.

— Está tudo bem, eles não gostam daqui, levem-nos para casa. Eu os vejo quando sair do hospital. – afirmei, tentando não parecer decepcionada.

— Eu sinto muito, eles não são ariscos, deve ser o ambiente mesmo... – falou meu pai, voltando a segurar a menina com os dois braços – Nós vamos então, você vai ficar bem, né?

— Claro, vão. – assenti, e ambos me deram uma beijo de despedida na testa, deixando o quarto rapidamente. Suspirei um pouco desapontada, sentindo que meus filhos não gostavam de mim, mas fui interrompida por Rebecca, adentrando o quarto.

— Acordou a margarida. – brincou, rindo fraco e me fazendo sorrir. Veio até mim e abraçou-me fortemente, respirando fundo – Eu senti tanto sua falta... Não se atreva em nos assustar assim de novo.

— Eu não vou. Não foi uma brincadeira divertida. – falei em tom de deboche, fazendo-a rir-se – Me atualize. Como estão as coisas? – perguntei quando ela se sentou na poltrona ao lado da cama.

— Nós praticamente não dormimos mais, porque todo mundo está ajudando a tomar conta dos gêmeos... Estamos praticamente morando na casa dos seus pais, sua mãe tem nos mimado muito. – respondeu e riu.

— Obrigada por tudo... – sorri sem mostrar os dentes, pegando em sua mão – E como estão seus pais? – questionei, e percebi que deixei-a perplexa, com um olhar entristecido – Aconteceu alguma coisa? – preocupei-me.

— Meredith Grey arruinou o experimento do Alzheimer. Está tudo acabado. – suspirou, tristemente – Eu não conversei com meu pai ainda, mas logo ela vai ter que sair do hospital, e não sei o que eles pretendem. E nem sei se quero saber.

— Rebecca, isso é horrível! – exclamei, surpresa, negando com a cabeça – Eu sinto muito...

— Está tudo bem, sério, eu nem ligo para eles mesmo. – rebateu, dando de ombros.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, apenas curtindo a presença uma da outra, até que eu finalmente decidi quebrar o silêncio.

— Como você acha que eu acordei? – questionei, virando-me para ela.

— Eu não sei... Você sabe que eu não acredito em Deus e essas coisas, mas eu acredito em medicina, e milagres médicos acontecem, então talvez seja isso... – respondeu, mordendo os lábios – O que importa é que você está viva. – afirmou, apertando minha mão, e sorrindo emocionada.

Eu sempre quis saber como era estar em um coma. Agora eu sei. E acredite em mim, não é nada legal. É assustador. Você se sente preso, e quanto mais tenta escapar, mais acaba se embolando na escuridão de sua mente. E se você acorda de um, ainda tem que lidar com as consequências. Quanto tempo faz desde que você apagou? Dias? Meses? Anos? As coisas estão constantemente mudando, então você acaba se sentindo perdido. Se vai ficar tudo bem? Eu não sei. É o que teremos que ver.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Um pouco previsível talvez, mas o que eu mais gosto nesse capítulo, é a dinâmica entre os personagens. Concordam comigo?
Quero deixar claro que cada um vai ter sua interpretação de como a Claire acordou, essa parte vou deixar para vocês verem como quiserem, assim como cada personagem tem sua própria opinião. Afinal, esses casos de pessoas que acordam de comas depois de até anos, continuam sendo um mistério para todos.
Espero do fundo do meu coração que tenham gostado. Comentem o que estão achando, quais são suas expectativas para essa nova fase da Claire, etc. Estou aceitando sugestões, críticas e tudo mais.
Enfim, até mais! Beijão!



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