Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 1
Capítulo 1 – Piloto.


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos ao maravilhoso (ou não) mundo de Claire! Espero que gostem dos personagens, e lembrando que eu não sou nenhuma profissional da saúde, então qualquer erro, me avisem!
Críticas construtivas e elogios são sempre bem-vindos.
Sem mais delongas, boa leitura!



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A vida é feita de fases. Algumas curtas, como um romance de verão, ou a época gótica da adolescência. Já outras são um pouco mais longas: os anos que você passa na escola, depois a faculdade, os empregos depois disso, relacionamentos longos... Mesmo assim todos passam por diferentes fases da vida, e às vezes é extremamente difícil aceitar o fim de uma delas, e se adaptar a uma nova. Mas é algo necessário da vida.

— Senhor, abençoe esse meu primeiro dia no hospital, Tu sabes o quanto eu me esforcei para isso... Me livra de erros e me ajuda a não estragar tudo, amém!

Eu me encontrava com os olhos fortemente fechados, de frente para o espelho do banheiro. Já havia feito mil e uma orações como estas, mas ainda me sentia extremamente insegura.

Hoje seria meu primeiro dia do meu primeiro ano como interna no hospital Seattle Grace Mercy West. Era um dos melhores programas do país, e eu tive que dar um duro danado para conquistar minha vaga ali.

Abri os olhos e encarei meu reflexo no espelho. Usava uma maquiagem leve, e uma roupa que poderia ser considerada sofisticada, apesar que eu sabia que não passaria nem uma hora com ela, pois seria substituída pelo uniforme azul, utilizado pelos internos e residentes. Respirei fundo e saí do banheiro, seguindo até a porta do apartamento, pegando minha mochila no caminho. Para variar, chovia forte do lado de fora, então peguei meu guarda-chuva e segui até o térreo do prédio.

Caminhei rapidamente pelas ruas molhadas da cidade, e pouco tempo depois já estava no hospital. Havia alugado um apartamento próximo de meu trabalho, para facilitar um pouco mais minha vida de jovem médica. Encarei a fachada do hospital e respirei fundo de novo, tomando coragem de adentrar o local.

Com um pouco de dificuldade, finalmente acabei encontrando o vestiário dos internos. Era repleto de armários, e já estava lotado de pessoas, aparentemente da mesma idade que eu. Caminhei até meu armário, o abri e comecei a colocar meus pertences que estavam na mochila lá dentro, que iam desde calçados até absorventes.

— Se eu fosse vocês, me seguiriam nesse instante. – afirmou uma mulher negra, de estatura baixa, passando rapidamente pela porta da sala.

Assim que vi as outras pessoas correrem para sair da sala, joguei minha mochila dentro do armário e os segui rapidamente, ficando atrás de uma multidão de médicos recém-formados que a seguiam.

— Meu nome é Miranda Bailey, para vocês Dra. Bailey, e eu sou uma das cirurgiãs gerais desse hospital. Vou mostrar a vocês as partes principais do hospital, e depois leva-los até seus respectivos residentes. Prestem muita atenção em tudo o que eu digo, pois não vou repetir duas vezes! – exclamou a mulher, nos liderando pelos corredores do hospital.

Segui a multidão, ficando na pontinha dos pés para tentar enxergar a doutora que nos guiava. Belo momento para ter menos de 1,70 m de altura!

— Aqui fica a sala de descanso, feita para descansar, não outras coisas, estão me ouvindo? – destacou a palavra “descansar”, depois de abrir a porta do cômodo, mas para minha infelicidade não pude enxergar nada – Aqui é onde vocês pedirão os exames, e os recolherão. Se eu ficar sabendo que vocês maltrataram essas pessoas, já podem catar suas porcarias do armário que sua residência nesse hospital acabou, fui clara? Isso se aplica também para os enfermeiros e enfermeiras, que sabem mais de medicina que todos vocês juntos. – ordenou, depois que andamos mais um bocado – Aqui é o refeitório, mas creio que vocês não terão muito tempo de frequentar esse local, então vamos pular. – seguimos um pouco mais, e eu, assim como todos, olhava cada canto daquele hospital com curiosidade, tentando memorizar os caminhos – E, finalmente, a tão adorada Sala de Cirurgia. Vou passar a palavra para nosso Chefe da Cirurgia, Richard Webber. – finalizou ao parar na porta da sala, e um homem negro, praticamente careca e bem alto nos liderou para dentro.

— Como a Dra. Bailey disse, meu nome é Dr. Richard Webber, e eu sou cirurgião geral. – apresentou-se, antes de acender as luzes e deixar-nos entrar – Cada um de vocês hoje vêm aqui com uma esperança, querendo entrar no jogo. Há um mês, vocês estavam na faculdade de medicina recebendo ensinamentos de médicos. Hoje… Vocês são os médicos. Os sete anos que passarão aqui como residentes de cirurgia serão os melhores e os piores de suas vidas. Serão pressionados além do limite. Olhem ao redor... digam olá à sua concorrência. Oito de vocês escolherão uma especialidade fácil, cinco de vocês vão se descontrolar com a pressão. Dois de vocês serão convidados a se retirar. Este é o começo. Esta é a sua arena. Quão bem você irá se sair? Isso depende de você.

Enquanto prestava atenção em suas palavras, observei cada milímetro daquele lugar. Era tudo com o que eu sonhei um dia! Dediquei a minha vida toda para chegar a esse ponto, e eu não podia estragar tudo. Eu ainda vou salvar muitas vidas nessa Sala da Cirurgia, ah se vou!

— Agora vocês podem ir para o vestiário se trocarem, e estejam prontos em 20 minutos, que é quando a Dra. Bailey passará para leva-los a seus respectivos residentes. – todos ficamos parados o encarando, sem saber o que fazer – Vão!

Em um piscar de olhos, a maioria já havia se retirado, e apenas eu fiquei para trás, ainda um tanto quanto vidrada.

— Está com algum problema, Srta.? – questionou Dr. Webber, encarando-me desafiadoramente.

— N-não, é claro que não, já estava de saída. – gaguejei, sorrindo sem graça e deixando o local rapidamente.

Corri pelos corredores, até chegar no vestiário, já ofegante. Todos os que estavam ali se trocando pararam para me encarar, e eu sorri sem graça, entrando no cômodo como se nada estivesse acontecendo. Caminhei até meu armário e tirei a roupa rapidamente, tentando ignorar a vergonha que sentia por ter que me trocar na frente de todas aquelas pessoas.

— Uma a menos para concorrer. – afirmou uma garota, com sotaque inglês. Virei-me para olhá-la, e me deparei com uma moça morena, com a pele bronzeada e ainda mais baixinha que eu.

— Se eu fosse você, não abaixaria a guarda, pois quem pode ser uma a menos é você. – rebati, me virando para colocar minhas calças.

— O dia que você chegar no horário e tirar essa cara de sonsa, a gente se fala. – sorriu ironicamente e fechou o armário, seguindo para a porta.

Revirei os olhos e terminei de me vestir, colocando a parte de cima do uniforme azul céu por cima de uma camiseta de manga comprida preta. Prendi meus longos cabelos castanhos em um rabo de cavalo mal feito e calcei meu par de tênis All Star cinza apressadamente, com medo de ficar para trás novamente.

— Venham. – chamou Bailey, caminhando rapidamente pelo corredor.

Corri para acompanha-la, sem ser a última da multidão.

— Rebecca Cooper, Anastasia Lewis, Akira Aoki, Diego Gomes e Claire Scofield, vocês serão da nossa residente em seu segundo ano, Dra. Lexie Grey. – anunciou Dra. Bailey, procurando por nossos rostos na multidão.

Aproximei-me da médica que acabara de ser apresentada, assim como os outros cujos nomes foram chamados. Foi quando notei, para minha infelicidade, que a garota morena que me provocara há alguns minutos atrás, estava entre meus companheiros.

— Parece que vamos ter que passar bastante tempo juntas agora, lerdinha. – sussurrou ao se aproximar de mim, e eu respirei fundo para não responder nada.

— Por favor me acompanhem! – pediu Lexie, seguindo em direção a algum corredor – Okay, agora que estamos a sós, quem é quem aqui? – perguntou, sorrindo simpática. Foi aí que agradeci aos céus por ter pego uma residente boazinha.

— Rebecca Cooper. – minha quase inimiga se pronunciou primeiro, erguendo a mão.

— Diego Gomes. – disse um moço muito bonito por sinal, dos cabelos negros e olhos azuis escuros. Ele possuía um sotaque diferente, que eu não pude decifrar.

— Anastasia Lewis. – foi a vez de uma garota loira falar, dos olhos bem azuis e um corpo aparentemente perfeito.

— Akira Aoki. – falou um asiático, com um sorriso um tanto quanto meigo no rosto.

— Claire Socofield. – afirmei, sorrindo forçado.

— Uma hora eu decoro o nome de vocês, paciência. – Lexie falou, rindo fraco – Bom, eu não sou cheia de regras como a maioria dos residentes por aí, mas eu gostaria que vocês fossem no mínimo pontuais, e respondessem meu bipe assim que o receberem, okay? Qualquer pergunta, podem ficar à vontade.

— Seu nome é Lexie Grey, tipo Ellis Grey? – perguntou o asiático, aparentemente bastante curioso.

— Meu pai já foi casado com a Dra. Grey, mas eu não sou nada dela. – respondeu, aparentando estar desconfortável com a pergunta – Acho melhor nos apressarmos, ou vamos perder as visitas. – afirmou, ao olhar no relógio, caminhando rapidamente – Hoje estaremos nos serviços do Dr. Shepherd, nosso...

— Neurocirurgião, milagroso, todos o conhecemos. – Rebecca cortou-a, enquanto a seguíamos.

— Ele salvou a vida da minha tia. – disse a garota loira, andando ao nosso lado.

— Fiquei sabendo que ele já entrou numa depressão profunda, e até pensou em largar a carreira... – foi a vez do carinha de olhos puxados comentar.

— Okay, pessoal, nova regra, nada de comentários sobre a vida pessoal dos médicos perto de mim, okay? – ordenou nossa residente, virando-se para trás rapidamente. Seguimos o resto do caminho em silêncio, até que chegamos no quarto do paciente – Com licença, Dr. Shepherd. – pediu, batendo na porta já aberta do quarto, apenas para chamar a atenção.

— Entrem. – falou, erguendo uma sobrancelha ao nos ver entrando – Sejam bem-vindos ao Seatle Grace Mercy West, agora vamos apresentar o paciente, Dra. Grey?

— Connor Walsh, 25 anos, deu entrada no hospital há alguns dias com graves dores de cabeça, tontura, e alguns lapsos de memória. – explicou a médica – Diante dessa situação, qual seria a primeira atitude de vocês? – perguntou, virando-se para nós.

— Sério que eu vou ter que ser o boneco de estudo desses bobalhões? – questionou o paciente, fazendo cara de tédio.

— Tenha paciência, Sr. Walsh. Esse é um hospital escola, então somos obrigados a ensiná-los em situações reais. – disse Shepherd, calmamente.

— Enfim, quem sabe qual seria o procedimento? – Dra. Grey voltou a falar. Todos nós erguemos o braço, e ela começou a nos escolher com o olhar – O dos olhos azuis... Go alguma coisa...

— Dr. Diego Gomes. – afirmou o rapaz, dando um passo à frente – Eu pediria uma Ressonância Magnética e um CT, além de perguntar por anomalias genéticas, que poderiam ser transmitidas por terem ocorrido em algum membro da família. – indagou, aparentemente com certeza do que dizia. Ele se mostrava extremamente charmoso, e podia jurar que ele estava tentando seduzir o paciente.

— Nada mal, Dr. Gomes... – concordou Shepherd – Continue apresentando o caso, Dra. Grey.

— Após observarmos os resultados da Ressonância Magnética e do CT, foi possível detectar um tumor massivo no neocórtex. Alguém tem alguma ideia de como prosseguir?

— Vamos lá, hein pessoal... Essa é fácil! – Connor, o paciente, ironizou.

— Retiramos o tumor? – sugeriu a loira.

— Isso é óbvio, né gênio. – retrucou Diego.

— Creio que nenhum de vocês vai saber a resposta para essa pergunta, então vamos lá. Eu farei uma craniotomia bicoronal, numa abordagem por cima. – explicou o neurocirurgião, nos mostrando em sua cabeça onde seria a incisão – Alguma dúvida?

— Não é um procedimento muito arriscado? Ele pode perder a memória, entre um milhão de coisas. – perguntou o asiático, fazendo o atendente o fuzilar com o olhar.

— Riscos estão presentes em todas as cirurgias. Mas um bom cirurgião, como eu, aceita os riscos e luta para evita-los. Essa é uma cirurgia simples, então se você tem dúvidas quanto ao sucesso dela, eu sugiro que já desista de neurocirurgia. – falou calma e pausadamente, deixando o rapaz sem palavras – Continuando, Grey?

— A cirurgia está marcada para amanhã pela manhã, todos os exames cardíacos estão okay, então temos o caminho aberto para a operação. Outra Ressonância Magnética e CT serão solicitados, mais próximo do horário da cirurgia.

— Ótimo, creio que acabamos aqui. Vejo você amanhã, Connor. – despediu-se Shepherd, saindo da sala.

Lexie deixou o local também, então a seguimos para fora.

— Só uma pergunta, algum de nós vai poder participar dessa cirurgia? – questionou Rebecca, olhando-os desconfiada.

— Normalmente um dos internos é escolhido para performar uma cirurgia geral, mas eu vou pensar o assunto. – respondeu Grey – Próximo paciente?

—-

Depois de passarmos nos quartos de uma infinidade de pacientes, finalmente tivemos a chance de tirar alguns minutos de folga. Minha barriga roncava ferozmente, então peguei o máximo de comida que pude. Segui meus companheiros até uma mesa do lado de fora do hospital, ouvindo Rebecca e Diego se gabarem de seus pacientes. Lexie havia designado a cada um de nós um paciente do pós-operatório de Derek.

— Meu paciente tinha um tumor gigante na cabeça, e o Dr. Shepherd fez praticamente um milagre para manter o cara falando ainda. E algumas pessoas ainda dizem que quem faz milagres é Deus. – disse Rebecca, enquanto mastigava suas batatas fritas.

— Minha garota quase morreu na mesa, houve um sangramento, mas o Shepherd deu conta de tudo. Ele é o cara, eu quero ser igual a ele um dia! – o asiático afirmou, com orgulho na voz.

— Ih, ele mesmo já te recomendou a desistir de neurocirurgia, Sr. “essa cirurgia não é arriscada?” – a jovem morena zombou, rindo-se.

— Aquilo foi um deslize, mas eu vou provar que sou melhor que isso!

— Os pacientes de vocês só foram de cirurgia cerebral, que tédio! O meu fez uma cirurgia espinhal, por pouco ele não perde os movimentos. O Shepherd deve ser muito bom mesmo. – disse Diego, roubando batatas de minha “inimiga”.

— Bom, minha paciente foi uma cirurgia de aneurisma simples, então creio que estou fora de perigo. – a loira deu de ombros, espetando um pouco da floresta de salada de seu prato.

— Como assim, fora de perigo? – perguntou Diego, franzindo o cenho.

— Fora de perigo do paciente morrer em minhas mãos. – respondeu, enfiando a garfada em sua boca. Nós todos a olhamos um pouco chocados, e ela nos olhou surpresa – Vai me dizer que vocês não pensaram nisso? O primeiro interno a perder um paciente vai ficar marcado para sempre, então se eu fosse vocês, eu ficaria esperta! – alertou-nos, concordando com a cabeça e comendo mais salada.

— Eu sou extremamente cuidadosa, então o meu não vai morrer. – Cooper afirmou com certeza, dando de ombros – E você, atrasilda, não vai falar nada? Ou não chegou a tempo de conhecer seu paciente? – questionou me olhando, sem perder a oportunidade de me zoar.

— Bom, minha paciente sofreu um acidente gravíssimo de carro, mais um pouco e o Derek não conseguiria salvá-la! Ela teve uma hemorragia, mas ele foi capaz de controlar. – expliquei, sorrindo fraco. Eu não sou uma pessoa de muitas palavras, principalmente na frente de gente que não conheço.

— Agora, eu aposto que a Dra. Grey fez isso para nos avaliar. Tenho certeza que o que se sair melhor hoje, vai participar da cirurgia do Derek amanhã. – Diego sussurrou, se inclinando na mesa.

— Já é minha! – exclamou Rebecca – Podem tirar os cavalinhos da chuva.

— Eu não apostaria nisso. – rebateu Akira.

— O Derek nem gosta de você! É claro que vou ser eu, o paciente até simpatizou comigo... Aliás, daria tudo para ver aquele lá pelado. – falou Diego, rindo maliciosamente.

— Isso é assédio! – reclamou Anastasia – Com uma cirurgia simples como um aneurisma, nem vou poder demonstrar do que eu sou capaz!

— Se eu fosse vocês, não contaria tanto assim com o sucesso não... – decidi me pronunciar, tentando parecer confiante.

— Ah é, e por que não contaria? Olha a minha concorrência, um asiático que deu mancada logo no primeiro dia, um cara que só quer ver o corpo do paciente nu, uma garota que está com a paciente do aneurisma, e uma que não consegue chegar no horário nem com o relógio adiantado duas horas. – disse a morena, sarcasticamente, fazendo eu me encher de raiva. Antes que eu pudesse responder, meu bipe disparou desesperadamente, apontando emergência.

— Droga! – murmurei, me levantando rapidamente, deixando toda a minha comida na mesa.

— Cuidado para não se atrasar, hein. – provocou Rebecca, mas eu ignorei, pois tinha coisa muito mais importante para resolver.

Disparei pelos corredores do hospital, pedindo a Deus para dar tudo certo. Apertei o botão para chamar os elevadores repetidamente, contudo perdi a paciência antes que pudessem atingir meu andar, então corri pelas escadas. Ao chegar no quarto, já ofegante, pude observar as enfermeiras já tentando reanimar a paciente.

— O que aconteceu? – questionei, colocando as luvas.

— Ela teve uma parada de repente, não sei o que aconteceu. – respondeu uma das enfermeiras, enquanto fazia massagem cardíaca na moça.

Foi quando eu gelei. Nunca tinha passado por algo assim, e o desespero tomou conta de mim. Não, eu não podia ser a interna que perde um paciente!

— Bipe o Dr. Shepherd ou a Dr. Grey, agora! – ordenei, tentando não parecer desesperada.

— Nós já bipamos há alguns minutos, mas eles não vieram! – respondeu uma das enfermeiras. Fiquei encarando a paciente, sem conseguir me mexer. Minha mente ia longe, imaginando como seria se eu a perdesse – Dra. Scofield?! – gritou, tentando chamar minha atenção.

— Dê 1 de adrenalina e 2 de epinefrina e me tragam o carrinho de parada. – afirmei, acordando do transe, tentando parecer confiante. As enfermeiras se moveram rapidamente, e em alguns instantes eu já estava com o desfibrilador em mãos – Carregue para 100. Afasta! – exclamei, dando o primeiro choque, sem sucesso – 200! Afasta! – tentei novamente, falhando de novo. – Droga... – murmurei, negando com a cabeça – Bipe Shepherd e Grey de novo! 300, afasta! – essa foi minha última tentativa, antes de ser interrompida por Derek.

— O que aconteceu? – questionou, colocando as luvas.

— Eu não sei! Já tentei reanimar, mas não está funcionando! – respondi, desesperada.

— Há quanto tempo ela está parada? – perguntou, analisando a cena.

— 15 minutos. – disse uma das enfermeiras.

— Cheque as pupilas. – o neurocirurgião pediu, suspirando.

— Dilatadas e imóveis. – afirmou uma moça, que apontava uma pequena lanterna para os olhos da paciente.

— Ela se foi. – falou Derek – Anuncie, Dra. Scofield.

— Não... Deve haver algo que eu possa fazer, por favor! – implorei, sentindo lágrimas se formarem em meus olhos.

— Você não sabe o que pupilas dilatadas e imóveis significam? Ela está cerebralmente morta. – falou o médio, de maneira meio rude – Anuncie. – ordenou, me encarando. Permaneci parada, tentando pensar em uma solução – Hora da morte, 14:13. – anunciou, olhando no relógio.

— Não pode ser... – sussurrei, deixando as pás do desfibrilador caírem – Dr. Shepherd, eu sinto muito...

— Isso é para você aprender a ser mais cuidadosa com sua paciente. Talvez, se você tivesse observado melhor, teria notado alguma coisa. Eu aposto em coágulo, mas isso só a autópsia nos dirá. – disse calmamente, mas de maneira dura – Agora deixe-me avisar a família dessa jovem de 20 anos, que a filha deles nunca mais vai acordar... E se eu fosse você, passaria o resto do seu plantão estudando, para encontrar seu erro. – completou e saiu da sala.

Observei-o sair da sala, e depois me virei para a paciente. As enfermeiras retiravam os aparelhos, e tudo se passava lentamente diante dos meus olhos. Subi meus olhos até o lado de fora da sala, e fui capaz de ver Derek conversando com Lexie, que suspirou e me encarou, negando com a cabeça. Saí dali rapidamente, prendendo o choro para não parecer mais patética do que já estava.

—-

Após passar o resto do turno chorando e estudando, tentando encontrar a causa daquilo, finalmente saí da sala de estudos, me encontrando com o resto dos meus companheiros internos, que aparentemente esperavam por algo, apreensivos. Quando os alcancei, vi Dra. Grey examinando um paciente, enquanto os outros aguardavam na porta do quarto.

— O que está acontecendo? – perguntei, observando Lexie.

— Esse é o último dos nossos pacientes que ela está checando, creio que ela vai vir com a resposta de quem vai participar da cirurgia do Shepherd. – respondeu a loira, sem tirar os olhos da médica. No mesmo instante, a mulher se despediu do paciente e saiu do quarto aproximando-se de nós.

— Bom, todos vocês foram ótimos hoje... – começou a falar, me olhando discretamente – Mas como eu tenho que escolher o melhor... Para mim, foi o Dr. Gomes. Você pode se preparar para a cirurgia do Dr. Shepherd. Quanto aos outros, sua chance chegará, paciência. – afirmou, sorrindo simpática – Vejo você na Sala de Cirurgia. – olhou para Diego e afastou-se.

— Porra! – queixou-se Rebecca.

— Já estava no papo, né gente? Tchauzinho, perdedores! – Diego acenou, sorrindo satisfeito, seguindo pelo corredor.

— Vocês querem assistir a cirurgia da galeria? – perguntou Anastasia, também com cara de desapontada.

— Eu não, para que ver meu maior concorrente se dar bem? Tudo o que eu quero é ir no bar aqui da frente. Quem topa? – respondeu e sugeriu a morena.

— Com certeza! – respondeu Akira.

— Já estou lá! – exclamou a loira.

— E você, atrasada? Não vem? – questionou Cooper.

— Acho que não... Estou muito cansada. – falei, tentando esconder a frustração do dia.

— Tudo bem, então. – deu de ombros e seguiu com os outros dois pelo corredor, começando a conversar sobre alguma coisa.

Como eu disse, a vida é feita de fases. Mas na maioria das vezes, o que mais muda de uma fase para outra, somos nós mesmos. Como pregava o Determinismo, o homem é fruto de sua raça, do meio e do tempo histórico em que vive. Então, acho que é minha vez de deixar-me influenciar por esse meio em que estou vivendo nessa nova fase da minha vida.

— Mudei de ideia... – eu disse alto, chamando a atenção do pessoal, que já estavam um pouco distantes – Acho que beber alguma coisa cairia bem agora. – afirmei, sorrindo de canto.


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Notas finais do capítulo

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