Allan in Horrorland escrita por Yuna Aikawa


Capítulo 4
A Biblioteca


Notas iniciais do capítulo

Pense num capítulo que ficou uma merda.



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A primeira coisa que fiz, confesso, foi abrir cada cômoda para ver o que tinha dentro, mas a maioria se revelou vazia ou com uma peça de roupa grande demais para mim ou com algumas moedas de ouro; e acender e desligar todos os abajures. Então, impaciente, decidi perambular pelo castelo.

Eu estava obviamente perdido depois de apenas dois minutos e não encontrava nenhuma alma viva para me guiar ou entreter. Achei ao acaso uma estreita escadaria que levava à cozinha, onde vi uma mulher muito bem vestida e com uma cabeça tão grande quanto do Chapeleiro cuidando dos porcos rosados como se fosse bebês humanos - deduzi que fosse a Duquesa. Tentei chamar sua atenção, mas ela estava entretida demais dando pimenta para os porcos mamarem. Continuei perambulando até parar no campo de croquet, onde diversos flamingos tomavam coquetéis e riam de alguma piada.

— Com licença, senhores - Pedi - Alguém teria um mapa do castelo?

— Ai eu disse para ele “qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?” e ele disse que não sabia - O flamingo fez uma pausa enquanto todos em volta riam - E eu disse “Eu também não”!

Aquilo era uma confusão de penas rosas, gritos, risadas e álcool, então, depois de ter sido ignorado mais algumas vezes, desisti e continuei andando. Encontrei um corredor onde cogumelos gigantes cresciam livremente, de todas as cores e cheiros; alguns salões enormes e vazios; um quarto de cabeça para baixo; e, enfim, a biblioteca, onde decidi parar um pouco.

Era um lugar enorme, livros de várias cores e tamanhos cobriam todas as paredes até o teto.

Sentei-me no divã verde, analisando quantos títulos diferentes havia e nenhum que eu já tenha ouvido falar, como “Desventuras de Gêmeos”, “Lágrimas de Tartaruga” ou “As Nove Vidas de um Cheshire”. Todos pareciam fascinantes e, quando me levantei para pegar “O Primeiro Volume da Festa do Chá - Desaniversários”, algo pulou bruscamente em meu rosto.

A princípio achei que era algum bicho, então tentei espantá-lo desesperado, mas, quando enfim caiu em meu colo, percebi que era um tipo de livro vivo com um óculos. Ele sorriu para mim fazendo um “dá-dá” infantil com as páginas e pulou novamente em meu rosto, encaixando seus óculos em meus olhos. O pequeno livro parecia estar se divertindo muito em meu rosto, então deixei ele ali enquanto escolhia outro livro na prateleira.

Puxei “A História das Ostras Curiosas” e voltei para o divã, folheando o exemplar em minhas mãos. Era um livro azul bem antigo e estava empoeirado, sem nenhuma ilustração em parte alguma.

Ouvi outro “dá-dá” vindo de meu rosto e, em meio a risadinhas, o bicho-livro que estava em meu rosto pousou em meu colo, agora com a capa preta trazendo o título “Allan no País dos Horrores” na capa. Agarrei o bicho-livro surpreso enquanto ele soltava um gritinho de dor e passei a folheá-lo. Ali estava toda a minha história, sem qualquer ilustração, desde a morte de meu pai.

— Os livro-aves fazem isso mesmo - Uma voz ecoou pela biblioteca - Grudam em você e roubam toda a sua história.

— Rainha Bones - Eu ainda estava embasbacado com aquilo.

— Eles morrem quando o “autor” morre e passam a ser livros ordinários - Apontou para o exemplar azul que estava ao meu lado - Como as ostras.

— Então todos os livros aqui são histórias reais?

— Preste atenção, é exatamente o que eu estou dizendo - Revirou os olhos azuis - Aqui estão todos os livros que consegui juntar do País das Improbabilidades.

Eu estava embasbacado com essa informação. Aquilo não era uma biblioteca comum, era verídica, um relato de cada cidadão daquele lugar louco. Puxei o livro rosa “Nove Vidas de um Cheshire” e ele estava vivo, todo risonho quando abriu os olhos e achou que seria lido.

— Acho que estou ficando louco.

— “Todos somos loucos aqui”, essa é nossa única certeza - Completou a rainha - Allan, vim aqui lhe entregar uma coisa.

— Sim, majestade?

Assim, sem qualquer aviso, Bones tirou uma espada prateada do vestido. Não era uma espada qualquer, ela tinha algo escrito numa língua que eu não conhecia, havia algumas flores esculpidas próximo ao cabo e a lâmina reluzia como se ele fosse recém forjada. Sem falar nada, a rainha esticou a arma para mim e esperou que eu a aceitasse.

— Ainda quer me matar, Allan?

— Não - Sorri sem jeito, embasbacado com o presente - Eu desisti dessa idéia assim que te vi pela primeira vez, alteza.


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