紅葉 (Kōyō) escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 5
Capítulo 5




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                — Desculpa, moça!

 Sakura virou-se para dizer que não tinha sido nada — mesmo com sua canela ardendo pelo impacto da mala alheia. Porém, só teve tempo para vislumbrar as costas da camiseta da seleção japonesa do rapaz que a atingira.

                — Uau, isso aqui está completamente entupido — Ino soltou a alça da mala de rodas e pôs as mãos na cintura. — O que acontece? Todo mundo resolveu viajar do nada? Ainda falta muito para as férias de inverno.

                — Pessoas adultas vivendo vidas adultas muito atarefadas. É isso o que acontece — Sakura revirou os olhos, divertindo-se com o tom da amiga. — Bom, com o atraso de duas horas, temos tempo para um café.

                — Ah, tem um café super fofo no setor A! — Ino encarregou-se da mala novamente, pondo-se a caminho. — Eles fazem desenhos na espuma!

                — É, parece bom — Sakura sorriu, munindo-se de suas bagagens e seguindo-a pelos corredores cheios.

 O clima parecia leve, mas ambas estavam lutando para segurar as lágrimas até o momento do adeus. Não sabiam quando voltariam a ser pessoalmente, e isso significava um hiato em toda a rotina daquela amizade de anos — como as compras no fim de semana, o cinema e o karaokê, as noites viradas com doces e conversas sobre bobeiras, os abraços apertados quando uma delas precisava. Nunca haviam ficado separadas por mais de um mês, e agora Sakura estava com tudo pronto para ficar pelo menos um ano em outro continente.

                — E então, como foi o encontro de ontem com o Deidara?

 Ino sentou-se com a bandeja de doces à sua frente, fazendo sinal para que uma garçonete entregasse a das bebidas. Havia um brilho guloso em seus olhos azuis que fez Sakura rir e repetir a pergunta — era difícil conseguir a atenção de Ino com tanto açúcar no meio.

                — Ah, o Dei-chan foi uma graça, como sempre — ela suspirou, atacando o primeiro cupcake.

                — Dei-chan?

                — Assim tem a mesma quantidade de letras que Ino — ela deu de ombros. — Ok, é completamente idiota, eu admito. Mas não ria.

 Sakura não conseguiu se segurar, precisando recorrer à xícara de cappuccino para manter a boca ocupada.

                — O cara parece seu irmão gêmeo — ela observou, quase se engasgando com a bebida. — Ninguém perguntou se vocês estão bem com uma relação incestuosa ainda?

                — Ele disse que o Itachi-san tem uma queda por você.

 Lentamente, processando a informação com cuidado e somando mais uma porção de pequenos detalhes, Sakura levantou os olhos para amiga. Encontrou um olhar que era um misto de preocupação e euforia. Sabia o que vinha a seguir: uma enxurrada de “Dê uma chance”, “Nunca se sabe”, “Ele é lindo e está a fim de você, quer mais o quê?”. Porém, aquele assunto já havia sido resolvido internamente — pelo menos era o que vinha repetindo para si mesma — e alimentá-lo não traria diferença alguma.

                — Eu sei — ela respondeu calmamente, observando o desenho de flor que se desfazia na espuma de sua xícara.

                — E você também está a fim dele, não? — Ino espalmou as mãos na mesa, inclinando-se para ela. — Qual é, Sakura? O cara salvou nossa oficina de artes, te levou para tomar vinho num lugar caro, é lindo e bem-sucedido e tem amigos lindos.

                — Não sei nem se nós duas vamos conseguir entrar em contato todo dia — ela inclinou-se também, assumindo um tom levemente azedo. — Como você espera que eu consiga manter um relacionamento à distância? Ele pode ser uma pessoa incrível, mas chegou num timing ruim e não há nada que se possa fazer.

 Ino recuou, visivelmente atingida por suas palavras. O sorriso empolgado em seus lábios cobertos de gloss murchou e Sakura percebeu uma fungada discreta.

                — É, você tem razão — ela esforçou para parecer indiferente. — Você precisa resolver sua vida agora e tudo o mais.

                — Ino...

                — Eu vou dar um pulinho no banheiro, tudo bem? — Ino escorregou para fora da baqueta, apanhando sua bolsa tiracolo. — Volto rapidinho.

 Sakura suspirou pesadamente, observando as costas da amiga se misturarem às centenas de outras costas no corredor. Isso não era bem o que ela esperava de suas últimas horas na terra natal.

—-x—

                — E agora?

                — Não passou nem um minuto direito — Kakuzu bufou, erguendo os olhos do jornal por um instante.

                — Ah, que droga — Deidara voltou a colocar os fones de ouvido e despencou em sua cadeira. — Eu disse que nós íamos chegar cedo demais.

                — Reclame para o Sasori, não para mim — Kakuzu encerrou o assunto, folheando seu jornal.

 Sasori não se abalou com a menção, continuando a ler seu livro em paz. Estava acostumado com aquele tipo de reclamação de Deidara, mas se recusava a chegar com menos de uma hora de antecedência em algum lugar.

                — Eu disse que era melhor você ficar com o Hidan — Itachi suspirou, conferindo, pela enésima vez, se sua checklist estava completa.

                — Mas acontece que a Ino-chan disse que estaria por aqui hoje — Deidara deu um muxoxo, cruzando os braços. — E vocês precisavam de alguém para levar o carro de volta.

                — Você está agindo como um colegial irritante — Kakuzu revirou os olhos.

 Itachi parou de escutar depois de ouvir o nome de Ino. Num piscar de olhos, sua mente a ligou à Sakura e, antes que ele pudesse se conter, tinha montado todo o quebra-cabeça.

 Com a reviravolta da mudança de data de sua viagem com os sócios aos Estados Unidos, conseguira tirar Sakura da cabeça por alguns dias. No entanto, agora se dava conta de que, por uma piada amarga do destino, corria o risco de encontrá-la bem ali no aeroporto.

 Parte dele o cutucou com uma vontade juvenil de levantar-se e procurar pelos cabelos róseos naquele mar de gente. Parte dele quis se esconder atrás do jornal de Kakuzu e assim permanecer até o momento do embarque.

 O último encontro deles não terminara do jeito que tinha esperado. Depois do concerto e do discurso da prefeita, a despedida entre os dois foi feita num tom estranho e pouco confortável. No lugar de beijos e um abraço, foram feitos votos para felicidade e sucesso e um mero “Se cuida, a gene se vê por aí” ficou no ar com um aceno displicente de mãos.

 Ele não tinha certeza se reviver Sakura, agora que seus breves encontros tinham chegado ao fim, valeria de alguma coisa.

                — Sempre com segundas intenções, hein — brincou, procurando transparecer ignorância quanto à referência.

                — Maldito — Deidara, aplicando um soco brincalhão em seu ombro.

 Temeroso de dar margem para que Sakura fosse trazida à tona, Itachi emendou comentários sobre o hotel onde ele, Kakuzu e Sasori ficariam hospedados com se o assunto tivesse sido esse desde o início. Isso suscitou uma série de memórias de viagens anteriores em Deidara e os quatro se envolveram numa espécie de jogo de lembranças engraçadas.

—-x—

                — Você vai ficar bem, não é? — Ino pressionou o dorso da mão contra o nariz, já com os olhos marejados.

                — Vou, vou sim — Sakura largou as bagagens de mão, lançando os braços ao redor da amiga para um abraço apertado. — Eu sei me cuidar, boboca.

                — Claro que sabe — Ino riu entre as lágrimas que começavam se derramar de maneira desgovernada. — Aprendeu comigo.

 As duas riram, intensificando ainda mais o abraço num pedido mudo e desesperado para que o tempo parasse. Bem , o tempo nem precisava parar. Veneza poderia ficar bem ao lado de Konoha, Sakura poderia encontrar inspiração ali mesmo, Ino poderia ir numa das malas. Havia uma infinidade de resoluções mais simples, porém todas muito impossíveis.

                — Ok, ok. Você vai acabar perdendo seu vôo desse jeito — Ino afagou suas costas, custando a apartar o abraço.

                — Eu amo você — Sakura beijou-a na bochecha demoradamente, perguntando-se quando teria a chance de fazer isso de novo.

                — Eu também te amo, testuda.

 Com mais um abraço e um pouco de coragem, juntou sua bagagem e preparou-se para uma última olhada na amiga. Seu coração parecia desesperado para ficar — era tentador continuar na zona de conforto —, mas também estava ansioso para se contaminar com o ar de Veneza.

                — Isso não é um adeus — ela murmurou, enxugando as lágrimas na manga do casaco.

                — É bom mesmo que  não seja, Sakura Haruno — Ino puxou sua orelha, tentando falar claramente com a voz embargada pelo choro.

                — Ino-chan!

 O grito chegou um tanto fraco até elas, mas seus ouvidos captaram mesmo assim. Letárgicas pela emoção da despedida, voltaram-se lentamente na direção da voz que chamava por Ino novamente. Descobriram Deidara e alguns amigos próximos à área do check-in rodeados por malas.

                — Dei-chan! — Ino acenou para ele, de repente esquecida do quão triste estava.

                — Vai, pode ir lá — Sakura sussurrou, embora a amiga já estivesse correndo em direção ao rapaz.

 Ela permaneceu onde estava. As bagagens pesavam na mão, a cabeça estava ansiosa para conferir o horário do vôo e os documentos mais uma vez e algo em seu âmago a impelia a colocar-se na ponta dos pés para não perder Ino de vista.

 Porém, a verdade era que acompanhar Ino a levaria a outra pessoa. E Sakura não ficou decepcionada ao encontrar quem procurava buscando por ela também.

 Ino estava se lançando aos braços de Deidara, enquanto os outros davam espaço. Itachi permanecia estático, encarando-a de volta entre toda aquela gente.

 Sakura deu um passo hesitante naquela direção, como se uma força a estivesse empurrando gentilmente.

                — Atenção, senhores passageiros do vôo L44 com destino final para Veneza, Itália — a música foi pausada no sistema de som para o anúncio. — Por favor, encaminhem-se para o portão em embarque do setor B. O ônibus de translado até o avião partirá em quinze minutos.

 Após um intervalo de trinta segundos, o recado foi repetido, provocando uma reação em cadeia de alguns passageiros. Na área de espera, pessoas começaram a se levantar e outras já estavam empurrando seus carrinhos de bagagem pelo corredor de ligação ao setor B.

 Sakura sentiu o mundo dar uma guinada rápida demais, a garganta ficou seca. Itachi ainda estava no mesmo lugar, encarando-a a espera de alguma comoção.

 Catorze minutos.

 Faltava pouco para ir embora. Era só dar meia volta e correr para o portão de embarque. Pareceria uma fuga —seria uma fuga — mas ela não se importava.

 Itachi deu um passo. Dois. Parou quando um carregador cruzou seu caminho com um carrinho transbordando com malas.

 Treze minutos.

 Faltava pouco para ir embora. Sakura não precisava desistir de seu jeito desapegado logo quando estava começando a dar certo. Poderia ir embora com uma pitada de arrependimento, porém ilesa.

 Itachi sumiu atrás de outro carrinho de bagagens e uma procissão de pessoas muito apressadas.

 Era só dar meia volta e correr para o portão de embarque.

 O anúncio do vôo L44 com destino final para Veneza, Itália, soou novamente. Doze minutos e alguma coisa.

 Sakura engoliu em seco.

 Ela iria embora com uma pitada de arrependimento, mas consideraria isso depois.

 Com as pernas meio bambas e os pés tropeçando um no outro, Sakura correu na direção de Itachi com um impulso ansioso. Ele demorou pelo menos cinco segundos para começar a correr em seu encontro também, certamente surpreso por aquela reação.

 Talvez dez minutos. Talvez já quase nove. Não importava. O tempo perdeu a consistência conforme a distância entre eles se extinguia.

 Sakura enlaçou-o pelo pescoço — decidida a ignorar os bons costumes por alguns instantes , puxando-o para um beijo sôfrego. As bagagens foram para o chão no processo, junto com os papéis que Itachi tinha em mãos. Ele a abraçou pelas costas, prontamente correspondendo àquele beijo vindo do mais remoto nada.

 Deidara gritou alguma coisa e Ino o imitou logo em seguida, mas nenhum dos dois prestou atenção. Era necessária toda a concentração do mundo para absorver a pressão dos lábios unidos, das mãos mal encaixadas no corpo alheio, nas respirações entrecortadas, nos corações que pareciam querer saltar para fora. Era necessária toda a concentração do mundo para entender que aquilo era, finalmente, um beijo.

 Não havia tempo hábil para avaliar as consequências do ato, muito menos sentir culpa — depois de tanta censura pessoal, aquilo era como uma traição. O restante dos dez minutos de Sakura — ou nove, ou oito; ele não estava mais contando — foi gasto em beijos vagarosos, daqueles que arrepiam a espinha.

                — Atenção, senhores passageiros do vôo L44 com destino final para Veneza, Itália — a música foi pausada no sistema de som para o anúncio. — Por favor, encaminhem-se para o portão em embarque do setor B. O ônibus de translado até o avião partirá em cinco minutos.

 Itachi apartou o beijo com delicadeza, fitando-a profundamente. Talvez houvesse muita coisa a ser dita, mas nada que não pudesse esperar. Ele ainda estava atordoado e confuso pelo modo como as coisas tinham andado tão rápido num piscar de olhos, e por isso mesmo esperou que Sakura falasse.

                — Um ano. Um ano no mínimo — ela ofegou, abaixando-se desajeitadamente para recuperar as bagagens. — Você acha que pode me esperar por um ano?

 Talvez fosse pedir demais. Ele não tinha seu endereço, número de telefone ou e-mail. Tudo o que sabiam um sobre o outro se resumia em banalidades sem importância e um pequeno punhado de sonhos que começavam a ganhar forma.

                — Não estou pedindo juras de amor, ou fidelidade para esse relacionamento... Se é que é um relacionamento — Sakura meneou a cabeça negativamente, tentando ser objetiva. — Eu só quero saber se você acha que pode me dar mais uma chance no próximo outono.

 Itachi sorriu com um quê de melancolia, ajeitando uma mecha rebelde do cabelo dela.

                — Se você prometer que vai voltar de Veneza com um livro, acho que posso — ele riu-se. — Em um ano, em países completamente diferentes, nós vamos mudar muito, sabe disso. Pode ser que você não esteja mais interessada em um relacionamento amoroso, mas eu com certeza vou apreciar ter sua amizade.

                — Amizade — Sakura enrolou a palavra na língua, sentindo-se como uma colegial novamente. — Sim, isso já é alguma coisa, não?

                — Sim, já é alguma coisa — Itachi inclinou-se para beijá-la na testa, acariciando o dorso de suas mãos suavemente antes de soltá-las. — Isso é um até logo, Sakura-san.

 Ela concordou, colocando-se na ponta dos pés para carimbar um beijo na bochecha dele.

                — Até logo, Itachi-san.

 Então, tão repentinamente quanto tinha corrido para ele, Sakura correu para o portão de embarque — sem uma segunda olhada para trás. Seu palpitava no ritmo de uma canção muda que foi suprida pelo desespero de não perder o ônibus do translado.

 Alimentar aquele sentimento conturbado por um ano sem meios para contato parecia loucura. Ir para Veneza para escrever parecia loucura. Estar livre de suas escolhas mal feitas e sentir-se grata por isso parecia loucura. E Sakura de fato se sentia um pouco louca, porém a felicidade deveria ser exatamente assim.

 Não sabia o que esperar de sua vida no momento em que tomasse o avião. Mas tinha leves esperanças de que, no próximo ano, as folhas de seu outono caíssem novamente por Itachi Uchiha.


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Notas finais do capítulo

Bom, apesar de conhecer o ship (shipo, inclusive), eu nunca havia escrito sobre ele. Se a fic ficou estranha, meio torta ou fugiu muito do que se espera de uma ItaSaku: so sorry. c.c Escrevê-la me deu vontade de explorar mais esse ship, então prometo que vou tentar melhorar da próxima vez. ♥

Se você for minha amiga secreta: eu espero que tenha gostado, de verdade. Fiquei muito feliz de ter te tirado no sorteio e coloquei meu coração em cada rascunho do presente (gay asf, I know). ♥ Desculpa qualquer coisa meio "meh". c.c

Se você não for minha amiga secreta: espero que tenha gostado também! Obrigada por ter lido até aqui. ♥



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