Start a Fire escrita por Bianca Azeredo


Capítulo 1
Fire


Notas iniciais do capítulo

Link da música MARAVILHOSA que inspirou a história: https://www.youtube.com/watch?v=6AcaHkPm5ho



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719265/chapter/1

Já não era tão cedo da manhã, mas eu permanecia deitado. Coisa que só acontecia quando ela estava deitada ao meu lado. Toda vez era a mesma coisa. Eu até poderia acordar cedo como faço todo dia, porém ao tê-la tão perto de mim era difícil levantar e fazer as coisas mundanas de sempre, afinal quem deseja fazer o de sempre quando se pode apreciar um anjo dormindo ao seu lado?

 E ela é linda. Todo mundo sabe disso. E mesmo que não fosse possível ver, todos poderiam constatar isso. E ela é mais linda ainda de manhã, com sua face livre de preocupações ou questionamentos. Apenas ela mesma. Pacifica. Descansando confortavelmente e espalhada nos meus lençóis com seus longos cabelos loiros invadindo o meu espaço, mas como eu poderia reclamar?

  E ela veio como uma benção. Uma benção feita de fogo que veio para acabar com o gelo que meu coração havia se tornado depois de tantos anos apenas comigo mesmo. Descongelando cada lago congelado, derretendo o gelo de cada árvore adormecida e fazendo com que crescessem novas folhas verdes. Ela veio como um incêndio, derretendo todas as encostas brancas de neve que eu havia construído e as tornou verde de novo.

 Eu a conheci numa noite de verão. Estação em que as coisas voltam a ter cor, vida depois de um longo tempo de frio, algidez. E até essa transformação faz com que eu me lembre dela. Naquela noite eu decidi sair e só Deus sabe o motivo. Mas eu agradeço sempre que posso por ter decidido levantar-me do sofá e sair pela pequena cidade e andar um pouco. E foi uma noite muito feliz. Estava acontecendo o festival anual da cidade e algum tempo depois ao reviver as lembranças daquela noite eu percebi como as coisas são bonitas. As luzes, as crianças brincando, a risada das pessoas, as danças, a felicidade genuína de alguns amigos que de jeito nenhum esperavam me encontrar ali, a música... E ela. Na primeira vez que eu realmente a vi, a pouco eu tinha fugido de alguns conhecidos para achar um lugar mais calmo, onde fosse possível apenas observar as coisas e as pessoas sem ser perturbado. Então, fiquei encostado na parede de uma barraca tomando uma cerveja e pensando em nada. Porém,  quando eu a vi foi como se eu saísse de órbita de vez e entrasse num planeta de luz onde só havia ela na minha frente.

  Ela estava com uma amiga que a encorajava e a empurrava a subir no palco, mas ela não parecia querer ir. Fazia corpo duro, negava, mordia os lábios e as unhas, mas no final se rendeu e subiu no palco. Ela estava vestindo botas altas de couro marrom, um vestido estampado na altura dos joelhos e seu cabelo loiro estavam soltos e caiam ondulados pelas suas costas, parando na altura da cintura. E como se fosse câmera lenta, eu a vi subir no palco, pegar um violão preto, sentar-se num banco de madeira meio desbotado. A vi  sorrir pela primeira vez e cumprimentar a platéia antes de começar a cantar.

 E puxa, mas que linda voz que ela tem! E vê-la cantar de olhos fechados e com todo o coração fez com que eu me apaixonasse instantaneamente.

 Então, quatro meses depois estamos aqui. Num tipo de relacionamento que não tentamos nomear ainda, mas eu sei que é especial. E a cada vez que a olho sei que ela é um presente enviado por Deus para descongelar a minha vida que estava pausada desde o terrível acidente que levou várias pessoas que eu amava e a família que eu estava construindo.

 Algum tempo depois resolvi que era tempo de levantar, mas antes arrumei o seu cabelo e deixei um beijo suave na sua testa. E ao me olhar pelo reflexo do espelho do banheiro me vi mais feliz. Com uma feição calma, com olhos brilhantes e uma felicidade que mesmo estando impassível era difícil de esconder. Lavei o rosto e fui para a cozinha preparar um café. Depois, abri a porta da sala e fui até a varanda e sentei-me numa das cadeiras velhas e comecei a apreciar os arredores. O canto dos pássaros, as árvores que começavam a mudar de cor, a vida. Pouco depois a porta da varanda se abriu e ela se sentou no meu colo, roubou um pouco do meu café e deitou sua cabeça no meu ombro. Como eu, um homem de cinqüenta e tantos anos consegui tanto amor e devoção de uma jovem no auge da sua juventude, aos vinte e dois anos? Acariciei seus cabelos com as minhas mãos calejadas pelo tempo e depois a abracei forte sentindo um calor familiar me tomar o peito.

 O amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Raissa, essa história super especial é toda pra ti.
Espero que tenham gostado ♥