Ladrões de Coroas Interativa escrita por Safira Lúmen


Capítulo 15
Clássicos da literatura, o Encontro de Lendas


Notas iniciais do capítulo

Oi Meus amores o capítulo que eu estava mais ansiosa pra escrever está pronto! Eu o amei, mas estava insegura para postar, eu não consigo ver uma forma de ele estar melhor, mas só vocês lendo para saberem.


Não escrevi sobre o Kian porque havia uma falha no meu cronograma, eu preciso de mais um capítulo com o Gregori antes do Kian aparecer novamente junto com o personagem novo. E fala sério o encontro da Helena com a Aileen é algo que todos nós queríamos muito ver!

Babs obrigado pela recomendação linda! Amei, foi muito perfeita ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719119/chapter/15

 

Helena Jazmin Deveroux

Três ilhas/ Piratas

Tempos atuais 

Corujas, corujas, corujas, corujas. Loenne se curvava de tanto sorrir, suas bochechas estavam coradas e os pulmões sem ar enquanto contraia o abdômen em uma crise entre tosses e gargalhadas.

— Malditas corujas, vão todas queimar no inferno, ou onde o senhor dos anjos julgar pior! — Ryanon a navegadora e administradora de Helena praguejou batendo a bota na areia. — Morram!

Loenne continuou tentando se recuperar enquanto olhava a caca na cabeça da amiga. Helena estava um pouco além usando a luneta para ver as embarcações na imensidão do oceano. Um pequeno cargueiro se aproximava do porto.

— Se continuar sorrindo ela vai comer os seus rins! — Helena alertou sorridente também. — Ou será que se tirarmos ela do serio Ryanon finalmente revela o que ela é?

— Vai saber que fera se esconde naquela pele! — Loenne provocou um pouco mais.

— Sou humana! — A garota esbravejou indo até a água pra lavar a cabeça. — Quantas vezes tenho que lhe dizer isso capitã, sou uma maldita humana.

— Sei... — Helena piscou para Loenne e as duas deram risinhos conspiratórios enquanto a outra mostrava dedo.

As três mulheres havia ido para a praia monitorar as embarcações que chegavam enquanto os garotos dormiam, eles haviam feito o mesmo durante a noite toda. Erion, o bruxo, parecia um caramujo de tão lento que andava quando retornou pela manhã, Lexor o gigante acabou tendo que carregar o conselheiro Seyr, o velho mal dava conta de suportar o próprio peso. 

— Essa é a vigésima quinta coruja que eu conto por aqui! — Reclamou Loenne esquecendo a outra amiga. — Isso é muito conveniente para a Aileen.

— Com toda certeza. — Helena concordou. — Mas isso não é motivo para sermos descuidadas.

— Eu só digo uma coisa, se mais uma coruja cagar em mim eu vou a despenar viva! — A voz de Ryanon soou como um rosnado.

— Ei, a torturadora dessa tripulação sou eu! — Loenne fingiu defender o seu lugar. —Nada de crescer o olho para o meu cargo!

{...}

Aileen McIntyre

Três Ilhas/ Piratas

horas antes

Já fazia quase um mês desde que Helena havia enviado a carta. Aileen após decidir foi o mais rápido possível para as três ilhas, seus marujos haviam remado durante o dia e às vezes seguiram mesmo a noite. 

O vinho foi um constante incentivo durante as horas no remo, a capitã havia feito a gentileza de liberar a bebida para motivar os homens, ela, no entanto havia guardado os melhores pra si, podia ter sido gentil, mas não tanto.

 O céu durante a noite estava claro, era um bom mês, não havia chuva no horizonte. As ondas estavam controladas, a única coisa a se reclamar era o pouco vento que fazia com que mais marujos se dedicassem aos remos.

 Aileen já conseguia vislumbrar de cima do mastro os bancos de areia mais ao sul e o porto ao norte com as passarelas, colunas, correntes e muitas embarcações.  As Três Ilhas eram lotadas de piratas, mercadores, traficantes e caçadores, a venda de escravos e de muitos venenos era mais fácil ali do que no império, um vez que não precisavam seguir as regras exigidas pela coroa maior.   

— Ancorem o navio aqui. — Ela gritou sinalizando para que todos parassem. — Estamos em uma boa distancia o que vai impedir de reconhecerem o monstro dos mares.

— Mas nas três ilhas todos podem ir.  — Um marujo de cabelo vermelho comentou. — E não há perigo, pois fomos convidados por Helena.

— Você não acompanha a literatura meu caro idiota? — Aileen bufou de indignação com o comentário do inocente.  — Somente em Parlak existem mais de vinte clássicos na qual o anfitrião mata os convidados.

Os outros concordaram lembrando-se de “As lagrimas de uma mãe em luto” e de “O caminho de um nobre pobre”, livros muito conhecidos cuja historias eram repassadas de geração, havia muitas adaptação de ambas as obras pelos cantos do império e todos que os lia sabiam que jamais se deve confiar nos anfitriões.

— Eu quero que vocês pareçam insignificantes, nada de banho, amanhã vocês precisam estar maltrapilhos. —Mesmo sem entender o propósito eles concordaram. — Eu me passarei por uma pescadora que decidiu adentrar no mercado de escravos, pois tratem de pescar porque precisaremos de peixe.

 Ela ordenou imaginando que disfarçado de pescadores seriam bem mais fácil não serem notados.  E os marujos se passariam por escravos. Esse era um plano que se formava em sua mente desde o dia que aceitará encontrar com Helena.

A capitã conferiu toda embarcação à procura de algo errado, ela teria que se ausentar para preparar sua entrada fenomenal, mas antes tinha que certificar de que nada aconteceria com os marujos e com o monstro dos mares.

Para seu plano ser executado da forma correta precisaria de barris para os peixes, uma embarcação menor e armas melhores, além de corrente para os escravos. Por sorte tudo poderia ser resolvido em uma noite de apostas.

— Eu irei sair! — Ela avisou a todos que seguiam suas ordens. — Voltarei ao entardecer de amanhã, se algum intruso aparecer o aprisione ou mate.   

A tripulação concordou.

{...}

Helena Jazmin Deveroux

Três ilhas/ Piratas

Tempo atual

Helena havia passado o dia todo na costa olhando embarcações menores encostarem ao porto, a maioria era pescadores, fazia tempo que não se via grandes piratas por ali. As lendas estavam se aventurando pelo mar, muitos queriam saquear a frota real.

O sol já se punha, e a lista de Loenne com a quantidade de corujas já havia se passado de setenta, mas ela tinha uma leve suspeita que contara a mesma ave umas cinco vezes. Corujas eram tudo igual para ela.

— Vamos voltar para o bordel! — O comentário da capitã loira foi mais chateado do que animador. —Pelas minhas contas ela já deveria ter chegado.

— Andei interrogados alguns piratas que afirmaram ter visto o monstro dos mares no oceano dias atrás. — Loenne contou para Helena. — Mas isso não significa que Aileen já tenha chegado, afinal, todos sabem que o navio dela é muito pesado e grande devido ao modelo e as muitas armas.

— Isso o torna mais lento. — Completou Ryanon quando Helena passou por elas de forma jogada enquanto fazia careta. — Não fica assim capitã, vai dar certo.

Helena encarou a amiga quando a mesma colou a mão em seu ombro dando-lhe um sorriso gentil. A mulher havia se apegado a cada um de sua tripulação, o vinculo entre eles não era profissional, em alguns momentos ela os enxergavam como família e em outros como os melhores amigos. 

O sol já se punha quando as três tornaram a refazer o percurso da praia até o bordel, elas passaram pelo porto onde o cheiro de peixe era mais forte e caminharam enquanto a maresia acalmava a frustração da mulher. 

— Loenne você poderia fazer um último serviço hoje antes do jantar? — Pediu Helena. A garota apenas concordou animada. — Veja se consegue com sua rede de informação mais rumores sobre os gigantes. E confira com pessoas que trabalham nas ilhas de cima e de baixo se Aileen não esteve por lá.

A torturadora saiu animada como se o serviço na verdade fosse uma brincadeira. Ryanon e Helena seguira para o bordel que estava cheio de fregueses.  A capitã sentiu orgulho ao ver suas garotas se divertirem enquanto os homens as escolhiam para um tempo de prazer.

— A novata está se adaptando. — Ryanon comentou apontando para uma garota parda sentada no colo de um marujo enquanto o acariciava. — Ela já está sendo até querida por alguns.

— Isso é bom, mas o que ela tem falado da profissão? — Helena quis saber por medo da novata se arrepender da escolha que fizera ao vender o próprio corpo.   

— Receio que não seja o melhor serviço, mas ela tem lidado bem com as criticas, aqui nas Três ilhas não tem família para julgá-la, e muito menos o marido para espancá-la.

Helena cerrou os pulsos ao imaginar o que muito daquelas garotas haviam passado para estarem ali. O bordel era um lugar bonito e aconchegante que dava mais despesas do que lucro para a loira que o mantinha.

A capitã dava setenta por cento do que recebia para as garotas como salário, somente trinta por cento ficava para as despesas do bordel, além da capitã não estabelecer nenhum contrato com as meninas, ou seja, elas eram livres pra ir ao momento que desejassem.

 —Isso é mais parecido com uma casa de recuperação do que com um bordel. — Erion sussurrou nos ouvidos de sua amada dando-lhe um beijo na orelha. — O que acha de pagarmos um quarto para nós?

Helena deu-lhe uma cotovelada o fazendo se afastar, o gesto foi apenas uma brincadeira, mas havia doido de verdade.

— Preciso tratar de assuntos importantes antes. — Helena saiu para conversar com Seyr deixando Erion na companhia de Ryanon.

{...}

Aileen McIntyre

Três Ilhas/ Piratas 

Horas antes

Ao sair da quinta taverna na ilha de cima Aileen sorria mais do que qualquer um naquele lugar. Ela havia apostado alto, esmurrado uns cinco homens, perfurado o pulmão de outro, ganhado um velho navio de pesca jogando “fracasso do tolo”, bebido mais do que um gigante, mijado no piso de um hospedeiro que a havia a expulsado após ela ter lhe quebrado um dente. Mas o que a chamava atenção era a bolsa cheia de ents de prata fruto das vitorias.

Após a longa noite de diversão enquanto adquiria tudo que precisava para seu plano Aileen havia se esgotado, as pálpebras queria se fechar e o corpo ardia, ela precisaria dormir antes de aparecer diante de Helena, mas o dever a chamava.

A capitã se transformou em coruja com a mesma facilidade que respirava, o seu coração batia mais forte nessa forma, e mesmo perdendo as cores ela conseguia ver os pequenos detalhes, nada passava despercebido. As penas lhe acalentava enquanto ela envolvia a alça da bolsinha nas garras e voava  rumo ao ferreiro deixando as roupas no chão.

O local onde conseguiria as correntes e as armas era na ilha do meio, bem próximo de onde ficava o bordel de Helena, lá o fluxo de pessoas importantes era maior tornando todas as ações mais perigosas, principalmente quando estava desarmada.

Voar pelo céu sempre foi o auge de liberdade para Aileen, quando era criança ela voava durante a noite e retornava para casa antes da mãe notar que ela havia saído, mas ela não se continha com essas pequenas aventuras, por isso em uma noite ela se transformou em coruja e nunca mais voltou para casa.  

Quando abria as asas e voava era como se nada jamais a prendesse. Tudo se tornava possível. Aileen se transformou em humana novamente ao chegar ao ferreiro, o susto que o mesmo tomou foi o mesmo de se ver uma assombração.

— Não me diga que nunca viu uma mulher nua? — Ela debochou enquanto ele caminhava para trás tampando os olhos. — Ei volte aqui. Tenho negócios a tratar.

— Não faço esse tipo de negocio. — Ele apontou um dedo para o corpo de Aileen desesperado,  a aliança em seu dedo parecia ter sido forjada a um dia de tão nova que era.

— Crio que faça sim. — Ela pisco o deixando nervoso.

—Minha mulher vai me matar. — Ele sussurrou desesperado enquanto corria para os fundos. Aileen ficou olhando as peças de metal nas paredes, havia ferraduras, botões, espadas. Mas o homem não quis voltar para atendê-la.

— Eu quero espadas e corrente seu idiota! — A capitã perdeu a paciência e gritou.

Ele não era o melhor ferreiro que ela já tinha visto. O trabalho dele era rudimentar, mas deveria servir para os seus fins. O homem tornou com um manto nas mãos, ele o estendeu para a capitã que agradeceu com uma expressão presunçosa. 

— Preciso de correntes, para trinta escravos, e espada para oito homens. — Ela depositou sete moedas de prata no balcão. —Isso equivale ao seu trabalho, mas...

—Mas o que? — Ele pareceu desapontado ao vê-la guardando dois dos sete ents.

— Mas você me viu nua, isso é algo que muitos morreriam para obter. — Ela brincou com ele insinuando que retiraria o manto. — Por isso você me deve dois ents de prata, sendo assim, dos sete que eu iria pagar ficam cinco para você.

—Isso é ridículo. — Ele resmungou, mas ao encarar a capitã se arrependeu amargamente das palavras. Ela o segurou pelo pescoço e o prensou contra a parede. Aileen mostrou os dentes como se fosse um lobo então o empurrou de volta para detrás do balcão.

— Voltarei duas horas depois do almoço, espero que até lá já esteja com todo o meu pedido pronto.

O homem gastava um dia para fazer uma espada, mas concordou, ele não questionaria Aileen novamente mesmo que não fizesse ideia de como faria essas armas e a corrente em tão pouco tempo.

{...}

Tempo atual

Ao crepúsculo Aileen estava com tudo pronto, o navio de pesca pequeno havia sido rapidamente ocupado pela tripulação da metamorfa, as espadas e a corrente que ela havia encomendado tinha ficado pronto no horário exigido. Os peixes que os marujos pescaram ocupavam os barris assim como os pescadores faziam. 

Ela escolheu os oito melhores lutadores de sua tripulação e os entregou as novas espadas, eles agradeceram o gesto mesmo temendo morrerem   naquela data. Todos em sã consiencia sabiam que aqueles que serviam Helena eram os mais intimidadores das três ilhas.

 Erion era um bruxo muito poderoso, Lexor um gigante, Loenne uma excelente torturadora o que os fazia crê em suas habilidades com laminas, quanto a Ryanon existiam boatos de que era uma fera, por mais que a mesma alegasse ser humana. Seyr era o único que não tinha muita utilidade em uma luta por já estar velho, mas não devia ser descartado.

Aileen sabia de tudo isso, mas não temia, seu plano era bom e acreditava em suas habilidades. Ela acorrentou o resto de sua tripulação os fazendo se passar por escravos.

— Prestem atenção.  —Ela gritou fazendo com que todos a encarasse. — Eu sei que não dou moleza! Trabalhar para mim é a coisa mais difícil que já enfrentaram, pois eu faço disso uma provação diária além de uma tortura constante.

A tripulação concordou enquanto cutucavam um ao outro relembrando, das remadas juntos, dos dias que passaram escavando a costa de Luzili, dos momentos em que beberam e dormiram um ao lado do outro, quando foram chicoteados por errarem ou desobedecerem.

— Eu sei das dificuldades, mas também não há sorte maior do que trabalhar para mim. —Ela fez uma pausa. — Pois se sobreviverem a minha pessoa não a mais nada no mundo que precisam temer.   

Todos sorriram. Aquela era uma verdade absoluta para eles, se sobrevivesse a Aileen não precisava temer mais nada, mas isso era porque não conheciam Helena e sua tripulação.

— Eu me importo com vocês, e não os deixarei a mercê de ninguém se não a mim mesmo, portanto sigam o plano e sejam leais, pois prometo que serão recompensados. — Ela gritou em incentivo e os homens a acompanharam. — Ainda seremos lendas meus marujos.

{...}

Tempo atual

Helena estava jantando quando Aileen adentrou no bordel como se fosse à dona do lugar. Seus trajes não a protegeria de nada, as pernas estavam expostas, os braços livres e sua  única arma era um bastão nas costas.  Mas ninguém podia negar, ela tinha estilo.

— Como tem passado filha de  Trystan Deveroux? —Aileen mostrou os dentes brancos como um animal e fechou a porta atrás de si deixando bem claro que ninguém entrava nem saia. — Eu pensava que era mais ameaçadora, mas você me lembra duma fadinha.

Helena lançou a caçarola no chão se levantando de supetão, por sorte estava armada, os fregueses perceberam que o clima havia esquentado. Alguns marujos que aguardavam na sala de espera correram para os quartos ignorando o resmungo daqueles que haviam pagado pelo serviço das prostitutas.

Aileen roeu as unhas em uma tranquilidade surreal. A musica que tocava ficou mais alta conforme o silencio reinava.

— Ei você, venha aqui! — Ela fez o sinal para que uma das garotas de Helena se aproximasse. A mulher tinha seios redondos, mas era muito magra e o cabelo um pouco quebradiço. Aileen não se importou quando sentou-se no sofá a colocando no colo. — Você me acha bonita?

A mulher gaguejou percebendo que não deveria contrariar Aileen, porém o olhar de Helena foi perturbador.  O vestido da prostituta era aberto na  lateral esquerda, a metamorfo aproveitou para acariciá-la.

— Eu lhe fiz uma pergunta, não foi? — A mulher confirmou. —Não me acha bonita?

— Sim você é. — Ela concordou chorosa. —Eu posso ir?

— Só quando me disser que sou mais bonita que a Helena! — A dona do bordel confirmou com a cabeça permitindo que a mulher falasse o que foi pedido.

— Você é mais bonita que a senhora Helena. — Aileen a liberou com um sorriso depois de escutar as palavras. Sua ação podia ter parecido ridícula ou um caso de baixa estima, mas ela só queria mostrar pra Helena que podia mandar em qualquer um.

Helena caminhou até o sofá ajuntando-se a Aileen. Seu rosto era a encarnação da tranquilidade.

—É sério você parece uma fada! — Aileen comentou encarando a outra loira.

—Existem boatos de que minha mãe era uma ninfa. — Se a outra capitã desejava jogar conversa fora por Helena tudo bem, fingiriam ser civilizadas. — Como todos sabem as ninfas é a versão das fadas só que aquáticas.

— Seu pai era um homem peculiar! — Aileen confessou tranquilamente como se oito de seus homens não estivesse na porta pronto para atacar caso fosse preciso. — Mas como você mesmo disse são apenas boatos!

Helena se levantou para pegar copos e um liquido que Aileen reconheceu como hidromel.

— Mas o que achou de mim? Atendo a suas expectativa?  — A metamorfa especulou enquanto avaliava a adversária. — Não vai me dizer nada?    

— Você está fedendo peixe! — Helena franziu o nariz respondendo. — Até parece que viajou com sardinhas e cascudos!

Aileen sorriu como se fosse a melhor piada, mas ela sabia que Helena estava enrolando, na verdade a outra estava apavorada por estar a sós com ela sem ninguém de sua tripulação. Porém logo um bruxo apareceu um pouco ofegante, ao ver que a pirata já estava lá ele tentou se recompuser disfarçando o susto.  

Aileen permaneceu imóvel, o bordel era iluminado por tons neon. A capitã que havia praticamente invadido o estabelecimento sabia que o local não a favorecia. Muitos daqueles que o frequentava era leais a Helena e o espaço fechado não seria bom caso precisasse voar.

—Erion venha conferir por si próprio o odor que a coruja dos mares exala. — Ela pediu ao amante. — Ela está fedendo peixe, não é mesmo?

Ele apenas confirmou com a cabeça ao se aproximar.

— Vejo que os boatos são falsos, você não tem um olho a menos, não estou vendo escamas de dragão no seu corpo e muito menos um rabo. — Aileen aliviou a pressão sobre os ombros e gargalhou. —No entanto a fama de sua beleza é verídica!

Helena o encarou com um ódio gélido, mais tarde eles brigariam por causa daquele elogio, ele não deveria contemplar nenhuma mulher se não a si. 

— Obrigado, sinto me honrada, mas não preciso de bajulação. — Aileen respondeu concluindo que se quisesse vantagem em uma luta teria que sair para o lado de fora. —Cadê o resto dos seus cãezinhos Helena?

—Receio que você saiba. — Helena a encarou do pé a cabeça assim como uma rainha avalia os súditos. — Como minha tripulação não lhe reconheceu? O monstro dos mares é gigante.

—Exatamente, o monstro dos mares é gigante, por isso não estou o utilizando no momento. — Aileen confessou fazendo Helena dar de ombros. Finalmente a conversa estava se tornado produtivo. —Uma embarcação de pescadores por outro lado é bem  discreta.

— Isso explica o fedo de peixe, eu jamais imaginei que você deixaria aquele barco. — Helena olhou para o bruxo que estava pronto para repelir qualquer arma da mão de Aileen caso ela desejasse ferir sua amada.

Hell respirou fundo, seu coração estava acelerado. Era para Ryanon ou Seyr ter lhe avisado quando Aileen chegasse, infelizmente o disfarce acabou complicando tudo.

— Eu pensei que traria mais homens para lhe proteger Aileen. — Helena pareceu decepcionada, mas a verdade era que ela pretendia descobrir quantos estava do lado de fora aguardando o momento certo para entrar. — Fico desapontada com seu insulto, você está me subestimando.  

— Pensei que iríamos apenas negociar, não tinha nada naquela carta que dizia colocar minha vida em riscos. — A voz foi elevada nesse momento. — Então me diga onde está o que eu quero?

— Não antes de falarmos sobre o que você trouxe para mim. — Helena se levantou. — O que tem a oferecer?

— Acompanhe-me. — Aileen saiu do bordel.

{...}

Helena a mataria ali mesmo, naquela noite clara de lua cheia. Ela não pensou duas vezes antes de colocar as mãos no punho da espada que uma vez havia sido de seu pai. Os homens acorrentados, maltrapilhos e machucados estavam esgotados enquanto aguardavam em pé.

—E não aceito escravos, não concordo com isso. — Os olhos ganharam mais intensidade enquanto ela se dirigia a Aileen pronta para tirar sangue. — E você sabia, todos sabem que não concordo com isso.

Aileen fez uma expressão inocente enquanto fingia estar assustada, tudo estava correndo como desejava.

— Todos gostam de escravos, eles são muito uteis. — Ela respondeu como se fosse à dona da verdade. — Eu gastei muito tempo caçando os melhores para você. Achei que seria justo algo que te fornecesse lucro em troca do molde que eu desejo. 

— Eu não os quero, liberte-os. — A voz de Hell foi uma exigência. — Liberte-os e me ofereça algo melhor pelo molde, afinal, estamos falando daquilo que te levará até o tesouro de Blair!

Aileen se aproximou decidida, dessa vez os oito homens que estava armados saíram das sombras para revelar que a capitã não estava sozinha. Os escravos clamaram por liberdade enquanto Helena sentia ânsia de vomito. Ela discordava da escravidão, principalmente quando os homens eram inocentes.

— O molde em troca deles! — Aileen respondeu com tranquilidade. —  Se me entregar o que eu desejo esses homens serão seus para que faça o que desejar, inclusive libertá-los.

Erion se colocou ao lado de Helena temeroso, ele sabia que sua amada tinha um bom coração e não permitia injustiça. Ele temia que Helena agisse por impulso. Ele gostava tanto dela.

— Mas e seu eu não concordar? — A outra loira indagou com a voz condescende.

— Se não concordar eu os queimarei vivos na sua frente. — O tom usado por Aileen foi macabro e fez os escravos suplicarem ao senhor dos anjos.  Sua tripulação que estava disfarçada realmente acreditou que se Helena não aceitasse eles seriam mortos. Não duvidavam da insanidade de Aileen. — O destino desses homens depende você!

Erion encarou Aileen por um instante deixando transparecer seu medo.

— Eu irei buscar o molde! — Helena encarou o bruxo furiosa por ele ter dito isso. — Não deixarei essa louca queimar esses homens na frente do seu estabelecimento Hell.

— Você não vai! — Helena usou o mesmo tom que o pai usava. — Eu irei matá-la pelo insulto e ainda liberarei os escravos.

Aileen gargalhou pegando o bastão  o girando entre os dedos.

— Vá buscar o molde bruxinho e eu prometo lhe entregar sua capitã com vida. — A loira partiu pra cima da outra acertando o bastão na testa de Helena que cambaleou.

O céu estava claro devido à lua cheia. A frente do bordel era bem iluminada e ambas conseguiam ver onde pisavam. Alguns marujos haviam parado para assistir o que ocorria inclusive aqueles que estavam dentro do bordel.

Helena desembainhou a espada que uma vez havia sido de seu pai e deferiu alguns golpes que acabaram chocando com o bastão. Aileen parecia uma pluma enquanto se movia, era leve, e sabia onde pisar. Helena por sua vez mostrava raiva em seus golpes o que a deixava sem foco.

A metamorfo acertou-lhe as pernas, depois a cabeça. Helena não era boa na luta, sabia usar uma espada, mas Aileen era uma oponente quatro vezes melhor do que ela. O pior era que a capitã do monstro dos mares estava se contendo.

Helena resmungou quando foi acertada com o bastão no nariz fazendo o seu sangue jorrar. Aileen sorriu com escárnio. Hell tentou acertar a lamina no rosto da outra, mas seu gesto foi previsível. O bastão que Aileen usava parecia ser parte de seu corpo, ela tinha uma sincronia com a arma. 

Helena tentou outra investida, mas dessa vez foi desarmada fazendo com que a espada fosse remessada, alguns que assistiam sorriram. Ela tirou de uma das botas uma adaga mais curta e correu se chocando com o bastão, aquilo havia tirado sangue de si, mas ela conseguiu se aproximar o suficiente para cortar de raspão o ombro da outra. 

— Se não chegar logo com o molde bruxinho sua capitã vai estar morta. — Aileen estava tranquila, completamente no controle. O arranhão no ombro não deixaria cicatriz.

Percebendo uma pequena brecha Helena pegou uma adaga do cinto e tentou crava-la na cocha de Aileen, pareceu ser fácil devido sua agilidade em deslizar, mas Aileen percebeu para onde ela olhava e lhe acertou um chute que pegou no olho castanho. Aquilo ficaria muito inchado.

Quando Erion apareceu novamente com o molde de madeira nas mãos ele se desesperou. Helena estava toda machucada, sangue estava derramado por todo o lado e ela tinha um olho muito ferido.

—Me entregue. — Aileen ordenou chutando Helena uma ultima vez.  Os seus oito marujos sorriram do gesto.

— Não faça isso! — Helena pediu com a voz rouca. — Ela não nos deu algo relevante.

— Lógico que dei. — Aileen contrapôs ofendida. — Lhe dei trinta escravos e sua vida, afinal, eu poderia ter te matado agora.

— Erion se você entregar isso a ela estará tudo acabado entre nós. — O bruxo parou por um instante receoso. — Eu jamais te perdoarei.

— Se você não me entregar eu queimarei os escravos e matarei sua capitã. — Aileen reforçou a ameaça.

Erion entregou o molde ignorando o nojo no rosto de sua amada. Ele era um objeto grande e fino que ao ser colocado sobre um mapa formava uma rota muito além do território das sereias. Os dedos de Aileen roçaram a madeira com encanto. No canto ela viu uma assinatura na língua comum com o nome “Blair”.

—Obrigado por colaborar. — Ela disse sorridente. — Tudo isso para libertar uns míseros escravos.

—Esses homens valem mais do que você! — Helena esbravejou ainda no chão cuspindo o sangue que havia se acumulado em sua boca. —É por isso que eu os liberto.

— Vocês ouviram cara tripulação, todos estão livres! — Aileen gritou para os homens que se fingiam de escravos. Os mesmo se libertaram das correntes e se ajuntaram ao redor da capitã insana.

Helena os olhou em choque.

— Eu lamento que esse encontro tenha acabado dessa forma filha do grande Trystan, seu pai era uma lenda, talvez com o tempo você o alcance, mas infelizmente não posso ficar o monstro dos mares nos espera. 

— Eu acho que não — Helena afirmou se levantando. Sua voz não foi de uma perdedora. Aileen olhou para ela com a sobrancelha arqueada. Mas Helena gargalhou como se tudo houvesse sido uma grande piada. — Você achou que seria tão fácil assim?  Não deveria ter deixado aquele galeão negro ancorado nas minhas águas!

— O que você fez com meu navio? — Ailleen tornou a pegar no bastão, mas Erion usou magia para o repelir da mão dela. — O que está acontecendo?

Lexor o gigante saiu de detrás de uma construção. Seus músculos eram torneados e a força equivalia a de vinte homens, ele era capaz de levantar centenas de quilo.

Erion havia descoberto que Aileen estava nas três ilhas pela esposa do ferreiro, quando Helena retornou da praia ele avisou a capitã e juntos elaboraram toda a encenação.

Lexor deu mais um passo esmagando um dos marujos de Aileen.  

— Ninguém engana minha capitã!  — O gigante pronunciou matando um dos homens que havia se fingido de escravo, Lexor o rasgou no meio como se fosse papel. Enquanto repetia a frase, era uma verdade, ninguém jamais enganava Helena.

A tripulação começou a correr para atacar o gigante inclusive os oitos que estava com as espadas. Mais do lado de Lexor estava Loenne com suas muitas armas, pronta para derramar sangue.

— Eu acabei de ancorar o galeão negro no lugar que ordenaste. — Ryanon apareceu. — É uma ótima navegação para o que desejamos fazer.

— Matem-nos! — Aileen ordenou para a tripulação, mas Erion levantou um escudo ao redor daqueles que defendiam a metamorfa os impedindo de se movimentar. 

— Se você quiser sair daqui com esse molde e com vida é melhor fazer exatamente o que eu quero! — Helena disse sem enfeite, era apenas a verdade e Aileen percebeu. — Aileen McIntyre, se resistir sua tripulação morrerá, seu navio se tornará meu e você será torturada por Loenne, além de se passar a ser minha posse.

Aileen tornou a guardar o bastão, era hora de negociar conforme os termos da adversária. Erion se direcionou para Helena colocando a mão no rosto dela, o bruxo limpou o sangue com as mãos e a beijou satisfeito por terem conseguido.

Helena sentia a dor dos ferimentos, ela nunca havia levado uma surra tão feia, quando pensou em encarar Aileen ela jamais havia imaginado que a metamorfa era tão boa.  

Aileen por sua vez deu de ombros, como os clássicos da literatura ensinavam, jamais devia se confiar nos anfitriões. E ela era uma pirata inteligente, aquele jogo estava apenas começando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então me digam, como foi esse capítulo?

Nós temos dois personagens novos que serão apresentados Luke Stanfedd (Humano), e uma gigante muito especial que vai enriquecer muito o núcleo do gigantes que nem tinha tido espaço ainda na historia. A Prisca Scarione é maravilhosa. Também acho que apareceram mais um vampiro e um anjo (mas esses ainda são incertos).

Estou feliz pelos personagens novos pois eles me permitiram trabalhar uns pontos que eu não estava conseguindo antes, mas todos terão espaço, eu vou administrar isso com cuidado.

E o William, o Bella e a Azalyah terão espaço!

Não sei se perceberão, mas as coisas estão se ajeitando nos núcleos. E não tem jeito, eu não consigo resumir os capítulos se não fica coisa de fora! Portanto seja como for! Acho que não conseguirei cumprir meu cronograma porque comecei a trabalhar dobrado por aqui.


Perguntas de Hoje:

* Qual personagens vocês querem que eu focalizo?

* O que vocês acham de eu colocar no grupo do face algumas curiosidades sobre a mitologia e a historia da fic?

* Tem alguém por aqui com habilidades para fazer trailer?

* Quem vocês querem que morre? E qual é o seu personagem preferido até o momento.

É isso, beijinhos de guloseimas *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ladrões de Coroas Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.