Eu não acreditava no que eu iria fazer, mas eu ia. Resolvi fazer que nem Andrew, e joguei uma bolinha de papel na mesa dele. Mentira. Minha mira é tão, mas tão, mas tão horrível, que acertei no meio da testa dele, bem na hora em que Andrew se virou para mim. Me virei para frente e escondi o rosto, de tão envergonhada que eu fiquei.

Depois ele me jogou novamente a bolinha, e o garoto é tão bom nisso que acertou exatamente no meio da minha mesa, bem onde eu estava escrevendo. Como ele conseguia lançar diagonalmente e acertar exatamente onde queria eu não sei. Só sei que mesmo de frente eu nunca conseguiria fazer o mesmo.

Embaixo do que eu havia escrito (“preciso fala ctg”), ele escrevera apenas um “Tá ok!”, e isso foi suficiente para fazer meu coração disparar.

No recreio, eu disse para Andrew vir comigo, e fui até o canto mais longe do pátio da escola. Suava frio, me concentrava ao máximo pra não desistir, não pensar em besteira, apenas continuar movendo minhas pernas. Não tinha coragem de olhar para trás para ver se Andrew estava realmente atrás de mim ou se já tinha fugido. Ele até poderia fugir, eu não me importaria, na verdade adoraria não ter que dizer nada para ele, seria bem melhor que ele fugisse mesmo. Mas me lembrei de quem eu estava falando, e lembrei que Andrew é curioso demais para simplesmente fugir e me deixar andando sozinha para longe de tudo e de todos.

Chegamos finalmente no canto máximo do colégio. Eu não acreditava nisso. A caminhada tinha sido tão rápida, poderia muito bem ter demorado mais, afinal, o pátio é grande suficiente pra cansar de atravessar inteiro. Mas como eu estava MUITO ansiosa, jura que o tempo ia colaborar, não é?

Eu me virei e o olhei, e ficamos nos encarando, até que ele perguntou:

-E?

-E o que?

-Não vai me falar?

Droga, assim não dava mais para enrolar.

-Tá bem, eu vou falar. Acontece que eu pensei muito a respeito do que tá acontecendo, sobretudo sobre o que você disse, e acho que deveria ser mais franca com você.

-O que? Já pensou? Vai largar aquele trouxa do David e ficar comigo?

-Não o chame de trouxa!

-Pelo visto não.

-Quer me escutar ou vou ter que te deixar aqui falando sozinho?

-Não, não, desculpa, vou escutar agora.

Eu bufei, e continuei minha tortura:

-A verdade é que eu não sei. Não sei o que está acontecendo comigo. Quando você começou a conversar comigo eu achei que você seria apenas um mala que me incomodaria durante um certo tempo e depois fosse pro pé de alguma outra pessoa. Mas não. Você continuou sendo meu amigo, tentando ser pelo menos, e eu percebi... que... bem... eu comecei a gostar de você. Mesmo. Mas eu não queria admitir. E quando admiti, David apareceu. E me pediu em namoro. E como você se tornava cada vez mais chato comigo, e não de um jeito engraçado ou divertido, mas um jeito cansativo e... sei lá, você me deixava irritada, triste, magoada. E agora você vem e diz que me ama, que quer ficar comigo. Só que agora eu já estou apaixonada por David. Também. Eu também estou apaixonada por David. Eu não sei o que eu quero, ponto. É isso.

Andrew ficou me olhando. Acho que estava apenas raciocinando, afinal, ele era um pouco lento. Mas por fim suspirou e disse:

-Eu achei que isso ia acontecer mesmo. Na real achei que tava acontecendo isso quando você não sabia o que me dizer. Mas não tem problema. Eu já disse, Sasá. Eu vou batalhar por você.

Andrew beliscou de leve minha bochecha, se virou e saiu. Eu fiquei parada ali, sem saber o que pensar, sem saber o que fazer. Por fim bufei e disse para mim mesma:

-Acho que vou seguir Jenny e me matar.