Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 8
O passado te condena




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Capítulo 8

Fiquei à porta de Victorine como uma raiz profunda até que alguém viesse abrir. Como era de se esperar, um mordomo apareceu e me deu passagem.

— Pode esperar a senhorita Beaumont aqui – ele me indicou uma salinha.

Bom, eu pensei, aqui é mais agradável que lá fora.

Aquele lugar parecia a casa de Jean, porém notavelmente com influências femininas. Sofá com poltronas rosa chá, quadros de costura e bibelôs pela estante.

— Serena, olá! – Vic apareceu subitamente, e eu quase derrubei um anjinho que tinha pego para olhar melhor. – Eu ia procurá-la pela tarde.

— Oi, Vic. Desculpe vir sem avisar, tive uns imprevistos e consegui chegar aqui mais cedo. – noticiei e me lembrei do atleta que me acompanhou até ali. Tive que rir.

— Não tem problema! Sente-se.

A ruiva sempre estava arrumada e impecável em contraste a mim que deveria estar, com certeza, com o rosto vermelho por ter ido andando e o cabelo bagunçado.

— O que você gostaria de falar? Notei que tinha algumas dúvidas.

— Sim... Queria falar sobre o Jean. – respondi. – Quer dizer, meu padrinho, você sabe.

As unhas bem feitas de Victorine tamborilaram no centro de vidro enquanto ela pensava.

— O senhor Burnier, claro. Você tinha sido pega de surpresa ao saber da esposa dele, sim?

Assenti.

— Pois bem, Serena. Como você é nova aqui no principado, não deve saber como as coisas acontecem. Diferentemente de outras monarquias, Mônaco tem o soberano como figura real e também chefe de governo, entende? Existe um órgão que coordena também, chamado de Conselho Nacional, porém eles auxiliam o príncipe soberano. – Vic me explicou. – O diretor do Conselho, por exemplo, é como se fosse o braço direito do príncipe.

— Certo. – mastiguei a palavra demoradamente. – Seu pai é o diretor desse Conselho.

— Sim! Meu pai é o atual diretor, nesse reinado do príncipe Louis. – Vic se aproximou e cochichou: – E, cá entre nós, tenho certeza que Vossa Alteza quer passar o trono para o filho, Pierre, ainda este ano.

Em minha cabeça, as peças começaram a se conectar. Esse Pierre que seria o soberano do Estado era o mesmo de quem Conrad me contara histórias engraçadas ainda há pouco. O pai de Pierre era o atual príncipe, Louis, mas queria rapidamente dar o trono ao filho.

— Ele quer transmitir o trono tendo o filho ainda jovem? – eu perguntei, pois imaginava que Pierre fosse tão jovem como Conrad.

— Sim, na verdade, dizem que Vossa Alteza nunca se deu bem com a posição a qual ocupa, fez mais por dever. – Vic afirmou. – Voltando... Você perguntou do senhor Jean, então preciso dizer que a família Burnier era bastante estimada e influente na região.

— Era?

— Ainda é, sim. Porém não tanto mais. Os Burnier tinham o estigma de sempre estar à direita do príncipe e não era diferente até o senhor Jean abdicar do cargo e realmente chocar a todos nós.

— Meu padrinho quebrou, tipo, uma tradição da família em servir ao principado sendo diretor do Conselho, é isso?

— Sim, sim. Eu não sei muito bem do porquê, foi antes de nascermos, com certeza, e já percebi que não gostam de comentar a respeito disso. Sei que Jean Burnier foi um jovem diretor ainda no reinado do pai do príncipe atual, Louis. Certamente ainda tinha seu cargo nas sucessões que vieram até Louis assumir e, depois, Jean deixou a política monegasca.

Eu apenas ouvia, assimilando tudo existente nas entrelinhas, atrás de algum indício, de algo.

— Dizem que tentaram impedi-lo de sair, afinal era de família ser tão diplomático no cargo, porém ele foi intransigente. – Vic pausou para bebericar seu chá que tinha chegado através do mordomo. – Parece que nessa mesma época, a esposa de Jean faleceu, então ele tinha motivos para se afastar, não é?

Concordei e pensei no quadro de uma mulher que tinha na sala da casa dele.

— Ele se afastou e passou meses fora de Mônaco, até voltar e continuar recluso em casa. Na verdade, ele só veio se reintroduzir na sociedade há pouco mais de um ano. É tudo que sei, Serena.

— Já ajuda, Vic. Fico triste em imaginar a perda de meu padrinho, e ter que enfrentá-la sozinho.

Vic suspirou. Eu podia sentir o quão pavoroso poderia ser passar pelo luto sozinha. Minha mãe havia falecido quando eu era bebê, mas meu pai tinha a mim para superar a perda da mulher amada. E eu, a ele.

Ou eu nunca o tive, caso contrário ele estaria ali para me ajudar.

— Vic, a esposa de Jean morreu de quê?

— Não comentam, Serena... – a ruiva falou e mordiscou o biscoito, nervosa. – Jean não declarou a causa publicamente, porém as más línguas afirmam que alguém a matou.

— Meu Deus! – arregalei meus olhos e quase engasguei com o chá. – Um assassinato?

— Oh, Serena, eu não gosto de falar disso! – Vic levantou abruptamente e alisou o vestido. – Eu espero tê-la ajudado até onde posso.

Tentei sorrir para a ruiva, agradecendo pelo esforço dela.

— Foi de ajuda sim, Vic. Bom... acho que vou para casa.

Eu não sei por que eu disse que ia se nem sabia como chegar lá, mas estava valendo passear sozinha por Mônaco mesmo.

— Já que está aqui, Serena, por que não vem comigo ao jogo de tênis que irá acontecer na Arena?

— Jogo de tênis? – arqueei as sobrancelhas. – Acho que não vai dar, Vic, eu estou... – olhei para as minhas roupas. – Eu nem estou arrumada.

Os olhos de Victorine pareceram brilhar de excitação.

— Mas podemos dar um jeito! Eu adoraria ver algo em meu guarda-roupa para você! Já que está aqui, pode ir tomar banho, posso pedir algo para comer e depois nós saímos, que tal?

Fitei a ruiva que parecia se conter para não dar pulinhos de alegria e desviei o olhar pela janela, absorvendo a bela imagem do dia que brilhava. Estava um dia tão bonito, com as árvores balançando pelo vento e o mar quebrando lá embaixo.

— Pode ser, Vic. Obrigada.

Eu cedi e Victorine deu um gritinho, logo me puxando pela mão para irmos ao seu quarto.

Até que poderíamos nos divertir ao assistir um jogo que nem a bolinha eu conseguiria enxergar. 


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Notas finais do capítulo

Adoraria saber o que estão achando!



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