Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 36
Retornando à sua gravidade




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Christina Perri - Arms

 

Capítulo 33 -Retornando À Sua Gravidade

"Gravidade =  física: força de atração mútua entre os corpos, originada pela gravitação ."

 

CONRAD

Eu a tinha visto e prendi a respiração inconscientemente, receoso até os ossos. Era a primeira vez que a via, que trocávamos olhares desde a última conversa e depois de minha declaração monólogo, como fiquei chamando o episódio do desabafo do telefone.

Os olhos âmbar prenderam minha atenção e meu estômago pareceu revirar em meu corpo. 

Como será que ela se sentia ao me ver depois de tudo que eu disse?

Entretanto, Serena desviou o olhar para frente e vi o movimentar de seus ombros cansados. Talvez ela ainda quisesse continuar com um tempo entre nós, mesmo depois de tudo que despejei naquele dia.

Respeitei sua decisão, então virei-me e decidi que não queria mais participar da sessão do Conselho. Na realidade, eu sabia que não seria capaz de me concentrar vendo-a lá, notando todas as diferenças que não pude acompanhar com a distância.

Com passos largos, sai na direção contrária à câmara e, sem saber, tomei qualquer rumo o mais longe possível de Serena. Eu não estava preparado para toda a angústia, culpa, medo que me afligiram ao vê-la tão próxima novamente.

Por estar com a visão turva, acabei trombando com alguém em alguma parte do castelo.

— Me desculpe - já fui dizendo antes de notar quem era. - Ceci?! 

A morena me deu um pequeno sorriso de canto.

— Olá!

— Mas o que você está fazendo aqui? Não lembro de você ter dito que viria, se não teríamos vindo juntos.

— Ora, não se preocupe, precisei falar com meu primo de última hora - Ceci abanou a mão no ar e fez a careta conhecida quando se tratava de Pierre.

— Ele ainda não entrou para a reunião?

— Não, estávamos tratando de algo que era urgente - Ceci respondeu. - Mas ele já foi e agora me pergunto o porquê de você não estar lá também, Conrad.

Apertei a ponta do nariz com os dedos por lembrar.

— Ah, imprevistos. - grunhi. - Vou me atualizar da situação política depois. Eu teria uma conversa privada com Pierre, de todo jeito, então me atualizarei com ele. 

— E para onde estava indo tão apressado antes de trombarmos? 

— Eu só.. Eu só queria ficar distante, sabe? - percebi a compreensão chegando aos olhos de Cecily e depois seu sorriso compadecido se acendeu.

— Então venha comigo, podemos ir para um lugar seguro de imprevistos até Pierre estar disponível para sua conversa.

Eu a segui de olhos fechados, rogando todas as preces imagináveis e inimagináveis para que uma loira saísse de meus pensamentos.

— 0 - 

— Não me diga que seus pais irão deixar você sozinha aqui, Ceci.

Estávamos nós dois em uma área na retaguarda do castelo que eu não sabia da existência. Ccily alegou que como passara muitos momentos com a família do primo, sabia de alguns lugares secretos.

Era um belo jardim, com margaridas e girassóis por trás de uma ala escura de trás do palácio. As janelas que dariam para a bela visão das flores que brilhavam ao sol eram vedadas.

— Pois o digo, sim senhor. - Ceci suspirou e arrancou mais uma pétala do girassol que segurava. - Eles foram dizer a Pierre para tomar conta da Casa ducal e de mim, como se eu não o pudesse fazer! Mas também não me incluíram em seus planos para volta à Itália.

— E por que razão eles a deixariam aqui? -  indaguei, curioso. Os pais de Cecily, em minha memória, era tão unidos com a filha que a única ressalva que eu me recordava era que não a confiaram a casa ducal.

— Não sei, acho que querem que eu me case logo e com alguém competente para assumir o que deveria ser minha herança.

Fiquei calado. Eu era conhecedor daquela situação, se parasse para pensar, ainda era alguém preso àquilo.

Cecily aceitou meu silêncio e esticou a cabeça para receber a luz solar que incindia e seus cachos negros reluziram.

— Eu queria me livrar de tudo isso, Conrad. - ela confessou de repente. - Meu Deus, nós somos condenados da nossa própria felicidade só por aparências! Eu não queria viver disso.

Assenti, com o peito doendo. Cecily descrevia meu próprio pensamento e situação, era muito profundo dividir aquela incógnita do futuro com alguém que o compreendia tão bem.

— Você não sabe o quanto eu também queria.

—  E o que nos prende? - ela me fitou.

Fiquei sem palavras.

— Não sei.

Ela suspirou ao meu lado.

Não sei quanto tempo mais passamos sentados naquele banco, vendo cada flor balançar com o vento e ouvindo o barulho do mar rugir lá embaixo.

— Sabe, Conrad, não seria para mim um problema se eu me casasse com..

A frase de Cecily ficou suspensa no ar por sermos interrompidos por passos. Para nossa total embasbacação, as figuras que surgiram foram Jean, tio de Serena, a própria Serena, o príncipe soberano Louís e Pierre.

De ímpeto, eu e Cecily pulamos do banco, totalmente surpresos pelas pessoas. Ainda mais depois de saber por Cecily que aquele lugar era raramente visitado.

E vejam que sorte.

— Vossa Alteza - Cecily pareceu se recuperar mais rapidamente do susto e fez a vênia para Louis. Eu a repeti, mas incapaz de soltar uma palavra.

— Boa tarde, senhorita Valois. E para o senhor também, Conrad, quanto tempo não o vejo. - Louís me cumprimentou e, para meu espanto, estava com um sorriso no rosto. Ele esticou a mão para eu pegá-la e me adiantei.

— Um prazer, Vossa Alteza - respondi, quase esquecendo como tratá-lo.  

Eu sentia os olhares de todos em cima de mim e Cecily, mas estava ainda catatônico com a personificação das últimas pessoas que eu apostaria encontrar no atual momento.

— Bom, eu já estava de saída, Vossa Alteza - Ceci foi falando. - Até mais, senhores.

Ela se despediu de todos e fiquei abobalhado ao vê-la fugir, totalmente vermelha.

Meu Deus, o que será que eles estavam pensando de Cecily e eu?

Olhei para Serena, que parecia indecifrável em seu olhar, mas ao me fitar duramente, ajustou a postura.

Oh-oh.

— Bom... Não quero atrapalhar a visita de vocês. 

Eu fiz menção de ir embora do pequeno jardim antes que alguém me expulsasse porque sabe-se lá o que aquele grupo iria fazer, mas uma voz me deteve.

Aquela voz.

— Conrad, espera.

Voltei minha atenção para Serena, como todos. Ao notar toda atenção, Serena ficou encabulada.

— Será que posso trocar umas palavras com você? - ela perguntou e eu fiquei sem saber o que falar, porque o príncipe soberano do principado, seu filho e seu ex-ministro pareciam requerer sua atenção também. - Tenho certeza que vocês podem esperar, depois de ajustar tudo lá dentro.

Serena apontou para a porta velha ao lado das janelas vedadas da ala traseira e franzi o cenho ao ver sua confiança para se dirigir aos presentes.

Deus do céu, mulher, você está comandando todos os homens presentes!

Observei Louis contrair o maxilar, parecia desgostoso da situação, mas não proferiu nenhuma palavra. Pierre olhou do pai para Serena, e ao ver Louis se dirigir para porta com um molho de chaves, meu primo preferiu lançar um longo olhar questionador para Serena, mas seguiu o pai. E Jean só baixou a cabeça e os seguiu.

E eu... Ah, meu Deus, e eu fiquei petrificado por perceber que ela queria falar comigo.

— Serena.

Ela engoliu a seco e se dirigiu para perto do banco onde eu estava. O sol dessa vez trouxe mais cor para o dourado dos cabelos dela e eu quis, com todo o meu coração, que uma tela fosse pintada para retratar a beleza da paisagem dela.

— Conrad - ela murmurou, baixinho. - Acho que precisamos conversar.

Eu só fiquei olhando-a, notando como seu rosto parecia mais fino, os lábios contraídos, o semblante nervoso.

— Me desculpe por ligar e dizer aquelas coisas a você. - eu despejei, com medo de que ela estivesse ficado brava. - Quero dizer, me desculpa por ligar e não respeitar a distância que você quis de mim, mas eu não me desculpo pelas palavras, você sabe, eu realmente quis dizer aquilo, mas eu só não queria te atrapalhar e...

— Calma, Conrad - ela plantou as mãos nos meus ombros para me fazer parar de tagarelar. - Entendi seu lado. Andei pensando muito comigo durante todo esse tempo sozinha.

Meu coração falhou uma batida e eu quase não respirei.

— Eu queria... - ela mordeu o lábio, ponderando. - Queria dizer que gostei de escutar suas palavras. Eu passei por muita coisa em pouco tempo, aquele episódio na frente de todos mexeu muito comigo e todas as descobertas que vieram... Eu pensei a respeito de você e queria pedir desculpa pela forma com que lidei, porque eu não precisava ter sido tão explosiva.

Eu não acreditava que estava escutando aquilo. Serena parecia tão... decidida e mudada, resoluta, mas calma.

— Claro que me magoei com sua atitude, mas acho que exagerei na reação porque... Bem! Porque eu estava sob tensão e eu gostava muito de você, não podia acreditar naquilo quando eu só queria alguém por perto...

Gostava de mim? - só fui capaz de ouvir aquela parte.

— Não! Quero dizer, gostava sim, mas não significa que deixei de gostar, não sei, eu... - ela deu um sorriso fraco. - Eu só sei que agora estou mais calma só por ter tomado a decisão de conversar com você e resolvermos a questão.

— E o que você acha? - perguntei, querendo saber se ela me daria uma resposta parecida com minha declaração, que diria tudo que eu sonhava sair da boca dela novamente e poder finalmente abraçá-la. Pelo nervosismo, peguei um girassol ao lado para distrair-me.

— Minha resposta para suas palavras não foi um não... - ela começou, hesitante, e meu coração sambou. - Eu me sinto muito perdida, Conrad, no momento e isso só se torna um problema a mais para eu pensar e eu só quero me sentir bem comigo mesma para lidar com tudo! E cheguei a recente conclusão que para estar livre comigo, eu precisaria te dizer que não te rejeitei no telefone, te dizer que o que você me fez ao esconder todo aquele babado do passado me magoou, mas eu senti tanta sua falta que eu já nem consigo pensar nisso!

— Serena... O que isso quer dizer?

— Eu não sei. - ela suspirou, mas com um sorriso de canto de lábio. - Eu só queria muito que você soubesse disso: que eu não te rejeitei, que eu quero muito conversar e resolver as coisas entre nós porque eu sinto que devo fazer isso depois de tanto fritar meus neurônios pensando nisso, então...

Um sorriso gigantesco se desenhava na minha boca e o girassol da minha mão foi para nos cabelos de Serena.

— Combina com você. - eu disse. - E eu sei que agora você precisa de um tempinho, e eu te esperarei, eu disse. Saber que você já não me odeia me alivia de monte, Serena.

Um riso escapou do peito dela.

— Eu não te odiava, Conrad... Só estava magoada. Muito. 

— Sinto muito. - disse novamente para tentar dissipar qualquer mágoa reminiscente.

— Não, já passou... Fui me curando aos poucos, tem mais coisa pra eu lidar aqui. Eu senti foi sua falta.

— Você nem imagina o quanto eu senti a tua, sereia. - as palavras escaparam de mim.

A presença vibrante de Serena próxima de novo agia sobre mim com uma forte força de atração. Ela era o sol, e eu só um planeta. Eu era fortemente atraído para girar em torno de sua presença, em torno da sua gravidade.

Ela mordeu o lábio inferior, com um meio sorriso. Torceu os dedos no girassol que pus em seu cabelo.

— Nós nos atrapalhamos tanto durante o caminho...

— Pois é. Ainda bem que veio falar comigo.

— Sim, eu precisava... E acabei interrompendo seu momento com aquela garota.

Notei uma entonação afetada na minha sereia e vibrei dentro de mim.

— Era só a Cecily, prima do Pierre. E você não nos atrapalhou - eu fiz questão de frisar para que a dúvida nos olhos âmbar sumisse.

— Bom... Se você diz. - ela arqueou a sobrancelha. - Eu preciso ir agora, então depois a gente conversa, tá? Depois conversamos?

— Sim, Serena, pode ter certeza. - eu a assegurei, mal acreditando no giro 180 graus que minha vida tinha dado junto ao meu coração.

Aguenta, coração.

— Já vou, então. Eles estão me esperando - ela disse, mas continuou parada. 

— Certo, Serena - respondi, querendo dar um beijo naquele rosto radiante sob o sol.

— Certo, Conrad - ela respondeu.

Ela fez menção de se afastar lentamente, virando para me olhar umas duas vezes. Da última, eu a chamei.

— Eu continuo amando você. Como eu disse no telefone. 

Sentenciei e vi um sorrisinho nascer nos lábios dela, para depois ela entrar pela porta e sumir das minhas vistas.

Eu definitivamente tinha voltado a orbitar em torno daquela sereia.

 

 

 

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