Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 25
Viva Como Se Estivesse Morrendo




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Capítulo 23

O médico tinha acabado de ter sua conversa diária comigo. Diferente de alguns dias, naquele eu estava sozinha, visto que minhas companhias tinham compromissos maiores.

— Senhorita Kane, não estamos caminhando para uma melhora, tampouco piorando como outrora. Nossa situação está estagnada.

Eu queria dizer ao doutor que estagnada estava a minha vida. Minha existência, meus questionamentos e curiosidade estavam suspensos sob uma corda invisível e inalcançável.

Além da perda.

— Entendi, doutor, muito obrigada.

Voltamos para a programação habituada.

Era dia de ficar à espera, perdendo fio a fio a confiança.

Aproximei-me da janela do quarto e admirei a vista como se fosse a primeira vez. Quantas circunstâncias... A rua estava movimentada além do comum sob um sol brilhante. Mônaco estava exultante por algum motivo e uma vontade de receber o calor do ar me invadiu.

Eu estava presa há mais dias do que semanas poderiam comportar e me sentia culpada por desejar tomar um ar ou seguir com minha vida enquanto meu pai ficava sozinho, por isso afastei-me rápido da janela para que pensamentos não me assombrassem.

Tinha voltado meu olhar e atenção para a televisão quando a porta abriu.

— Boa tarde, flor do dia!

— Este não é um cumprimento eventual da manhã? – eu ri da careta de Pierre.

— Oras, garota! Eu nem sei que horas são! – o príncipe passou as mãos pelos cabelos, cansado. – Estou parecendo muito louco?

— Quer minha sinceridade, príncipe?

— Eu não estaria perguntando logo para você se não a quisesse, não é?

A vontade de rir veio ainda mais forte com o comportamento do rapaz. Já havíamos criado uma relação baseada em brincadeiras e tiradas rápidas, e eu havia gostado da novidade.

— Está insinuando que sou grosseira, por acaso?

— Beirando o sem filtro, eu diria, mas tenho certeza que você não quer saber disso.

— Estou de acordo.

Pierre rumou para o frigobar e pegou uma água, também me oferecendo uma.

— Mas não me respondeu, garota.

— Digamos que sim, você pareceu louco, mas é bem compreensível quando se está regendo um principado, não?

— Tem que manter a pose sempre! Droga, esse cabelo é uma revolta!

— Devia usar um pente.

Pierre me olhou, emburrado.

— E você devia sair desse quarto. Como somos dois teimosos, fica quietinha aí.

— Olha só como está ousado! – eu joguei uma almofada em Pierre que desviou rápido como um raio e acabou por derrubar um vaso.

— Você mal chegou e já está quebrando tudo, Pierre, espero que não seja um dom porque assim estaremos em perigo em suas mãos.

Minha provocação tinha atingido o alvo.

— Foi você quem jogou, garota! – ele rebateu, mas saiu do quarto para chamar alguém para limpar. – Serena, falemos sério. Francamente, o dia está bonito lá fora.

Eu tinha sacado sua tirada. Na realidade, desde que a situação de John foi declarada estagnada pelos médicos há três dias, Conrad, Vic e Pierre tinham criado um complô contra mim a fim de me persuadir a sair do hospital.

Fazia tempo mesmo, eu sabia, mas eu insistia com a ideia de ficar ali. Parecia egoísta eu sair para viver naquele momento.

— Eu entendi sua indireta, ouviu?

— Foi direta mesmo, garota.

— Pierre...

— Nem comece com seu discurso! Serena! – Pierre se sentou ao meu lado, buscando minha atenção através do aperto em minhas mãos. – Você sabe que entendemos sua preocupação, mas a situação está controlada há dias e, garota, infelizmente, não podemos fazer mais que isso... Ficamos preocupados com sua sanidade ao ficar dias trancafiada aqui.

— Eu ainda estou sã o suficiente para... Ora, Pierre! Eu não posso sair.

— Para o quê, Serena? Por que não pode sair algumas horas do dia e voltar para cá, normal, meu Deus?!

Fitando os olhos azuis do meu mais recém amigo, ponderei sobre falar ou não da sensação que me cercava.

— Eu fico me sentindo egoísta, Pierre... – quase cochichei. – Ele, tão mal, precisando de cuidado ao lado enquanto eu saio o dia todo? Eu sou filha dele.

— Não é egoísta continuar a sua vida, garota. – Pierre falou mansamente, não querendo me ofender com a verdade que eu necessitava ouvir. – Ele sente seu esforço, Serena, e é muito forte. Todos sabemos, na verdade. Sair um pouco vai ajudar a você enfrentar ainda mais os problemas.

— Será? Fico perdida.

— Não fica assim, garota – Pierre notou meu abatimento e incerteza, logo me abraçando. – Seu pai sabe que tem uma filha maravilhosa que daria a vida para cuidar dele, se pudesse. Mas não pode, entendeu? Os médicos sim, e eles estão ocupadíssimos com isso.

Crispei os lábios, não encontrando argumento para rebater meu amigo.

— Vou procurar um dia para tentar tomar um café, tudo bem?

Eu tinha me rendido, e Pierre pareceu satisfeito.

— Assim você me faz comprar qualquer cafeteria só de felicidade!

Nós dois rimos.

— Deixe de ser metido, príncipe!

— É do sangue real, garota... – ele respondeu, bem humorado. – Olha, foi libertador ter essa conversa com você.

— Eu que o diga. Alguém pediu para que você tentasse?

— Que nada!

Eu olhei desacreditada para ele.

— Tudo bem, vou abrir o jogo: andamos fofocando sobre isso, sim.

"Eles" incluíam: uma ruiva, um príncipe e o cara mais lindo do mundo.

Pigarreei, sinalizando para Pierre que continuasse.

— A ruivinha fica dizendo que devemos insistir e achar o problema em questão, mas não pediu para que eu falasse hoje.

— Foi o Conrad?

— O bunda-mole do meu primo?! – Pierre pareceu estar surpreso. – Ele fica impedindo, isso sim, disse que devemos te dar espaço. Ainda bem que sou impulsivo e vim hoje, não é?

Eu gargalhei com a forma de tratamento dos primos reais e não era a primeira vez. Pierre não sabia o que acontecia entre mim e Conrad, porém nos via íntimos além do normal e sempre que tinha oportunidade, sacaneava com nós dois.

Eu não gostava de pensar sobre essa questão porque sabia que mais perguntas iam surgir em minha mente, e eu não estava preparada para isso agora.

— Vai ficar a tarde toda aqui? - casualmente, perguntei, gostando da ideia de ter alguém com quem conversar.

— Vamos ver se você merece, né.

Pierre mexeu em uma mochila que tinha trazido no dia anterior até tirar duas blusas de mangas longas.

— Diz aí, garota, com qual das duas eu combino mais?

O príncipe segurava uma branca com azul e outra vermelha e preta. Franzi o cenho ao notar o estilo da roupa e me lembrei que pareciam àquelas de pilotos de fórmula 1, então entendi a questão.

— Por que nunca comentou que pilotava na fórmula 1?

— Nunca perguntou, ué. Diz logo, garota. Qual das duas?

— Seria interessante saber já que o tal evento está para acontecer, seu escondedor de segredos! E a branca vai ficar melhor.

— Está para acontecer, não, já acontecendo! Estão preparando as pistas desde ontem. - Pierre largou a vermelha. - Você está interessada em me ver ganhar, hein, hein?

— Você é muito metido mesmo. Quando vai ser?

— Começa amanhã, por quê, garota?

Tentei não parecer interessada para não atiçar a Pierre, mas ele já estava me provocando. Ignorei sua pergunta até vê-lo entrar no banheiro.

No momento, meu telefone vibrou e vi uma mensagem.

De: Futuro duque fracassado
Para: A Sereia Mais Bonita de Todo Mar

[Estou pensando em você. Quer almoçar comigo? Vou tentar dar uma escapada dessa mansão!]

Sorri imediatamente. Há dias, Conrad me chamava para sair sutilmente, com o mesmo objetivo de Pierre e Vic. Porém hoje eu estava a fim de iniciar o processo de reinclusão.

De: Só Serena
Para: Olhos Verdes

[Eu adoraria ajudá-lo nesta empreitada.]

Esperei Conrad surtar com meu, finalmente, sim. Por alguma razão, eu estava mais suscetível aos convites do que antes, embora uma insegurança ainda queimasse em mim.

Como previsto, Conrad mandou várias mensagens com beijos e emoticons que só pude responder com uma única mensagem para deixá-lo livre para o trabalho e ansioso pelo encontro.

— E aí, sua loira, vai ou não me ver ganhar o circuito de novo?

— Eu não deveria ir somente porque nunca me contou nada, então não se interessa na minha presença.

— Deixe de fazer corpo mole, oras! Você me negaria antes que terminasse de dizer 'Serena!'.

Ri do exagero do príncipe.

— De verdade, poderia ir, Serena? Eu adoraria.

Diante da seriedade repentina de Pierre, ao olhá-lo, não pude negar seu pedido. Eu era muito grata a tudo que ele fazia por mim e por meu pai, além disso, sua amizade foi uma novidade bem vinda em minha vida.

— Falarei com Vic para irmos juntas, tudo bem?

— É assim que se diz, garota! Aposto que aquela ruiva vai querer trazer uma montanha de roupa só para você provar.

— Aposto que sim.

Rimos juntos.

{...}

Era a primeira vez que eu daria um pausa na minha tragédia e voltaria ao momento normal em relação à continuação do que ocorreu na sacada do palácio Grimaldi.

Eu estava nervosa. Demais. Escolhi uma peça que Vic tinha deixado casualmente há alguns dias e tentei arrumar meu cabelo. Eu queria aparecer, ao menos, apresentável para alguém e estava falhando miseravelmente.

Sai do banheiro bufando por conta do cabelo, com o estômago virando gelatina e indecisa se queria realmente pisar fora do hospital.

— Você acha que eu estou horrível, horrorosa ou incrivelmente horrorosa?

Meu telespectador era um Pierre jogada no sofá com a atenção no jogo da televisão.

— Acho que está linda. - ele piscou um olho e riu da minha cara.

— Sério, acho que está muito bonita. Vai pôr em prática o plano de socializar?

— Vou. Cabelo preso ou solto?

Vi o olhar azul e perscrutador de Pierre me atacar.

— De verdade? O que você sentir confortável, oras, já disse que está linda, garota.

Não respondi e verifiquei no relógio que estava atrasada.

— Vai sair com quem, hein, hein.

— Sozinha.

— Me engana que eu adoro!

Eu não queria confessar que seria com Conrad, pois certamente o príncipe iria iniciar uma conversa séria sobre minha amizade com o primo. E nem eu tinha respostas.

— Vou testar em como me sinto lá fora. Quer saber? Me sinto outra pessoa, não sei se é bom.

— Garota, para de se preocupar. - Pierre me incentivou e desligou a televisão, levantando. - Vai querer carona? Já que está saindo, vou resolver as papeladas do palácio.

— Não precisa. - eu tinha combinado de me encontrar com Conrad na cafeteria ali perto. - Veremos-nos amanhã na sua corrida?

— Vá me desejar boa sorte. - o príncipe sorriu e me deu um beijo na testa, saindo.

Mordi o lábio, a ansiedade ganhando proporções inimagináveis dentro de mim e tratei logo de fugir do quarto antes que dissesse mais um não a Conrad.

Não precisei nem adentrar ao local, pois logo Conrad veio ao meu encontro. Estava lindo de morrer e, dessa vez, sua fisionomia parecia mais saudável.

— Boa tarde, senhor.

Ele riu, com a bochecha mais corada. Roçou o nariz na maçã do meu rosto, aspirando meu cheiro.

— É um prazer revê-la.

Ele pegou minha mão e nos conduziu para seu carro. Da última vez que eu estivera ali dentro, tinha me sentido triste, por isso tratei de balançar a cabeça para espantar qualquer pensamento incoerente.

— Então... Para onde estamos indo?

— Um lugar mais que especial.

— Só vai me dizer isso? É surpresa por acaso?

— Claro que sim! - Conrad me olhou rápido e deixou a mão sobre a minha.

— Não sabia que um almoço era tão importante. - sorri de lado, envergonhada. Não sabia bem como lidar com a situação, embora a pessoa ao meu lado fosse a mesma que tinha me acolhido em um hospital, todos os dias nas últimas semanas.

— Queria que fizesse valer a pena a sua decisão de finalmente espairecer, Se.

— Já está valendo.

E era verdade.

Voltei-me para a paisagem na janela e senti falta dos dias em que andei por aquelas ruas, que desprezei os passeios de Marie e até mesmo das confusões que eu arrumara. A praia parecia ainda mais linda que as outras vezes e só pude supor que era meu saudosismo falando mais alto.

Conrad interrompeu meus pensamentos ao pigarrear, dividindo um olhar comigo enquanto dirigia.

— Serena, acho que precisamos falar sobre algo.

Era hoje. Ai meu Deus.

Eu sabia que teríamos que falar em algum momento sobre nosso beijo e tudo que ele trouxe para nossa relação. Sabia também que adiamos o máximo que poderíamos por nossos problemas pessoais, todavia era necessária uma explicação. Na realidade, ao menos uma troca de palavras sobre o fato para não parecer que ele tinha desaparecido, porque ele era bem palpável.

— Eu sei. Você quer dizer algo?

— Queria te dizer que não tinha planejado te... Assim... - ele me olhou, querendo que eu alcançasse sua ideia. - Não era minha intenção de início ter beijado você.

— Quer dizer que foi um erro? - mordi o lábio fortemente, contendo o fluxo de palavras que queriam sair.

— Não! - ele rebateu, pousando a mão em minha perna novamente. - Só quero dizer que eu não quis me aproveitar de você com o presente. Só quis deixá-la feliz e o momento me envolveu, mas não me arrependo de nada.

— Entendi.

— Pareceu o certo na hora. Era o que eu, antes mesmo de reconhecer, queria.

Não respondi porque me compreendia inteirinha nas palavras dele.

— E devo confessar que foi surpreendente.

Seu olhar enviesado me fez corar.

— Não vou dizer que não gostei também.

Conrad riu.

— Sei que estamos em situações ruins para entendermos nossos próprios sentimentos, por isso quero te dizer para não se pressionar em me falar ou fazer algo, tudo bem? Até porque gosto do que estamos criando, algo inteiramente nosso e fora desse mundo louco.

Fiquei calada. O que ele tentava me dizer? Tudo bem que eu nem queria pensar nas consequências de nós dois, queria mesmo era viver naquela bolha que criamos porque me fazia feliz. Mesmo que momentaneamente.

Já que Conrad estava disposto a esperar nosso momento, eu também estaria, afinal eu desejava aquilo e me sentia confortável. Esperar por estarmos prontos para lidar com o mundo real seria o indicado.

— Concordo com você. Estamos mesmo vivendo loucuras.

Conrad interpretou os dois sentidos da palavra e deu um sorriso aliviado. Senti que as correntes que deixavam meu coração bem apertado foram rompidas e expirei.

— Fico feliz por estarmos bem - afirmei, desejando que ele compreendesse todo o significado que tinha para mim de nossos momentos bons e ruins.

— Eu fico muito mais.

{...}

Tínhamos chegado no lugar mais bonito que eu já tinha visto em toda minha vida.

— Está sem palavras? - Conrad deu seu sorrisinho de lado, me conduzindo pela entrada. - Espero que tenha determinado seu lugar favorito, bem como é o meu.

— É incrível, Conrad!

— É chamado de Jardins de Rothschild, criado por uma baronesa. - ele pegou em minha mão e iniciamos uma caminhada que se estendia ao lado de um belo lago contornado por flores rosas brilhantes que combinavam com o tom róseo do casarão mais à frente.

— Aqui é imenso.

— São nove jardins, todos com nomes e flores diferentes. Quer dar olhada em qual, primeiro?

Desviei meus olhos para o homem ao meu lado, analisando em como ele parecia mais relaxado só por estar ali.

— O que você mais gosta, tenho certeza de que é o melhor.

Ele me sorriu.

— Então vamos providenciar algo para você comer e iremos ao jardim à francesa.

Eu ainda me admirava com a forma pela qual eu parecia uma criança em uma loja de doce ao estar nos pontos turísticos do principado. E Conrad parecia gostar dessa fato, afinal ficou brincando durante todo nosso almoço.

— Até parece que nunca saiu de casa, sereia.

— Ora, senhor-já-vi-de-tudo! É claro que estou encantada com tudo isso! Já viu todas essas flores?

— Quer morar aqui? Posso ajudar com a mudança.

— Conrad, fique em silêncio antes que eu lance minha bebida em você.

Após o almoço, ele me levou rapidamente aos outros jardins antes que fôssemos ao preferido de Conrad e fiquei impaciente.

— Por que está me enrolando, senhor? - indaguei antes que ele se pusesse a falar ainda mais sobre a história de cada flor.

— Está cortando o meu barato, querida. Não quer ouvir sobre a história de como cultivaram pela primeira vez esta linda plantinha?

— Ora, não! - eu o puxei pela mão, e ele riu. - Vamos logo que eu estou ansiosa!

— Não quero destruir suas expectativas, sereia, ele é bem simples.

— Duvido muito que seja.

— Droga! Nunca vou ganhar essa discussão, não é?

— Sem chances. - cruzei os braços quando me vi perdida no caminho. - Me leva logo.

— E o que eu ganho com isso? - ele arqueou unicamente a sobrancelha. 

— Vai ter que esperar para saber o que eu tenho a oferecer.

— Agora sim entrou para o jogo, sereia. 

Conrad correu à minha frente e tive que segui-lo.

Cheguei, arfando, em uma área com o perímetro todo em verde; um espelho de água estava ativado e ao juntar-se com o sol, dava para ver arco-íris. Perto da fonte, Conrad sentou e fiquei admirando o lugar e seu cheiro.

Paz. Era o que aquele lugar transmitia.

— Entendo o porquê de aqui ser o seu lugar favorito.

— É mesmo?

— Sim. - eu o encarei. - Parece que o mundo se restringe ao aqui e agora.

Ele ficou calado, acompanhando a mim e meu olhar curioso.

— Está com a mesma sensação que eu?

Não respondi. Ao ver o que os olhos verdes me diziam, bem no fundo de mim, eu entendi. Prezávamos mais pela paz interior ao caos que estaríamos inseridos quando estivéssemos fora.

Por alguma força maior, ao estar presar nos olhos de Conrad, me aproximei, ajoelhando-me à sua frente.

— Queria que tudo fosse diferente. - suas palavras me alcançaram. - Que fosse de uma forma diferente para nós dois.

— Eu também.

— Não quero que minhas responsabilidades te mudem, sereia... - Conrad deslizou os dedos em meu rosto e fechei os olhos. - Por mais que eu só queira estar com você e descobrir cada pedacinho do mundo ao seu lado, sinto que minha vida iria destruir todos esses planos.

Eu não queria pensar em nada, apenas ter a sensação doce da carícia de seus dedos.

— O que eu devo ser, o que fui criado, é esmagador para mim, que tenho anos de experiência para lidar. Imagine com você, tão livre, libertadora... Um pássaro que deve voar e admirar o mundo, sereia. 

— Não pode supor que eu não aguentaria algo... - cochichei. - Posso aguentar muitas coisas.

— Eu me sentiria horrível se fosse o responsável por mudar você... Você é adorável do jeitinho que é, Serena, nunca vi algo tão transparente na essência quanto você.

— E o que isso significa? - abri minimamente os olhos e segurei seus dedos que tocavam em meu rosto.

O sol fazia o cabelo preto de Conrad brilhar e um mecha estava caída sobre os olhos.

— Significa que você me mostrou uma parte da vida que eu não achei que teria nunca. Mas eu não consigo dizer não a vivê-la.

— Então não diga. - decretei e o beijei.

Eu não queria pensar na complexidade que tudo, na verdade, era. Não seria simples, só se disséssemos sim para ficar junto, mas eu o queria tanto, que meu coração se espremia no peito, pedindo para que qualquer medo ou insegurança de Conrad fossem sanados. Por ele, eu gostaria de assumir seus riscos e dores.

 Beijei-o como se fosse morrer amanhã por não tê-lo. E o que a vida poderia tirar, ainda mais, de mim? Eu não o queria perder. Não queria que a dor da perda que latejava a cada segundo dentro de mim fosse duplicado ao imaginar estar longe da vida de Conrad.

— Serena... - com a testa grudada na minha, Conrad suspirou em meus lábios, com os olhos fortemente comprimidos. - Estou com medo.

Se eu já não estivesse ajoelhada, certamente cairia após ouvi-lo. Percebi que ele contava algo de dentro de suas entranhas, estava dando a mim a oportunidade de ouvir seus maiores segredos.

— Não fica. - respondi, e dessa vez, eu quem segurei suas mãos. - Eu vou ficar ao seu lado, não vai estar sozinho, tudo bem?

— Não quero perdê-la! 

— Se depender de mim, não vai.

— Não achei que se apaixonar era como estar na beira do precipício, sem saber o próximo passo.

Arregalei os olhos ao ouvir suas palavras. Conrad apertava minhas mãos e não abria os olhos, parecia estar sob tortura.

— Está apaixonado por mim? - um fiapo de voz escapou de meus lábios no instante que o verde me encontrou.

— Como nunca achei que pudesse estar.

— Acho que também estou apaixonada por você...

— Acha? - Conrad riu e fechou os olhos, de novo. - Não tem certeza, sereia?

— É que se eu afirmar em voz alta, parece que é mais forte do que eu... - sussurrei e mordi o lábio, temerosa por não ver uma reação do rapaz.

— Também me sinto exatamente assim.

Conrad levantou e me levou junto. Rodeou-me com suas mãos e baixou o olhar para o sol não dificultar sua visão, porém tive que inclinar minha cabeça.

— Se for você, Serena, eu quero dar um passo nesse precipício.

— Vou estar com você.

.

.

.

Cá estamos nós de novo. Por agora, só desejo de verdade, gente, que vocês comentem! Por favor, só quero saber o que estão achando.


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