Acordei de meu doce sonho para a amarga realidade.

Sentei-me na cama passando a mão nos cabelos. Coloquei a cabeça entre os joelhos em uma tentativa de me concentrar para não ir ao choro.

Senti a presença de alguém no quarto, mas não levantei a cabeça para ver quem era.

- Rum... Você estava sorrindo enquanto dormia. – Pela voz reconheci o Winchester mais velho.

Levantei a cabeça o procurando. Ele estava sentado na cama ao lado terminando de calçar o sapato.

O que ele disse sobre eu estar sorrindo foi à gota. Comecei a chorar incontrolavelmente me lembrando de quando eu era pequena, lembrei-me do baú que havia achado no porão; cheio de fotos dos meus pais e Joe e algumas, poucas, minhas. Eu sentia dor, agonia... Eu não sabia o que fazer. Eu só queria meu irmão de volta. Queria poder voltar no tempo e salvar meus pais. Queria ter tido a chance de conhecê-los. Joe sempre foi meu pai e minha mãe, Joe sempre foi minha família, a única pessoa que podia recorrer. Agora que ele se foi, sinto como se não tivesse a quem recorrer. Sei que tenho os Winchesters, mas eles têm a vida deles, os problemas deles, não quero ser um fardo a carregar, não quero interferir em nada na vida deles, assim como não quero que ninguém interfira na minha.

- Ei, ei Joan... Calma, está tudo bem, está tudo bem. – Dean sentou-se ao meu lado e me abraçou de forma protetora. – Olha, sei que eu não sou bom com esse negócio de confortar as pessoas, mas vai ficar tudo bem, certo? Eu estou aqui não vou deixar nada te acontecer, e se eu por acaso não estiver, o Sam vai estar.

Apoiei minha cabeça em seu ombro sentindo o cheiro de couro velho de sua jaqueta, misturado com o leve perfume de loção pós-barba.

- Dean... Seja sincero... Você não sente o mesmo que...

Nesse momento Sam chegou com uma lata de Coca-Cola na mão. Ele hesitou um pouco a porta, mas por fim entrou.

- O que aconteceu? – Perguntou colocando a latinha em cima da mesa e chegando mais perto.

- Nada... – Sai dos braços de Dean me pondo de pé. – É só que eu, eu tive um sonho... – Balancei a cabeça passando as costas das mãos nos olhos.

Peguei minha mala e fui para o banheiro, deixando-os, provavelmente com uma cara de “Que?”, no quarto.

Notei que ainda estava com a roupa do dia anterior. Minha camiseta estava um pouco manchada de sangue. Olhei em frente, no espelho, minha boca estava com um pouco de sangue nas beiradas.

Flashes da noite anterior começaram a passar rapidamente pela minha cabeça. Lembrei-me de um nome, o nome de alguém, alguém que nos salvou noite passada, um homem que eu não conhecia... Castiel.

Escovei os dentes, lavei o rosto e troquei-me rapidamente. Estava curiosa para saber quem era esse tal de Castiel. Que nome mais esquisito!

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- Vocês poderiam me dizer quem é Castiel? – Interroguei sentando-me a mesa.

- Eu.

Dei um pulo da cadeira escutando a voz vinda de trás de mim.

Virei-me e dei de cara com o tal de Castiel.

- Pelo amor de Deus cara, quem quer que você seja, nunca mais faça isso.

As feições de Castiel pareceram ficar imóveis.

- É, pelo visto você não é do tipo de cara que brinca muito.

Continuou imóvel. Que cara chato, ele nem ao menos sorriu do meu susto.

- Vou responder qualquer pergunta que tiver Joan.

Bom, pelo menos ele falou.

- Ok, então lá vai a primeira: Quem é você?

- Sou um anjo do senhor.

- Espera ai, como que é? Anjo? Pensei que anjos não pudessem vir a Terra.

- Há exceções.

- Por que nos salvou noite passada?

- É meu dever proteger você e os Winchesters.

- Por quê?

Ele, que antes não mantinha contato visual, fitava o nada, agora olhou para mim.

- Pensei que eles haviam lhe contado.

- Contado o que?

- Bom, Dean é receptáculo de Miguel, e Sam de Lúcifer.

- O QUE? – Por que diabos os caras não me contaram isso antes? E por que diabo Castiel só apareceu agora?

Virei-me e encarei os Winchesters, que pareciam meios deslocados.

- Olha, Joan, agente ia te cont... – Sam começou a se justificar.

Não liguei e dei as costas a ele voltado a olhar Castiel.

- E por que resolveu aparecer só agora?

- Como você deve ter deduzido, eu já conheço os Winchesters. – Fez uma pausa. – Eu não queria ter que lhe dar essa noticia, mas é meu dever... Você também é um receptáculo.

Pude sentir alguém se pondo de pé atas de mim. Essa pessoa ficou em silencio por alguns segundos.

- Você só pode estar brincando! – Pude perceber a tensão na voz de Dean.

- Não, eu não estou. Ela é um receptáculo.

- Espere ai – Fiz sinal com a mão para Dean -, Afinal, eu sou receptáculo de quem?

Dean fitou-me surpreso.

- Que foi? Não tem como mudar isso mesmo, então, quero saber quem é que vai “me vestir”.

- Ámani.

- E quem é ela?

- Ámani é um anjo. Amada de Miguel e braço direito de Lúcifer.

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Depois de Castiel nos contar a história toda e me explicar o porquê eu sou o receptáculo de Ámani Dean não me olhou mais nos olhos. Fiquei desconfortável com essa situação, e também chateada. Tudo bem, eu sei que ele não gosta de mim. Mas também precisa agir dessa forma?

Levantei a cabeça fitando Dean uns dois metros à frente. Ele não estava muito pra papo depois do que Castiel nos contou. Olhei pra trás e vi Sam um pouco mais perto. Ele caminhava cabisbaixo fitando os pés.

Aproveitei a distração de Sam para ir falar com Dean antes que entrássemos todos no carro. Ia ser desconfortável falar sobre o que sentia por Dean. Não queria que mais ninguém ficasse sabendo que fui rejeitada. 

Corri um pouco até alcançar o Winchester.

Ele continuou caminhando fingindo que não estava me vendo ao seu lado. Cada pequeno gesto de desafeto que Dean demonstrava por mim me machucava.

Desisti de falar com ele. Parei imóvel onde estava e ele continuou caminhando.

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O silêncio era desconfortável dentro do carro.

- Vocês vão continuar até quando essa com merda desse silencio? -  Perguntei nervosa.

- Mais um receptáculo, e logo você? Isso não é Justo! - Essas foram as primeiras e as ultimas palavras de Dean.

Sam não abriu a boca, então eu fiquei na minha.

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# Mansão Winchester 09h23min AM #

- Bem-vindos a Mansão Winchester! Nós vamos ser seus guias. Meu nome é Cindy. – Disse uma menina bonitinha, de cabelos ruivos que trajava um macacão bege, meio colado, com um pequeno crachá informando seu nome.

- E o meu é Brandon. – Brandon era alto de cabelos negros e olhos azuis profundos. Bonito demais para trabalhar de aqui de guia. Ele usava uma roupa parecida com a de Cindy.

- Ok pessoal, ainda faltam dois minutos para a visita começar. Atrás de vocês tem uma mesa de café da manhã, com café, rosquinhas...

- Hum... Rosquinhas. – Pude ouvir Dean falando ao longe. 

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(continua...)

(continua...)