Kettering - Fred & Hermione escrita por IsaMultiboooks


Capítulo 9
A Fuga


Notas iniciais do capítulo

Capítulo longo, mas tinha que ser! Chegou a hora que todo mundo estava esperando: a famosa fuga! Espero que gostem do resultado como eu gostei, e deixem suas opiniões nos comentários! Aliás, desculpem pela demora!



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 - Certo, então que tipo de sala estamos procurando? – Fred perguntou, levando uma garfada de bolo de carne à boca, sentado na frente de Hermione na mesa de almoço do refeitório.

 - Suponho que algum tipo de depósito, ou sala para pertences. Não foi só a minha varinha que foi tirada de mim quando eu fui internada, então acho que o hospital tem uma sala para guardar tudo isso. – Ela ponderou. – Provavelmente é perto do balcão de entrada, já que damos nossos pertences logo no início...

 - Mas as pessoas são internadas em vários andares, Mione. – Ele piscou para ela, feliz em achar uma brecha que causasse a expressão pensativa que pairava no rosto de Hermione.

 - Quem sabe um andar? No subsolo, talvez?

 - Ou podemos simplesmente olhar o mapa na recepção. – Fred sorriu ao entregar a resposta mais óbvia, a qual não havia cruzado a mente complexa da garota em sua frente.

 - Bom... Também podemos fazer isso. – Ela riu nervosamente, repreendendo-se mentalmente por não ter pensado naquilo.

  - Você acha que conseguimos sair daqui essa noite?

 - Com as nossas varinhas, sim.

 - Então o que estamos esperando? – Fred estendeu uma mão para Hermione enquanto se levantava. Ela terminou o último gole de seu suco e aceitou a proposta do garoto de cabelos flamejantes. – Se-você-chegar-por-último-me-deve-um-beijo! – Fred disse em um turbilhão, e antes que Hermione pudesse discutir, saiu correndo.

 Hermione seguiu-o, correndo o mais rápido que suas pernas permitiam, rindo junto com Fred quando ele olhava para trás e lhe lançava uma piscadela. Atraíam olhares, mas Hermione não os notava contanto que mantivesse os olhos no garoto disparando em sua frente, focando em sua risada.

 - Parece que você me deve uma coisa... – Fred sorriu com malícia ao ver Hermione chegando sem ar na recepção. Se aproximou dela com passos vagarosos, observando-a arregalar os olhos com divertimento.

 - Fred, o que você pensa que está... Fazendo? – Hermione balbuciou com força de vontade quando ele levou dois dedos ao queixo da jovem, fazendo seus olhares se encontrarem com delicadeza.

 - Bom, acho que posso cobrar outra hora, pensando bem. – Fred deu de ombros como se não fosse nada, e virou-se para agarrar uma folha contendo um mapa. – Olha! Achei! Vejamos... – Ele olhava cada detalhe da surpresa e quase desapontamento na expressão de Hermione, rindo consigo mesmo. – Tem um depósito. É no subsolo.

 - C-Certo... Vale a pena olhar. A-Algo mais? – Hermione subitamente achava sua calça muito interessante, alisando algum amassado que não estava lá.

 - Só a sua cara. Merlin, eu poderia quase te beijar o dia inteiro só para ver sua expressão.

 - Fred, i-isso não é b-brincadeira que se faça. Não achei graça nenhuma. – Ela protestou.

 - Eu paro se você pedir com jeitinho...

 - Por favor?

 - Que tal... Por favorzinho, Fredinho lindo? – Ele sugeriu, estalando os dedos e recebendo um tapa no ombro. – Pensando bem, por favor funciona tão bem quanto.

 - Acho bom mesmo. Agora, vamos. – Hermione se recompôs rapidamente, mas ainda arfando de leve. Calor lhe percorria todo o corpo, coisa estranha em um hospital normalmente tão frio. Ainda assim, parecia que os aquecedores só eram ligados quando estava perto de Fred.

 Correram para o elevador, temendo que o tempo estivesse escorrendo por entre seus dedos rápido demais. Se pretendiam fugir naquela mesma noite, teriam que fazer tudo certo. Hermione sentiu a pressão começar a recair sobre si. Fred, Luna e Harry dependiam dela, e um erro poderia mandar tudo para o espaço. Por mais que tentasse afastar o pânico crescente, ele voltava cada vez mais forte.

 - Sabe, agora seria uma ótima hora para me pa... – Fred começou, quebrando o gelo na solidão do elevador, mas foi interrompido.

 - Nem pense.

 - Não custava tentar... – Ele sorriu. – Sabe, se você fosse um dementador, eu viraria um criminoso só para conseguir esse seu beijo. – Completou sua cantada com uma piscadela.

 - Você acabou de me passar uma cantada? – Hermione riu com incredulidade divertida.

 - Não, eu acabei de passar A cantada.

 - Bom, no momento temos que nos concentrar n`A sala. – Rebateu ela enquanto saia pelas portas recém-abertas do elevador e caminhava em direção à porta que teoricamente só permitia funcionários. - Alohomora. — Hermione mordeu o lábio com força ao ver que a porta continuava trancada.

 — Deixe eu tentar. – Fred estalou os dedos teatralmente como quem se prepara para uma tarefa hercúlea. Apontou um dedo para a maçaneta. – Ferrous Moldi.— Um jato de ferro derretido saiu de seu dedo, entrando na fechadura e se adaptando até formar uma pequena chave de ferro inserida no buraco. Fred sorriu e girou-a sem fazer barulho, abrindo a passagem.

 - Incrível... Como? Nunca ouvi falar desse feitiço antes... – Hermione ponderou, repassando todos os que sabia mentalmente pela segunda vez para ter certeza.

 - Porque eu e George inventamos. Esperávamos poder usar em Hogwarts, mas saímos cedo demais.

 Hermione reconheceu mais uma vez a genialidade dos gêmeos, adentrando o depósito rindo depois de Fred fazer uma reverência exagerada para que ela passasse. No entanto, quando viu o cômodo, sentiu cada gota de esperança se esvair como uma enxurrada. O depósito do hospital era imenso, lembrando uma versão um tanto menor do Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. Haviam prateleiras se estendendo até o teto, entulhadas com caixas e mais caixas dos mais variados tamanhos e cores.

 - Certo... E agora? – Fred perguntou, suspirando.

 - Accio Varinhas!— Hermione tentou, lembrando-se do sinal de mão com dificuldade. Sentia falta da madeira contra a palma de sua mão que facilitava todos os feitiços. Logo, estava sendo bombardeada por 3 enormes caixas que responderam ao chamado. – Agora, nós procuramos.

 - Ou invocamos. – Fred retrucou, usando o mesmo feitiço de invocação para achar a sua varinha.  Logo, ambos possuíam as quatro varinhas necessárias. Hermione correu os dedos pela madeira suave da sua, suspirando de alívio. Colocou-a juntamente com a de Luna por dentro da perna de sua calça, sugerindo que Fred fizesse o mesmo.

 - Conseguimos. – Hermione murmurou, sem acreditar. Uma mínima parte do peso que recaía em seus ombros

 - Meio cedo para contar vitória, não? – Brincou. – Sabe, eu acabei de ter uma ideia muito boa. Vire de costas. – Pediu, e Hermione pode ouvi-lo murmurando um feitiço de convocação. Depois de muitas risadas abafadas, Fred finalmente disse que ela podia virar. – Que tal? Posso ser sua enfermeira sexy?

 Fred tinha colocado e apertado um dos uniformes de enfermeira, demarcando seu abdômen e deixando à mostra suas pernas. Hermione gargalhou alto, sem conseguir se controlar, acompanhada por Fred, quando uma ideia a atingiu.

 - Fred... Temos aqui os uniformes dos funcionários. Podemos pegar quatro para nos disfarçar! – Ela sorriu, resistindo à tentação de gritar Eureca. – Você é um gênio!

 - Sou mesmo, mas a ideia foi sua. – Ele riu. – E que ideia!

 - Vem, pegue um para você e para Harry. E sem ajustes. – Hermione indicou o corpo de Fred com as bochechas levemente coradas.

 - Puxa, e eu achando que estava funcionando....

 - Pegue logo, Fred! – Ela apressou, tentando ao máximo focar na tarefa. – Tente pegar o tamanho certo para vocês dois. Se bem que tudo pode ser ajustado...

 - Como você pode ver. – Fred indicou seu próprio corpo com um sorriso.

 - Merlin, Fred... Dá para colocar roupas decentes? Não consigo me concentrar! – Hermione protestou com frustração.

 - Então quer dizer que eu estou te distraindo? – Seu tom mudou para um teatral e divertidamente rouco, mas que não falhou em mandar um arrepio pela espinha de Hermione.

 Hermione revirou os olhos com um sorriso e decidiu não responder, finalmente achando dois uniformes que julgou apropriados. Fred fez o mesmo depois de colocar novamente sua roupa normal, mas quando estava prestes a sair da sala, uma ideia o ocorreu.

 - E se pegássemos poções? – Fred perguntou, seu rosto inteiro se acendendo como o de uma criança. – Alguém pode ficar doente ou sei lá. Agora que seremos fugitivos supersecretos, podemos precisar....

  - Boa ideia, Fred! – Hermione estalou os dedos. – Além disso, você vai fazer uma cirurgia, então podemos usar a magia para acelerar sua cicatrização, e poderemos ir para casa logo em seguida! – Ao pronunciar a palavra Casa, percebeu que não sabia mais onde era seu lar de verdade. Determinada a pensar nisso depois para não desmoronar na frente de Fred, convocou a caixa de poções e passou a procurar misturas de cicatrização e cura. Colocou os frascos nos bolsos de seu casaco e escondeu os uniformes nas costas, prendendo-os na sua calça. – Vamos?

 - Espere, eu tenho que matar a saudade de uma coisa. – Fred sorriu. – Espere na porta. No meu sinal, sai correndo.

 - Fred, o que você vai fazer? – Hermione protestou, começando o sermão que não dirigia à ele fazia tempos. – Não podemos chamar atenção, e além disso...

 - Agora! – Ele sussurrou, empurrando-a para a porta e correndo atrás, trancando o cômodo atrás de si. Enquanto andavam naturalmente, ainda que a passos rápidos, ouviram estalidos que se transformaram em pequenas explosões abafadas pela porta.

 - O que você fez? – Vociferou a garota em voz baixa enquanto andavam de volta para o quarto, no sentido contrário dos funcionários correndo na direção do depósito.

 - Fogos de artifício. Merlin, como eu senti falta disso! – O ruivo respondeu, dando mínimos pulinhos de animação mal contida.

 - Não sei como. Estou com um nó no estômago até agora!

 - É assim que você sabe que está viva! – Fred riu. – Os nós.

 - Ou a batida constante e calma do meu coração, que não está nada devagar no momento. – Retrucou Hermione com resolução, grata por finalmente chegar em seu quarto. – Te vejo de noite?

 - Até lá. – Fred se inclinou e deu um beijo na bochecha de Hermione, rindo baixo ao vê-la sorrir com a face levemente corada.

 Hermione deitou em sua cama, surpresa ao ouvir leves batidas na porta. Pensando que talvez Fred tivesse esquecido algo com ela, atendeu.

 - Fred? – Chamou, antes de abrir e ver quem espreitava por trás. Logo, sua expressão se endureceu, dando lugar a frieza. – Ah, você.

 - Eu sou sua médica, Hermione, não devia ficar tão surpresa em me ver. – Lacey respondeu com calma e compostura, tentando permanecer profissional. – Posso entrar?

 Sem responder, Hermione apenas deu um passo para o lado, permitindo a entrada da outra. Vê-la trazia bile à garganta e memórias à tona. Memórias que estivera lutando para enterrar, e falhando miseravelmente.

 - Ouça, quero dizer que sinto muito pelo que aconteceu, e espero que possamos colocar isso no passado. Foi um erro, e pretendo não repeti-lo nunca. Como você esteve?

 - Estive ótima, muito obrigada. Seu tratamento experimental é realmente uma grande descoberta, me ajudou de mil maneiras diferentes! – Hermione ironizou com rancor.

 - Aí está você, se fechando para mim novamente.

 - Por que será? – Retrucou a garota com o sangue fervendo. Se tudo que estava acontecendo em sua mente já era ruim o suficiente antes, Lacey piorara tudo com aquela poção.

 - Preciso saber o que se passa com você. Quanto mais rápido pudermos melhorar sua situação, mais rápido você sairá do hospital e poderá viver sua vida normalmente.

 - Isso... – Hermione indicou sua cabeça com os dedos. – Não vai melhorar com algumas semanas de internamento. Não vai melhorar com confinamento. Provavelmente a melhor cura é o tempo e acompanhamento. Não há nada que esse hospital possa me oferecer. Preciso dos meus amigos, dos meus... Pais.

 - O que houve com seus pais? – Lacey indagou, rápida ao captar o jeito que Hermione pronunciou a palavra.

 - Eu apaguei suas memórias. Não fazem ideia de que eu existo. – Ela respondeu com amargura. Mas, se estavam tendo essa conversa, Hermione aproveitaria para conseguir qualquer informação possível sobre o quadro de seus pais. – Há como reverter o feitiço?

 - Receio que sim. – A médica respondeu, um arrepio percorrendo seu corpo. – O único método conhecido é tortura.

 Hermione ficou em silêncio. Sabia que os Comensais teriam feito muito pior a seus pais se ela não tivesse coberto seus rastros, e que provavelmente estaria órfã caso não tivesse tomado alguma atitude. Mas uma parte egoísta os queria de volta, queria fazer viagens, rir e viver com eles. Não a veriam casar, ter filhos ou se formar.

 Pelo menos não estavam mortos.

 - Você pode ir embora, por favor? – Hermione tentou manter a voz calma e inexpressiva. – Gostaria de ficar sozinha.

 - Como quiser. Podemos falar sobre isso quando estiver pronta. Sinto muito por ter que dar a notícia, Hermione. – Lacey encurtou a sessão, sabendo que haviam limites que não deviam ser quebrados.

 Hermione sentou sozinha no quarto, sem reação. Não sabia o motivo, mas não conseguia chorar. Estava muito em choque para esboçar qualquer traço de movimento. Passou o tempo restante deitada em sua cama, olhando para o teto e analisando as pequenas rachaduras enquanto tentava dizer a si mesma que aquilo era, de fato, real. Estava acontecendo, mas não parecia.

 Levantou-se roboticamente quando viu que chegara a hora. Se sentia normal, ao contrário do que esperava. Estava apenas deixando sua mente guiar seu corpo, sem sentir, como se estivesse no modo automático. Os corredores eram apenas borrões, e tudo era como barulho de fundo. Abriu a porta do quarto de Luna com cuidado, encontrando-a sentada na cama com os joelhos abraçados ao peito.

 - Chegou a hora, Luna. Vamos embora daqui. – Hermione forçou um sorriso modesto, que já foi o suficiente para algumas lágrimas de felicidade brotarem dos olhos de Luna. – Aqui, vista essas roupas. E sua varinha.

 - Muito obrigada, Hermione! – Sorriu a loira, seus cabelos emaranhados moldando de maneira estranhamente bela a alegria não contida em seu rosto.

 Ambas vestidas, dirigiram-se para o quarto de Harry.

 - Hermione! E... Luna? – Harry pareceu levemente confuso, mas quando seus olhos verdes percorreram rapidamente as roupas que vestiam e o volume das varinhas nos bolsos, seu rosto se iluminou. – Vamos embora daqui, não vamos? Você conseguiu, Hermione!

 - Olá, Harry! – Luna respondeu animadamente, recebendo um aceno de cabeça e um sorriso como resposta.

 - Vamos. Sua roupa e sua varinha estão com Fred. – Hermione esclareceu, oferecendo a mão para ajudá-lo a levantar-se da cama.

 Andar nos corredores escuros era a pior parte do plano. Rangidos no chão mandavam arrepios na espinha de Hermione, e qualquer mísero ruído a fazia pensar que o plano cairia por terra. A porta do quarto de Fred parecia um glorioso porto seguro quando o grupo finalmente a alcançou.

 - Demoraram! E aí, Potter, Luna? – Fred cumprimentou com um sorriso deslumbrante. – Prontos para quebrarem algumas regras?

 - Nunca estive mais pronto. – Harry riu discretamente com as sobrancelhas erguidas, feliz por finalmente se livrar do confinamento e isolamento proporcionados pelo hospital.

 - Suponho que as regras não são tão importantes em algumas situações. – Luna respondeu com sua habitual voz sonhadora voltando.

 - Potter, tome seu traje de espião. – Fred estendeu o uniforme para ele. Enquanto o garoto se trocava, Fred, já vestido, se aproximou de Hermione e falou para que só ela ouvisse. – Sabia que eu estava irresistível no meu look de enfermeira, mas você o usa bem melhor.

 Hermione riu fracamente, sabendo que Fred provavelmente estava tirando sarro das calças compridas e largas, com a blusa igualmente folgada. Provavelmente teria rido mais alto, mas seus pais se recusavam a deixar sua mente como ela tinha deixado a deles. Fred percebeu a tristeza em seu olhar, mas resolveu não dizer nada até que estivessem sozinhos.

 - Todos prontos? – Ele perguntou, ansioso para deixar o hospital. Os presentes assentiram, com borboletas no estômago de antecipação. Fred adorava a sensação, a adrenalina de fazer algo proibido. – Então, para os jardins!

 Andaram praticamente sem fazer barulho, todos olhando para seus próprios pés, à exceção de Fred. No entanto, passos sobressaltaram Hermione, que olhou para trás discretamente, tentando esconder o rosto com o cabelo.

 - Fred, temos companhia. Seu médico. – Ela sussurrou para que somente ele ouvisse.

 - Eu cuido disso. – Fred retrucou com uma piscadela.

 - Fred? – Era a voz de Higgins. – O que está fazendo aqui a essa hora? E com companhia! Já passou do horário de dormir! – Seu tom era paternal, ainda que repreensivo. – Granger, Lovegood e Potter? Posso saber o que vocês todos estão fazendo nos corredores à essa hora da noite?

 - Vovô... – Fred puxou o médico um pouco para longe de forma que somente ele ouvisse a conversa. – Eu posso explicar.

 - Então o faça, por favor!

 - Bom... A médica de Hermione mostrou a ela os jardins. Luna e Harry estavam muito mal, conseguia ouvir os gritos deles de longe, sabe, então eu e Hermione resolvemos ajudar. – O ruivo explicou, de forma teatralmente sombria e triste.

 - E por que fazer isso no meio da noite?

 - Pesadelos vem de noite, ora. – Fred retrucou. Logo, seus olhos assumiram um olhar idêntico ao de uma criança que implora. – Por favor, vovô. Pode me punir amanhã, só deixe que eu os leve para o jardim.

 - Certo, mas... Por que os uniformes? – O médico perguntou com um riso baixo. – Foi você que causou os fogos de artifício no depósito?

 - Que fogos de artifício? – Ele piscou os olhos inocentemente, mas ele e o médico riram juntos com a mentira descarada.

 - Tudo bem, Fred. Mas só deixarei passar desta vez, sim?

 - Não esperaria ação diferente de um homem tão belo, jovial e honrado como o senhor. – Fred formalizou de forma humorada, fazendo Higgins rir. – Boa noite, vovô!

 - Boa noite, Fred.

 Esperando o homem virar de costas e começar a se afastar, Fred suspirou e voltou para o grupo.

 - Tudo limpo. Vamos? – Fred indicou a porta dos jardins à alguns metros de distância, e o grupo recomeçou a caminhar, todos respirando aliviados. O ruivo estranhou que Hermione não dissera nada a respeito do ocorrido, e seu comportamento distante o estava inquietando cada vez mais. Não podia deixar de se perguntar o que acontecera.

  - Certo, aqui estamos. – Hermione disse quando abriram as portas e entraram no jardim. Vendo que Luna e Harry começavam a se distrair, olhando ao redor, resolveu apressar as coisas. – Vamos, não há tempo a perder. Eu usarei um feitiço de levitação em cada um de vocês, e passarei por último. Esperem do outro lado do muro, certo?

 - Sim, capitã! – Fred fez um sinal de sentido, sério.

 Harry foi o primeiro, e logo depois foi Luna. Fred trocou um olhar com Hermione, lançando um sorriso ao mesmo tempo conquistador e reconfortante antes de ser levitado para o outro lado do muro. Hermione foi logo em seguida, agarrando um galho que levitou para conseguir chegar até o outro lado com o feitiço. O grupo reunido trocou olhares felizes e incrédulos, rindo de alegria. Tinham conseguido.

 - Agora vamos para um hotel discreto, barato e simples. Conheço um aqui perto. – Hermione liderou, ansiosa para se ver sozinha.

 - Tá brincando? Vamos para o hotel mais chique do pedaço! – Fred riu. Ao receber um olhar questionador dos três, continuou sua explicação. – Ninguém vai pensar em nos procurar no lugar mais óbvio! Vamos! Harry, sabe algum?

 - O The Palace! – Harry sorriu. – Os Durlsey vieram uma vez para o aniversário de casamento da tia Petúnia e do tio Válter. Me deixaram em casa, mas Merlin, como eu quero ir para lá agora.

 - A comida de lá é boa? – Luna perguntou, sorridente.

 - Com certeza. – Harry retrucou.

 - Tudo bem... Harry, pode liderar o caminho? – Hermione cedeu diante do trio de olhares implorantes direcionados à ela. Além disso, ela mesma não via a hora de se deitar em algo que realmente relembrasse uma cama. Depois de tudo que passaram, um pouco de conforto viria a calhar.

 Mais rápido do que imaginavam, estavam diante de um edifício clássico e refinado. Atravessaram as portas para adentrar a recepção decorada em tons de dourado, mármore e vermelho, com poucos funcionários andando em uniformes que poderiam ser considerados da realeza.

 - Duas das melhores suítes que vocês tiverem, por favor. – Fred se inclinou no balcão, se dirigindo ao homem por trás do mármore frio.

 - Dois casais? – Ele perguntou, indicando o grupo com dois dedos.

 - Sim. – Harry respondeu de prontidão, antes que Hermione pudesse dizer o contrário. Piscou para ela com um sorriso discreto.

 - Quantos dias?

 - Uma semana. – Hermione disse, lançando a Harry um olhar fulminante.

 - Forma de pagamento?

 - Deixe na conta de meu pai. – Fred respondeu, realizando o feitiço Confundo sem que ninguém além do grupo percebesse.

 - Tudo bem. Esteban, pode acompanhá-los até as suítes, por favor? – O atendente respondeu, entregando duas chaves para Fred. – Tenham uma boa estadia.

  Guiados por Esteban, um homem alto de cabelos escuros, chegaram até a cobertura, onde o funcionário indicou os dois quartos.

 - Boa noite, senhores. Se precisarem, o número da recepção está na lista do telefone.

 - Obrigada, senhor. – Luna agradeceu com um sorriso. – Puxa, tudo aqui é tão bonito!

 - Não há jeito melhor de viver do que em grande estilo... – Fred sorriu consigo mesmo, admirado somente com o corredor elegante de paredes creme.

  - Eu e Luna podemos ficar com esse quarto, não podemos? – Harry encostou em Luna com um olhar indicativo que ela foi rápida em compreender, fazendo que sim enfaticamente com a cabeça. – Boa noite para vocês!

 - Esper... – Hermione abriu a boca para dizer algo, mas os dois já tinham desaparecido em direção ao quarto.

 - Puxa vida, que infortúnio... – Fred disse com ironia brincalhona.

  Revirando os olhos, Hermione inseriu a chave na fechadura e girou com cuidado, sem saber ao certo o que esperar. O queixo de ambos caiu ao ver o imenso quarto decorado em estilo clássico em tons de azul escuro, dourado e creme. Um enorme candelabro iluminava o ambiente e as poltronas dispostas ao redor de uma mesa de centro, com cortinas enormes cobrindo as janelas que iam do teto alto até o chão. Os olhares eram atraídos diretamente para a imponente cama de casal com almofadas e mantos dispostos em decoração.

 - Merlin... – Hermione suspirou. Não tinha gostado da ideia de enganar os funcionários para ficar ali, mas tudo escapou de sua mente ao ver onde passaria seus dias.

 - Isso sim é vida! – Fred sorriu.

 Depois de um tempo em silêncio que usaram para explorar toda a extensão da acomodação, eles se encontraram novamente no centro do quarto.

 - Sabe, é um ótimo lugar para falar sobre sentimentos e o que aconteceu com você hoje... – Fred disse com um sorriso de canto discreto. – Desculpe, sou péssimo para introduzir esses assuntos.

 - Tudo bem. – Hermione não conseguiu retribuir o sorriso. Subitamente, estava cansada de manter a fachada.

 - Quer conversar? – Fred sussurrou, tomando as mãos dela com gentileza. – Não tem problema não estar bem às vezes.

 Ela não respondeu. Não tinha forças. Balançando a cabeça negativamente, foi recolhida em um abraço forte. Hermione afundou o rosto no peito macio de Fred, usando-o para abafar um grito que estivera preso em sua garganta. Lágrimas rolavam como se apostassem uma corrida até o tecido do uniforme que ele usava, molhando-o rapidamente. Memórias do sorriso de seus pais passavam por sua cabeça, recordando-a de como a risada de sua mãe soava angelical, e como seu pai olhava para ela. Lembrava-se dos momentos engraçados e constrangedores no início dos anos em Hogwarts, quando seus pais ainda não sabiam absolutamente nada a respeito do mundo bruxo. Como eles passaram a odiar Draco Malfoy quando uma pequena Hermione contava com raiva tudo que ele a fazia passar.

 Outro soluço forte.

 As filmagens que sua mãe insistia em fazer para documentar cada pequena parte da vida de Hermione, e como ela faria tudo para tê-las em suas mãos.

 Fred afagava calmamente os cabelos armados de Hermioe, correndo a outra mão para cima e para baixo nas costas da garota enquanto murmurava desconexamente que iria ficar tudo bem. Não sabia o que a deixara naquele estado, mas não podia deixá-la só. Conduziu-a com cuidado até o colchão, deitando-se de frente para a garota que chorava em sua camiseta. Puxou-a mais para perto, acariciando o ombro dela com o polegar.

 - Shhh... – Ele murmurava calmamente de tempos em tempos, esperando acalentá-la até que dormisse em meio às lágrimas que pingavam sem parar.

 Nenhum dos dois esperava encontrar o conforto tão imenso que sentiam um no outro.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que simmm! Sobre os pais da Hermione: escolhi o caminho tomado nos filmes, ou seja, ela usou o feitiço Obliviate, que segundo o que eu pesquisei, só pode ser revertido com tortura. Enfim, comentem o que acharam, cliquem em acompanhar e favoritar, e não se esqueçam de recomendar se quiserem ajudar a história! É isso por hoje, e até a próxima!