24 Horas escrita por isaac


Capítulo 1
24 Horas


Notas iniciais do capítulo

para futuros usos, segue o link de Steven Yeun (voz do Keith) cantando No One: https://www.youtube.com/watch?v=1mHJkLuZD64



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24 horas.

Eu tinha 24 horas com Shiro, os minutos se esgotando mais e mais e mais, eu perdendo o tempo que queria tratar como precioso, que queria que fosse só meu e dele. Mas parecia que cada aluno do Garrison tinha decidido que precisava parabenizá-lo, interrompendo-nos. Sim, era incrivelmente egoísta da minha parte, ainda mais considerando que eu passaria a noite inteira dormindo do seu lado, mas algumas horas em silêncio, sem consciência, não eram nada. Não valiam nada.

Ele decolaria às 7:30 do dia seguinte, e o sinal tinha acabado de tocar na escola sinalizando o início das aulas - era possível ouvir o alarme em um raio de um quilômetro dos limites dos prédios, e não estávamos no nosso chalé naquele momento, e sim em uma rocha não muito longe do colégio, e que tinha uma vista agradável para o deserto inteiro. Finalmente, ninguém mais iria nos incomodar, e eu tinha exatamente 24 horas junto dele.

"Shiro," chamei. Eu estava sentado na ponta da pedra, e ele se despedia de algum estudante que iria se atrasar para a aula. Sempre sorridente. Sempre tranquilo. Me dava um pouco de medo saber que eu era um dos poucos a quem ele permitia ver suas fraquezas.

"Diga," disse, se aproximando e encaixando o queixo no meu ombro. Tínhamos o dia inteiro, o tempo todo, juntos, para fazer qualquer coisa. Meu professor tinha me liberado por motivos pessoais, depois de seu melhor ex-aluno e seu melhor aluno atual convencerem-no.

"Vamos para casa."

—--

Assim que chegamos no chalé, ele me deixou no chão, parou o veículo espacial que usávamos para atravessar o deserto e foi comigo até dentro da casinha. Tudo ali dentro era nosso, estava tão fortemente ligado à mim quando estava à ele, e algo gritava dentro de mim que isso me machucaria insanamente enquanto ele estivesse longe. Ainda mais, já que não estaria ao meu lado para me ajudar quando eu estivesse prestes a ter um completo ataque de pânico.

Comecei a chorar.

Não consegui evitar, algo desesperador tinha formado um nó na minha garganta e meu estômago afundou, lágrimas correndo pelo meu rosto, silenciosamente.

Shiro estava prestes a dizer algo, mas quando se virou para olhar para mim enquanto falava, viu minha expressão e se aproximou, preocupado, sua face também se tingindo com certa tristeza.

"Não, Keith, não chore..." Pediu, acariciando minha bochecha e enxugando os traços de lágrimas que por ali tinham descido. "Não chore. Vou voltar, prometo que vou voltar. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem."

Suavemente puxou meu rosto na direção do dele e tocou nossas testas, suas mãos apoiando minha mandíbula e seus polegares desenhando pequenos círculos na minha pele, de um jeito muito leve.

"Não vai embora, Takashi," chorei, sabendo que eu não queria dizer aquilo. Sim, eu não queria que ele fosse, mas eu realmente estava muito feliz por ter conseguido a missão e por estar fazendo parte de uma equipe que ia explorar uma lua de fucking Plutão. Ele também sabia que, por mais que eu lamentasse sua ida naquele momento, eu estava orgulhoso de onde tinha chegado.

"Você sabe que preciso, Keith. Mas eu vou voltar, então não se preocupe."

Respirei fundo. Eu precisava acreditar nele, confiar na tripulação e na tecnologia, e com todas as minhas forças esperar que voltassem sãos e salvos. No mínimo, que ele voltasse são e salvo. Assenti e sorri, ainda triste, mas tentando animar a mim mesmo.

"Olha só, ao invés de ficarmos assim, magoados e tudo, vamos aproveitar. Temos 24 horas, e podemos fazer qualquer coisa. O que você sugere?"

Dei de ombros. Estava tão terrivelmente cedo, e todas as coisas que eu queria fazer com ele só fariam mais sentido de serem feitas depois que o Sol descesse no horizonte, então resolvi esperar. Eu teria apenas algumas horas para fazê-las, já que tinha que ir dormir cedo e tal, mas eu iria conseguir lembrá-lo do quanto eu o amava e do quanto eu me importava.

"Okay, você não tem nada," Shiro riu, e eu senti uma parte de mim ir embora para Kerberos antes mesmo do meu namorado decolar, simplesmente porque eu ficaria tanto tempo sem ouvir aquela risada. Todo o tempo para chegar na lua, o tempo de exploração e toda a volta.

"Podemos simplesmente ficar deitados um pouco, eu não sei, se você quiser..."

"Como assim?"

"Lembra no inverno passado, quando eu reclamei do frio e passamos o dia inteiro na cama, conversando e simplesmente juntos? Achei que, se você quisesse--"

"Perfeito, Keith. Ótimo."

Me puxou para a cama, e deitei, tentando respirar direito e parar de chorar mesmo. Ele se deitou na minha frente, me abraçando e olhando para mim, enquanto eu olhava para ele. Seus olhos cinza-escuros me passavam uma expressão tão cheia de apoio, amor e tristeza que ficou difícil não continuar chorando. Mas ele deu um beijo leve na minha testa, tirando o cabelo dali com o nariz, e apertou um pouco o abraço.

Finalmente, me senti em casa.

Ali com ele, só com ele, em silêncio. Eu não precisava de nada mais. Realmente não; tudo o que eu queria era continuar em sua companhia para sempre. Mas aparentemente, eu não teria essa opção por um tempo.

"Takashi."

"Sim?"

"Eu te amo. Tanto."

Ele riu, de uma maneira seca e cheia de sofrimento. Não me arrependi de dizê-lo, no entanto, porque eu também estava sofrendo. Era mais fácil reafirmar o que eu sentia do que ficar me segurando, e talvez - espero que não, por Deus, não - perdê-lo sem que lembrasse disso.

Subiu sua mão para minha cabeça e colocou um pouco do meu cabelo atrás da minha orelha, e me movi para que eu encaixasse na ação. Olhei para ele de novo, e seu olhar era tão doce, tão reconfortante, tão carinhoso. Ao mesmo tempo, tão cheio de medo. Ambos esperávamos que o melhor acontecesse na viagem, mas nunca antes alguém havia ido aos limites do Sistema Solar. Era impossível saber se o foguete aguentaria, se eles como humanos aguentariam, se não havia algo estranho ou perigoso por lá. Era meio bobo ficar pensando como um teórico de conspiração nesse momento, considerando 'aliens' e tudo, mas era impossível não ficar com medo por ele.

Eu já sentia tanta saudade. Ele estava ali, na minha frente, tocando em mim, mas desde quando recebera as notícias de que pilotaria para a missão de Kerberos, parecia estar tão longe o tempo todo. Parecia tão mais inquieto, tão mais assustado, tão mais frágil. Pelas primeiras vezes em muito tempo, eu precisava reconfortá-lo à noite. Era sempre o oposto, era sempre eu que ia dormir em lágrimas, era sempre eu que tinha pesadelos horríveis, era sempre eu que morria de medo de perdê-lo. Ver suas fraquezas foi como um banho de realidade para mim, porque por mais forte que Shiro fosse, por melhor que fosse, era humano. Tinha fraquezas, demônios o assombrando, problemas. Era tão bom com todos, comigo, mas às vezes não conseguia ser consigo mesmo.

Precisando lembrá-lo de que eu estava ali, e lembrar a mim mesmo de que ele era real e ele, beijei-o. Lentamente, aproveitando, já que eu nunca queria que acabasse. Ele me puxou para ainda mais perto, emaranhando seus dedos na parte comprida do meu cabelo, na minha nuca. Estava tão desesperado quanto eu, e ah--

Se afastou um pouco, só um pouco, e fechou os olhos. Foi minha vez de acariciar seu rosto, a ausência de um sorriso me incomodando e me entristecendo. Não era justo que se sentisse assim. Menos que qualquer um, ele não merecia isso. Eu podia sofrer por nós dois, eu não me importava, desde que ele pudesse viver em paz.

"Shiro. Shiro, por favor, olha para mim," pedi, a voz macia, mas o pesar inegável. Ele abriu os olhos, e foi quase uma facada. "Estamos aqui. Estou aqui, você ainda está aqui. Esquece o futuro. Agora, agora estamos juntos. Isso é o que importa--"

"Eu te amo, Keith. Também te amo." Sorri, sentindo um peso ser tirado de meus ombros. Ele era tudo pra mim, a fonte da minha felicidade, a única coisa que eu ainda tinha, a única pessoa que ainda importava na minha vida. "Te amo até Kerberos, e de volta."

Merda, será que minhas lágrimas não acabavam?

—--

"Vamos, baby, precisamos comer algo."

Resmunguei algo como um 'não', mas eu estava sorrindo, e Shiro sabia disso. Tínhamos dormido a manhã inteira, já que era bem melhor do que crises de choro a cada dois segundos. Era meio-dia, e hora do almoço. Shiro já tinha se levantado para ir cozinhar algo, mas eu me recusei e continuei na cama. Ele estava quase desistindo de mim, me chamando o tempo todo, e agora já tinha se afastado da cozinha e estava perto de mim novamente, insistente em me fazer levantar.

Sentou-se na cama, e deslizou a mão para junto da minha, e agarrei seu braço, segurando-o como se fosse uma pelúcia. Ele riu, soando genuinamente feliz. Abri os olhos para capturar aquele sorriso enquanto ainda estava ali.

"A comida está pronta. Não é muita coisa, mas acho que deve ser suficiente."

Sentei na cama e me espreguicei, sem soltar a mão dele, então puxando ele para a frente, fazendo com que quase caísse de cara no travesseiro. Enquanto ainda estava com a cabeça abaixada, aproveitei para dar um beijo na sua bochecha e então me levantar.

"Vamos, Shiro. Não temos todo o tempo do mundo," provoquei. Ele revirou os olhos e sorriu, e se juntou à mim, colocando o braço ao redor da minha cintura e sorrindo ainda mais.

—--

Terminamos de almoçar mais ou menos ao mesmo tempo, Shiro um pouco antes. Me responsibilizei por lavar a louça, já que ele tinha preparado tudo.

Não demorou muito, já que eram apenas pratos e panelas sujos de duas pessoas, e eu não comia muito. Quando saí dali, depois de terminar, Shiro estava sentado na cama, as costas contra a parede e as pernas esticadas, emaranhadas nos lençóis. Tinha seus óculos de leitura no rosto e uma apostila de documentos nas mãos. Por algum motivo, aquilo me deixou bravo, então fui na sua direção, tirei os papéis dele e sentei em seu colo, nossos rostos ficando mais ou menos na mesma altura, e cada um de meus joelhos de cada lado do seu quadril.

"Para, Takashi," pedi, a voz quase um sussurro, descendo com minha boca para a curva de seu pescoço e deixando pequenos beijos ali. "Só um pouco. Por mim."

Senti ele suspirar, e levou suas mãos até meu quadril, segurando no pedaço da minha pele que se encontrava logo embaixo da bainha da camiseta. Seu toque era quente e firme, confortável.

"Eu não posso parar," murmurou contra meu ombro, e oficialmente me deixou frustrado.

"Você pode. Só não quer."

"Keith..."

"Não vou brigar com você agora, afinal, esses são os últimos momentos que vou ter com você. Eu queria que você relaxasse mais. Você merece parar, mas entendo que não queira. Se você parar, o que será do mundo? O que será da exploração espacial?" Sorri, aquele mesmo tom de tristeza cobrindo meu rosto de novo. "Todo mundo precisa de você. E eu também."

Prossegui em deixar uma marca nele, um chupão que ficaria ali por pelo menos uma semana. Não era o suficiente - eu precisava de algo que durasse todos os meses de duração da viagem -, mas era tudo o que eu tinha. Ele segurou mais firme em mim, e eu sabia que também iria deixar uma marca em mim.

—--

Saí do chuveiro com um sorriso no rosto e enrolei uma toalha ao redor da cintura, despreocupado. Shiro ainda estava terminando seu banho, e disse que não se incomodaria se eu saísse antes, então o fiz para começar a preparar o que faríamos depois.

Ainda era o meio da tarde, e só ao pôr-do-Sol meus planos começariam a fazer sentido, mas eu precisava ir à cidade comprar comida e tal - não só para preparar algo diferente, mas porque a geladeira estava literalmente vazia.

Enquanto eu colocava a roupa, pensei em como Shiro conseguia controlar meu humor facilmente. Ele realmente era a fonte da minha felicidade e de qualquer estabilidade emocional ou psicológica que eu conseguisse ter, sendo racional e inteligente, mas doce ao mesmo tempo. Eu tinha a inteligência e o talento - já estava cansado de ouvir isso de inúmeros professores, diretores e conselheiros estudantis -, mas minha mente não era nem de longe sã. Problemas mentais e nervosismo se acumulam, e logicamente não trazem algo bom. Por isso, eu apenas funcionava direito quando tinha alguém por perto para me manter estimulado e tranquilo, e a única pessoa que se mostrara capaz de fazer isso comigo nos 17 anos da minha vida era Shiro.

"Ei, onde você vai?" Ele se aproximou por trás e virei a cabeça. Ainda estava amarrando sua toalha, e eu conseguia ver algumas mordidas e marcas vermelhas e roxas espalhadas pela pele exposta. Aquilo tratou de pôr um sorriso no meu rosto, com certeza.

"Vou à cidade. Comprar comida."

"Não...," reclamou, se aproximando ainda mais e me segurando pelo braço antes que eu colocasse a camiseta. "Fica aqui..."

"Estamos sem comida, Shiro. Tenho que ir."

"Então vou com você," deu de ombros, e eu revirei os olhos, ainda sorrindo. Estava agindo como uma criança, meio birrento, mas era fofo. Eu sabia que estava brincando sobre aquela atitude, mas também sabia que realmente estava me dando duas opções: ou eu ficava, ou levava ele junto.

"Vai ser mais rápido se eu for agora..."

"Comigo?"

"Bem..."

"Então você fica," disse, tirando minha blusa de minhas mãos e me guiando na direção da cama. Não fui muito contra, mas eu não estava a favor da ação. Eu não deveria fazer aquilo, não deveria deixar que ele me segurasse ali quando era algo tão simples em jogo...

"Shiro, por favor, me deixa ir."

"Keith, baby," choramingou, e eu sorri mais ainda.

Bufei e desisti, permitindo que me colocasse sentado na cama, e que fosse colocar alguma roupa sem que eu me levantasse. Assisti enquanto tirava a toalha, colocava uma cueca e depois uma calça, e se virou, sorrindo no instante que percebeu que eu estava observando.

"Aproveitando a vista, Keith?" Se aproximou, e eu ri, inclinando a cabeça para o lado. Fiz que não e dobrei os joelhos, juntando-os ao peito e abraçando-os. Shiro se sentou do meu lado e apoiei a cabeça no ombro dele, suspirando.

"Estamos sem comida e a culpa é sua. Eu queria fazer um piquenique ao algo no deserto mais tarde..."

"Podemos só olhar para as estrelas, sem comer. Você pode comprar as coisas amanhã de manhã, não?"

"Não. Amanhã vou estar com vontade de morrer," reclamei, relaxando os ombros e fechando a cara. Eu não queria pensar no dia seguinte, quando eu iria estar sem ele. Não queria pensar em nada, nada, nada além do agora. Eu não ia aguentar se eu pensasse no depois. Mesmo que tudo fosse ficar bem... A saudade é o que mais machuca.

—--

"Eu já volto," sussurrei e me levantei, correndo de volta para a moto espacial, para então ir para casa para pegar meu violão.

O Sol já tinha se posto, e assistimos do melhor lugar no meio do deserto. Relativamente longe do chalé, e muito, muito longe do Garrison e da cidade, mas era o lugar mais alto alcançável, e tinha a melhor vista do horizonte e do céu, para o pôr-do-Sol e para ver as estrelas.

Passei o trajeto inteiro, para o chalé e de volta, pensando e relembrando a cifra e a letra da canção que eu queria cantar. Era antiga, da primeira década do século XXI, mas eu gostava muito dela. Encaixava com nossa situação no momento, e dizia que "ninguém consegue entrar no caminho do que sinto". Ninguém, nada, nem toda a distância entre a Terra e Kerberos, conseguiria fazer com que eu mudasse, com que eu parasse de amá-lo, e que eu esquecesse ele. Os meses iriam passar, mas eu iria continuar ali, esperando.

Quando cheguei na rocha e Shiro olhou para trás e viu que eu estava com o violão, sorriu de um jeito meigo e eu tentei não derreter. Desci da moto e andei para onde ele estava sentado, e sem dizer algo, sentei também e comecei a tocar e cantar No One.

Eu consegui ver que estava se emocionando à medida que eu prosseguia a música, mas tentei não atrapalhar a canção me emocionando também, e apenas fechei os olhos pra cantar com puramente o que meu coração já queria dizer.

Terminei, e abri os olhos. Não consegui mais me segurar e deixei que uma lágrima lentamente descesse por minha bochecha; Shiro já estava chorando. Coloquei o violão de lado e tomei a mão dele na minha, entrelaçando nossos dedos, apreciando aquele calor tão certo, a sensação de sua pele e seus calos. Eu podia tocá-lo, ele estava ali, ele estava ali e eu não queria que fosse embora.

"Eu te amo," repeti pela infinita vez naquele dia, e uma risada - quase um soluço - deixou os lábios de Shiro.

"Ah, Keith..."

Ele me deu um abraço, meio que, porque estávamos de lado, mas não hesitei em me ajeitar para realmente estar em seus braços, confortavelmente situado embolado entre sua figura. Ele cheirava a colônia e sereno, sua pele estava quente e seu cabeço, roçando na minha testa, estava macio e leve. Ele estava tão perfeito naquele momento - não que ele não fosse perfeito no resto do tempo. Me afastei para poder admirá-lo sob a luz do luar e das estrelas, e perdi o fôlego.

Fracamente iluminado belo brilho branco do céu, ele parecia reluzir, parecia emitir sua própria luz. Seus olhos passavam uma expressão tão inocente e tão amável, e ele estava completamente tão incrível. Acariciei sua bochecha e sorri, triste.

"Você vai fazer falta," sussurrei, observando meu próprio movimento.

"Você também."

Alarguei meu sorriso, ainda mais triste. Eu só ia fazer falta a ele, afinal, eu ainda estaria aqui, entre as outras pessoas. Mas ele, ele seria uma lacuna na vida de todos, um espaço que ninguém seria capaz de preencher. Principalmente, para mim.

"Keith."

Olhei para ele, focalizando a visão. Eu tinha me distraído e parado de prestar atenção, ocupado demais olhando para ele, mas sem enxergá-lo.

"Oi?"

"Sabe..." Ele se deitou na pedra, e arfei quando quase caí em cima dele - eu estava sentado em seu colo e nem tinha percebido. Rolei para fora, e deitei também. "Amanhã, eu vou ser projetado para o meio dessas estrelas. O espaço sideral. Mas eu vou continuar olhando para elas, e pensando que, em algum outro lugar no meio delas, está você." Suspirou, e eu prendi a respiração. Queria ouvir cada ruído que ele produzisse, para apreciar sua presença. "Vamos estar muito longe, mas eu ainda vou estar na mesma galáxia que você. Mais ainda, no mesmo sistema solar. Então não se preocupe. Vai ficar tudo bem."

"Quando você fala assim, eu quase acredito," murmurei, sem querer que ele ouvisse, mas depois que terminei de falar, eu percebi que ele tinha conseguido escutar. Soltou uma risada assim tão fraca, tão curta e baixa, mas doce. Meu coração se apertou, e respirei fundo.

—--

Escorreguei para debaixo das cobertas e me deixei encaixar em Shiro. Eu ia dormir junto dele, porque aquela era minha última chance. Ok, eu teria os curtos momentos antes de ele sair no dia seguinte, mas eu estaria morrendo de sono e provavelmente iria acabar esquecendo a maior parte daquilo. O que importava, tudo o que eu tinha, era a noite. Eram as horas esticadas e silenciosas, era o escuro, era a respiração dele e o som dos batimentos cardíacos dele contra as minhas costas.

"Boa noite, Keith."

"Shiro, eu--"

Fiquei sem o que dizer. Eu já tinha dito que o amava tantas, tantas vezes naquele dia, e sabia que não seria errado ou ruim dizê-lo de novo, mas não era isso que eu queria falar. Eu já tinha dito tanta coisa naquelas últimas horas, eu já tinha dito tanta coisa sem realmente dizer, eu já tinha feito tanta coisa, só eu e ele, sempre só eu e ele... O que ainda estava faltando?

"Boa noite, Takashi," eu disse, por fim, e soube que estava sorrindo logo antes de deixar um último beijo leve no topo da minha cabeça.

"Vou sentir saudade."


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