WSU: Azathoth escrita por Lucas, WSU
Perto do local do crime, Erik está encostado no seu carro Azathoth está logo atrás. A noite cai, o balançar dos galhos de árvores e a forte neblina complementam o clima soturno.
Erik: O toxicologista apontou uso de ácido barbitúrico e heroína... ela foi dopada, depois à violaram.
Azathoth: Era um alvo, ninguém chegaria até aqui por vontade própria.
Erik: Chegamos a cogitar ritual ou coisas do gênero, mas não foi levado adiante.
Azathoth: Isso é prazer... quem fez segue a ideia de sadomasoquismo. São questões psíquicas, insanidade...
Erik: Nenhum louco possui inteligência suficiente para fazer algo assim.
Azathoth: Vou investigar os entes próximos dela.
Erik: Você conhece algum!?
Azathoth: Eu conheço tudo sobre este lugar, detetive.
Erik: O ex-namorado dela estará na delegacia amanhã, falarei com ele. Tente não matá-lo até lá.
Azathoth: Acha mesmo que eu faria isso?
Erik: Conhecendo o seu histórico? Me surpreende não ter virado essa cidade de cabeça para baixo.
Azathoth: Tenho trabalho à fazer, Erik.
Erik: Não quer uma carona?
Azathoth: Sei bem por onde ando.
Erik volta para sua casa. Sua mulher está sentada em uma poltrona com uma bandeja de coxinhas em mãos; a expressão dela é de tensão. Ao fundo, se ouve Nights In White Satin - Moody Blues.
Erik: Mika, disse para não ficar acordada até essa hora!
Mika: Eu tenho me preocupado cada vez mais! Você parece obcecado por isso!
Erik: É o meu trabalho!
Mika: Não posso acreditar que fique até ás 4 horas da manhã em busca de respostas por algo tão óbvio.
Erik: Se fosse óbvio não existiram respostas. É meu primeiro caso de grandes proporções, não envolver vocês duas nisso!
Erik se aproxima de Mika e passa a mão por sua barriga.
Grávida, seis meses, uma linda garotinha, o nome será Bela.
Erik: As mulheres da minha vida não merecem conhecer a crueldade do mundo lá fora.
Ele beija Mika, uma mistura de euforia e tranquilidade toma conta dos dois. Eis que surge o primeiro casal a quebrar a barreira do amor.
Na mesma noite, Azathoth volta as ruas e vai para um bordel, ele observa algumas garotas fumando e vários homens saindo em seus respectivos carros; ele vê tudo do telhado de um armazém. Azathoth caminha lentamente, ele passa despercebido pelo estacionamento e entra no local. Lá dentro, o bordel está vazio, há sujeira por todo o chão e as luzes piscam devagar, de costas num balcão um homem conta o dinheiro em suas mãos.
Azathoth vai até ele, o agarra pela nuca e bate sua cabeça contra as garrafas de cerveja ao lado; o homem cai.
Homem: Não, não! por favor, não me machuca!
Azathoth tira uma foto de Ellen do seu casaco.
Azathoth: Ela.
Homem: Eu não sei! NUNCA VI!
Azathoth: Viu sim...
Homem: São várias mulheres por aqui, cara! Não dá pra lembrar de cada uma!
Azathoth: Use seu cérebro pela última vez.
Homem: Procura no... NOS ARREDORES DAS INDÚSTRIAS! Muitas ficam por lá! Eu só trabalho com as menores!
Azathoth: Menores?
Homem: Hã? como assim... NÃO!
Azathoth pega o gargalo de uma garrafa e perfura o pescoço do cafetão.
Ele sai pelos fundos do bordel, e vai até a zona industrial; A chuva cai como pedra, as gotas parecem meteoritos. Decadência.
Azathoth anda como um peregrino catatônico. Os raios se chocam contra o solo e o brilho dos trovões iluminam seu pés.
Azathoth: O hemisfério esquerdo se torna tão inútil quanto um coração apaixonado. O direito parece se sustentar de ilusão, como a esperança pelo presente celestial... regado com bênçãos e eternidade. Asqueroso. O dia não conspirará à favor, os pássaros cantarão como sempre, nós seguiremos nossa jornada patética em busca da ternura. E num piscar de olhos, estaremos sete palmos abaixo da terra.
Perto das indústrias, Azathoth olha ao seu redor; A água escorre por sua máscara.
Uma mulher loira e seu cigarro, seus olhos são como os confins do Universo. Sua fala é lenta. Sua voz rouca e fina. Roupas de faxineira. Suja. Deteriorada.
Azathoth se aproxima.
Azathoth: Está segurando sua morte entre os dedos... não deixe-a escapar.
Mulher: Eles são minha paixão. Azathoth é a morte dos que pecam?
Azathoth: É isso que dizem de mim, senhora...?
Igraine: Igraine, sem sobrenomes.
Azathoth: A mãe do Rei Arthur.
Igraine: A bela mãe do Rei Arthur.
Azathoth: Procuro pelas putas dessa região.
Igraine: Até heróis precisam aliviar de vez em quando...
Azathoth: Precisam sim, mas não é por isso que estou aqui. Uma garota foi assassinada e...
Igraine: ... E pensou mesmo que encontraria alguma aqui depois disso?
Azathoth: Sabe alguma coisa?
Igraine: Sei, não deveria perder tempo. Considere normal. Pessoas morrem todos os dias.
Azathoth: Pessoas não são dopadas, violentadas e assassinadas todos os dias.
Igraine: É claro que são, ou seus problemas psicológicos o impedem de enxergar?
Azathoth: Agradeço.
Igraine: Queria poder dizer o mesmo.
Azathoth dá as costas. A chuva devagar, uma fênix morta. O vento forte, como um leão destroçando sua presa.
Igraine olha o homem que caminha pela escuridão; o sorriso se forma pelo canto de seus lábios.
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O mascarado segue para o pequeno apartamento abandonado, onde vive junto à seu mentor Hideyoshi, que está em sua cadeira de rodas olhando pela janela; Os galhos mirrados das árvores arranham o vidro.
Hideyoshi: Ainda acha que vale a pena?
Azathoth: Não...
Hideyoshi: Então por que continua?
Azathoth: Porque preciso de um propósito.
Hideyoshi: Nossos propósitos são fuga da realidade que nos cerca, seja ele qual for.
Azathoth: Tenho orgulho de fugir da minha realidade... Poderia estar matando inocentes, mas estou impedindo que os matem, ou quase...
Hideyoshi: Você era uma criança, estava sentado a beira de um meio fio, eu já era um velho... Quis saber se estava bem e, quando encostei em seu braço, quase o arrancou. Se tornou um homem, e hoje se entrega por uma causa que nunca terá fim...
Azathoth: Gostaria que fôssemos temporais, senhor Hide. Mas nossas emoções e nossas ideias permanecerão para sempre. Depois de morto deixarei algo que no futuro inspirará as pessoas.
Hideyoshi: Grandes homens morreram assim... Sócrates, Voltaire, Chaadayev... queriam inspirar, mas nós deturpamos isso... Ter um legado e seguir um legado são dois extremos.
Azathoth: É impossível desfigurar a bondade, senhor Hide
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