Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 34
Caindo


Notas iniciais do capítulo

Mais um para vocês ♥

Boa leitura!



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— Não posso. — Respondi, interrompendo a discussão deles. Todos olharam para mim. — Vocês sabem como é perigoso se eu ficar aqui.

Os cupidos me olharam, um pouco decepcionados. Colin olhou para baixo, Franklin fingiu que não estava ouvindo e David me olhou.

— Tem certeza, Cassie? — Louis perguntou. Eu assenti.

— Já está muito tarde. Tenho que ir agora.

— Eu te levo. — David se preparou.

— Não, eu posso ir sozinha. Quero andar por aí. Há muito tempo não faço isso. E também já sei onde fica a casa do Dean. — Respondi. 

— Fica longe, Cassie. Vamos, então eu levo. — Bruce se ofereceu, preocupado.

— Estar na casa de vocês é mais perigoso do que estar na rua, Bruce. — Respondi. — Eu me viro. Não sou mais o problema de vocês. — Tentei confortá-lo, e sem nem mesmo esperar por uma resposta, abri a porta da casa deles, me atirei para fora e fechei tão rápido quanto saí.

Quando fiquei do lado de fora, fechei os olhos e respirei fundo, contendo a queimação que subia nos meus olhos. As lágrimas quase saíram, mas respirei fundo e me preparei para ir.

Eles não sabem quanto eu queria ficar... Ainda me sinto uma estranha na casa do Dean, apesar de tudo. Mas acabou. Eu e os cupidos não podemos manter contato. Tenho que recuperar minha vida antiga. E tentar ficar longe do David. 

Encarei a rua escura e todas as casas. Todas as luzes apagadas e janelas grandes e sombrias.

A cidade está dormindo.

Dei alguns passos até a rua, quando fui surpreendida por algum dos cupidos gritando meu nome após abrir a porta. Parei de andar, olhei para trás e era Franklin.

Ele fechou a porta da casa e deu uma corridinha até mim, fiquei parada, esperando por ele. Quando o mesmo ficou de frente comigo, olhou no fundo dos meus olhos.

— É... — Logo desviou o olhar e procurou as palavras certas para me dizer.

— Sim? — Olhei para ele, a luz da lua iluminando a rua, e Franklin ali, pela primeira vez, confuso.

— Obrigado por aquele dia.

— Que dia? — Franzi o cenho e não consegui conter um sorrisinho.

— Que se preocupou comigo. Quando... Quando me envolvi em uma briga. Você sabe. — Falou, tentando não demonstrar sentimento.

— Ah, sim... — Assenti, abrancando a mim mesma e apertando um pouco mais o meu casaco ao meu corpo. — Quando você defendeu a sua escolhida.

— É. — Ele revirou os olhos.

— Não precisa agradecer. Você estava sangrando por ter defendido sua escolhida! — Ri, surpresa por Franklin ainda se lembrar disso, e ter corrido atrás de mim apenas para agradecer por isso. Eu estava presenciando um verdadeiro milagre naquele momento. 

— É que ninguém se importou quando... — Franklin respirou fundo, olhou para baixo outra vez, franziu a testa e desistiu. — Olha, de verdade... Vai pela sombra.

Ri outra vez, me contive e dessa vez sorri para ele. Franklin demonstrando gratidão? 

— Está tudo bem. Eu faria isso por qualquer um de vocês. Me importo com todos. E você não está de fora. Sou eu quem agradeço por... Você e seus amigos decidirem cuidar de mim mesmo depois de eu ter descoberto tudo! Qualquer cupido teria se livrado de mim, não é mesmo? Mas vocês não. Agora eu estou viva, e com o meu escolhido! — Abri um sorriso maior ainda — Obrigada, Franklin.

Ele assentiu levemente olhando para mim, depois olhou para baixo, e depois para mim de novo.

Passei por ele, pronta para ir. Franklin continuou na mesma posição enquanto eu me afastava. Consegui ouvir algo mais ou menos como:

— Tchau, garçonete.

➴ ➵ ➶

Estou morando com meu escolhido. Dean Trent. Mas por quê sinto que não? 

O amor não deveria ser ao contrário? Eu deveria estar feliz! Deveria sentir que estou em casa. Mas é como se estivesse no lugar errado. E às vezes, apesar de já estar livre, eu sinto medo.

Na noite seguinte, na hora de dormir, eu me deitei na cama, sem nem mesmo tirar a roupa que passei quase o dia todo, virei meu rosto e chorei. Por um milhão de motivos. E acabei caindo no sono.

Dean Trent está me encarando! Consigo sentir! A porta está aberta, mas me lembro de tê-la fechado! Tomo coragem e olho em direção da porta. Não tem nada. Olho para a janela, e posso ver que ainda é de noite. A luz da lua ainda está brilhando lá fora. Talvez ainda não passe das duas. Por quê minha porta está aberta?

Quando olho outra vez, eu posso vê-lo agora. Levo um susto e dou um pequeno impulso para trás. Dean está ali! Está me encarando, como eu suspeitava! Seus olhos estão inteiramente pretos, e... As asas. Elas são muito grandes. E parecem ser escuras. Não posso ver direito, mas tenho certeza que é ele.

— Dean? — Pergunto, meu coração já acelerado. É um superior? Algum superior veio me buscar?

Ele ainda não se move. Está de pé, na entrada da porta, as asas abertas, os olhos escuros, forte, alto, me olhando. 

Penso no David. No Colin. Bruce. Franklin. Louis.

Fecho os olhos, pego meu cobertor e cubro toda a minha cabeça. Estou suando, e tremendo também. Ele vai puxar o cobertor e enfim me eliminar! 

Não é um sonho. Tenho certeza disso.

➴ ➵ ➶

Foi um sonho. Na verdade, um pesadelo.

Acordei e as coisas continuam as mesmas. Estou no quarto da casa do Dean, ainda com o cobertor cobrindo toda a minha cabeça. Quando tiro, a luz do sol invade o quarto inteiro e respiro aliviada.

A casa está silenciosa, como sempre costuma ser.

E a porta está fechada.

Me levanto, calçando o tênis e indo direto até o banheiro. Lavei meu rosto, prendi o cabelo e me preparei para procurar o Dean. Não sei se vou sentir medo ou alívio quando chegar perto dele.

Foi só um pesadelo.

➴ ➵ ➶

— Oi, Cassie. — Dean estava na cozinha, fazendo ovos mexidos.

— Oi. — Respondi, parando na porta da cozinha.

— Demorou para acordar hoje. — Sorriu, mexendo os ovos com facilidade.

— Não consegui dormir essa noite.

— O que aconteceu? — Pareceu preocupado, enquanto colocava os ovos em um prato e logo em seguida virava fatias de bacon numa frigideira.

— Você foi ao meu quarto? 

— Quê pergunta, Cassie. — Ele riu, desligando o fogo e se dirigindo até a mesa, onde havia uma cesta com diversas frutas, em especial, morangos. Lentamente ele pegou um. Observei Dean, as mangas da blusa levantadas até os cotovelos. Ele estava vestido muito bem. E cheiroso. Talvez seja o cara que todas as garotas sonham em ter como marido? 

Dean é um clichê. Não parece verdadeiro. Tem alguma coisa acontecendo.

Olhei para ele. Após apanhar um morango, Dean veio até mim sorrateiramente, seu olhar penetrou nos meus e ele ficou bem perto. Fiz uma careta enquanto sentia o calor do seu corpo. Dean levou o morango até minha boca.

Eu peguei, sem entender, e mastiguei. Azedo e ao mesmo tempo adocicado. Dean tocou meu rosto.

— O que está... — Tentei dizer.

— Shh...

Dean estava tentando me beijar. Fiz mais uma careta e o empurrei, engolindo o morango. 

— O que é isso, Dean? 

Todo esse carinho, o encontro, a casa grande no meio do nada, ovos mexidos com bacon, caixas de bombom, bilhetes, passeios, flores, morangos na boca? É como um filme. Dean não parece ter defeito algum.

— Quem é você? — Pergunto.

Ele parece confuso.

— Desculpe, pensei que...

— Você apareceu muito rápido. Me salvou daquele carro e agora eu estou aqui. Isso... Isso não parece certo!

— Cassie, não quero te assustar. Estou o tempo todo tentando te mostrar quem eu sou. — Ele se afastou.

— Claro... 

— O que quer que eu faça?

— Nada. Já ficou bem claro que você está tentando me conquistar. 

— Podemos tomar o café e esquecer que isso aconteceu?

— Você foi até o meu quarto enquanto eu dormia? — Pergunto, ignorando sua pergunta anterior.

— Sabe que não.

Encarei Dean por mais alguns segundos, em seguida me virei, corri até meu quarto e tranquei a porta.

➴ ➵ ➶

Está escurecendo. Não fiz nada o dia todo. Fiquei pensando sobre esta madrugada, e o medo que senti. Olhei pela janela, observando todos os grandes pinheiros que cercam a casa do Dean, e o sol se pondo. 

Pensei no David e nas promessas que ele me fez. Disse que não deixaria ninguém fazer mal a mim. 

Estou tentando me sentir à vontade com o Dean, mas não dá. Acho que preferiria viver nas ruas com os amigos andarilhos da Stacy do que continuar nesta casa sentindo um medo irracional.

Como é possível eu nutrir medo pelo meu próprio escolhido?

Sentindo que talvez fui rude demais com Dean Trent, decidi descer até o andar debaixo e lhe pedir desculpas pelo meu surto. Quando cheguei ao último degrau da escada, vi ele discutindo com alguém. Não pude reconhecer quem era. A pessoa parecia estar querendo esconder a própria identidade, vestido com um capuz preto, e até mesmo óculos escuro. Estava de costas, trocando sussurros com o Dean.

— Ela está insuportável, temos que fazer isso hoje. Antes que ela perceba. Chega de esperar — Dean falou.

— Não. Podemos esperar... — Falou, baixinho.

— Não? — Riu e pegou o cara pelo capuz. — Acha que isso é brincadeira? Estou esperando há muito tempo. Você prometeu que iria me ajudar. É por isso que ainda não matei você e os idiotas. — Logo o soltou. — Vocês precisam se redimir... 

— Faça isso sozinho. E-eu não posso mais. — ele empurrou Dean e saiu apressadamente.

— Volta aqui!

O rapaz não deu ouvidos e logo desapareceu, fechando a porta.

Dean respirou fundo, irritado, passando uma mão pelo cabelo.

— Cassie! — Dean gritou. — Desça aqui!

Estufei meus olhos, e meu coração disparou naquele exato momento.

Aproveitando que ele não me viu, voltei em direção ao meu quarto rapidamente, tentando não fazer barulho com meus passos.

— Cassandra, precisamos conversar! — Dean continuo me chamando. Sua voz estava diferente. Mais grave, com raiva.

Desesperada abri a porta do quarto e entrei, em seguida fechei levemente e girei a chave, respirando de alívio por meros segundos.

— Cassandra, está me ouvindo? — Dean gritou outra vez.

Olhei para o quarto todo. Primeiro para o criado-mudo, depois para o armário, e logo em seguida para a minha escrivaninha. Preciso de alguma coisa para me defender!

Passos na escada! Dean está subindo até o meu quarto!

Olhei para a escrivaninha, procurando por algum objeto cortante. Nada. Dean quer me matar? Ele estava falando de mim para o homem de capuz! Ele quer me matar! É um maníaco que vem me perseguindo! Eu deveria ter acreditado na primeira vez.

Rapidamente subi na cama, de forma que fiquei mais alta e consegui alcançar a janela. Levantei o vidro e me apoiei no parapeito, em seguida coloquei minhas duas pernas para fora. 

Enquanto isso, Dean girava a maçaneta da porta sem parar.

— Cassie, está aí? Abra a porta! — E girava a maçaneta, enquanto empurrava com seu corpo.

Desesperada coloquei todo o resto do meu corpo para fora da janela, em seguida fechei e me encontrei no telhado.

— Por que não responde? — Ouvi a voz dele abafada. Dean poderia muito bem arrombar a porta. Talvez ainda estava com esperança de que eu abrisse.

No telhado, pensei no que fazer. O sol ainda brilhava um pouco. Estava num tom cor-de-rosa. Olhei para os lados, só haviam árvores. Muitos pinheiros.

Se Dean abrir a porta vei ver que não estou no quarto! Vai olhar pela janela, me encontrar no telhado e então me pegar! Será que ainda estou sonhando?

Eu vou ter que pular.

Devagar e com passos pequenos fui me aproximando da pontinha do telhado. O teto é em formato de descida, se não tomar cuidado posso escorregar.

Dean continua batendo na porta. Dessa vez com mais força.

Me abaixei e estou escorregando devagar até o final do teto. Quando chego na beirada, posso encarar o chão. É extremamente alto.

Eu não vou conseguir pular sem quebrar alguma coisa. No mínimo as duas pernas!

A porta se abriu. Eu posso ouvir! Dean arrombou a porta e está me procurando pelo quarto. Estou na beira do teto, tentando ganhar coragem. É muito alto, a casa do Dean é gigantesca, vou cair e não vou conseguir me levantar... Dean vai me alcançar de qualquer jeito.

— Cassie... — Dean apareceu na janela, e com certeza me viu.

Fechei meus olhos, bem forte, e as lágrimas vieram muito rápido.

— Saia daqui! — Gritei, ainda agachada, o coração disparado.

— O que está fazendo aí? Por favor, volte para cá, venha! — Dean parecia querer convencer uma garota a não se suicidar. — Cassie, não se atreva... — Dean abriu a janela, se preparando para subir no teto e vir até mim.

Me sentei na beirada, e encontrando coragem, enquanto me sentia tonta e um frio na barriga inexplicável, me joguei dali, pronta para sentir o impacto.

Caí durante alguns segundos, de olhos fechados. Porém, antes de ter um impacto com o chão, senti mãos fortes me agarrando com um só movimento. Envolveu minha cintura.

Em um piscar de olhos, eu estava sendo carregada, como um bebê, com o rosto escondido no peito de quem me salvou. Eu estava ofegante, sentindo que de certa forma fui para o céu. Abri um olho e depois o outro. Estava voando.

Lentamente olhei para cima, para ver quem me carregava.

Franklin.

— Você está bem? — Perguntou, enquanto batia as asas e me levava para bem longe da casa do Dean.

Franzi minha testa, encarando o loiro oxigenado, e tentando entender o que ele fazia ali, e por quê me salvou.

Engoli a seco, respirei profundamente e o abracei firme, fechando os olhos outra vez e envolvendo minhas mãos entre ele, com medo, alívio e uma mistura de sensações. Quando estivermos em terra firme, só então vou conseguir me recompor.


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