Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 30
O Último truque na manga




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Nunca estive tão incerta sobre o David. Na verdade, sobre todos os cupidos, sobre todas as histórias que eles me contaram. De repente, os rapazes responsáveis por tantas histórias de amor, agora não passam de um bando de mentirosos. Quem são eles, afinal? 

David estava mentindo para mim o tempo todo? Dean é mesmo o meu escolhido? Será que Bruce ama a Stacy de verdade? Os cupidos se importam comigo ou somente com eles mesmos?

Depois do que o Franklin me falou, me senti perdida. Estou longe de tudo que um dia foi meu, e talvez convivendo com mentirosos. 

Eu precisava perguntar ao David e saber qual seria o seu lado da história. Confiei a minha vida a ele, o mínimo que deve me fazer é contar a verdade. 

Um dia depois, após ignorá-lo completamente, eu o encontrei em seu quarto. 

— Podemos conversar? — Pergunto.

— Já faz um tempo que não fazemos isso.

Ele tem razão. Aquele beijo foi a coisa mais intensa que aconteceu entre nós dois, e estamos o tempo todo fingindo que isso não aconteceu. 

— Não te falei sobre o jantar com a Hayley. — Me apoiei em sua porta, enquanto ele estava distraído mexendo em suas coisas no criado-mudo, mas ainda assim, atento ao que eu falava. — Quando entrei lá...  Ela estava acompanhada de mais alguém. Eu quase não acreditei quando vi que era o Dean.

David parou por um segundo e me olhou. Foi perfeitamente visível o choque que David levou quando mencionei o Dean.

— O que ele fazia lá? — Perguntou, incrédulo.

— Ele e a Hayley supostamente viraram colegas. Ela me disse que não poderia me hospedar em sua casa... Foi aí que o Dean entrou. Ele ofereceu a casa dele para me hospedar. — Cruzei os braços.

David franziu as sobrancelhas, demonstrando sua irritação com a ideia. 

— Ele fez isso? 

— E tem mais, David. Dean não parecia saber de quase nada do que estava acontecendo. Quando eu falei sobre aquela entrega assustadora, ele parecia não saber do que eu estava falando. Isso me deixou confusa... Então, quando fiquei sozinha com o Franklin, ele me disse uma coisa.

Agora meu cupido estava totalmente focado em mim. Uma mistura de reações. Indignação, fúria e curiosidade.

— Eu preciso que você seja sincero.

— Cassie? — Ele se levantou e lentamente veio para perto de mim. Me afastei um pouco, já sentindo os olhos queimarem.

— Ele me disse que Dean Trent é o meu escolhido. — Falei aquilo com tamanha dor, já com a vista ofuscada por conta das lágrimas. — É verdade? Você tem escondido isso de mim? Franklin me falou que você é um maluco... — Tentei me recompor, mas foi em vão. Olhando assim para ele, David não aparentava ser um mentiroso. Na verdade é o rapaz mais incrível que já conheci. — Disse que você sabe como iludir "garçonetes inexperientes".

Agora David estava totalmente indignado. Ficou de frente comigo e me olhou profundamente, segurando meu rosto.

— Acha que isso é verdade?

— Me responda você!

— Não acredita em mim? — David estava decepcionado.

— Não sei quem está falando a verdade... — Olhei para os lados. — Nunca me senti tão sozinha. Não sei no quê acreditar... Às vezes parece que na verdade eu enlouqueci, e que a verdadeira Cassandra está presa em um manicômio e essa realidade é apenas coisa da minha cabeça. Cupidos... Asas...

— Olhe para mim. — Falou com convicção. — Não vou te forçar a acreditar em nada, Cassie. Eu te falei que tudo o que me importa é a sua segurança. Acha mesmo que Dean Trent é seu escolhido? — David acabou rindo nessa parte. — Não tenho uma boa impressão sobre ele. É apenas isso. Se ele realmente fosse o seu escolhido, apesar de odiar o cara, eu não iria me opor. É da sua felicidade que estamos falando. Não a minha.

Aquilo foi tão sincero. Era como torcer para vários times diferentes. Eu não sabia em qual lado ficar. Queria ter um detector de mentiras.

— Me dê um tempo. Preciso pensar sobre tudo isso. 

— Tudo o que precisar. — David se afastou de mim. Agora eu podia sentir que ele estava fora de si. — Preciso resolver algumas coisas. — E saiu do quarto.

➴ ➵ ➶

David

— Vai, passa tudo, passa tudo. — Franklin estendeu os braços sobre a mesa do jogo e pegou todo o seu prêmio por ter ganho no baralho.

— Você joga sujo, loira varrida. — Alguém reclamou do Franklin. Não consegui me focar no jogo. Estive encarando o Franklin o tempo todo. Ele me deve explicações sobre o que disse para a Cassie.

A música do bar estava alta. Todos os caras estavam mais agitados do que o normal, e a notícia que dois cupidos superiores morreram ainda está vagando por aqui. 

— Eu e você, David. — Bruce me convidou para jogar. 

— Não. — Falei e todos da roda me olharam, inclusive Franklin, que me olhou com desdém e uma sobrancelha levantada. O encarei também. — Franklin. — Chamei, me levantando. — Vamos lá fora.

— O quê? — Franklin riu. — Estou no meio de um jogo, se não percebeu.

— Agora. — Fiz um sinal com a cabeça, apontando para a saída do fundo do bar.

Colin, Bruce e Louis me olharam, estranhando.

Caminhei até a porta que dava para os fundos, esperando que Franklin me seguisse. Quando cheguei lá, fiquei próximo à lixeira dos fundos. Os quatro vieram logo em seguida.

— O quê aconteceu? — Bruce chegou primeiro.

Franklin apareceu por último, ainda permanecia com o desdém estampado no rosto.

— Quero perguntar o que você pretende dizendo todas aquelas coisas para a Cassie.

— O quê? Sobre você ser um maluco apaixonado por ela? Quem é que não sabe disso? — Franklin riu, passou por mim, logo em seguida ficou de frente.

— Será que eu tenho que lembrar a vocês que estamos no beco do bar? — Bruce interferiu.

— E sobre o Dean ser o escolhido da Cassandra? De onde tirou isso? — Eu ri, me aproximando dele.

— Então ela foi correndo contar para você, né? — Franklin riu outra vez. Bruce, Colin e Louis ainda observavam, tentando entender a situação. — Quer mesmo que eu conte? — Agora Franklin parecia ter controle da situação. Caminhava lentamente de um lado para o outro, com ar de superioridade.

— Vamos resolver isso em casa. — Colin tocou meu ombro, eu desviei.

— Há um tempo atrás, eu descobri que alguns superiores já sabem que a garçonete está viva. É questão de pouco tempo até que eles encontrem ela. Ela vai morrer, amigo. — Fez uma falsa expressão de pena.

— Está mentindo. — Falei, mesmo não tendo certeza. Franklin já sabe qual é o meu ponto fraco, e está usando exatamente isso nesse momento.

— Acha que estou mentindo? E se eu te disser que eles também sabem sobre o lindo beijo romântico que vocês dois deram no quarto?

Bruce se aproximou para me segurar, tocou no meu ombro e perguntou:

— Isso é verdade?

— Foi você quem contou! — Apontei um dedo para o Franklin, e aumentei o tom de voz.

— Sabe que não fui eu. Os superiores são espertos. Eles sabem de tudo, David. Não dê esses créditos para mim. Você sempre soube que levar a sua escolhida para a nossa casa foi um erro, e é o seu dever concertá-lo.

— Dá para os dois se acalmarem? Vamos atrair a atenção dos outros caras. — Disse Colin.

— Sabe por que eu disse isso para a garçonete? Porque um dos únicos jeitos de ela sobreviver é acreditar que aquele cara é o escolhido dela.

— Dean é um louco. Você viu o que ele fez com ela, porra! — Falei.

— Se você disser para ela que aquele Dean é o escolhido, não vamos precisar continuar mantendo a garota em nossa casa. Vamos estar livres, e ela também! 

— Espera aí... — Me afastei do Bruce. — Quer que eu minta para a Cassandra que Dean é o escolhido dela?

— Exato. — Disse Franklin. — E daí? O mundo está cheio disso, e somos a prova viva. Quantos casais que estão juntos e não se amam? Existem muitos casais de mentira por aí. Pessoas que... — Franklin engoliu a seco. — Pessoas que vão ser magoadas no final de tudo. — Os olhos dele ganharam escuridão. Franklin pareceu se lembrar de algo. — É por isso que o nosso sistema funciona! Tem um monte de cupido chegando a cada dia! Deveriam nos chamar de otários, não de cupidos. Somos frutos de relacionamentos de mentira. Morremos porque éramos trouxas iludidos.

— Isso não é verdade. — Louis se opôs pela primeira vez. — Nem todos nós vivíamos à base de mentiras.

— Falou o cara que morreu queimado porque quis dar uma de super herói. E aí? Quem garante que a sua querida namorada não tinha um amante?

— Você se superou, Franklin. — Falei. — Deixe os outros fora disso.

— É sua única saída, David. Já que sua incompetência não permitiu que você encontrasse o verdadeiro escolhido da garçonete, minta para ela. Faça ela acreditar que Dean é o escolhido dela. Ouvi dizer que ele já foi um soldado... Ele vai cuidar bem dela.

Toda minha fúria se transformou em impotência. Aquele era o golpe certeiro do Franklin. 

— Não posso fazer isso com ela. 

— Não? — Ele levantou as sobrancelhas. — E prefere vê-la morta? À essa altura, aquele cara é o mais próximo que ela tem de um escolhido. A escolha é sua... Irmão. — Franklin foi passando por mim, esbarrando. Com uma só mão eu o segurei.

— Espere. 

Os olhos do Franklin ficaram completamente escuros. Exatamente como ficamos quando estamos alterados. Em resposta, ele segurou minha mão, e usando sua força sobre-humana, apertou meu pulso. A dor foi indescritível.

— Franklin, solte. — Murmurei, ele não obedeceu. 

Aquele era o momento de usarmos a força para resolver aquela situação. E com certeza Franklin sabia que aquela não era uma boa ideia. 

Meus olhos refletiram chamas, e com um empurrão Franklin foi impulsionado para trás rapidamente, batendo com o corpo em alguns barris e logo depois de costas com a parede, e em seguida caindo.

 

Me aproximei dele para continuar, mas Bruce interveio, se colocando em minha frente.

— Não diga mais nada à Cassandra! — Tentei ir até ele, que estava no chão.

— David, vamos ser expulsos. — Bruce tentou soar o mais calmo que podia, enquanto os outros ajudavam o Franklin.

➴ ➵ ➶

Tive uma conversa com o Bruce. Ele me contou seus sentimentos mais profundos sobre a Stacy. "Nós cometemos o mesmo erro, irmão. É o nosso dever concertá-lo, e em parte, Franklin tem toda a razão".

Nunca pensei que chegaria a esse ponto. Estive pensando na Cassie todos os dias, desde que a conheci. Ela passou a ser muito mais do que a garçonete inexperiente. Ela agora é uma parte de mim. E por um erro meu, ela está prestes a conhecer o pior lado da nossa realidade. Tenho que me afastar dela, assim como Bruce fará com a Stacy.

— Você conhece o Franklin. — Bruce disse. — Esse é o jeito dele de dizer que se importa com a Cassie, e principalmente, com a nossa irmandade. Ele só quer que as coisas voltem a ser como antes. E por incrível que pareça, entregar a Cassandra a alguém, nesse momento, é o melhor para todos nós. Inclusive para ela.

— Mas para o Dean? O cara entregou os pertences de quem ela mais ama, para assustá-la e chantageá-la. O que você pensa disso? Como ele conseguiu aquelas coisas?

— Já parou para pensar que talvez não tenha sido ele, David? 

— Não sei no que pensar. Eu só quero vê-la bem.

— Essa é a nossa última chance de sobreviver, David. A última carta que temos na manga. Ou isso, ou todos morremos, em principal, a Cassie. 

— Então você apoia a ideia de entregá-la para um completo estranho?

— Ou isso, ou a morte. Eu fico com a primeira opção. — Bruce se preparou para sair dali.

— E se fosse a Stacy? Faria isso com ela?

Bruce me encarou e hesitou em responder. Mas logo depois assentiu.

— Por sorte eles não sabem que eu e Stacy tivemos alguma coisa. Senão... Ela se encontraria na mesma situação da Cassie. E eu faria o impossível para mantê-la viva. Mesmo que as consequências fossem doer muito mais em mim do que nela...

Aquela era a decisão mais difícil que um cupido poderia tomar. Entregar a sua escolhida para a pessoa errada. Somente para protegê-la. Minha missão agora era entregá-la ao Dean Trent e desaparecer de sua vida para sempre.


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