Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 27
Os superiores


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥
Hoje venho agradecer a Hiih pela recomendação que fez para a história. Mal sei o que dizer, fiquei maravilhada. Muito obrigada, Hiih.

Boa leitura, amores.



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Depois dos acontecimentos da última noite, as coisas ficaram diferentes entre mim e o David, e eu já sabia o motivo disso e temia que fosse acontecer. Depois do que o Bruce disse, sobre quase todos os cupidos que ele conhece estarem sabendo sobre o relacionamento que ele estava mantendo com a Stacy, o risco de me descobrirem ficou ainda maior. Então precisávamos de um tempo distantes, para pensar.

Mas também, a nossa conversa na sala significou muito. Eu pedi mais uma vez para ele se afastar, e é o que ele está fazendo. É incrível a forma como ele se preocupa com a minha segurança.

Porém, estar afastada do meu cupido, me deixa imersa em um completo vazio. Nos cruzamos pela casa de vez em quando. E não dizemos nada um ao outro. 

Querendo ou não, esta é a melhor opção. Precisamos nos manter assim.

Nos últimos dias a procura pelo meu escolhido foi mais rigorosa. David se focou nisso. Nos candidatos mais compatíveis comigo. Mas todos os encontros foram cobertos de palavras fúteis, sem valor algum. Aquilo era um assassinato ao romantismo, eu não sentia nada ao olhar para os meus pretendentes. Apenas o nervoso de estar conversando com um completo desconhecido. 

Meu último pretendente foi Freddie-alguma-coisa. Eu tive uma longa noite de encontro com ele. E quando digo longa, é porque foi realmente muito longa. Ele parecia ter os mesmos gostos que os meus, mas ao mesmo tempo, ele era o contrário de ser a pessoa que eu queria. 

Saí do restaurante sem esperança alguma, me perguntando quantas vezes teria que fazer isso até encontrar a pessoa certa.

David estava sumido o tempo todo. Tive certeza que agora ele estava aproveitando mais a sua invisibilidade durante os meus encontros. Quando saí do restaurante, em meio ao frio da noite, David apareceu ao meu lado.

— Então? — Perguntou.

— Acho que você sabe. Ele definitivamente não é o meu escolhido.

— Tem certeza? — David franziu a testa e me lançou um olhar divertido. Do tipo que cerrava os olhos e sorria.

— Não haja como se não soubesse. — Ri. Caminhávamos juntos pela rua. Nossos braços se encostavam de vez em quando.

Raramente fazíamos isso, e hoje, depois de vários dias sem nos falarmos, decidimos arriscar. Andar pelas ruas movimentadas e iluminadas juntos, mesmo sabendo que o risco é alto. 

— Acha que vou encontrar meu escolhido antes que algum cupido superior me encontre? — Pergunto. Aquela pergunta martelava minha cabeça há tempos.

David estava com as mãos no bolso, pensando, acompanhando os próprios pés com um olhar.

— Há um tempo atrás eu pensava que sim. As coisas não estão andando como eu planejava...

— E o que você planejava?

Dessa vez ele me olhou. Eu ainda estava tentando me acostumar com seu olhar...

— Eu sentia que seu escolhido estava perto. O tempo todo. Tive quase certeza de que o encontraria. Admito que cheguei a pensar que fosse o Dean. Mas ele não apareceu, e nenhum dos caras foram compatíveis. 

— Está tudo bem...

Ele me lançou um olhar, que significava "não, não estão tudo bem".

Entramos em seu carro em seguida. Eu admirava a forma como os cupidos sabiam compartilhar suas coisas. O carro passava pela mão de cada um deles, todos os dias eles revezavam. Mas tenho certeza que eles preferem usar as asas...

Quando entramos, David ligou o carro, mas ficou imóvel, com uma mão no volante, olhando para frente, respirando lentamente, ainda com o carro parado na garagem escura da rua.

Eu o olhei confusa, após colocar o cinto.

Ele engoliu a seco.

— Acha que um dia vamos nos encontrar? — Perguntou, me surpreendendo.

— Como assim?

— Quando estivermos livres disto aqui. Dessas pessoas, dessas regras. Quando... Eu for um humano outra vez. — Me olhou. Seus olhos carregavam um turbilhão de sentimentos. Eles me penetravam feito uma faca afiada, era incrível a forma como o olhar de cada cupido transmitia algo diferente.

Parei para pensar, e mesmo sabendo que se um dia nos encontrássemos outra vez e ele estivesse como um humano, não nos reconheceríamos, e provavelmente eu estaria namorando meu escolhido, respondi:

— Eu espero que sim.

Uma curva surgiu no cantinho de seus lábios.

— Finalmente poderei andar nas ruas sem medo de uma criatura com asas surgir e me levar para longe. — Mexi as sobrancelhas, olhando para ele, que revirou os olhos e murmurou um "nem me fale...".

Ambos sorríamos, enquanto ele acelerava. 

➴ ➵ ➶

Quando chegamos de frente com a casa dos cupidos, me surpreendi. Uma pequena figura magra, pequena e coberta por uma grande blusa de capuz, e usando uma meia calça furada, estava sentada nos pequenos degraus que ficavam de frente com a porta dos cupidos.

Franzi minha testa, abri a porta do carro e desci, caminhando com passos rápidos até ela. Stacy.

Assim que me viu, se levantou do pequeno degrau, cruzou os braços e caminhou até mim. Senti pena dela. O vento frio era tremendo, e ela estava ali, sozinha.

— Stacy? — Pergunto, enquanto David saía do carro. Não pude deixar de perceber que ela o ficou encarando. Provavelmente intrigada ao me ver saindo de carro sozinha com o David. 

Ela não faz ideia do real motivo de estarmos saindo juntos... Se eu dissesse que era para encontrar minha futura alma gêmea, ela não acreditaria.

— Não tem ninguém na casa? — Ela me perguntou. A voz tão fria quanto o vento daquela noite. Não pude deixar de notar que seu rosto não estava tão radiante quanto nos últimos dias que nos vimos. Não parecia a Stacy espontânea e cheia de graça da festa. Parecia completamente outra pessoa... Como se tivesse se transformado.

— Tem, sim. Acho que o Colin ou o Bruce estão aí. — Respondo, enquanto David se juntava a nós. Ela o ficou encarando novamente. Ele apenas acenou com a cabeça para ela.

— Estou chamando já faz horas... Bato na porta e ninguém atende. — Continuou fria e de braços cruzados. O cheiro de cigarro era intenso. Eu nunca tinha visto Stacy daquele jeito. 

Eu e David trocamos alguns olhares.

— Bruce deve estar aí. Provavelmente dormindo. É um idiota. — David respondeu. — Eu vou chamá-lo.

Stacy assentiu, enquanto David abria a porta com sua chave e entrava.

— Ele deve estar aí. Venha. — Guiei Stacy até dentro da casa.

Com certeza Bruce estava evitando a Stacy depois do ocorrido dos últimos dias. Mas não achei correto deixá-la no frio, no meio da noite, esperando por ele.

Assim que entramos na casa, demos de cara com o Colin no sofá, devorando uma tigela do que parecia ser mingau de aveia misturado com uma porção de outras coisas.

— Por que não abriu a porta para a Stacy? — Perguntei, tirando meu casaco. Stacy continuava de braços cruzados e com o capuz na cabeça, atrás de mim.

Colin não sabia qual expressão fazer. Quase ri dele.

— Foi mal. O som da TV estava muito alto. 

— Claro. — Falei e Stacy revirou os olhos.

David apareceu na escada logo em seguida. Notei que ele também havia tirado o casaco.

— Ele está no quarto. Pediu para você ir até lá.

Com passos longos Stacy subiu a escada, passando pelo David, como um pequeno furacão furioso.

Me distraí conversando com o Colin, mas não demorou muito para que os gritos começassem. E eram todos da Stacy. Gritos acompanhados de choro.

Colin me olhou, e eu o olhei. 

Pouco tempo depois Stacy desceu a escada como se quisesse derrubar a casa. Ela limpava os olhos agressivamente, e Bruce logo apareceu atrás dela. Antes que Stacy chegasse até a porta Bruce tocou em seu ombro, o que a fez puxá-lo rapidamente.

— Não toque em mim! — Gritou, e Colin deu um pequeno impulso para trás. Espantado com a agressividade dela.

— Stacy... — Bruce tentou dizer.

— Então era isso? Você só queria foder com a minha vida, assim como os outros? — Os olhos dela inundaram novamente. Eu não sabia o que fazer naquele momento. David apareceu logo em seguida. Ficou próximo do Bruce.

— Stacy, é melhor você sentar...

— Eu contei para você o que eles fizeram comigo! Todos eles! Você sabia como eu estava me sentindo. Mas o fato de eu ter passado por tudo aquilo, não quer dizer que podia fazer o mesmo comigo. — Ela abaixou o tom de voz. — Eu ainda tenho sentimentos, Bruce.

— Você está entendendo errado, é para o seu bem! — Bruce se alterou.

— Meu bem? — Riu. — Vai se foder! — Ela ameaçou abrir a porta outra vez, mas não o fez.

Fungou e me olhou.

— Você sabia o tempo todo, Cassie. Que ele faria isso comigo. — Apontou para mim, e me senti horrível.

— A Cassandra não tem nada a...

— Vocês são todos cúmplices. — Ela olhou para cada um de nós. — Eu queria nunca ter conhecido vocês. — Stacy abriu a porta e saiu.

Bruce correu atrás dela.

Respirei fundo, tentando captar tudo aquilo. Provavelmente Bruce disse a ela que precisavam se afastar, e aquilo soou como se ele a estivesse abandonando depois de ter conseguido o que queria.

— Ela vai ficar bem. — David tentou me confortar, observando o estado em que fiquei.

— Ela não vai! Isso tudo está muito errado! Bruce sabia desde o inicio que não deveria se aproximar dela! 

Inesperadamente a porta se abriu e Bruce voltou, soltando o ar pela boca, bruscamente.

— Para onde ela foi? — David perguntou.

— Não sei, ela correu. Não posso sair por aí correndo atrás da minha escolhida! 

— Eu vou ver como ela está. — David abriu a porta apressadamente e saiu.

Bruce se jogou ao lado do Colin no sofá e passou a mão sobre o cabelo comprido, como sempre costuma fazer quando está nervoso.

— Achei que conseguiria controlar tudo isso. Mantive meu relacionamento com ela em segredo. Contei somente para as pessoas que eu confiava. — Ele dizia, focado e olhando para frente.

— Talvez algum cupido da festa viu vocês dois juntos. — Tentei justificar.

— Não... Eles nunca saberiam que Stacy era minha escolhida. Alguma outra pessoa contou. E juro que se eu descobrir quem foi o otário... — Cerrou os punhos. Colin até se afastou um pouco.

— Talvez foi o Marcos. Ele é fofoqueiro. — Colin supôs.

Bruce negou.

— Ela deve pensar que eu sou um canalha...

Eu não sabia o que pensar naquele momento.

— Stacy estava passando pela época mais difícil da vida dela. Pensei que eu poderia ajudar. Mas estraguei tudo. Nos últimos meses ela estava se recuperando do último término. 

— Você não deveria ter feito isso, Bruce. Sabia que estava colocando em risco a vida dela quando decidiu se aproximar. Você se deitou com ela naquela noite! Você violou a regra principal e sabe que ela pode morrer por isso! — Minha paciência esgotou. Estávamos todos fazendo tudo errado!

— Eu precisava, Cassie. Ninguém mais se importava com ela. 

Não me aguentei. Discutir com o Bruce não era algo que eu deveria fazer naquele momento. Me virei, subi a escada e corri para o quarto do David.

➴ ➵ ➶

Stacy não retornou no dia seguinte. David disse que a encontrou naquela noite, mas ela ameaçou arrancar a parte mais preciosa do corpo dele caso ele se atrevesse a dar um passo à frente.

Tudo estava ocorrendo inesperadamente. Os outros cupidos estavam cada vez mais focados com suas escolhidas, com medo de serem cobrados pelos cupidos superiores. 

David foi acompanhar Louis outra vez com sua escolhida, para esclarecer outras dúvidas que ele tinha. Um ajudava o outro, sempre que preciso.

Fiquei sozinha na casa, com todas as portas e janelas trancadas. Mas quando a porta se abriu e vi Franklin entrando, me senti muito melhor.

Porém me assustei quando notei que seu nariz sangrava e havia um corte no lado esquerdo do seu rosto.

— Você está legal? — Me levantei do sofá assim que o vi sangrando.

— Estou bem. — Ele estendeu uma mão, pedindo para que eu não me aproximasse.

— Mas está sangrando! — Franzi minha testa.

— Foi só uma briga, garçonete! Nunca viu sangue?

— Como aconteceu?

Para repousar, Franklin se assentou no sofá de frente com o meu.

— Adivinha? Minha escolhida. Ela estava em uma praça pública, um cara flertou com ela. Ela até que estava gostando no inicio, até passou o número para ele. Mas ele faltou com respeito, e como eu estava perto... — Ele apontou para o machucado no rosto. — Você já sabe.

— Defendeu a sua escolhida? — Fiz a minha melhor expressão de admiração e quase bati palmas. — Franklin! Isso é muito legal da sua parte! Você acabou com o cara? Por quê está machucado se você é um cupido? Poderia ter usado toda sua força!

Ele suspirou de tédio com as minhas perguntas.

— Duas coisas. Primeira, estávamos na frente de milhares de pessoas, eu não podia simplesmente matá-lo ali, então tive que lutar da maneira que podia. Segunda, não doeu. 

— Tá, mas eu vou pegar gelo. — Corri para a cozinha. Ouvi ele gritando "não". Quando voltei, fiz questão de passar gelo no local. — Eu odeio ver sangue. — Murmurei baixinho, tocando na ferida com cuidado.

Era engraçado ver Franklin permitir que eu tocasse nele, mesmo ele não querendo. Ele franzia a testa e permanecia com cara feia o tempo inteiro. 

— Já está bom, garçonete.

— Só mais um pouco. — Insisti.

Quando terminei, me senti melhor.

— É... Sua escolhida é uma garota de sorte. — Provoquei outra vez, cruzando meus braços e ignorando a bolsa de gelo e sangue que eu segurava.

Franklin levantou uma sobrancelha para mim.

— O cara era um idiota...

— Admita, você tem carinho por sua escolhida, não tem?

—  Aquela garota ultrapassa os limites da burrice. Não gosto dela, nem de longe. — Ele tocou no corte e depois olhou seu dedo. O sangue já havia parado de escorrer.

— Nem um pouquinho?

— Não. Agora saia daqui, garçonete, antes que eu faça isso.

— Tudo bem. Mas saiba que hoje você é o meu herói, Franklin. — Apontei meu dedo indicador para ele. — Hoje o jantar é por minha conta. Eu vou fazer algo bem gostoso para a gente. — E fui andando de costas, ainda olhando e apontando um dedo para ele.

Quando me virei e fui andando, olhei para trás, e flagrei um sorrisinho em seus lábios, enquanto balançava a cabeça negativamente olhando para baixo.

Devo admitir que gosto dele. Muito mais do que deveria.

➴ ➵ ➶

Durante a janta, enquanto eu mexia a colher de frente com o fogão, contei a todos os cupidos sobre o ato heroico do loiro oxigenado. Todos bateram palminhas, assoviaram e bagunçaram o cabelo do Franklin.

Bruce era o menos empolgado daquela mesa. O restante zoava o Franklin com o maior orgulho. Por outro lado Bruce mal havia tocado nas guloseimas.

Me juntei a eles pouco tempo depois. David tirava sarro do Franklin, enquanto os outros faziam o mesmo. Porém Franklin não parecia incomodado. Parecia estar gostando da situação. Eu gostava de vê-los assim.

Como irmãos.

Tudo estava indo bem. Até baterem bruscamente na porta, sem paciência alguma. Eram vozes masculinas e gritavam.

Olhei para o David e depois para o Bruce, sem saber o que fazer.

— Cassandra, rápido, debaixo da mesa. — Bruce se levantou e apontou para mim.

— É melhor ela ir para o quarto. — Colin sussurrou.

— Não dá tempo. — Bruce retrucou. — E lá é arriscado demais. 

Naquele momento, a mesa era a minha única opção. Rapidamente me abaixei, e fiquei debaixo da mesa, encolhida.

David foi atender a porta. 

Torci para que não fosse nada. Apenas algum amigo. Qualquer coisa, menos cupidos superiores.

Colin prosseguiu sentado em seu lugar, disfarçando, assim como o Franklin e o Bruce. Ouvi diversos passos se aproximando muito rápido. Eu só podia ver os pés deles.

— Os superiores. — David anunciou, pigarreando em seguida. 

Eu podia ver os pés dos superiores. Eram grandes. Eles calçavam botas pretas. 

— E aí? — Bruce se levantou empolgado, e cumprimentou eles. Haviam dois.

Todos trocaram cumprimentos. Eles ficaram bem próximos. 

— Estamos vasculhando a casa de todos os cupidos. Não sei se sabem mas há boatos de que um um cupido do Broklyn estava mantendo um relacionamento com a sua escolhida. E que uma garota humana descobriu mais do que deveria... — O superior falava. Sua voz era aterrorizante e carregada de sarcasmo, eu já até podia imaginar como ele era... Forte, alto e medonho — E consequentemente, ela está viva... 

— Que loucura! — Louis disse. — Não podemos nem jantar em paz?

— A hora da janta é sagrada, caras. Por quê não voltam em uma outra hora? — Colin prosseguiu.

Eu só conseguia tremer. Quase vomitei o pouco que comi.

— Vamos apenas olhar... Não vai demorar nada. — Provavelmente o superior tocou no Colin, porque ele murmurou um "sai!".

E naquele momento a busca por mim começou. Eu não podia fazer nada em minha defesa. Apenas tremer e provavelmente vomitar.


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Notas finais do capítulo

Dedico esse meme a vocês (principalmente à Tina) porque ele é muito vcs:

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bjs ♥