Foram muitos dias tentando ser um bom amigo, Natan se esforçou de verdade para apoiar Loreley sem segundas intenções, mas já não era possível dizer a ela que esperava que as coisas entre ela e Tiago ficassem bem, e que eles fossem felizes para sempre; não era mais possível mentir tanto.

Foi numa semana que Tiago estava na Bulgária para jogar contra o time búlgaro pelo campeonato mundial de quadribol, e Loreley o chamou para ir ao apartamento. Estudaram a tarde inteira; Loreley surpreendia a si mesma quando se pegava concentrada e interessada de verdade no estudo de Física. Depois começaram a conversar e como sempre acontecia acabaram falando da vida pessoal, dos relacionamentos.

— Ele está fingindo que está tudo bem, mas, eu não sei, por mais que pareça tudo bem, eu às vezes sinto como se tivesse um hipogrifo entre nós. Bom, esquece, eu não quero falar de mim hoje. Por que você não me conta sobre você?

— Sobre mim? O que?

— Por exemplo, por que não deu certo o seu lance com Lindsay? Ela parecia interessada de verdade.

— A Lindsay é uma pessoa legal, mas, você não pode ficar com alguém pensando em outra pessoa, certo? Então não tinha como dar certo.

— Você gosta de outra pessoa? Legal, e, por que você não vai em frente, conquista essa garota.

— Não, por favor, Loreley, não aja como se não soubesse de quem eu tô falando.

— Eu não sei, Natan.

— Claro que sabe! Você sabe que eu gosto de você...

— Não fala assim...

— Sabe que eu sou o amigo que fica esperando, torcendo que você perceba que o Tiago não é nenhum tipo de deus e sobre alguma migalha do seu amor para mim.

— Natan, você é meu amigo, não fica falando essas coisas. Por favor.

— Desculpa, Loreley, eu só... me sinto falso falando para você que torço para vocês ficarem bem, etc. etc, porque é mentira. Eu me apaixonei por você, é uma grande burrice minha, afinal, entre o eu e o Tiago, está claro quem é o melhor bruxo, não é?

— Natan, você é meu amigo e eu gosto de você; mas, eu amo o Tiago e apenas ele, isso não tem nada a ver com ser bruxo ou ser trouxa, realmente não tem. Você é um cara especial que merece alguém especial também, e eu tenho certeza que essa pessoa vai aparecer — Loreley pegou a mão de Natan, num gesto de pura amizade, estava sendo sincera com ele, gostava dele realmente, mas como amigo, e não queria vê-lo magoado. Natan aproveitou aquele momento de ternura, talvez se arrependesse depois, mas se arrependeria de qualquer jeito afinal. Chegou mais perto, e tocou os lábios de Loreley; mal teve tempo de sentir, ela se afastou rapidamente. — Não, por favor, você não pode fazer isso.

— Loreley.

— Natan, se você quiser continuar sendo meu amigo, tudo bem, eu posso esquecer isso, eu tenho muito talento para ignorar coisas que me incomodam, ok? Mas, caso contrário, não é possível, eu amo o Tiago e apenas o Tiago, nada pode mudar isso, ok? Eu acho melhor você ir, agora — completamente envergonhado, Natan se levantou para ir embora; talvez devesse se desculpar imediatamente, mas não tinha mesmo coragem de encarar os olhos de Loreley, e honestamente não se sentia propriamente arrependido, mas pensou consigo mesmo que poderia ter plantando naquela noite alguma esperança, afinal.

Tiago percebeu imediatamente que alguma coisa estava errada com Loreley assim que entrou em casa e ela não começou a reclamar de passar tanto tempo sozinha, não se jogou nos seus braços e começou a desabotoar sua camisa como costumava fazer.

— Ei, tudo bem?

— Tudo ok.

— Você está tão quieta...

— Tô um pouco cansada, estudei muito hoje.

— Sei... então, não estude mais tanto. Vou tomar banho.

— Se você quiser comer...

— Não, já comi, obrigado — Tiago se aproximou da cama e deu um beijo nos cabelos de Loreley, depois foi para o banheiro; tomou banho e vestiu o pijama e se deitou. —Sabe, eu também estou muito cansado, o treino hoje foi bem pesado.

— Você diz isso todo dia! — Loreley se virou para ficar de frente para Tiago e lhe deu um beijo.

— É verdade, mas, é a reta final do campeonato... e... eu vou ser campeão mundial, você tem noção do que isso significa?

— Humhum!

— Bom, é muito importante.

— Eu fico feliz por você.

— Loreley, o que está acontecendo? Você não está normal...

— Não está acontecendo nada, nada mesmo.

— eu acredito em você — Tiago abraçou Loreley e eles ficaram um instante em silêncio. — Se tivesse acontecendo alguma coisa entre você e o Natan você me contaria não é?

— Por que você está perguntando isso agora?

— Você me contaria ou não?

— Claro, claro que contaria, mas não está acontecendo nada.

— Ok, eu acredito em você, Loreley, eu confio em você.

— O Natan me beijou.

— Você disse que não estava acontecendo nada!

— R não está, pelo menos não da minha parte...

— E ele te beijou?

— Ele está confuso, sei lá, acho que não foi de propósito, enfim...

— Ele dá em cima de você desde a primeira vez que te viu, eu tenho tentado ver isso como amizade, mas é claro que não é assim que o Natan pensa, mas te beijar, foi demais, ele não deveria ter feito isso, não mesmo.

— Tiago, por favor — Loreley se levantou e olhou Tiago nos olhos, de repente assustada com a raiva contida nas palavras do rapaz. — Não importa, não significou nada para mim, então, esquece, ok?

— Se não significou nada por que você está assim?

— Por que eu gosto do Natan, ele é meu amigo, e, eu não sei como explicar, mas, é complicado saber que você faz alguém sofrer, principalmente alguém de quem você gosta; e eu sei que o Natan está sofrendo, talvez não por gostar de mim, mas por pensar que gosta, e isso acaba prejudicando nossa amizade que é importante para mim.

— Eu não estou preocupado com o Natan nem com os sentimentos dele, Loreley, mas se ele te fizer sofrer, um mínimo que seja, ele não vai querer saber...

— Ei, eu adoro você ter ciúmes, e cuidar de mim, mas, esquece o que aconteceu, ok?

— Ok. Eu nem sei do que você está falando — Tiago deu um sorriso jocoso e beijou Loreley; não tocou mais no assunto. O que não significa que tenha esquecido.

***

Oly abriu a porta de casa e ficou surpreso ao encontrar Tiago Potter parado.

— Hey, Tiago! — cumprimentou com simpatia, mas Tiago não respondeu no mesmo tom, apenas acenou, sério. — Meu pai não está, acho que ele está no...

— Eu não vim falar com o Olívio. Quero falar com o Natan — Oly poderia até prevê o assunto que Tiago Potter queria com o seu irmão, e essa não seria mesmo uma conversar agradável.

— O Natan não está... — tentou dizer, mas na mesma hora, Natan descia as escadas e também parou surpreso quando viu Tiago.

— Tiago? Oi.

— Eu vou ser bem direto. Eu vim aqui para dizer pra você ficar longe da Loreley. Não chega perto dela, entendeu? — Natan sabia que deveria ignorar, não responder, mas não conseguiu se controlar.

— Engraçado, você precisou sentir que poderia perdê-la para lembrar de cuidar dela.

— Eu não vou perder a Loreley, não pra você, nem para ninguém. A Loreley é minha, e somente minha.

— A Loreley não é uma coisa que você possa possuir — Tiago também estava tentando se controlar, mas só de imaginar Natan beijando Loreley, sentia tanta raiva. — A Loreley é uma garota especial, ela merece mais que isso.

— E talvez você pense que pode dar esse ‘mais’ que ela merece!

— Assim que ela perceber que você não é um deus, pode acreditar, eu vou estar pronto pra tratá-la do jeito que ela merece — Oly estava ouvindo e não estava gostando; achava que Natan estava indo longe demais, gostar da namorada de outro era aceitável, provocar o outro daquela maneira já era exagero; e o que ele temia acabou acontecendo.

A raiva era nítida nos olhos de Potter, e ele arrematou contra Natan e deu um soco no garoto; Oly tentou segurar mas foi inútil, Tiago se jogou contra seu irmão e os dois trocaram socos até que Oly percebeu que aquilo poderia ter um final perigoso e bem pior para seu irmão que estava sendo massacrado por Tiago; sacou a varinha e lançou um feitiço estuporante contra Tiago que foi arremessado ao chão. Tiago ficou meio grogue uns instantes, mas se levantou e depois de um olhar irado aos irmãos Wood, foi embora. Oly ajudou Natan a se pôr de pé e sentar no sofá.

— Que coisa, Natan, ainda bem que a mamãe não está em casa.

— Ele é muito maior que eu. E me pegou de surpresa.

— Tudo bem com você?

— Anham, quebrado, mas estou bem.

— Você quer que eu...? — Oly fez menção de tratar os hematomas de Natan com a varinha, mas o irmão sacudiu a mão. — Bom, o que você vai dizer a mamãe?

— eu briguei com uns veteranos na faculdade!

— Natan, Nate, você não vai usar isso para... sei lá, se aproximar mais da Loreley, vai?

— Não. Quer dizer, como eu poderia usar isso a meu favor? Tá, foi só uma ideia... se o papai descobrir que você estuporou o ‘apanhador dele’.

— Ele só vai saber se você ou o Tiago contarem, e eu não acho que seja o caso. Certo?

— É.

— Ok, agora, você precisa fazer alguma coisa, cara, seu rosto tá horrível, eu poderia...

— Tudo bem eu posso cuidar disso, obrigado, Oly.

Quando Tiago voltou pra casa com um machucado no rosto e Loreley perguntou o que tinha acontecido, ele disse que tinha levado um balaço durante do treino; Loreley achou realmente estranho, afinal, Tiago era rápido demais para ser atingido por um balaço durante um treino, mas não viu motivo para duvidar dele.

Mas assim que viu Natan no dia seguinte mudou de ideia; era coincidência demais os dois aparecerem com machucados no mesmo dia.

— O que aconteceu com você? — perguntou ao se aproximar de Natan, que pensou em realmente usar o acontecido para tirar algum proveito, mas não achou isso certo e Loreley não merecia.

— Nada, quer dizer, foi um assalto.

— É, eu ouvi dizer que no bairro que vocês moram o índice de violência é muito alto! —disse ceticamente e Natan desviou os olhos. — Foi o Tiago.

— Como você adivinhou?

— Ele tem acessos de raiva quando fica com ciúmes. Eu sinto muito, Natan.

— Não foi sua culpa, Loreley, mesmo; o Tiago seria um estúpido se não tivesse ciúmes de você; na verdade, a culpa foi minha, eu não deveria ter te beijado, eu não deveria nem ter me apaixonado por você, então, acho que eu fiz por merecer esses tapas.

— O Tiago prometeu que não ia fazer nada...

— Você contou pra ele sobre o beijo? — Loreley apenas acenou com a cabeça. — Será que você ainda quer ser minha amiga?

— Eu quero ser sua amiga, Natan. Mas, eu não quero que você tenha qualquer esperança em relação a... nós, enfim.

— Eu sei, eu entendo, entendi, Loreley, eu me conformo em ser seu amigo.

— Obrigado.