A Long Fall escrita por Kiara


Capítulo 8
VII — Fear


Notas iniciais do capítulo

Olá, amoras, tudo bem com vocês?
É uma surpresa tanto pra vocês quanto pra mim estar atualizando essa história depois de dois anos. Eu pensei que tivesse perdido minha inspiração para escreve-la, mas percebi que não.
Na verdade, acho que achei.
Não tenho como justificar minha ausência, bloqueios, problemas, falta de tempo acontecem. Mas juro, de coração, que eu não irei abandonar a história e que ela será finalizada.
Agradeço a cada uma de vocês que continuou acompanhando, gostando e que comentaram no capítulo passado. Amo vocês ♥

Aproveitem o capítulo, vejo vocês lá embaixo ❤️



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Oito horas da noite, e meu estômago já doía de tanto rir. Eu sabia que trazer Stiles seria cômico, mas não imaginava a aquele ponto; por causa dele, eu tinha caído no meio da pista, quando foi tentar me ajudar a segurar a bola do jeito certo. Também tínhamos feito a bola sair da pista e em algum momento da partida, ele conseguiu fazer o tênis sair do pé. Eu, obviamente, amava esses momentos. 

Lydia, no entanto, parecia um tomate de tão vermelha que estava. Não só de vergonha, mas também de constrangimento a cada investida nada discreta do rapaz sobre ela. Eu sempre suspeitei do que poderia ter entre eles, mas embora fosse nítido o que Stilinski sentia, parecia que Lydia virava o rosto e fingia não ver. Não cabia a mim interferir, também. 

Acabou que no meio de toda a confusão, eu e Scott ficávamos sentados, conversando, e vez ou outra jogando juntos. Tínhamos deixado de contar quem marcava o que fazia um tempo, mas era claro que eu não estava nem perto de ganhar a partida. Eu errava mais do que acertava, e os poucos pinos que derrubei foram graças a McCall, que me ajudou. 

— Lottie, você me ajuda na clínica antes de ir para casa? — Scott, sentado ao meu lado, perguntou. — Como Alan não está na cidade, alguém precisa alimentar os animais e eu não consigo sozinho. 

Foi quase inevitável o tapa que acertei na minha testa. Eu tinha esquecido completamente que deveria ter ido trabalhar na clínica, de manhã, para ajudar a deixar tudo pronto para segunda. Scott havia ficado de me falar qual horário seria, e pela falta de uma mensagem, eu nem lembrei. Uma irresponsabilidade minha, eu sabia. 

— Scott, me desculpa, nossa. Eu juro que não lembrei que a clínica abriria final de semana e fui fazer compras com a Lydia. — comecei a disparar, num desespero quase palpável. Precisava demais daquele emprego. — É claro que eu ajudo, posso ficar a noite lá, para compensar o meio período que eu faltei hoje. 

McCall colocou as mãos em meus ombros, negando com a cabeça. 

— Só abrimos nos finais de semana que Alan está na clínica. Caso contrário, ele só gosta que alimente os animais e deixe tudo trancado. Você não faltou, Char, eu deveria ter avisado. 

O peso nas minhas costas sumiu tão rápido quanto veio. Faltei suspirar aliviada, de tanta felicidade. Mas me limitei a colocar minha mão sobre a sua e apertâ-la gentilmente. 

— Tudo bem, eu vou com você. 

A noite se seguiu calma e relaxante. Ficamos jogando por horas, rindo e conversando. Eu nem me lembrava mais de como era me divertir, não estar preocupada com nada e não querer estar em outro lugar. Eu estava tão bem ali, que parecíamos nos conhecer a muitos anos. Era inexplicável a forma que o assunto rendia entre nós. 

Stiles acabou ganhando o jogo. Os únicos que estavam jogando pra valer eram ele e Lydia, e a ruiva acabou errando as últimas duas jogadas. Eu achava que tinha sido de propósito, pelo sorrisinho que ela deu ao ver a comemoração de Stilinski. 

Quando olhei no meu relógio, eram onze horas. Notei que éramos os únicos ainda no boliche, e que os funcionários começavam a arrumar as coisas para fechar o local. As outras pistas estavam fechadas e algumas luzes já se apagavam. 

— Fecharemos em dez minutos, está bem? — a funcionária veio nos alertar, com um sorriso. 

Todos pegamos nossas coisas da mesa, indo até o caixa. Vesti a jaqueta que tinha trazido, pois sabia que estaria frio lá fora uma hora dessas, e não pude evitar de soltar um bocejo. Eu não era acostumada a dormir tarde, muito menos fazer algo tão energético esses horários. 

Lydia percebeu minha cara de sono, decretando:

— Nem pense que já irá dormir, Char. Ainda tem a festa do pijama, lembra?

Scott me olhou, e somente então eu lembrei. Fiz uma careta no mesmo instante; eu havia esquecido de contar que iria ajudá-lo na clínica. Tinha ficado entretida demais com o jogo. 

Me virei para a ruiva, com um certo ar de culpa. 

— Lydia, eu vou ter que ir com Scott para a clínica, temos que alimentar os animais. Vamos lá agora. — avisei. 

Martin muchou a expressão em segundos. Eu vi os olhos ofuscarem e os ombros caírem. Aquilo sim doeu, e eu me senti horrível por estar tentando furar um combinado que tínhamos feito. Mas, infelizmente, eu também tinha compromisso com a clínica e com o meu emprego. 

De repente, uma ideia me surgiu, e eu a joguei para fora sem nem hesitar: 

— Tudo bem para você se fizermos a festa depois que eu sair da clínica? — quis saber, sorrindo. — Não acho que vamos demorar muito, eu vou direto pra sua casa. 

A ruiva voltou a sorrir. Só pela maneira que enganchou seu braço no meu e meneou a cabeça, eu sabia que ela havia aprovado. 

— Tudo ótimo. Quanto mais tarde, melhor. Eu vou preparando as coisas por lá, enquanto vocês vão.

Eu não havia percebido que McCall e Stilinski continuaram seguindo para o caixa. Só me dei conta de suas ausências, quando os vi voltando de lá, conversando alto o bastante para escutarmos. Traziam o cupom fiscal em mãos, e no momento em que iria questionar quanto precisava pagar, Scott me cortou:

— Está tudo certo, vamos? — indagou, incisivo. O tom de voz deixava claro que o assunto que eu sequer havia começado, já estava acabado. 

Acabei engolindo o orgulho. Eu sabia que os dois haviam feito de coração e que eu poderia muito bem retribuir futuramente. Não seria a única vez que sairíamos. 

Dei um abraço em Stiles. Pelo susto, ele acabou colocando as mãos na frente do corpo, e eu não consegui abracá-lo corretamente. Só depois de alguns segundos é que Stilinski se deu conta do que eu estava fazendo e retribuiu. 

— Obrigada por hoje, você é adorável, Stiles. Me diverti muito. — disse, já um pouco mais afastada. — Parece que eu te devo dez dólares, não é? — brinquei, a respeito da aposta que tínhamos feito. 

Foi nítido o quanto seu peito voltou a ficar estufado com a menção a sua vitória do boliche. Me empurrou de lado com o corpo, se gabando: 

— Dessa vez eu deixo passar, já que foi sua primeira vez. Mas na próxima é melhor você vir com os bolsos cheios, Char. 

Acabei rindo do seu jeito. Sibilei um pode deixar sem som e me virei Lydia. 

— Te vejo daqui a pouco. Me espere. — a abracei também, rapidinho. 

— Eu vou, não demorem. 

Scott foi quem respondeu, já com o capacete estendido na minha direção. 

— Não vamos. 

Dei um último aceno, saindo do boliche e seguindo McCall até o estacionamento. O céu estava maravilhoso do lado de fora, com uma lua cheia e milhares de estrelas ao redor, brilhando feito feixes de luz. Fiquei boba por alguns segundos. Eu simplesmente amava astrologia, mas parecia ser a única boquiaberta ali. Scott exibia mais desgosto do que apreciação diante da cena. O que havia de errado?

— Não gosta de constelações, ou a lua? — a pergunta me escapou. 

Scott, já encima da moto, olhou novamente para o céu. Um olhar que eu não saberia explicar, nem entender tantos sentimentos ruins reunidos. 

— Não vejo beleza nisso. 

Preferi não insistir. Também não cabia a mim julgar algo que não sabia a história completa. Apenas coloquei o capacete, subi na moto e o abracei, exatamente como fazia todas as vezes que andávamos juntos. E assim como todas elas, eu senti seu coração acelerado sobre meus dedos. 

[•••]

A clínica estava impecavelmente arrumada quando chegamos. As portas trancadas, os animais quietos, sem emitir um único latido com o barulho que fizemos. A única coisa diferente por ali, eram as duas caixas encima do balcão, com um aviso escrito com canetão vermelho e letra de forma: MEDICAMENTOS.

Scott foi até elas, enquanto eu terminava de acender o restante das luzes. 

— Alan deve ter trazido agora de noite. Eu vou guardar nas gavetas. — murmurou, tirando a jaqueta de couro do corpo. A deixou de lado, e foi abrir uma das caixetas. — Você pode ir alimentar os cachorros? Assim, quando acabar, iremos embora. 

— Claro. Não demoro. — E já com o corpo virado na direção do canil, eu fui. 

No local, tudo estava imerso em escuridão e silêncio. Havia também uma sensação esquisita no ar, como se eu estivesse respirando em um ambiente com pouco oxigênio, que fosse sufocar a qualquer instante. Um sentimento muito ruim. Por isso, alcançar o interruptor foi questão de necessidade. E com a luz acessa, eu tomei um grande susto. 

A primeira coisa que eu notei foram os cachorros. Eu não era boa em entender seus comportamentos, nunca tive um, mas no pouco tempo que estava trabalhando ali, tinha percebido o quanto aqueles animais eram incapazes de ficarem parados. E no momento, pareciam estátuas. Alguns tão afundados em seus cercados, que era como se estivessem com medo de alguma coisa. Se escondiam, e ao me verem, começaram a emitir um som melancólico. Como um choro.

Depois, foi a marca assustadora de garras nas gaiolas vazias, quase ao final do cômodo. Eram enormes e fundas, ao ponto de terem destruído completamente as portas, e muito maiores do que a de qualquer animal que eu conhecia. Obviamente não eram de cachorros. E eu só conseguia pensar no que havia entrado ali e como. 

Sai correndo da sala. Cheguei a tropicar nos meus pés no caminho de volta ao balcão. Eu estava assustada, me agarrei ao braço de Scott quando o vi, e acabei transmitindo meu medo através do meu corpo e expressão. 

Seu olhar mudou em questão de segundos. Foi de surpresa a preocupação num piscar. 

— O que aconteceu, Charlotte? — perguntou, aflito, largando os remédios de qualquer jeito na bancada. Me segurou pelos ombros, olhando cada centímetro do meu rosto. — Se machucou?

Neguei com a cabeça. Eu tentei responder, mas nenhuma palavra queria sair. Me limitei a agarrá-lo pelo braço, o levando comigo de volta a sala de canil. 

Dessa vez, eu não entrei. Fiquei na soleira, encolhida. Mas McCall, ao ver, passou feito um tornado. Foi até os cães, vistoriou cada um de longe, e por fim andou rumo às marcas de garras. O assisti colocar seus dedos por cima delas — e eu tive a impressão, mesmo maluca, de que ele poderia estar comparando alguma coisa —, retestado como nunca o vi. Dava para ver de longe o nervosismo. 

Ao desviar o olhar para mim, havia algo diferente nele. Um sentimento que eu não saberia explicar, nem entender. 

— Alan deve ter deixado a clínica aberta alguns minutos e não sei, um urso deve ter entrado. Não é a primeira vez que algo assim acontece. — explicou, ao ficar de pé. Desligou as luzes, me puxando para fora da sala e fechando a porta. — Melhor eu avisá-lo o que aconteceu.

Pisquei algumas vezes, atônita.

— Não existem ursos nessa cidade, Scott. — respondi o óbvio. — Temos que ligar para a guarda florestal, pode ser algum animal feroz e gran… — eu já estava com o celular em mãos, caçando o contato, ao ter meu rosto erguido. 

Scott tinha as duas mãos nas minhas bochechas. Uma delas afagava lentamente a área, numa carícia tão gostosa que foi instintivo me deitar contra sua mão. 

— Eu vou cuidar disso. Você vai pra casa, descansar. — avisou. 

Meu cérebro processou as palavras numa velocidade bem devagar. Tudo o que eu estava prestando atenção no momento, era em nossa aproximação. Mas quando elas fizeram sentido, tratei de negar: 

— Não vou embora. — fui firme, recuando um pouco de seu toque. O bastante para que não sentisse o ar faltar.

Houve hesitação de sua parte em se afastar por completo, mas o fez. Se desvicilhou de mim, pegou o celular, digitou algo e ficamos num silêncio incômodo. Eu não fiz questão de quebrá-lo, porque estava mais curiosa em saber o que estava fazendo. 

Ao vê-lo abrir a porta da saída, tive uma noção. 

— Chamei um táxi para você. Já deve estar chegando. — disse, com o olhar cravado em mim. Suplicante. — Desculpe não conseguir te levar pessoalmente em casa. 

Um nó se formou na minha garganta, e eu me obriguei a engoli-lo. 

— Eu não vou embora, Scott. — voltei a repetir, mais baixo dessa vez. 

Estávamos cada um em uma ponta do lugar. Uns dois metros de distância. Mas, mesmo assim, eu senti o ar engrossar e ficar difícil de respirar. Também sentia a mesma sensação ruim do canil, de que algo estava acontecendo, e era o que me mantinha ali, parada. 

— Eu não estou pedindo, Charlotte. — a voz, tão subitamente áspera, me acertou feito um balde de água fria. — É uma ordem. Vá pra casa. 

Fiquei estática. Achei que tivesse ouvido errado, mas a minha mente fez as duas frases rebobinarem na minha casa. É uma ordem. O olhar opaco, junto com um dos braços estendidos em direção a rua, num convite silencioso, também ressaltavam a seriedade das palavras. Vá pra casa. 

Fiz um tremendo esforço para engolir o nó na garganta que voltou, e um maior ainda para fazer minhas pernas obedecerem e me tirassem dali. Não era a primeira vez que eu era expulsa. Mas, com certeza, seria a última. 

Sua mão tocou meu ombro quando passei e eu literalmente pulei para longe, com uma raiva quase palpável escapando no olhar. 

— Não ouse tocar em mim. 

Não esperei resposta, nem sua reação. Bati a porta atrás de mim e fui até o carro amarelo estacionado, ao meu aguardo. Entrei, passei o endereço e esperei estarmos distantes para desmanchar no banco. Não chorei de soluçar, mas não consegui conter as lágrimas que tanto queriam descer. Fiquei com falta de ar e o coração apertado o caminho todo. 

Meu celular vibrou em determinado momento. E ao ver, era uma mensagem de Lydia. 

Char, tive uma emergência, vou precisar sair da cidade. Marcamos a festa do pijama para outra noite, tudo bem? Se cuida, beijos. 

 


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Notas finais do capítulo

LAG ganhou um vídeo shipp! Isso mesmo, eu fiz um durante esse tempinho, e gostaria muito que vocês assistissem, fala bastante sobre o que acontecerá entre a Char e o Scott:
https://youtu.be/w5MKil_2Q3U

Além disso, quero avisar que esse capítulo foi o transitório. Que no próximo a etapa sobrenatural já começa e que a aparição do Theo também.

Quero saber como vocês estão, como tem passado. Me contem tudinho nos comentários ♥



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