Incompreensível escrita por Gonista Gray


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria estar escrevendo o capítulo da minha outra fic, mas não conseguia descansar enquanto essa ideia não saia da minha cabeça. Espero que gostem.



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  Draco não entendia. Mesmo depois de todo aquele tempo, ele simplesmente não conseguia entender. Por experiência própria, ele deveria saber que há coisas muito mais profundas para sustentar um relacionamento do que os motivos aparentes para os outros.

  Ainda assim, Draco Malfoy não entendia como Hermione Granger casara com Ronald Weasley.

  A notícia chegou em uma dia particularmente calmo e ensolarado na mansão. Enquanto tomava café da manhã, Narcissa comentou despreocupadamente sobre o casamento de dois dos integrantes do trio de ouro.

  Ele se controlou para não cuspir todo suco de abobora que estava tomando.

  - Bom, não é como se fosse segredo o relacionamento deles depois da guerra, não é mesmo? – A loira comentou, absorta na tarefa de apanhar uma torrada. Vendo que o filho não lhe respondeu, ela levantou os olhos para ele. – Mas que diabos você tem, Draco?

  Provavelmente, ele não tinha conseguido esconder o choque antes da mãe notar. Ainda mais pálido do que o normal, praguejou mentalmente enquanto recuperava a compostura e tentava neutralizar o tom de voz.

— Hum, nada. Só achei meio engraçado. Sabe, Granger, Weasley...Um casamento cômico, no mínimo.

  Narcissa o estudou por alguns minutos, como se quisesse captar alguma coisa por trás daquela máscara. Mas, dando-se por vencida, apenas comentou:

— Engraçado mesmo.

  Quando a mãe voltou sua atenção para o Profeta daquele dia, Draco deixou-se cair em pensamentos. Por Merlin, Granger e Weasley casados?

  Draco sempre criticou Hermione por vários aspectos, e considerava a queda e o posterior namoro da castanha com o ruivo mais um dos defeitos para acrescentar a longa lista que ele tinha sobre ela. Mas acreditava que um dia ela iria acordar, se daria conta do trasgo que tinha ao lado e chutaria o Weasley na primeira oportunidade.

  Algo que nem mesmo Draco poderia negar, é que Hermione era brilhante, em todos os aspectos em que se empenhava em sua vida. Extremamente irritante, de fato, mas brilhante. Por isso, um casamento com um Weasley, o mais obtuso e turrão de todos, não correspondia a ideia que Draco fazia sobre Hermione. Ele era pouco para ela.

  O comentário de Narcissa foi apenas o primeiro que ele teve que aguentar sobre aquela ocasião. O mundo bruxo estava em polvorosa. Nenhum evento merecia tanto destaque assim, desde o casamento do Menino Que Sobreviveu e que derrotou o Lorde das Trevas.

  No dia do casamento, que ele conhecia a data por motivos adversos, Draco pensou que aquela com certeza era a prova de que a Granger não tinha aquele cérebro todo, e na verdade era burra. Casar com o Weasley, ele pensou enquanto abria um sorriso zombeteiro, qual será o próximo passo? Passar o resto da vida cuidando de uma casa cheia de pirralhos ruivos e sardentos?

  Afastou os pensamentos, um pouco incomodado com ideia de uma Hermione feliz e cheia de crianças igual a Ronald perto de si.

  Os anos passaram, trazendo o seu próprio casamento. Ele não era irremediavelmente apaixonado por Astoria, mas ela o fazia feliz de uma forma que achou que nunca seria. Será que era assim que Granger se sentia? Não amava o Weasley completamente, mas era suficientemente feliz com ele?

  Draco assistiu Hermione engravidar uma, duas vezes. Por momentos imaginou que a cena cairia na rotina e ela procriaria que nem coelho, cumprindo o papel de uma Weasley. Mas no fundo, ele sabia que ela era não seria assim. E seus piores temores foram descartados quando a via desfilar pelos corredores do Ministério, com o ventre inchado por conta da gravidez avançada, ignorando todas as recomendações para que fosse descansar e ter um parto tranquilo.

  Aquela insistência dela em aproveitar até o ultimo segundo no trabalho o fazia rir internamente. Naqueles momentos, Draco podia ver a sabe-tudo teimosa que estudou com ele em Hogwarts, e que não deixaria nem mesmo os filhos se colocarem como um empecilho em seu caminho.

  Nem o tempo decorrido, nem o casamento estável e o filho que viera, tirou de Draco a mania, quase obsessão por Hermione Granger. Granger sim. Ele se recusava a pensar nela como Weasley. Aquele sobrenome não combinava com ela. Pequeno demais, simplório demais. Dessa forma, sempre que se encontravam no Ministério da Magia, era por Granger que ele a tratava.

  Hermione não se irritava, e não saberia explicar nem para si mesma o motivo de aceitar que o Malfoy lhe chamasse pelo nome de solteira. Aquela pequena implicância pairava sobre eles como se mostrasse que sempre discordariam em alguma coisa, que qualquer relação entre os dois seria permeada de contradição.

  Com o tempo, eles haviam conseguido um certa cordialidade no tratamento e até mesmo algo que podia ser um ensaio para uma amizade. Ela lhe perguntava como estava Astoria e Scorpius, ele fazia alguma pergunta sobre o cabeça de cenoura, Rose e Hugo, alguma notícia saída no Profeta, um comentário sobre o tempo.

  Draco gostava de topar com ela em um dia casual de trabalho, de ver o sorriso dela se dirigir a ele, mesmo que só por educação. Naquela altura da vida, ele não podia negar que sentia uma atração pela Granger. E quem não sentiria? Os anos decorridos, a maternidade, a maturidade, toda essa combinação de coisas contribuíram para que Hermione se tornasse uma linda mulher, que fazia uma ou duas cabeças virarem por onde passasse.

  Ele tentou, e Merlin é testemunha de como tentou, mas era impossível não imaginar as vezes, apenas ocasionalmente, como seria se os dois fossem solteiros, se ela não lhe tratasse apenas cordialmente por questão de bons modos...Se poderiam, em algum futuro utópico, ter alguma coisa.

 Afastava os pensamentos, achando que tinha ficado louco de vez. Mas não conseguia evitar segui-la com o olhar, saber o que podia sobre sua vida, beber cada informação que podia sobre ela.

  No primeiro ano de Scorpius em Hogwarts, viu de relance quando ela abraçava uma menina ruiva e a assistia embarcar no trem. Rose, sem dúvidas. Passou anos ouvindo sobre a garota nos elevadores e se lembrava muito bem quando Hermione dissera que também seria o primeiro ano da filha na escola.  

  Enquanto Astoria se despedia de Scorpius, assistiu a Granger caminhar pela plataforma de mãos dadas com o Weasley. Eram um casal tão estranho, ou talvez estranho apenas para Draco. Sentia a pequenez do ruivo diante dela, como se Hermione emasse uma aura de sabedoria e poder que o ofuscasse. Pequeno para ela, o loiro pensava, pequeno demais.

  Nos anos seguintes, se acostumou a encontrar com ela vez ou outra, enquanto deixava Scorpius na Toca para visitar o filho do meio do Potter. Ela sorria para ele, o convidava para entrar, sempre recebendo uma negativa em resposta. Draco podia jurar que via um lampejo de decepção passar pelo seu rosto, como se realmente estivera querendo que ele aceitasse.

  Foi só algum tempo mais tarde, quando realmente aceitou um convite de Hermione, desta vez não direcionado somente a ele, mas também a Astoria. Naquela noite do jantar de apresentação dos pais de Rose, namorada de Scorpius, Draco assistiu de perto por alguns momentos aquele casamento tão incomum e sem sentido que ele há anos divagava sobre.

  Sentia a fúria contida de Ronald sobre sua família em contradição com a maneira dócil e gentil da esposa. Estava claro que o pai da garota desaprovava aquele relacionamento, mas este se manteve impassível, quase cordial, e Draco podia perceber que aquilo era influência de Hermione.

  Quando Rose e Hugo subiram com Scorpius falando algo sobre um artefato trouxa chamado televisão, Draco enfrentou minutos longos de conversa muito bem medida entre os adultos na sala de estar. Enquanto as duas mulheres falavam algo sobre filhos, ele se pôs a observar as fotografia nos porta-retratos. Em todas, os quatro integrantes da família pareciam absurdamente felizes. Mas uma em especial chamou a atenção do loiro. Uma Hermione toda de branco, radiante, no altar ao lado do Wesley. Merlin, ela estava linda. E foi inevitável não pensar em como Ronald tinha sorte por tê-la ali, naquele dia.

  Será que ele sabia o quanto era extremamente sortudo por ela ter o escolhido? Pois, depois de muita deliberação, Draco tinha concluído que o Weasley era um filho da mãe sortudo. Hermione o escolhera. Mesmo ele sendo pequeno, tosco, desprezível, simplório, ela o tinha escolhido dentre todo mundo bruxo e trouxa. O loiro pensava que ela realmente o amava incondicionalmente, por estar disposta a atrelar seu futuro com alguém como ele.

  Aquela resolução fora um golpe na visão de mundo de Draco. Se perguntou se em outra vida, alguém poderia amá-lo nesta intensidade em que Hermione amava Ronald. Porque Draco tinha certeza e tinha visto nos olhos dela, o quanto ela o amava. E naquele momento, enquanto voltava para casa com sua esposa e filho, ele compreendeu aquele casamento.

 Sentiu que era bem melhor quando ele não entendia.


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Notas finais do capítulo

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